domingo, 31 de maio de 2009

Junho, mês de Juno

Junho é o quarto mês do calendário romano. O nome do mês é derivado da deusa romana Juno, mulher do deus Júpiter. A primeira metade de Junho era um período de purificação religiosa e era a época mais favorável para casamentos.
Em 21 de junho ou próximo a esse dia, o sol atinge o ponto mais ao norte em sua trajetória pelo céu; é o solstício de Junho, começo do verão no Hemisfério Norte e do inverno no Hemisfério Sul.

Festivais em Junho:
1º de Junho: Consagrado a Juno Moneta, o aspecto de Juno que impede desastres e danos.
1º de Junho: Consagrado a Marte. O aniversário da dedicação do templo de Marte próximo ao portão de Capena.
1º de Junho: Tempestatibus, consagrado a Tempestates, Deusa do Clima e tempestades em particular.
1º de Junho: Carna, consagrado a Carna, Deusa das dobradiças das portas bem como da saúde do corpo. Ela tinha o poder de proteger os bebês que eram deixados sozinhos em seus berços dos [ataques de] vampiros. Nesse dia as orações eram oferecidas a ela para a saúde do fígado, coração e outros órgãos internos. Ela recebia nesse dia oferendas de feijão e toucinho.

Dia 3 – Festival em honra a Bellona.
Bellona era uma antiga Deusa romana da guerra. Ela pode ser um dos muitos Deuses sagrados romanos, possivelmente de origem Etrusca e supõe-se que seja a divindade primitiva da guerra dos romanos, antecedendo a identificação de Marte com Ares. Ela acompanhava Marte nas batalhas e era tida ora como sua irmã, esposa ou filha.
Dia 5: Consagrado a Dius Fidius, "Fé Divina". Ele estava associado com os juramentos e acordos.

Dia 7 ao 15 – Vestalia, em honra de Vesta.
Vesta era a Deusa Virgem do coração, da casa e família na mitologia romana. Ela tem um grande, porém misterioso, papel na religião romana. Pouco é conhecido sobre a Deusa uma vez que, ao contrário de outras divindades romanas, ela apareceu sem menções nos mitos. A presença de Vesta era simbolizada pelo fogo sagrado que queimava em seu coração e templos. O fogo de Vesta era guardado em seu templo por suas sacerdotisas, as vestais.
No primeiro dia das festividades, o penus Vestae (a cortina do santo do santo de seu templo) era aberto, apenas nesse momento durante o ano, para as mulheres oferecerem sacrifícios.
Dia 7 - Consagrado a Tiberinus, o Deus doo rio Tiber.
Dia 8 - Consagrado à Mens, Deusa do pensamento corrreto e a mente.
Dia 11 - As matronas celebravam Matralia, para honrar a Deusa Mater Matuta. As matronas ofereciam à Deusa bolos assados em potes de barro. As mulheres romanas carregavam as filhas de suas irmãs em seus braços e pediam por sua saúde.
Dia 11 - Consagrado a Fortuna, Deusa do destino, oportunidade, sorte e fortuna.
Dia 13 ao 15 – Quinquatrus minusculae, em honra a Minerva.
Tinha esse nome porque era celebrado no quinto dia após o Ides. Como esse festival era consagrado a Minerva, as mulheres costumavam consultar adivinhos neste dia.
Dia 19 - Consagrado a Minerva, Deusa dos ofícios e associações de comércio, relacionada com Atena.
Dia 20 – Festival em honra a Summanus.
Na mitologia romana, Summanus era o Deus do trovão noturno, oposto a Jupiter, o Deus do trovão diurno. O nome dele pode ter vindo do latim sub-manus, "predecessor da manhã". Há especulações que poossa ter vindo de Summus Manium "o maior dos Manes".
Dia 24 - Consagrado à Fors Fortuna, Deusa da boa fortuna. Seus festivais é um assunto espiritual com pessoas tanto a pé quanto em barcos decorados com flores. Plantadores traziam seus vegetais e flores ao mercado e cantavam hinos solenes à Fors Fortuna.
Dias 25 e 26 - Ludi Taurei Quinquenalles, jogos que aconteciam em honra das divindades do submundo. Os jogos aconteciam uma vez a cada cinco anos.
Dia 27 - consagrado a Jupiter Stator ("Jupiter o Protetor"), que ajuda os guerreiros em manter sua posição em uma situação adversa. Vinte e sete donzelas cantavam hinos a Juno enquanto a procissão seguia pela cidade.
Dia 29 - Consagrado a Hercules Musarum, "Hercules das Musas". Escribas ofereciam suas reverências ao aspecto mais pacífico de Hércules, bem como às nove Musas que governavam as artes.[Fontes: Wikipédia e Nova Roma]

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Penalizar o aborto é tortura

Pela primeira vez, o Comitê Contra a Tortura das Nações Unidas abordou este mês o caso da penalização de toda forma de aborto em um país como medida que violenta direitos humanos fundamentais. Esse país é a Nicarágua. O Comitê, reunido em seu 42º período de sessões na cidade suíça de Genebra, pediu urgência ao Estado nicaraguense para reverter a reforma legal que em 2006 penalizou sem exceções o aborto voluntário, e cobrou flexibilidade, especialmente em casos de violação e incesto. Foi no dia 14 que o Comitê expressou “sua profunda preocupação pela proibição geral do aborto”, contida em vários artigos do Código Penal reformado em 2006 e que entrou em vigência no ano passado.
O governo sandinista de Daniel Ortega ainda não reagiu sobre um pronunciamento que vincula a proibição do aborto terapêutico com a tortura. A Nicarágua converteu-se em 2006 em um dos poucos países do mundo a castigar penalmente as mulheres que realizam um aborto quando se trata de gestação fruto de violações sexuais ou incesto, ou quando a vida da mãe corre risco, casos em que antes era legal a interrupção da gravidez. Chile, El Salvador e República Dominicana são os outros países latino-americanos que penalizam o aborto induzido sem exceções, aos quais se unem Malta e Filipinas no resto do mundo.
Em seu informe sobre a Nicarágua o Comitê diz que a proibição do aborto para vítimas de agressões sexuais significa “uma constante exposição às violações cometidas contra elas e supõe um grave estresse traumático com o risco de padecer prolongados problemas psicológicos, tais como ansiedade e depressão”. Neste país o aborto terapêutico era legal desde 1893 e sua proibição foi possível pela união a favor dos dois principais partidos políticos do país, o esquerdista e agora governante Frente Sandinista de Libertação Nacional e o direitista Liberal Constitucionalista. A penalização absoluta do aborto ocorreu em plena campanha para as eleições que devolveram a presidência a Ortega em 2007.
As organizações de mulheres coincidem em afirmar que os cálculos eleitorais levaram o político a acertar a proibição absoluta do aborto com a Igreja Católica e outras confissões cristãs. Analistas coincidem que o retorno ao poder do ex-guerrilheiro facilitou um pacto político-religioso com o cardeal Miguel Obando y Bravo, que agora preside uma comissão humanitária governamental, após ser aposentado pelo Vaticano como líder da Igreja Católica no país. Ortega governou a Nicarágua entre 1979 e 1990, primeiro como membro da junta criada pelos sandinistas para derrubar a ditadura da família Somoza e depois como presidente. Na época Obando y Bravo era um dos líderes opositores.
O Comitê encarregado de registrar e denunciar os atos de tortura humana, exortou o Estado da Nicarágua a reformar alei e estabelecer o aborto em situações de emergência e quando decorrente de violência de gênero. “O Comitê pede urgência ao Estado Parte para que revise sua legislação em matéria de aborto, tal como recomendado pelo Conselho de Direitos Humanos, pelo Comitê para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher e Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais”, diz em seu informe. De concreto propôs ao país estudar “a possibilidade de prever exceções à proibição geral do aborto para os casos de aborto terapêutico e gravidez resultante de violação ou incesto”, e dessa forma cumprir as diretrizes da Organização Mundial da Saúde.
O Ministério da Saúde, a Procuradoria para a Defesa dos Direitos Humanos, o Instituto Nicaraguense da Mulher e o Conselho de Comunicação e Cidadania que desde a Presidência administra a esposa de Ortega, Rosário Murillo, não quiseram comentar para a IPS o pronunciamento do Comitê. A Cúria em Manágua disse à IPS que a postura da Igreja Católica a respeito do aborto é inalterável. O não-governamental Movimento Autônomo de Mulheres, participante destacado na luta pela despenalização do aborto terapêutico, considerou que o pronunciamento do Comitê é “uma condenação internacional contra a Nicarágua”.
“O comitê afirmou que a penalização do aborto, sem exceções, violenta o status legal das mulheres, ao não permitir que salvem suas próprias vidas ou reduzam os riscos em sua saúde física ou psicológica”, afirmou à IPS Juana Jiménez, dirigente da organização. Jiménez disse que o órgão reitor internacional dá razão às mulheres organizadas do país que denunciaram a reforma legal como uma imposição por motivações políticas e “uma contradição com os pactos de direitos humanos e as convenções específicas em matéria de reconhecimento dos direitos das mulheres”.
O Movimento Autônomo foi uma das organizações que enviou suas considerações ao Comitê, com o argumento de que a lei que penaliza o aborto terapêutico “contém todos os elementos da tortura determinados no artigo 1º da Convenção Contra a Tortura”. Desde a aprovação da penalização total do aborto, dezenas de organizações médicas, de mulheres e de direitos humanos também pediram a reversão da lei junto à Suprema Corte de Justiça. Mas o caso está parado nesse tribunal, criticam os demandantes.
Finalmente, em abril, o vice-presidente da Suprema Corte, Rafael Solis, anunciou um anteprojeto de sentença que reverteria a reforma contra o aborto, em resposta às demandas da sociedade civil. O anúncio faria parte de uma nova mudança nas relações de Ortega com a hierarquia católica, com a qual agora se encontra em forte enfrentamento. A Igreja o acusa de fraude nas eleições municipais de novembro passado e Ortega responde cercando-se em público de imagens católicas e se proclamando “cumpridor” dos desígnios divinos para “o povo”.
Setores feministas interpretam o anúncio da Suprema Corte como uma ameaça à hierarquia católica se continuar com suas críticas aos resultados eleitoras, e não como uma vontade de levar adiante uma sentença que reponha o direito parcial ao aborto. O juiz da Suprema Corte, Sergio Cuarezma, próximo à oposição liberal, confirmou à IPS que existem projetos de sentenças favoráveis à restituição do aborto terapêutico. Mas, não se pronunciou sobre o anúncio do Comitê.
“Na Suprema Corte há dois recursos de inconstitucionalidade, um contra a lei de 2006 que revoga o aborto terapêutico do Código Penal antigo e outro contra a lei de 2008, Código Penal vigente que não contempla tal figura”, informou. Cuarezma disse que há 72 recursos interpostos contra a disposição legal e que a população e os demandantes devem saber que “não há projeto circulando, mas vontade de resolvê-lo”. A administração de Ortega mantém desde sua chegada ao poder em 2007 uma relação conflitiva com as organizações feministas e as não-governamentais, acusando-as de serem “agentes do império” e de “conspirar” para derrubá-lo.
Para a ativista Jiménez, as autoridades deveriam cumprir as recomendações do Comitê rapidamente “porque ser apontado de estar cometendo tortura contra as mulheres, que representam mais da metade da população nicaraguense, implica o risco de ser qualificado internacionalmente como um Estado violador dos direitos humanos”. A Convenção que dá vida ao Comitê reconhece como tortura “todo ato pelo qual se inflija intencionalmente a uma pessoa dores ou sofrimentos graves, sejam físicos ou mentais, para obter dela ou de terceiro informação ou confissão, de castigá-la por um ato que tenha cometido ou por ser suspeita de cometê-lo”.
Além disso, considera a tortura o ato de castigo físico ou mental para intimidar ou coagir “por qualquer razão baseada em qualquer tipo de discriminação, quando essas dores ou sofrimentos são causados por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, por sua instigação, consentimento ou aquiescência”. A “lei contra o aborto terapêutico é uma tortura. Causa dor e sofrimento, foi imposta com motivos específicos, reflete o propósito de intimidar e coagir mulheres e médicos, com tenta impor uma crença religiosa à custa da saúde, mesmo o país sendo laico segundo a Constituição, e é infligida como política de Estado”, denunciou Jiménez.
Fonte: IPS Brasil [link morto]

