sábado, 29 de setembro de 2007

Evocando os quadrantes

Muitos dos mitos comuns a muitos povos está no sentido de que o mundo está sustentado por quatro colunas. Em sentido mítico e místico, são estas colunas que se evoca na cerimônia Wica.
Cada quadrante não é apenas representado por um elemento vital para a constituição das coisas materiais desse mundo, mas também são controlados pelos Guardiões em suas Torres de Vigia.
Nos tempos da Babilônia, tais Torres existiam fisicamente e eram habitadas por um rei sacerdote que, nas épocas certas, criavam uma ponte entre este mundo e o astral. Cada Torre correspondia a um elemento: água, terra, fogo ou ar; cada Torre se ligava a constelações que os Caldeus separaram em signos zodiacais, em quatro grupos de três signos cada, regidos por tais elementos.
Nos tempos da Grécia, a natureza foi separada em quatro grupos de fenômenos que se combinavam binariamente para formar a matéria: seco e úmido, quente e frio. Cada elemento dos quadrantes reúne em si estes fenômenos: seco e quente = fogo, seco e frio = ar, úmido e quente = terra, úmido e frio = água. Cada Guardião reúne em si tais atributos e são por estes elementos simbolizados.
Nos tempos modernos, se descobriu que a matéria é formada por quatro partículas básicas: leptons, mesons, barions e quarks. Depois, se descobriu que a vida orgânica é formada pela ligação de quatro ácidos desoxirribunocleicos: adenina , timina , guanina , citosina.
Na cerimônia Wica, ao se evocar os quadrantes e seus Guardiões não se está evocando apenas os elementos da natureza, mas ativando a construção da matéria e da vida. Como cada quadrante é uma expressão da realidade mais imediata, a posição destes no círculo cerimonial depende da manifestação destes elementos naturais no local.
No original, que veio da Grã-Bretanha, o norte é consagrado ao elemento terra; o leste é consagrado ao elemento ar; o sul é consagrado ao elemento fogo e o oeste é consagrado ao elemento água porque esta era a posição que cada Guardião resguarda para formar este local.
Para um pagão ou wiccano brasileiro, o elemento água se posiciona dominantemente a leste; o elemento ar se posiciona dominantemente no sul; o elemento terra se posiciona dominantemente no oeste e elemento fogo se posiciona dominantemente no norte.
A pergunta mais pertinente vindo de um curioso é: se a posição dos quadrantes dependem da manifestação da natureza local, os pagãos e wiccanos brasileiros não deviam invocar um Deus e uma Deusa mais identificado com a natureza de nosso país?
A resposta mais óbvia é não. Os Deuses e Deusas dos aborígenes que vivem no Brasil pertencem a um conjunto religioso diferente, com mitos e cerimônias diferentes. Não basta que os Deuses e Deusas possuam símbolos ou manifestações parecidas, a base de toda religião e cerimônia é o mito.
A Wica é uma estrutura precisa e definida de práticas de uma forma de Paganismo originado da Europa. Com isso, não se procura desentronizar os Deuses e Deusas locais, ou em europeizar os credos locais, mas em celebrar nossa ligação com o sagrado, através da natureza, com um Deus e uma Deusa específica. Uma vez que os praticantes de Paganismo e Wica no Brasil são descendentes de Europeus, nossa adoração e ancestralidade está com o Deus e a Deusa da Wica.
Embora a estrutura do credo dos aborígenes brasileiros utilize da natureza para adorar os Deuses e Deusas de seus ancestrais, usar desses nomes ou de qualquer outro nome de Deuses e Deusas, de outras estruturas de credo, é inconveniente, devido à incompatibilidade cultural e mítica entre esses Deuses e Deusas.
A Wica é uma religião flexível, aberta e humana. Mas possui mitos, cerimônias, Guardiões e Deuses específicos, ainda que, na prática, a liturgia pareça moldável.
Evoe, Guardiões das Torres!

