quarta-feira, 22 de abril de 2009

Lugares sagrados na Lusitânia

"Sabemos pouco sobre os santuários lusitanos mas a abundância de capelas cristãs nas maiores elevações do seu território, levam-nos a pensar que era no alto dos montes que se evocariam as forças da Natureza e se fariam os sacrifícios. Parece-nos que a Penha de Prados (próximo de Prados, no concelho de Celorico da Beira) seria um local de sacrifício. A sua situação e a posição de algumas pedras lembrando um altar sugerem essa imagem. A Penha situa-se nos contrafortes da Serra da Estrela. O topónimo Penha é pré-romano e segundo autores, celta. Os Lusitanos faziam vaticínios através de sacrifícios humanos cortando o diafragma da vítima de modo a observarem o interior do corpo. Estes vaticínios eram formulados por um adivinho. Chamavam-lhe hieroskopos. Parece haver aqui uma semelhança com a prática da adivinhação dos sacerdotes gauleses. Sabemos que havia montes sagrados (Monte de Vénus) e rios. O Douro era um rio sagrado. Muitos topónimos que se mantêm em Trás-os-Montes e na Beira são nomes de Divindades: Laroco, Losa, Pala, Touro, Porco, Corvo, Luzelos, Serapico (Serápis), Celorico, Arentio, Caria (Cari), Ilurbeda, Caro, Cabar, Araco...Os cultos da Natureza predominaram entre os Lusitanos. As suas sobrevivênciasa persistem cristianizadas. Um dos cultos mais frequentes entre os povos de economia agro-pecuária é o das Divindades reguladoras da chuva.
O culto das fontes e dos cursos de água é comum a todo o mundo que sofreu influências culturais célticas. Sobrevive no nome de alguns rios e de ninfas minerais. Na mitologia céltica a mais importante Deusa da Terra era Ana-Dana, mãe dos Deuses. Mas, entre os Lusitanos, na sua fase mais primitiva, os Deuses confundiam-se com as forças da Natureza e com a capacidade procriadora. (...) São inúmeros os testemunhos da sacralidade das fontes mantidos através da tradição oral. Algumas vezes a explicação só surge muito recentemente. Uma brigada da Junta de Energia Nuclear trabalhando no concelho do Sabugal, verificou que a fonte santa tinha águas radioactivas, o que explicaria a sua eficácia. Na periferia da Guarda, na Senhora dos Remédios, ao fazerem a limpeza da canalização que conduzia a água para a fonte, encontraram em 1954 a cabeça de mármore de uma ninfa, que tive então oportunidade de estudar. Uma inscrição renascentista foi colocada na fonte dizendo: SALUS INFIRMORUM, confirmando a tradição salutífera. No tanque das Caldas do Cró, apareceram à volta de 1950 moedas romanas com a Deusa Salus.
O Deus Bormanicus, referido numa lápide de Caldas de Vizela, seria uma Divindade de águas termais. O mesmo poderia significar uma ara de Villas-Buenas, Salamanca, consagrada a Celioborcae. Celorico da Beira tem umas águas salutíferas, de onde talvez lhe provenha o nome dado por uma Celioborcae.
Turiaco também era uma Divindade lusitânica, aquática. Está citada numa ara de Santo Tirso. Segundo os investigadores L. Albertos e Palomar, o carácter desta Divindade permanece em hidrónimos em que entra o radical Tur. Este aparece com frequência por toda a Hispânia, segundo informa Blázquez. Na Beira Alta, perto de Vilar Formoso, conhecemos a ribeira de Turões, cuja raiz da palavra parece ser a mesma. A ara de Freixo de Numão, em linha recta situada a uns quarenta quilómetros da ribeira de Turões (Vilar Formoso), tem uma inscrição aos Lares Turolicis (atentar no radical de teónimo Tur), ao qual se acrescentou o nome de uma gens lusitana, como consta numa inscrição achada em Caldas de Lafões. O rio Tua poderá ter herdado a designação de uma Divindade hídrica."
Citado a partir de: "Os Lusitanos, Mito e Realidade", de Adriano Vasco Rodrigues.
Citado e coletado do blog: Gladius

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