A reação da natureza

A mudança climática mata cerca de 315 mil pessoas por ano, de fome, doenças ou desastres naturais, e o número deve subir para 500 mil até 2030, segundo um relatório divulgado nesta sexta-feira pelo Fórum Humanitário Global (FHG), entidade com sede em Genebra. O estudo estima que a mudança climática afete seriamente 325 milhões de pessoas por ano, e que em 20 anos esse número irá dobrar, atingindo o equivalente a 10% da população mundial da atualidade (6,7 bilhões).
Os prejuízos decorrentes do aquecimento global já superam os 125 bilhões de dólares por ano -- mais do que o fluxo da ajuda dos países ricos para os pobres -- e devem chegar a 340 bilhões de dólares por ano até 2030, segundo o relatório. "A mudança climática é o maior desafio humanitário emergente do nosso tempo, causando sofrimento para centenas de milhões de pessoas no mundo todo", disse nota assinada pelo ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, presidente do FHG. "Os primeiros atingidos e os mais afetados são os grupos mais pobres do mundo, embora eles pouco tenham feito para causar o problema", acrescentou.
De acordo com o estudo, os países em desenvolvimento sofrem mais de 90% do ônus humano e econômico da mudança climática, embora os 50 países mais pobres respondam por menos de 1% das emissões de gases do efeito estufa.
Annan defendeu que a conferência climática de dezembro da ONU, em Copenhague, aprove um tratado eficaz, justo e compulsório para substituir o Protocolo de Kyoto. "Copenhague precisa ser o acordo internacional mais ambicioso já negociado", escreveu Annan na introdução do relatório. "A alternativa é a fome em massa, a migração em massa e a doença em massa."
O estudo alerta que o real impacto do aquecimento global deve ser muito mais grave do que o texto prevê, já que sua base são os cenários mais conservadores estabelecidos pela ONU. Novas pesquisas científicas apontam para uma mudança climática maior e mais rápida. O relatório pede especial atenção às 500 milhões de pessoas consideradas extremamente vulneráveis, por viverem em países pobres propensos a secas, inundações, tempestades, elevação do nível dos mares e desertificação. Dos 20 países mais vulneráveis, 15 ficam na África, segundo o estudo. O Sul da Ásia e pequenos países insulares também são muito afetados.
O texto diz que, para evitar o pior, seria preciso multiplicar por cem os esforços de adaptação à mudança climática nos países em desenvolvimento. Verbas internacionais destinadas a isso alcançam apenas 400 milhões de dólares por ano, enquanto o custo estimado da mudança climática fica em 32 bilhões de dólares.
"O financiamento dos países ricos para ajudar os pobres e vulneráveis a se adaptarem à mudança climática não chega nem a 1 por cento do que é necessário", disse Barbara Stocking, executiva-chefe da ONG britânica Oxfam e integrante do conselho diretor do FHG. "Esta flagrante injustiça precisa ser resolvida em Copenhague em dezembro."

Fonte: G1

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A rainha de Canaan

Arqueólogos encontraram pistas em Tel Beth-Shemesh sobre uma "Senhora das Leoas", uma mulher que possivelmente reinou em Canaan. A mesma rainha que havia enviado cartas aflitas ao faraó falando da agitação e destruição em seu reino.
"Por volta de 1350 AC, havia agitação na região. Os reis Cananeus deixaram seus medos escritos em cartas em placas de argila pedindo ajuda militar ao faraó do Egito. Entre as correspondências haviam duas que cessaram. Essas cartas vieram da "Senhora das Leoas" em Canaan. Ela escreveu que bandos de pessoas brutas e rebeldes entraram na região e que sua cidade poderia não estar segura. Os arqueologistas sugerem que ela pode ter reinado a cidade de Beth Shemesh".[AFTAU][link morto]

"Diga ao rei, meu senhor, meu deus, meu sol: Mensagem da Senhora das Leoas [Belit-nesheti], sua serva. Possa meu rei, meu senhor, saber que a guerra tem vagado pela terra e foi-se a terra do meu rei, meu senhor, pelo submissão ao Apiru".
"Os Apiru [Habiru, Hebreus] mencionados em suas cartas eram um povo seminômade que vivia nas fronteiras de Canaan. No mundo da politica do Oriente Médio, onde o controle imperial egípcioo era mínimo, rivalidades dinásticas e coalizões cambiantes deixavam as cidades vulneráveis. Os Apiru operavam como bandos armados fora da estrutura social, pilhando para seu provento próprio ou disponível para ser contratado. Então, quando um principe rebelde procurava tomar o trono de sua cidade estado ou quando um rei tentava tomar o território de outro rei, eles montavam facilmente um exército de mercenários de Apirus para conquistar seus objetivos. Evidentemente, os Apiru que estavam ameaçando a Senhora das Leoas devem ter sido contratados por dinastas que queriam ter o controle da cidade de Belit-nesheti. Beth Shemesh foi devastada em uma onda de violência pouco depois do ano de 1350 AC".[Zenobia]

O mais curioso não é o silêncio quanto a sua existência nos tempos antigos, mas que tal supressão permaneça em nossa época, visto que não há uma única notícia sobre isso na Imprensa.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Roma, sexo, família

Na família romana, o sexo era plenamente suprido. A existência de escravos na casa naturalmente significava que o sexo era acessível.
A sexualidade romana nos tempos pagãos é difícil de ser compreendida pela sociedade ocidental e seus valores fortemente influenciados pelo cristianismo.
Para um/a romano/a o sexo não criava qualquer laço entre duas pessoas, não criava qualquer obrigação de um com outro. Não haviam razões de não ter muitos parceiros sexuais - desde que não trouxesse problemas. O peculiar é que compartilhar uma refeição criava uma relação social com uma pessoa, mas ter relações sexuais não.
O casamento era um contrato entre um homem e uma mulher, mas não exigia que eles se amassem. Os romanos viam o casamento como uma instituição trazido pela civilização, então o sexo não tem qualquer ligação com civilidade, mas muito ao contrário, era aonde o instinto animal ainda residia no homem e se manifestava. Não havia absolutamente vergonha nos atos sexuais e mesmo assim era visto como indecente tratar disso como qualquer outra coisa senão um assunto privado.
A lei não considerava o sexo com escravos como adultério. Sexo com um/a liberto/a apenas era adultério se não fosse por dinheiro, então sexo com prostitutas não era adultério. Entretanto, sexo com um/a liberto/a era um crime, stuprum [estupro]. Então enquanto uma pessoa não cometesse stuprum, tudo era permitido. Não haviam limites de idade ou de gênero.
Os escravos não estavam apenas ligados pela posse, mas pela lealdade [fides] a um senhor em particular [pater familia]. Então a rejeição aos avanços dele podia ser visto mais do que desobediência, mas traição de alguma forma. Se ele se restringia em forçar o escravo a obedecê-lo, então não era necessariamente desrespeitoso ao escravo compartilhar da humanidade, mas poderia muito bem ter sido devido ao seu próprio desejo de se restringir. Auto controle e restrição, disciplina interna era uma virtude observada por todos os romanos. Ser capaz de frear seus desejos e mostrar poder interior tanto para si mesmo quanto para seus escravos teria sem duvida feito muitos um mestre ao não abusar de seus poderes ao extremo.
O fato que a família vivia sob o mesmo teto com escravos, que dividiam a cama com membros da família, podia levar a algumas confusões sobre a relação entre escravos e senhores. Pois as crianças dos escravos podiam ser muito bem meios/as irmãos/ãs das crianças da família. Em tal situação existia a possibilidade do incesto. Embora não era visto assim, pois era apenas incesto quando envolvia membros de sua família oficial. Se o senhor da casa estava dormindo com a filha de uma escrava que foi sua amante, isto não era visto como incesto, a despeito da possibilidade de que essa garota poderia ser sua filha. E se não for o senhor, quem poderia dizer que seu filho não poderia ter dividido a cama com a garota, que poderia ser da mesma idade que ele. Se biologicamente eles poderiam ser meio-irmão e meia-irmã, a lei não via nada de errado nisso. Por causa de toda confusão e segredo sobre o sexo em casa, eles poderiam muito bem não saber de seu parentesco.

