quarta-feira, 29 de abril de 2009

Sacrifício

No início homens eram sacrificados, geralmente após batalhas entre grupos rivais ou mesmo quando as aldeias estavam com problemas: doenças, escassez de alimento, água, etc. O sacrifício era algo importante, pois somente heróis eram sacrificados: o guerreiro preferia morrer com a honra de servir seus deuses que negar este amor e optar por uma vida simplória e anônima.
Com o tempo os sacrifícios passaram a utilizar animais. Ao Homem viver seria sua maior honra, e se era para agradar os deuses, então que animais com sangue e olhos como os dele deveriam morrer. O Homem a vida dos outros animais passou a estar sob seu julgamento, e por um longo tempo os Deuses aceitaram essas ofertas de cordeiros, bois, bodes... bodes expiatórios. O Homem que não queria morrer por seus deuses, também não queria mais matar animais com seus gritos de dor e olhares fixos nos seus.
Assim os sacrifícios passaram a ser vistos como atos de crueldade à vida, sem heróis e sem bodes o Homem passou a utilizar plantas. Há exemplos como os troncos queimados em rituais invernais, de oferendas de grãos em barcos, de grandes esculturas humanas feitas de palhas e galhos. As plantas não possuem olhos e nem sangue, mas passaram a ser os novos heróis de sangue.
Com o surgimento das religiões e seus pecados, karmas e demais castigos, o sacrifício passou a ser novamente do Homem. Mas indisposto de honrar sua vida ao seu Deus, o Homem passou a sacrificar suas funções vitais, privando-se da alimentação, jejuando por dias e noites, do prazer do sexo, vendo-o como algo sujo e necessário apenas para reprodução, e demais prazeres.
O corpo, antes morada sagrada de um espírito herói passou a ser visto como uma máquina de maldade, e assim peças dessa máquina passaram a ser sacrificadas para agradar o novo Deus, ou mesmo os antigos Deuses. O Homem passou a ver a vida como algo desagradável e a morte como um banho de purificação, uma salvação.
Atualmente vivenciamos diversos sacrifícios. No atual mundo “civilizado”, não contente com o auto-sacrifício, o Homem passou a sacrificar os próprios Deuses em honra de... de si mesmo. O Homem querendo escapar de qualquer dor passou a negar sua religião, a pedir sem agradecer, a ver o alimento numa caixinha de papelão congelada e pré-cozida.
Estando o mundo espiritual dependente do mundo material, os Deuses aceitaram tal condição, mas o Homem esqueceu que extinguindo os Deuses estará extinguindo a si próprio, cortando o ciclo que alimenta os dois mundos, e assim morrerá, desaparecendo, anônimo, sem um pós-morte, sem salvação, sem nada.
Ainda que existam heróis, ainda que existam Deuses, a honra perdeu sua grandiosidade nas sociedades, o heroísmo passou a ser visto como algo de poucos, a ser evitado por afetar a integridade do Homem.
Você prefere viver pouco e morrer honrado(a) ou viver bastante e morrer anônimo(a)? Assim como Tétis profetizou a Aquiles: lutar em Tróia e alcançar a glória eterna, mas morrer jovem, ou permanecer em sua terra natal e ter uma longa vida, mas sendo logo esquecido? Pense nisto!
Por Arwëniem em Templo Ancestral [original perdido]

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