domingo, 23 de setembro de 2007

Confiança, caráter, honra

Atualmente é muito difícil haver confiança entre as pessoas e não é para menos, aqui no Brasil vale a máxima ‘cada um por si’ ou pior, o ‘levar vantagem em tudo’.
Nós não temos confiança sequer em nós mesmos, haja visto a aparente indiferença dos brasileiros quanto aos rumos desta nação. Um povo que não tem confiança na sua comunidade não devia ficar tão surpreso com as traições cometidas pelos políticos brasileiros.
Nossos antepassados tinham duas coisas que valiam mais que dinheiro. Uma é caráter, algo que demora para ser construído e mantido. Outra é honra, mas não essa honra idiota que alguns homens evocam para matar suas mulheres.
Antigamente, a palavra de uma pessoa valia muito por causa da honra e do caráter que a pessoa demonstrava ter. Se confiava nas pessoas porque havia efetivamente uma vida comunitária, as pessoas trocavam mercadorias e favores, sem pensar em tirar vantagem ou juntar mais moedas do que o necessário.
Dentro da comunidade, todos se conhecem, todos sabem que podem contar com a ajuda e auxílio de seu vizinho, mesmo viajantes podiam contar com a hospitalidade da vila. Cada habitante contribuía com trabalhos ou víveres pensando no bem comum. Anualmante todos se juntavam para celebrar a colheita, trazendo aquilo que de melhor havia produzido para compartilhar debaixo da lua. Anualmente todos de juntavam para resistir ao inverno, a estiagem e a escassez, dividindo os mantimentos entre todos.
Nessas rodas, os velhos podiam contar as lendas que reviviam a fundação do mundo e de seu povo, as pessoas experimentavam na pele sua convivência com seus Deuses e os sacerdotes buscavam orientar espiritualmente seu povo.
Nesse cenário, os reis e sacerdotes eram escolhidos pela comunidade não por sua riqueza ou prestígio social, mas pelo serviço e envolvimento com a comunidade. Os idosos eram respeitados porque eram portadores da herança e da memória. As crianças podiam crescer fortes, saudáveis e seguras.
Por não terem livros escritos, nossos antepassados foram vistos como primitivos, incultos.
Curiosamente, aos poucos, esse preconceito acabou ao se achar a arte e as escrituras cerimoniais por toda a Europa e hoje nós podemos ler a beleza das antigas sagas e lendas orais de nossos antepassados e nos maravilhar como eles eram civilizados.
Em algum momento nós mudamos ou fomos levados a mudar. Nós deixamos de nos importar com nossas crianças, com os jovens, com os idosos. Abandonamos o cuidado com o ambiente, com a cidade, com o país. Nós estamos nos deixamos levar por sacerdotes mal intencionados ou por revelações interpretadas de livros.
Entretanto, apesar de tudo, eu ainda confio nas pessoas, eu ainda tenho esperanças que o brasileiro seja cidadão.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Que venham as flores

O inverno está de partida do Brasil e não mostrou muito trabalho. Ele certamente foi influenciado pelos hábitos locais.
Foi-se o tempo que de Julho a Setembro os paulistanos sofriam com o inverno e as chuvas de meia estação. Eu fico preocupado com o ano seguinte, que certamente mostrará mais dramaticamente a alteração climática global.
Enquanto o ano seguinte não vem, trazendo consigo o circo eleitoral, os brasileiros poderão desfrutar a partir de 22 de Setembro o inicio da primavera.
Um momento para comemorar e celebrar a volta das flores, da fertilidade, do sol.
Os pagãos brasileiros irão comemorar nessa data o Ostara, a ‘Páscoa’ dos Pagãos, enquanto nossos irmãos do hemisfério norte comemoram o Mabon, a “Quaresma’ dos Pagãos.
A idéia de que a natureza sempre se renova, ciclicamente, infalivelmente, é um motivo para nós meditarmos sobre as renovações necessárias em nossa família, em nossa cidade, em nosso país, em nossas leis, em nossa sociedade.
Também é um momento para começarmos a ter mais responsabilidade, mais consciência e mais compromisso com a nossa cidadania, com nossa comunidade e com nosso ambiente.
Ou seja, ao invés de nos indignarmos com os atos de nossos governantes, nós estamos ganhando a oportunidade de moralizar a política nacional, com a nossa organização e mobilização política.
Não devemos esperar que nossos políticos tenham vergonha na cara, nós é que temos que ter vergonha, nossos políticos são apenas um reflexo de nossa sociedade.
Eu espero, como brasileiro e pagão, que nesta primavera venham os ventos da mudança e o Brasil possa se renovar.
Que venham as flores!