Fonte: History of Roman Empire [link morto]
PS: Nesse sentido, este pagão que vos escreve é totalmente a favor da família tradicional...à romana! }|D

sábado, 23 de maio de 2009

Iluminação

Nós, bruxos/as lidamos com espíritos familiares. Isso significa que nós somos apresentados aos espíritos, nos tornamos familiares a eles e formamos um longo relacionamento com eles. Um dos propósitos da prática é ficar ciente do que estar morto significa. Nós bruxos/as nos preparamos para a morte tendo certeza que nossas extremidades frouxas estão atadas e olhamos adiante para a oportunidade de ser e agir que não fizemos nesta vida.
Em algumas tradições, a iluminação significa estar apto a desapegar se sequer alguém vive ou morre, ama ou está sozinho. Outra se conforma com o que vier. Outra "vai com o fluxo". Bruxos/as não desapegam do amor, da vida ou do viver. Nós abraçamos, bebemos, amamos a vida, desejamos por ela... E o conhecimento do Mundo Espíritual é parte da vida para nós, não é separado.
Nós preferimos amaciar a Roda. Não vemos necessidade alguma de nos remover dela, mas abraçá-la, com todas as alegrias e tristezas. Eis a mensagem, mesmo quando estamos cercados pela morte, nós buscamos a vida e vem a vida...ou a morte, mas para nós a vida vem novamente.
A iluminação no Ofício é ser capaz de subir nas ondas com a agilidade do surfista e, quando cairmos, voltar à superfície, prontos para outra onda. Esse é o espírito, isso é coragem, isso é poder, isso é mortalmente difícil. Viver enquanto se está vivo e acietar a morte quando vem, como mais uma onda passageira. Tem coragem para subir na onda? Não temer e confiar nos Deuses e nos professores e nos outros iniciados do Ofício para te ajudar como eles puderem? Isso é bem simples, como o Ofício. Sim ou não. Simples, mas não é fácil.
Autora: Juniper Castalia, Alexandrina 3*, no forum da Amber e Jet.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Respeito, dignidade e honra

O que há de mais sagrado na humanidade, a família, seria impossivel de se estabelecer sem que ela tenha sido feita suas bases no respeito, na dignidade e na honra.
Um dos princípios e valores mais básicos do Paganismo está em honrar aos antepassados, aos mais velhos e a nossos progenitores, mas é mais do que uma imposição social ou uma doutrina espiritual, há muito mais envolvido em um ato aparentemente simples.
Estes que são nossos progenitores e aqueles que vieram antes deles possuem uma sabedoria que só se adquire ao longo da vida. Através dessa experiência, modelo e exemplo, nós podemos enfrentar os desafios diários. Ignorar essa sabedoria nos conduziria irremediavelmente a situações perigosas senão mortais. Aceitar tal orientação não é submissão, mas respeito a estes que nos deram a herança mais preciosa com a qual um indivíduo pode nascer: um nome, um legado ligado por laços de sangue a essas pessoas que provaram seu valor através da vida antes de nós.
Honrar aos pais, aos avós e antepassados é continuar com esse legado, manter a nossa dignidade e honra mesmo diante dos piores dilemas, fazer sempre o certo mesmo que isso nos prejudique, pensar sempre no bem daqueles que nos são caros e da comunidade. Uma pessoa honorável é exatamente isso, ele ou ela recebem tal mérito da sociedade como forma de reconhecimento por sempre manter o mais Alto Ideal, uma ética, um comportamento moralmente edificante, não por vaidade ou prestígio, mas porque faz parte tanto de sua personalidade quanto da herança ligado ao seu nome.
No mundo contemporãneo, com as pressões sociais esgarçando os laços familiares e a imposição do individualismo comercial enfraquecendo as relações comunitárias, não é possivel esperar que ainda se preseverve tais valores. E em qualquer sociedade em cuja estrutura faltam o respeito, a dignidade e a honra, o resultado é o colapso e a decadência, o desperdício de muitas gerações, até a completa aniquilação da humanidade.

sábado, 16 de maio de 2009

Entrevista com a Grande Meretriz

Como se não bastasse a história ou mesmo uma análise textual da gibíblia [copyright dos ateus] mostrar que o Cristianismo é misógino, tem algo mais agressivo e ofensivo do que inventar uma personagem mulher como a Grande Meretriz do Apocalipse? Assim como para o Cristianismo é fundamental a figura do Adversário, é fundamental a figura da Grande Meretriz para justificar suas doutrinas quanto ao pecado, ao corpo, ao sexo, na figura de uma mulher que, na lógica do (es)clero(sado), é uma meretriz.
Todo esse medo de mulher, de sexo e das coisas carnais vem desde sua raiz Judaica que nunca aceitou a existencia de hierodulos ou mesmo de ritos sagrados que envolvessem sexo. Para fazer justiça a persognagem tão injustiçada, este pagão resolve marcar uma entrevista, o que me é concedido sem reservas.

Eu: Bom dia, ahnnn, como devo chamá-la?

GM: Chame-me do que quiser, gato.

Eu: Dona Meretriz, quem é a senhora afinal?

GM: Dona? Deixe de formalismo. Senhora? Eu não sou casada. Eu sou muitas mulheres e nenhuma. Eu sou uma personagem criada por interesses comerciais.

Eu: E qual seriam esses interesses comerciais? Por parte de quem?

GM: Obvio, gato. Interesse em aumentar os clientes, por parte da instituição que me criou, a Igreja.

Eu: Mas por que, para quê?

GM: Ah, querido, coisas de menino imaturo. Não gosta de meninas e odeia tudo que se refira a meninas. Eles acham que ao me criarem iriam deixar a humanidade com mais nojo do sexo, do corpo, do prazer.

Eu: Mas por que te criaram como sendo mulher?

GM: O que você acha, fofo? No ocidente cristão a palavra feminino vem de fe-minus, menos fé. A mulher sempre foi considerada mais fraca, mais suscetível às tentações do Diabo.

Eu: Mas e quanto à você? Você concorda com isso?

GM: Oh, gato, desde que me deem atenção, grana e fama, pouco me importa o que pensam de mim ou do meu serviço.

Eu: Não pensou em sair da atual empresa e procurar emprego em outra?

GM: Ah, sim...tem algumas empresas que me procuram com ofertas interessantes, mas no fim eu sou apenas usada para os interesses de outros meninos.

Eu: Você não gosta de ser usada?

GM: [olhando com sensualidade] Depende... tem algo em mente? Eu não sou ruim, apenas fui criada assim. [copyright Jessica Rabbit]

Eu: O que você gostaria de ser ou fazer? Meninas não te procuram?

GM: Ah, procuram e eu fico confusa pois vejo nelas o desejo de ser meninos ou se comportarem como meninos... algumas me desejam como meninos. Eu gosto de ser mulher e o que eu gosto de fazer... bem... [insinuando]

Eu: Então a Igreja não fala por você quando te usa ou oprime a sexualidade, a sensualidade, o prazer?

GM: Nein! Not! Niet! Non! Não! Eu apenas permito que eles tenham outra forma de prazer ao me usarem da forma que querem. Eles tem prazer ao privarem os outros do prazer.

Eu: Mas essa não é a única forma de prazer, dentro e fora da Igreja...

GM: Graças a sei-lá-quem que não! Mesmo na Igreja existe formas de prazer que não são autorizadas pela doutrina da Igreja. E eu fico muito feliz que mesmo entre os seguidores da Igreja existe uma flexibilidade espantosa. Fora da Igreja, então... huuummm... profanos... [lança um olhar sedutor]

Eu: Acha que isso algum dia pode mudar ou modificar essas pessoas ou mesmo a Igreja?

GM: Quem sabe? As pessoas são livres, certo? Não optar é uma opção. Meu papel é atiçar.

Eu: Mas e quanto a você, seus sonhos, seus projetos e seus objetivos?

GM: Mmmm... isso está começando a me excitar... gato, eu não pensei muito nisso. Eu fui criada para um propósito, muito embora não concorde com ele, vou continuar assim enquanto for divertido. Talvez quando eu pensar em ter sonhos, projetos e objetivos eu venha a incluir uma promoção ou uma redenção da minha personagem. Quem sabe até a inclusão da sensualidade e da sexualidade na Igreja.

Eu: Isso existe no Paganismo...

GM: Ah! Enfim! Chegamos a algum lugar! Sim, eu sou mulher, em toda a plenitude, com corpo, desejo, sensualidade e sexualidade femininas transbordando... [abre os botões do vestido]

Eu: Não acha que você deveria trabalhar para o Paganismo? [tiro as calças]

GM: Depende gato [olhando meu dote com gula] se for esse o pagamento, eu aceito.

