domingo, 21 de dezembro de 2008

Bruxaria e Anarquia

Este é o último tópico feito como reflexo da leitura do livro de Stuart Clak, Pensando com Demônios, especialmente levando em conta os dois últimos capítulos que envolvem Política e Religião, no que eu vejo uma premente necessidade de inserir uma auto-crítica.
Em diversos tópicos deste blog existem críticas no tocante ao que idealmente eu conceituei como grandezas humanas que deveriam funcionar independentemente ou isoladamente. Mas aqui neste blog cabem também auto-críticas e eu devo substancialmente refazer este (pre)conceito. Política e Religião, como tudo que envolve ações e pensamentos humanos, acabam interferindo, influenciando, interagindo uma com a outra. O que nós devemos repensar, então, é a forma como estas se relacionam.
Tendo isto em vista, fica mais fácil entender os períodos da Idade Média e início da Idade Moderna, onde o Estado e a Igreja repartiam entre si o poder mundano e espiritual do mundo conhecido. Depois das revoluções, o conceito de Estado e as organizações políticas modificaram substancialmente, sem sinais de que venha a existir uma definição exata ou precisa de suas fronteiras ou futuros.
Pode ser que, nesse futuro, possamos tratar de forma diferente a relação entre Política e Religião, mas até lá eu preciso reiterar meu lado acadêmico e lembrar que a Política - como grandeza humana - também faz parte da Religião. A postura dos neopagãos em relação ao ambiente é uma posição política. Com essa permissão, passo ao ensaio ousado de equiparar a Bruxaria com a Anarquia.

Não-dogmatismo: "Toda a posição do anarquismo ... tolera variações e rejeita a idéia de gurus políticos ou religiosos. Não existe um profeta fundador a quem todos devam seguir. Os anarquistas respeitam seus mestres, mas não os reverenciam, e o que distingue qualquer boa compilação que pretenda representar o pensamento anarquista é a liberdade doutrinária com que os autores desenvolveram idéias próprias de forma original e desinibida."[WOODCOCK, George. Os grandes escritos anarquistas. Rio Grande do Sul: L & PM Editores Ltda, 1981. pg. 54. citado na wikipédia]
A Bruxaria nunca teve profetas, santos, messias ou qualquer outra forma de autoridade. Mesmo Gerald Gardner não pleiteou ser um profeta fundador ou ser o único e verdadeiro bruxo. Ele apenas passou aos seus aquilo que ele aprendeu, o que inclui o respeito aos mestres e a inclusão de técnicas desenvolvidas pelos iniciados.

Apoio mútuo: Aqui podem ser inseridos os princípios do humanismo, da liberdade, da autonomia, da vida comunitária. Com humanismo, entende-se que a base da sociedade está nas pessoas, na comunidade.
Na Bruxaria, as pessoas viviam em comunidades feita de indivíduos que se conheciam e tinham uma relação muito próxima. Cada um e todos trabalhavam pelo bem de toda a comunidade e a comunidade ajudava quem precisava.
Em tempos difíceis, a comunidade escolhia um líder, um chefe, que exercia temporariamente o cargo de rei, juiz e sacerdote, mas sempre zelando pelo bem comum.
Com liberdade, entende-se que a base da lei está na consciência da responsabilidade individual e coletiva.
Na Bruxaria, as pessoas tinham e recebiam condições para desenvolver laços comunitários, o que dispensava aparatos repressores, o que tornava possível cada indivíduo desfrutar a liberdade.
Com autonomia, entende-se que cada grupo se auto-regulamentava e se adaptava às condições, o que não significa estar fechado nem separado do contexto mais amplo, territorial ou regional. Na Bruxaria, as pessoas podiam experimentar e conhecer novas técnicas, quando empreendiam a viagem a outros covens como aprendizes e essas novas técnicas eram livremente expostas à comunidade, para serem avaliadas.
Com vida comunitária, entende-se como a livre associação de indivíduos com interesses e objetivos em comum, de acordo com as concessões e acordos entre os indivíduos e o grupo como um todo.
Na Bruxaria, as pessoas não eram obrigadas a aceitar as crenças e práticas do grupo ou da região, tanto o indivíduo quanto o grupo podiam decidir em que acreditar ou o que praticar.

Revolução: A Anarquia é perseguida por causa de suas propostas políticas de um Estado efetivamente na mão do povo, de todos.
A Bruxaria tem sido perseguida porque é, como a Religião Antiga, a manifestação de uma crença e prática legitimamente popular.
Desde que as cidades e as civilizações foram se desenvolvendo, as pessoas foram perdendo seus poderes para a elite.
Tal como a Anarquia, a Bruxaria é uma revolução porque postula o Estado não na mão de poucos, mas de todos; postula a Religião não na mão de poucos, mas de todos; postula a Sociedade não na mão de poucos, mas de todos; postula a Constituição não na mão de poucos, mas de todos; postula a Justiça não na mão de poucos, mas de todos; postula a Prosperidade não na mão de poucos, mas de todos; postula a Felicidade não na mão de poucos, mas de todos e (principalmente) postula o Prazer não na mão de poucos, mas de todos.

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