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Publicidade e Proselitismo

Nós somos uma espécie que gosta de se expressar, de se comunicar, de trocar idéias e expor opiniões sobre os mais diversos assuntos.
No campo da religião não é diferente. Grupos e intituições que representem um credo fazem uso dos meios de comunicação de massa para divulgar a doutrina dessa religião, incluindo esse blog.
Uma pessoa interessada em desenvolver sua espiritualidade pode encontrar em bancas de jornais e livrarias muitos textos para se desenvolver ou mesmo vir a escolher um credo em especial.
A ferramenta mais atual de divulgação de conhecimento, a Internet, também oferece muitas opções.
Nem sempre as coisas foram assim. Até meados do século XVIII, não era sequer permitido às pessoas comuns lerem a bíblia nem traduzí-la para o idioma local.
Com a Reforma Protestante e a Renascença, a Igreja Católica perdeu muito de seu poder e influência o que tornou possível a distribuição em massa da bíblia na vulgata, juntamente com a versão do Protestantismo.
Com a Revolução Industrial e o desenvolvimento da Ciência, apareceram os primeiros pensadores ateístas e a divulgação de textos de ocultismo.
Enquanto a Igreja Católica e a Igreja Protestante brigavam, livres pensadores e mestres esotéricos iam aproveitando o espaço para divulgarem seus trabalhos.
Graças a esta coragem, a Humanidade pode sair aos poucos de debaixo da sombra de terror das Igrejas.
Somente com a invenção da imprensa, do rádio, da televisão e da internet é que apareceu a Publicidade Religiosa.
O maior utilizador das técnicas da Propaganda Moderna são as Igrejas, que perceberam o potencial dessa ferramenta para aumentar a freguesia e também para evitar que seus membros se desgarrassem.
A maior característica da Propaganda Religiosa é o Proselitismo, ou seja, mensagem calculadas e projetadas para converter o público a uma determinada Igreja, com mensagens muitas vezes carregadas de críticas a outros credos, quando não cheias de calúnia.
A marca registrada do Proselitismo consiste em omitir partes dos textos da bíblia que sejam contraditórios, descontextualizá-los ou mesmo induzir o público a aceitar a interpretação dada a este livro.
Para uma pessoa comum, qualquer texto lido por meio de artigo, revista ou livro que trate de alguma religião acaba sendo confundido como Proselitismo, mas ao contrário da estratégia das Igrejas, o Paganismo e a Wica são contrários ao Proselitismo.
Não é porque existe mais publicidade desses credos que isto signifique tal prática. A intenção de quem escreve sobre Paganismo e Wica é o de divulgar, tornar pública essa possibilidade a todos de opção até hoje negada pelas Igrejas.
Nenhum escritor irá falar de Paganismo ou Wica como se estes fossem as únicas opções, nem que estes credos são os verdadeiros ou que estes caminhos sejam os corretos.
A intenção de quem escreve sobre Paganismo e Wica é o de abrir um debate, sem impor uma doutrina religiosa. Quem segue o Paganismo e a Wica gosta e defende o livre diálogo, o direito de todos de optar e a liberdade de expressão, dentro dos limites da lei.