Eu: Devo avisar que nem todo pagão superou os tabus, proibições e dogmas sociais ou cristãos. [aliso seu corpo e me posto]

GM: [gemendo] Ah, gato, eles que resolvam seus problemas. Agora chega de papo! Trabalhe!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Quem tem raça é cachorro

No domingo passado, citei aqui a frase de meu amigo e conterrâneo Zecamunista que hoje uso como título. Ele de fato diz isso, como eu também digo, nas conversas intermináveis havidas com amigos desde a juventude, quando nos ocorre a felicidade de revê-los. Coroas meio ou bastante chatos, compreendemos quando os mais novos nos cumprimentam com a possível afabilidade, depois mantendo prudente distância. Portanto, a maior parte de nossas conversas não passa mesmo do papo de dois velhotes irresignados e rezinguentos, que não sai, e geralmente não deve ou não precisa sair dali, pois costuma ser algo sem o qual ou com o qual tudo permanece tal e qual, como sentenciava minha avó Pequena Osório, a respeito de meus livros.
Mas, no caso, quando estamos ameaçados de ver consagrada nas leis do País a divisão do povo brasileiro entre raças, acho que devemos fazer o nosso papo transcender os limites do Largo da Quitanda, a ágora da Denodada Vila de Itaparica, onde hoje vultos menores, como Zeca e eu, ocupam com bem pouco brilho o lugar de tribunos da plebe legendários, como Piroca (Piroca é um apelido para Pedro, no Recôncavo Baiano; não tem nada demais, é um fenômeno que atinge o nome “Pedro” de forma curiosa; quer ver, pergunte a um amigo americano o que quer dizer “peter”, com P minúsculo) e Zé de Honorina, este negro pouco misturado com branco, aquele mulato.
Zé, aliás, um dos homens mais inteligentes, argutos e eloquentes que já conheci – e cito o que se segue como um dado interessante – não tinha muita noção de que era negro e uma vez me pediu explicações sobre “negritude” e “irmandade” entre negros, conceitos que lhe eram pelo menos parcialmente estranhos. Mas vou deixar de nariz de cera e de vaselina, porque creio que o assunto merece ser tratado na grossura mesmo, como vem sendo por muita gente, em todas as faixas de opinião.
Quem tem raça é cachorro (em inglês, breed, não race), gente não tem raça. Não vou repetir, porque qualquer um com acesso ao Google pode se encher de dados sobre isto, os argumentos científicos que desmoralizam a raça como um conceito antropologicamente irrelevante e equivocado, sem apoio algum entre os que estudam a genética humana. Entretanto, o atraso da espécie (ou raça) humana leva a que continuemos a lhe emprestar importância desmedida e irracional, odiando por causa dele, matando por causa dele e até ameaçando o planeta por causa dele.
De qualquer forma, incorporando o conceito de raça a seu sistema jurídico, o Brasil estará dando um ridículo (mas de consequências possivelmente temíveis, ou no mínimo indesejadas) passo atrás, mais ou menos como se o Ministério da Saúde consagrasse a geração espontânea de micro-organismos como fonte de infecções. Mais ridículo e até grotesco é que os defensores do reconhecimento das “raças” que compõem o povo brasileiro façam isso depender de uma declaração ou opção da pessoa racialmente classificada, até mesmo em circunstâncias nas quais essa opção pode não ser honesta, mas apenas de conveniência, como nos casos, já acontecidos, de gente que se considerava branca declarar-se negra para obter a vaga destinada a um “negro”.
Ao se verem num mato sem cachorro para definir a raça de alguém, exceto copiando manuais nazistas e tornando Gobineau e Gumplovicz autores básicos para a formação de nossos cientistas sociais, médicos, dentistas, músicos, atletas e profissionais de outras áreas onde as diferenças de aptidão ou fisiologia são “visíveis”, assim como era visível a superioridade dos atletas de Hitler que o negro Jesse Owen botou num chinelo, os defensores de cotas raciais se valeram desse recurso atrasado, burro, grotesco e patético em sua hipocrisia básica.
Não há como defender critério tão estapafúrdio e destituído de qualquer fundamento. Outra coisa chata, enquanto vemos o Brasil querer botar na letra da lei, o que outros países onde houve e há até mesmo apartheid, como nos Estados Unidos, não só de ontem como ainda de hoje, apesar do presidente Obama, fazem força para retirar, é a persistência do que eu poderia chamar de síndrome de Mama África, contra a qual quem eu mais vejo protestar são escritores amigos meus de países africanos, que não aguentam mais ser embolados num mesmo pacote como “africanos”, transformando em folclore disneyano a enorme complexidade cultural de um continente como a África.
Burrice falar em “cultura africana”, “comida africana” e similares, em vez de pluralizar essas entidades, porque são plurais. Além disso, nada mais racista e simplório do que achar que os negros são “irmãos”. Os negros são tão irmãos entre si quanto os europeus entre si, ou seja, irmãos em Cristo, tudo bem. Mas o racismo contra si mesmos de muitos que se acham negros insiste em que há essa irmandade. Documentos escravagistas do Segundo Império, no Brasil, recomendavam que se mantivessem escravos de nacionalidades diversas na mesma senzala, porque muitos se odiavam ou desprezavam entre si mais do que ao opressor.
Quem já viu um alemão racista olhar um polonês (eslavo, que curiosamente tem a mesma origem que “escravo”) sabe o que estou dizendo. Desumaniza-se o negro, tornando-o imune à baixeza de seus companheiros de humanidade (mas não de raça). Isto, claro, é outra asnice desmentida pelos fatos ontem e hoje.
Ontem, quando mercadores negros de escravos vendiam outros negros por eles mesmos escravizados; hoje, quando negros continuam a escravizar negros e a guerrear entre si, exatamente como os homens de outras raças, o que lá seja isso, desgraça de atraso de vida na cabeça das pessoas, triste exemplo de um país misturado pela graça de Deus querer jogar no lixo esse dom inestimável e irreproduzível, “modernizando-se” pela condenação por vontade própria ao que a História não o condenou.
Autor: João Ubaldo Ribeiro coletado em Alma Carioca [link morto]

Muros e muralhas

Existem duas muralhas que são nos dias de hoje consideradas marcos culturais e patrimoniais da humanidade que são o Muro das Lamentações e a Muralha da China, cada qual tem uma mensagem e uma importância para o povo local e para o mundo. Muros e muralhas são construidas por um conforto e conveniência urbana, mas possui um simbolismo intenso como no mito de Romulo e Remo quando este, ao trespassar um muro, foi morto por Romulo. Mas nem sempre um muro ou muralha tem um simbolismo tão agradável ou mitológico. Muitos são os muros que envergonham a humanidade como o Muro da fronterira dos EUA com o Mexico, o Muro de Berlim e o Muro de Belem. Estes também tem um significado, mas sombrio e desagradável. São muros construidos para separar, excluir, dividir, oprimir. São muros da intolerância, do preconceito e do ódio. O muro de Berlim felizmente caiu, mas seu simbolismo permanecerá na memória da humanidade. O muro entre EUA e México só terminará quando (e se) os EUA começarem a ter políticas mais inclusivas e socias frente às América Latina. Isso é algo que eu falava para meu finado pai quando ele em seu pensamento provinciano achava ruim da entrada dos nordestinos, se esquecendo de suas raízes serem igualmente provindas de imigrantes. Isso é o que defendo até mesmo diante de neopagãos nacionalistas: todos nós somos filhos de imigrantes. Se os países "estrangeiros" não querem que venham imigrantes, que adotem políticas sociais para que estes encontrem em sua terra natal condições para saúde, habitação e emprego. O muro de Belém é igual ao muro de Berlim, com um tempero religioso e pode ser que caia algum dia, mas para mim foi hilário ler o Papo Furado declamar que "muros não duram para sempre" o que me faz lembrar de um muro que dificilmente cairá: o muro do Vaticano. Com isso eu quero dizer que existe um muro ou muralha que é mais resistente à mudanças ou questionamentos que são as muralhas ideológicas ou doutrinárias, sejam estas políticas ou religiosas. Ainda hoje se pode encontrar pessoas que defendem o mesmo messianismo marxista, bem como se pode encontrar pessoas que se orgulham de defender a mesma doutrina católica cheia de ignorância, intolerância e preconceito. Quanto a isso, eu dou eco ao pedido da Opera Rock do Pink Floid: Derrubem as Paredes.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Sobre a religião da Ucrânia

O fenómeno é rico em ramificações, práticas e ideias. Como todos os outros povos indo-europeus antigos, os antigos Eslavos tinham vários Deuses - e também entre eles se observou uma inequívoca resistência ao Cristianismo. Cercado de monoteístas por todos os lados, o rei dos Rus de Kiev, Volodymyr I, que tinha erigido estátuas de culto aos Deuses, considerando Perun acima de todos os outros, acabou por ceder e, mercê de alianças políticas, deixou-se baptizar no final do século X. Práticas pagãs subsistiram todavia no seio do Povo, como de resto sucedeu um pouco por toda a Europa.
No século XX a consciência pagã retornou, revestida de um posicionamento nacionalista e ecologista, voltada para a vida familiar e comunitária, para o culto da honra e da responsabilidade para com os Ancestrais, e essencialmente assente numa combinação de estudo do folclore com o estudo científico-arqueológico e as ideias de autores pagãos contemporâneos.
Outro culto neopagão é o RUNVira, ou Fé Nacional Nativa Ucraniana, fundada por Lev Sylenko após a II Guerra Mundial, mas na diáspora ucraniana.
Sylenko afirmava que o Cristianismo era uma religião alienígena e hostil aos Ucranianos, que instalou na Ucrânia uma mentalidade de escravo e dizia que o período de subjugação da Ucrânia a outras nações foi o da "traição a Dazhboh". O símbolo da RUNVira é o tridente. Os seus princípios fundamentais estão registados no livro "Maha-Vira", da autoria de Sylenko. O seu centro de culto é a Catedral da Santa Mãe, localizada em Nova Iorque. Na Ucrânia há mais de trinta comunidades desta religião, coordenadas por B. Ostrovskyi, o pastor da comunidade "Dazhboh" de Kiev.
Em 1994 surgiu outro movimento pagão ucraniano, a Sobor Ridnoyi Viry, ou Catedral da Crença Nativa. O seus praticantes acreditam que Shayan e Sylenko muito fizeram pelo paganismo nacional, mas falharam em revivê-lo na sua totalidade. Este grupo tem o objectivo de unificar todas as doutrinas nativas. Centra-se na região de Podillia, por ter sido aí que se preservaram mais monumentos pagãos, pois que teriam aí existido comunidades pagãs até ao início do século XVII.
Há outros movimentos, entre os quais o Fé Nativa Ortodoxa (Ridna Pravoslavna Vira, ou RPV), criado a partir de um grupo de praticantes de artes marciais e mágicas dos Cossacos e que põe a tónica do seu culto, não no monoteísmo ou no henoteísmo, mas no verdadeiro politeísmo, embora afirme que há um Deus originador de todos os outros Deuses, Rod (que, além de teónimo, é também um nome ucraniano para dizer "ancestralidade").
Por motivos religiosos ou, mais prosaicamente, meramente nacionais, foi em 2001 colocada na Maidan Nezalezhnosti (Praça da Independência), praça sita no centro de Kiev, uma coluna encimada por uma estátua de Berehynia, espécie de Deusa Mãe, de índole aquática (espécie de Ninfa ou Náiade, a que os Eslavos chamam Rusalka), considerada protectora da urbe e transformada por nacionalistas e por feministas num novo símbolo nacional.
"Actualmente a humanidade começa a perceber a importância da renovação dos seus valores espirituais, que têm estado perdidos por milénios. As razões destas perdas estão a tornar-se óbvias. Mistura de culturas étnicas leva inevitavelmente à demolição da etnoesfera que é uma parte da biosfera da Terra. Não deve esquecer-se que uma pessoa e uma nação são uma parte da natureza. Tal como a natureza existe devido à variedade das espécies, assim a sociedade vive e desenvolve-se na sua variedade de expressões etnoculturais".
O texto acima reproduzido em parte é da autoria de um dos principais senão o principal ideólogo do actual paganismo ucraniano, que é aliás uma ideóloga: Halyna Lozko, filóloga, folclorista, autora de vários estudos académicos, líder da Pravoslavia e da Associação da Fé Nativa da Ucrânia (Obiednannia Ridnoviriv Ukraïny, ou ORU).
Fonte: Gladius

Sobre a pobreza sexual

Uma sociedade baseada na concentração de poder e no intercâmbio econômico empobrece cada área da vida, inclusive as mais pessoais. Existe mais ou menos acordo quando se fala da liberação da mulher, da liberação dos homossexuais e inclusive a liberação sexual dentro do âmbito anarquista. Além disso, é fácil encontrar análises sobre a dominação masculina, sobre o patriarcado e o heterossexismo, mas a realidade do empobrecimento sexual parece que foi amplamente ignorada, a respeito da expressão sexual, limitaram às percepções como monogamia, poligamia, poliamor e outros mecanismos similares das relações amorosas.
Segundo creio, esta limitação é em si mesma um reflexo de nosso empobrecimento sexual; limita-nos a falar dos mecanismos das relações de maneira que possamos evitar os questionamentos sobre a qualidade dessas mesmas relações. Existem vários fatores que influem no empobrecimento sexual que experimentamos nesta sociedade. Se examinarmos suas origens, as instituições do matrimônio, a família e a imposição de algumas estruturas sociais patriarcais são importantes, e o papel que jogou não pode ser ignorado. Mas durante as últimas décadas, pelo menos aqui no chamado Ocidente, a força destas instituições diminuiu consideravelmente. No entanto o empobrecimento sexual não o fez. Talvez tudo ao contrário. Voltou-se mais intenso e o sentimos de uma forma mais desesperada.
A coisificação da sexualidade conduziu um tipo de "liberação" dentro do esquema das relações de mercado. Não somente porque é muito freqüente ver relações sexuais entre pessoas solteiras no cinema, mais porque cada vez mais as relações de homossexualidade, bissexualidade e inclusive algumas outras raras estão ganhando certo nível de aceitação entre a população.
De fato, estas práticas são transformadas em identidades nas quais alguns se ajustam de forma mais ou menos estrita. Desta maneira, se converte em muito mais que uma simples prática de um determinado ato sexual. Assim "estilos de vida" completos estão associados a eles, implicando conformismo, lugares específicos para ir, produtos específicos para se comprar.
Neste contexto, o ato sexual tende a tomar-se na mesma medida; uma forma quantificável em consonância com esta coisificação. O jogo do ato sexual se reduz não somente ao prazer físico, mas mais especificamente ao orgasmo, e o discurso sexual se centra sobre os mecanismos mais efetivos para ganhar este orgasmo.
Um orgasmo eufórico é algo maravilhoso. Mas centrar o encontro sexual em conseguir um orgasmo, não nos permite sentir o jogo de nos perder no outro, aqui e agora. Mas que ser uma imersão de um no outro, o sexo centrado em alcançar o orgasmo se converte em uma tarefa que aspira a um objetivo futuro, a manipulação de certos organismos para ganhar um fim.
A adolescência é a época em que os impulsos sexuais são mais fortes devido às mudanças que se produzem no corpo. Em uma sociedade sã, os adolescentes deveriam ter a oportunidade de explorar seus desejos sem medo ou censura, deveriam fazê-lo de uma forma aberta e aconselhada, se quiserem, pelos adultos. Enquanto que os desejos intensos dos adolescentes são claramente reconhecidos (quantas vezes filmes de humor ou programas de TV se baseiam na intensidade destes desejos e na impossibilidade de explorar-los de uma forma livre e aberta) nesta sociedade, não se criam métodos para que esses desejos possam explorar-se livremente, esta sociedade os censura, fazendo uma chamada à abstinência, deixando os adolescentes ignorando seus desejos, limitando-os a masturbação ou aceitando frequentemente ter sexo rápido em situações de muita pressão e ambientes nada confortáveis para evitar assim que lhes peguem. É difícil não estranhar que algum tipo de sexualidade sã houve se desenvolvido sob estas condições.
Porque o único tipo de "liberação" sexual de utilidade para o Capital é aquela que permite preservar a pobreza sexual, e utilizará todo tipo de ferramentas para a manutenção da repressão sexual sob o engano de uma liberação fictícia. Desde que as velhas justificações religiosas para a repressão sexual deixaram de ser válidas para amplas porções da população, um medo físico pelo sexo atua agora como catalisador na criação de um novo meio para a repressão.
Este medo é promovido principalmente por duas frentes. Em primeiro lugar é o meio do depredador sexual. Ataque sexual a jovens, olhar violador e a violação são fatos muito reais. Mas os meios de comunicação exageram a realidade com explicações sensacionalistas e especulações. O manejo destes assuntos por parte das autoridades e os meios de comunicação não têm como objetivo encarregar-se destes problemas, mas seguir promovendo o medo. Na realidade, os casos de violência sexual contra mulheres e crianças são a maioria das vezes, mais freqüentes que os atos de violência sexual.
Em meio a tal ambiente de deformação sexual, outros fatos desenvolvem o que parece ser inevitável. Uma tendência a agarrar-nos desesperadamente àqueles com quem temos conectado, ainda que seja uma conexão empobrecida. O medo de estar sozinha, sem amor, nos conduz a nos unir com amantes quando há muito já deixamos de amá-los.
Em qualquer caso, vivemos em uma sociedade que empobrece todo tipo de contato, os sexuais também. A liberação sexual - no sentido real, que é nossa liberação para explorar a plenitude, do abandono erótico carnal no outro - nunca o poderá realizar-se por completo dentro desta sociedade, porque esta sociedade necessita do empobrecimento, dos encontros sexuais coisificados, tanto como necessita que todas as interações sejam coisificadas, medidas, calculadas. Assim que os encontros sexuais livres, como cada encontro livre, só pode existir contra esta sociedade. Mas isto não é um motivo de desesperação, mas sim deve conduzir-nos a uma exploração subversiva. O reino do amor é muito amplo, e existem infinitos caminhos a explorar.
Na expressão sexual livre têm cabimento tudo isto e muito mais. De fato, a riqueza sexual não tem nada haver com ambos os mecanismos (tanto as relações como os orgasmos) ou com a quantidade. E sim consiste no reconhecimento de que a satisfação sexual não é exclusivamente uma questão de prazer como tal, senão concretamente de prazer que brota do encontro real e o reconhecimento, a união dos desejos e dos corpos, e a harmonia, o prazer e o êxtase que se obtém dele.
Autor: Willfull

terça-feira, 12 de maio de 2009

Se o Papa fosse mulher

SE O PAPA FOSSE MULHER,
SE O PAPA FOSSE MULHER,
SE O PAPA FOSSE MULHER,
O ABORTO SERIA LEGAL
O ABORTO SERIA SEGURO
Sim, depois de ler o excelente artigo "Se Obama fosse Papa" que eu postei aqui, eu fico imaginando o que aconteceria se a Igreja começasse a admitir mulheres no sacerdócio e se eventualmente uma delas se tornasse a Sumo Pontífice da Igreja.
Existe uma história que não é confirmada de que houve anteriormente uma Papisa, mas ela conseguiu isso por outros meios que não os mais recomendados. Para ser bom, gostoso e para valer, teria que ser com todos os protocolos que cercam a posse de um alto cargo.
Em primeiro lugar, ela iria mudar o nome do cargo e não usaria "Papisa", mas sim "Mama". Imaginem que enorme diferença: "A Mama Maria I convoca novo Concílio para a Igreja".
O resultado desse concílio seria uma adequação tardia da Igreja ao nosso tempo, mas enfim executada, com a revisão de diversos dos dogmas e doutrinas da Igreja, algo que foi feito anteriormente pela Igreja e que seria admitido pela Mama em discurso público.
A Igreja se tornaria menos pesada e rigorosa. Todos os arquivos, inclusive os mais secretos e ocultos estariam à disposição do público, a Igreja colocaria enfim sua história a limpo.
A Mama, como Chefe de Estado e de Governo do Vaticano, se vestiria como as outras mulheres que ocupam ou estão associadas à altos cargos, adotando roupas mais contemporâneas conforme a tendência da Alta Costura, dando fim ao visual cafona e brega das roupas eclesiásticas. As roupas incluiriam babados, paetês e...decotes! Sim, haveria espaço para enfim o clericato poder exercer sua sensualidade e sexualidade de forma normal, natural e saudável.
Outra importante resolução seria o fim da exclusividade da Igreja nos assuntos da espiritualidade humana, a Igreja reconheceria as demais religiões como caminhos espirituais igualmente válidos e dignos de respeito. Neste mesmo ritmo, seria revogada toda e qualquer intolerância contra a diversidade sexual, a Igreja passaria a incluir e aceitar todas as opções de gênero e manifestação de preferência sexual, coibindo e proibindo qualquer sermão ou homilia que censurasse o livre arbitrio das pessoas.
A Igreja passaria a observar e defender os Direitos Humanos, tanto internamente quanto externamente, agindo em apoio às Nações Unidas para implementar em todos os países a observância da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Deixaria para o poder secular e laico as questões legais e constitucionais de cada sociedade, cuidando unica e exclusivamente do apoio e da orientação espiritual de seus membros.
A Igreja poderia até mesmo decidir que o Espírito Santo é Shekinah, a tão omitida e oculta Deusa consorte de Deus, incentivando e construindo o espaço para o sagrado feminino, pondo fim a séculos de repressão sexual, misoginia, frustração e violência sexual. Com isso, seriam repensados os tabus do matrimônio, da fidelidade, da monogamia, do adultério, de concepções preconcebidas e preconceituosas sobre gênero, sexualidade, família e relacionamentos.
Quando e se isso acontecer, até eu teria vontade de voltar a ser Cristão.

sábado, 9 de maio de 2009

Di Indigetes e Di Novensides

Se distingue claramente no ritual romano duas classes de Deuses:
INGIGETES: Trinta desses Deuses eram venerados em festivais especiais. Se trata de Deuses nacionais protetores do Estado. Os primeiros sacerdotes adquiriram esse nome, assim como as festividades fixas do calendário indicavam seus nomes e natureza.
NOVENSIDES OU NOVENSILES: O culto dessas divindades se introduziu no período histórico.
As primeiras divindades romanas incluíam numerosos Deuses, onde cada um protegia um tipo de atividade humana. Se invocava essa série de Deuses quando se tratava de relacionar uma atividade muito específica. No caso da colheita, um velho ritual acompanhava o ato de semear ou arar a terra. Em cada fase da operação (semear-colher) se invocada uma divindade diferente, cujo nome derivava regularmente do verbo correspondente ao ato que se realizava. Nesse caso se tratava de Deuses secundários ou subalternos a quem se invocava junto com as divindades maiores ou superiores.
O primitivo povo romano, como muitos outros, um povo de agricultores durante sua etapa lendária, também eram grandes guerreiros. Aqui há uma estreita relação entre os Deuses e as necessidades práticas da vida cotidiana.
Para os romanos, o mais sagrado era a casa e o fogo do lar. Cada casa tinha seus Deuses. Se realizava o culto aos Deuses protetores do campo e do lar, conhecidos como Lares; aos espíritos dos parentes mortos, denominados de Manes; aos Diparentes (alma dos antepassados); aos Penates (Deuses da família, protetores das provisões) e aos protetores da faculdade procriadora do homem, chamados de Gênios.
A expansão romana teve como conseqüência a aceitação dos Deuses nativos de seus vizinhos. Ao que parece, os romanos não tiveram nenhum problema para conduzir os Deuses recém assimilados para seus próprios templos. Mesmo quando a população e as cidades cresceram, aos estrangeiros ou conquistados, sempre foi permitido o culto de seus próprios Deuses.
Os romanos aceitaram com boas graças a incorporação de novos Deuses procedentes de outras culturas e assim se refletia no calendário religioso romano. E assim foi feito, quando os povos conquistados também assimilaram os Deuses romanos. Houve, portanto, uma mescla entre conquistadores e conquistados.
Nos encontramos no princípio da decadência da religião romana a partir de uma translação das qualidades antropomórficas dos Deuses gregos à religião romana e, sobretudo, à influência e predomínio da filosofia grega entre os romanos cultos. Essa circunstância teve uma drástica conseqüência: o desinteresse pelos velhos ritos e tradições. De alguma forma, a decadência de uma religião vem a fortalecer outras. Sendo assim, no século I AC os ofícios sacerdotais antigos praticamente desapareceram. Desinteressando-se cada vez mais pelo antigo, os patrícios (topo da pirâmide social, descendentes dos primeiros romanos) deixaram de crer nos ritos. Só houve uma continuidade por interesse político, entretanto a maioria da população se inclinou por abraçar ritos procedentes do estrangeiro. Só a elite sacerdotal continuou controlando os cargos do pontífice e de "augur", cargos sem dúvida, tipicamente político e muito cobiçados.
Texto pesquisado e desenvolvido por Rosane Volpato
Nota da casa: A decadência de Roma se deu mais por círcunstâncias e características do Império Romano do que pela entrada de outros cultos e povos.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Segurem suas bíblias, o messias sumiu

Jesus não fundou o Cristianismo.
Você sabia que foi apenas no ano 190 dC. que a palavra grega ekklesia, que traduzimos como igreja, foi pela primeira vez utilizada para se referir a um lugar de reuniões dos cristãos?
Sabia também que esse lugar de reuniões era uma casa, e não um templo, já que os templos cristãos surgiram apenas no século IV, após a conversão de Constantino?
Você sabia que os cristãos não chamavam seus lugares de reuniões de templos até pelo menos o século V?
Você sabia que o primeiro templo cristão começou a ser construído por Constantino, sob influência de sua mãe Helena, em 327 dC, às custas de recursos públicos, e sua arquitetura seguia o modelo das basílicas, as sedes governamentais da Grécia e, posteriormente, de Roma, e dos templos pagãos da Síria?
Você sabia que as basílicas cristãs foram construídas com uma plataforma elevada acima do nível da congregação e que no centro da plataforma figurava o altar, e à sua frente a cadeira do Bispo, que era chamada de cátedra?
Você sabia que o termo ex cathedra significa "desde o trono", numa alusão ao trono do juiz romano, e, por conseguinte, era o lugar mais privilegiado e honroso do templo?
Você sabia que o Bispo pregava sentado, ex cathedra, numa posição em que o sol resplandecia em sua face enquanto ele falava à congregação, pois Constantino, mesmo após a sua conversão ao Cristianismo, jamais deixou de ser um adorador do deus sol?
Você sabia que o atual modelo hierárquico do Cristianismo, que distingue clero e laicato, teve origem e ou foi profundamente afetado pela arquitetura original dos templos do período Constantino?
Você sabia que Jesus não fundou o Cristianismo, e que o que chamamos hoje de Cristianismo é uma construção religiosa humana, feita pelos seguidores de Jesus ao longo de mais de dois mil anos de história?
Você sabia que o que chamamos hoje de Cristianismo está profundamente afetado por pelo menos três grandes eras: a era de Constantino, a era da Reforma Protestante e a era dos Avivamentos na Inglaterra e nos Estados Unidos?
Você sabia que é praticamente impossível saber a distância que existe entre o que Jesus tinha em mente quando declarou que edificaria a sua ekklesia e o que temos hoje como Cristianismo: Protestante, Ortodoxo, Pentecostal, Neopentecostal, Pseudopentecostal e Católico Romano?
Você sabia que os primeiros cristãos se preocuparam em relatar as intenções originais de Jesus com vistas a estender seu movimento até os confins da terra?
Você sabia que este relato está registrado no Novo Testamento, mais precisamente nos Evangelhos e no livro de Atos dos Apóstolos?
Você sabia que o terceiro evangelho, Evangelho Segundo Lucas, e o livro dos Atos deveriam formar no princípio uma só obra, que hoje chamaríamos de "História das origens cristãs"?
Você sabia que os livros foram separados quando os cristãos desejaram possuir os quatro evangelhos num mesmo códice, e que isso aconteceu por volta de 150 dC?
Você sabia que o título "Atos dos Apóstolos" surgiu nessa época, segundo costume da literatura helenística, que já possuía entre outros os "Atos de Anibal" e os "Atos de Alexandre"?
Bem, se você não sabia... fique sabendo... e pense muito sobre tudo isso!
Nota da casa: Você sabia que o texto foi escrito por um cristão [link indisponível]? Pois é, essa fez cair meus chifres.

Homossexualidade e Paganismo

Bom, eu ainda não escrevi um texto exclusivamente falando de homossexualidade no Paganismo, mas vou tentar.
Antes eu acho bom avisar meio que pedindo desculpas se por acaso algum leitor se sentir ofendido de alguma forma, afinal em muitos aspectos o Paganismo é diferente do Cristianismo.
O Paganismo coloca sua base de crença no conceito do sagrado focado na natureza, isso incluindo o corpo e a sexualidade.
O sexo, em suas diversas formas e manifestações, é visto como algo natural, saudável e sagrado. O corpo de cada pessoa é sagrado, bem como a morada do divino, visto que nós, o nosso corpo, é parte da natureza.
Nos povos antigos, dois são os mais citados para entender o papel da homossexualidade no Paganismo: Grécia e Roma. Hoje podemos falar no "culto ao corpo", no "culto à beleza", bem como no hedonismo, graças aos Gregos Antigos.
No mundo antigo, a função o trabalho da pessoa não era um mero instrumento de exploração ou de sustento, mas era igualmente uma forma de vivenciar o sagrado e o divino. Isso era tão levado a sério, que cada trabalho só podia ser ocupado por uma pessoa que pertencia a tal ofício ou que era filho de alguém e, portanto, treinado e iniciado nesse ofício sagrado. Essa foi, basicamente, a origem das ordens iniciáticas sagradas, fraternidades e sindicatos.
Cada oficio tinha seus ritos sagrados e iniciáticos onde fórmulas eram compartilhadas e guardadas estritamente para uso dos profissionais. Cada rito sagrado tinha seus métodos para comungar com o divino e alguns destes ritos incluiam a sexualidade sagrada, magia sexual, de alguma forma.
Curiosamente foi no ofício militar, nas ordens militares, onde os ritos homossexuais foram adotados, para garantir a honra, a fraternidade e o destemor dos combatentes no campo de batalha. Um soldado era mais confiável se tivesse feito um compromisso, um laço com seu irmão em armas com uma relação que os ligasse intimamente e isso era feito com um soldado experiente adotando um mancebo (um jovem, púbere) como seu protegido, como seu amado, como seu aluno. Ambos viviam juntos de tal forma que era impossivel não surgir uma atração física, amor e desejo, fundamentais para que o jovem se dispusesse até a morrer se necessário fosse pelo seu tutor.
No devido tempo, o jovem recebia a iniciação na companhia através do rito homossexual com seu tutor, para então ser apresentado aos seus agora irmãos em armas, a quem ele jurava igual amor e devoção que tinha pelo seu tutor, tornando-o um soldado eficiente e confiável. Eventualmente, no campo de batalha, os ritos continuavam a ser celebrados, para o sucesso da campanha, nisso incluindo os ritos homossexuais.
Entretanto, isso nunca significou nem significará que o paganismo concorda ou permite qualquer forma de violência sexual ou promiscuidade. Os ritos são sagrados, portanto, devem ocorrer dentro de uma cerimônia, sempre entre pessoas fisica, mental, emocional e espiritualmente maduras, sempre com os mesmos parceiros.
Fonte: Resposta que eu dei em email para Marcio Retamero, da BetelRJ.

Questionando o "propósito de vida"

Algumas coisas ou situações acontecem no meu dia e eu tenho que lembrar que não existe coincidência. Como por exemplo ontem, enquanto eu via Naruto (ou outro anime) no Youtube e um personagem entrou com um discurso sobre seu "propósito de vida". Os animes, tirando os duelos sem sentido e absurdos, divulgam muitos valores que são considerados básicos, senão na sociedade japonesa, para toda a humanidade como amizade, honra, família.
Considerando que existem alguns tópicos na tarjeta "valores" que falam em honra e família no Paganismo, eu resolvi escrever sobre o "propósito de vida", simplesmente porque em algum momento eu me surpreendi ao ver uma mulher (que se dizia satanista) me acusar de não ter esse tal "propósito de vida" e imagino que deve ter muita gente se perguntando o mesmo e se pondo a busca-lo, como pude perceber ao digitar "propósito de vida" no grande oráculo virtual Google e encontrei 12 milhões de resultados.
Vamos começar com a idéia que constantemente somos bombardeados: "Todos nós temos um propósito na vida". Para começar, eu tenho que definir o que é esse "propósito de vida": "Um sentido profundo de que estão aqui para fazer ou aprender algo. Todos nós vivemos nossas vidas tentando incessantemente descobrir, compreender ou vislumbrar quem somos afinal de contas: quem deveríamos ser, o que estamos nos tornando, o que não deveríamos ser, o que nossos pais dizem que somos". O porque parece que temos tal "necessidade": "Descobrir do que precisamos para nos sentirmos completamente felizes". E qual vantagem existe em tal busca: "As pessoas que elegem determinados objetivos em suas vidas, sejam eles quais forem, vivem uma vida mais intensa e feliz."
Agora que temos um ponto de partida, eu pergunto aos leitores se efetivamente precisamos ter esse tal "propósito de vida". Eu escrevi há um bom tempo sobre a diferença entre necessidades reais ou ideais. Tudo que se pode ler sobre tal "propósito de vida" se encaixa no item "necessidade ideal" ou, se me permitem a piada, um despropósito.
Aparentemente estamos em busca de um foco, de um objetivo, de uma direção, mas mesmo todas estas questões se resumem em uma só: escolha. Desde o início, está em nossas mãos inúmeras alternativas, simplesmente pelo fato de estarmos vivos. cabe a nós, portanto querer ou não que nossa vida tenha esse tal "propósito de vida", para início de conversa. A própria questão de termos que escolher ou não é também uma opção. Nesse caso, nascemos com três coisas mais importantes do que o "propósito de vida" que são a própria vida, a liberdade de escolha que a vida nos dá e - por fim, mas não por último - nós mesmos.
Podemos escolher em questionar ou não se a vida tem um significado maior, podemos escolher qual seria esse significado maior e podemos escolher a forma em como podemos adquirir ou seguir esse significado maior. Esse é basicamente o sentido que existe no "propósito de vida" que, curiosamente, só tem significado se nós concedermos isso para ele. Muitas alternativas são oferecidas à granel pelas religiões, mas novamente a crença não deveria ser um acessório ou uma base do "propósito de vida", afinal muitos são os descrentes que tem seus próprios "propósitos de vida". Aliás, seria reduzir e empobrecer demais a religião se a colocarmos como sendo um mero caminho para preencher os nossos "propósitos de vida".
Resumindo, o "propósito de vida" é um assessório, algo que nós escohemos agregar à nossa vida para dar um certo tempero nela e com isso agregar à nossa personalidade os valores que adquirimos e observamos ao exercitar nosso "propósito de vida", muito embora o possamos fazer tudo isso pelos valores em si mesmos, sem que haja a necessidade de querer atingir esse "propósito de vida". A vida em si mesma tem muitos sabores para que sejam limitados ou restritos a modelos de "propósitos de vida". Nós mesmos somos mais importantes do que ter ou escolher em ter um "propósito de vida", nossa liberdade de escolha, a vida, devem ser matidas acima dessa "necessidade" de ter ou escolher em ter um "propósito de vida", do contrário a busca se torna uma obcessão que pode nos levar à ansiedade e frustração. Nesses casos, o "propósito de vida" se tornou um despropósito, porque se tornou um obstáculo à nossa felicidade e às respostas que supostamente tanto procuramos.
Nossa vida pode ser uma constante busca por respostas, realizações e felicidade. Mas cabe a nós escolher se existe uma pergunta, se há algo a realizar e o que é felicidade, para começar. Na maior parte das vezes, nós temos mais felicidade que muitos não tem, apenas não percebemos; nós buscamos por realizações fugazes que em nada nos acrescentam e - por fim - basta apenas viver e aproveitar a vida ao máximo, sem ter que nos preocuparmos em questionar os motivos de nossa existência.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Iniciativa interessante

A Igreja Madonna do Orgasmo, que tem centenas de seguidores, deu um importante passo em direção ao reconhecimento oficial na Suécia, quando uma corte disse que ela tinha o direito de registrar-se como uma comunidade de fé.
Inicialmente um órgão público da Suécia recusou o registro alegando que o nome da igreja poderia ofender os cristãos. Mas o fundador da igreja, Carlos Bebeacua, ganhou a apelação na corte administrativa local.
O órgão público ainda pode apelar contra a decisão, do contrário será obrigada a registrar a igreja que foi fundada no início dos anos 90 e tem Carlos como Cardeal auto-proclamado.
Carlos teve a idéia de criar a igreja depois que a sua pintura “A Madonna do Orgasmo” levou a protestos na Feira Mundia de Sevilha, na Espanha, em 1992.
Para Carlos “O orgasmo é Deus, o orgasmo deve ser adorado”. “O orgasmo é o principal sentimento de luxúria e não deve ser limitado à ejaculação. Você pode alcançá-lo através da arte ou ao olhar uma paisagem enquanto pensa ‘Uau!’”
A igreja tem apenas sacerdotes mulheres e suas escrituras são chamadas de Catequismo do Orgasmo. O livro pregado é o do sexo.
Durante as cerimônias as sacerdotes lêem versos, comem frutas e bebem suco. Sexo não é o foco, mas também não é proibido. “Nunca aconteceu e eu não sei como nós reagiríamos se acontecesse.”
Ele diz que as alegações de que a igreja só se interessa por orgias e sexo alegando que o propósito é ajudar as pessoas a ver orgasmos como uma metáfora de amor pela vida.
“Não há nada perigoso sobre o que dizemos, somos inofensivos. Nós apenas temos as nossas dúvidas com relação às religiões estabelecidas”, ele disse.

Autora: Alessandra Nogueira, coletado na Hypescience [link morto]
Na concepção deste pagão, uma igreja que encoraja e estimula a humanidade a perceber seu corpo, sua sexualidade, seu prazer, seu desejo e o ato sexual como sagrados é infinitamente melhor que uma igreja que reprime e condena tudo isso.

EUA criminalizam a homofobia

Foi aprovado na quarta-feira (29/03) a lei federal de Prevenção aos Crimes de Ódio, também conhecida como lei Matthew Shepart (jovem vítima de crime brutal e homofóbico) pela Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. A partir de agora todo o território norte-americano passa a punir crimes motivados pela identidade de gênero, orientação sexual e deficiência. O projeto será apresentado ao Senado pelo democrata Edward Kennedy, que é senador pelo Estado de Massachusetts. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, apoia o projeto. Pouco tempo antes da votação da lei na Câmara dos Representantes, o presidente Obama soltou nota oficial, onde pedia aos "membros de ambos os lados (Democratas e Republicanos) a pensarem bem e votarem pela proteção dos cidadãos de quaisquer atos violentos e de intolerância". Uma congressista republicana da Carolina do Norte, Virginia Foxx, que se opunha à lei, foi obrigada a pedir desculpas públicas, pois disse que o assassinato do jovem foi trote para justificar a criação da lei. Ela também defendia que o menino havia sido assassinado em um assalto. Posteriormente, a Republicana disse ter feito uma "má escolha de palavras" e defendeu prisão perpétua aos assassinos de Mathew Shepard.
Além dela, há outros opositores à lei, em sua maioria líderes religiosos. Eles dizem que a lei vai dividir a América. Em um argumento muito semelhante ao usado pelos fundamentalistas brasileiros, a bancada religiosa norte-americana se diz contra a lei, pois entende que agora líderes religiosos não mais poderão criticar o estilo de vida gay e para eles isso é censura. O líder da bancada fundamentalista, o republicano e texano Lamar Smith, disse que a "lei é inconstitucional e não será aprovada".

Símbolo da intolerância
Em 1998, no mês de outubro, Matthew Shepard foi encontrado por ciclistas em estado de coma num poste de madeira. As pessoas que o encontraram disseram na época que o menino estava desfigurado. O crime brutal ganhou destaque nacional, com direito a uma fala pública do presidente à época, Bill Clinton.
Matthew foi abordado na saída do bar Fireside Lounge por Aaron McKinney e Russel Henderson, 22 e 21 anos respectivamente, dizendo para ele que também eram gays, porém, o encurralaram e o espancaram até a morte. Os assassinos foram condenados a prisão perpétua.
Original perdido.

Dominação e racismo

As "raças" e o racismo são uma invenção recente na história da humanidade. O conceito de que existem diferentes "raças humanas" foi criado pelo próprio homem e ganhou força com base em interesses de determinados grupos, que necessitavam de justificativas para a dominação sobre outros grupos. A afirmação é do geneticista Sérgio Pena, autor do livro "Humanidade Sem Raças?" (Publifolha, 2008), da Série 21.
O título tem formato de ensaio e aborda o conceito de "raças" e o racismo de forma sintética. O autor examina a questão sob o prisma da biologia e da genética moderna, com uma perspectiva histórica. E propõe a necessidade da "desinvenção" imediata do conceito de "raças". "Perversamente, o conceito tem sido usado não só para sistematizar e estudar as populações humanas, mas também para criar esquemas classificatórios que parecem justificar o status quo e a dominação de alguns grupos sobre outros", afirma o autor. "Assim, a sobrevivência da ideia de raça é deletéria por estar ligada à crença continuada de que os grupos humanos existem em uma escala de valor." Leia abaixo o trecho de introdução de "Humanidade Sem Raças?".
O texto mantém a ortografia original do livro, publicado em 2008: A Bíblia nos apresenta os Quatro Cavaleiros do Apocalipse: Morte, Guerra, Fome e Peste. Com os conflitos na Irlanda do Norte, em Ruanda e nos Bálcãs, no fim do século passado, e após o 11 de Setembro, a invasão do Afeganistão e do Iraque e os conflitos de Darfur no início do século 21, temos de adicionar quatro novos cavaleiros: Racismo, Xenofobia, Ódio Étnico e Intolerância Religiosa.
Neste livro vamos examinar um desses: o racismo, com o seu principal comparsa, a crença na existência de "raças humanas". Proponho demonstrar que as raças humanas são apenas produto da nossa imaginação cultural. Como disse o epidemiologista americano Jay S. Kaufman, as raças não existem em nossa mente porque são reais, mas são reais porque existem em nossa mente. Acredito que a palavra devia ser sempre escrita entre aspas. Como isso comprometeria demais a apresentação do texto, serão omitidas aqui, mas gostaria de sugerir que o leitor as mantivesse, imaginariamente, a cada ocorrência do termo. No passado, a crença de que as raças humanas possuíam diferenças biológicas substanciais e bem demarcadas contribuiu para justificar discriminação, exploração e atrocidades.
Ao longo dos tempos, esse infeliz conceito integrou-se à trama da nossa sociedade, sem que sua adequação ou veracidade tenham sido suficientemente questionadas. Perversamente, o conceito tem sido usado não só para sistematizar e estudar as populações humanas, mas também para criar esquemas classificatórios que parecem justificar o status quo e a dominação de alguns grupos sobre outros. Assim, a sobrevivência da ideia de raça é deletéria por estar ligada à crença continuada de que os grupos humanos existem em uma escala de valor.
Essa persistência é tóxica, contaminando e enfraquecendo a sociedade como um todo. Henry Louis Gates Jr. (1950), professor da Universidade de Harvard e diretor do Instituto W.E.B. Du Bois de Pesquisa Sobre Africanos e Afro-Americanos, é um brilhante intelectual norte-americano da atualidade. Em um artigo intitulado "A Ciência do Racismo", recentemente publicado online na revista The Root, Gates faz a seguinte afirmativa: "[...] a última grande batalha sobre o racismo não será lutada com relação ao acesso a um balcão de restaurante, a um quarto de hotel, ao direito de votar, ou mesmo ao direito de ocupar a Casa Branca; ela será lutada no laboratório, em um tubo de ensaio, sob um microscópio, no nosso genoma, no campo de guerra do nosso DNA. É aqui que nós, como uma sociedade, ordenaremos e interpretaremos a nossa diversidade genética".
Vou seguir a sugestão de Gates e examinar toda a questão das raças humanas e do racismo sob o prisma da biologia e da genética moderna, com uma perspectiva histórica. Assim, contrasto três modelos estruturais da diversidade humana.
O primeiro, com base na divisão da humanidade em raças bem definidas, foi desenvolvido nos séculos 17 e 18 e culminou no racismo científico da segunda metade do século 19 e no movimento nazista do século 20. Esse equivocado modelo tipológico definiu as raças como muito diferentes entre si e internamente homogêneas. E foi essa crença de que as diferentes raças humanas possuíam diferenças biológicas substanciais e bem demarcadas que contribuiu para justificar discriminação, exploração e atrocidades.
O segundo foi o modelo populacional. Incorporando novos conhecimentos científicos, ele surgiu após o final da Segunda Guerra Mundial, e fez a divisão da humanidade em populações, que passaram a ser corretamente percebidas como internamente heterogêneas e geneticamente sobrepostas. Infelizmente ele se degenerou em um modelo "populacional de raças" e tem sido compatível com a continuação do preconceito e da exploração.
O que proponho para o século 21 é a substituição desses dois modelos prévios por um novo paradigma genômico/individual de estrutura da diversidade humana, que vê essa espécie dividida não em raças ou populações, mas em seis bilhões de indivíduos genomicamente diferentes entre si, mas com graus maiores ou menores de parentesco em suas variadas linhagens genealógicas. Este terceiro e novo modelo genômico/individual valoriza cada ser humano como único, em vez de enfatizar seu pertencimento a uma população específica, e está solidamente alicerçado nos avanços da genômica, especialmente na demonstração genética e molecular da individualidade genética humana e na comprovação da origem única e recente da humanidade moderna na África.
Ele é fundamentalmente genealógico e baseado na história evolucionária humana - enfatiza a individualidade e a singularidade das pessoas e o fato de que a humanidade é uma grande família. Nele, a noção de raça humana perde totalmente o sentido e se desfaz como fumaça. A mensagem principal deste livro é que se deve fazer todo esforço em prol de uma sociedade desracializada, que valorize e cultive a singularidade do indivíduo e na qual cada um tenha a liberdade de assumir, por escolha pessoal, uma pluralidade de identidades, em vez de um rótulo único, imposto pela coletividade.
Esse sonho está em perfeita sintonia com o fato demonstrado pela genética moderna: cada um de nós tem uma individualidade genômica absoluta, que interage com o ambiente para moldar uma exclusiva trajetória de vida.

A Invenção das Raças
Parece existir uma noção generalizada de que o conceito de raças humanas e sua indesejável consequência, o racismo, são tão velhos como a humanidade. Há mesmo quem pense neles como parte essencial da "natureza humana". Isso não é verdade. Pelo contrário, as raças e o racismo são uma invenção recente na história da humanidade. Desde os primórdios da humanidade houve violência entre grupos humanos, mas só na era moderna essa violência passou a ser justificada por uma ideologia racista. De fato, nas civilizações antigas não são encontradas evidências inequívocas da existência de racismo (que não deve ser confundido com rivalidade entre comunidades). É certo que havia escravidão na Grécia, em Roma, no mundo árabe e em outras regiões. Mas os escravos eram geralmente prisioneiros de guerra e não havia a idéia de que fossem "naturalmente" inferiores aos seus senhores. A escravidão era mais conjuntural que estrutural - se o resultado da guerra tivesse sido outro, os papéis de senhor e escravo estariam invertidos. A emergência do racismo e a cristalização do conceito de raças coincidiram historicamente com dois fenômenos da era moderna: o início do tráfico de escravos da África para as Américas e o esvanecimento do tradicional espírito religioso em favor de interpretações científicas da natureza.

Diversidade Humana
Antes de prosseguirmos, proponho ao leitor um simples experimento. Dirija-se a um local onde haja grande número de pessoas - uma sala de aula, um restaurante, o saguão de um edifício comercial ou mesmo a calçada de uma rua movimentada. Agora observe cuidadosamente as pessoas ao redor. Deverá logo saltar aos olhos que somos todos muito parecidos e, ao mesmo tempo, muito diferentes.
Podemos ver grandes similaridades no plano corporal, na postura ereta, na pele fina e na falta relativa de pelos, características da espécie humana que nos distinguem dos outros primatas. Por outro lado, serão evidentes as extraordinárias variações morfológicas entre as diferentes pessoas: sexo, idade, altura, peso, massa muscular e distribuição de gordura corporal, comprimento, cor e textura dos cabelos (ou ausência deles), cor e formato dos olhos, formatos do nariz e lábios, cor da pele etc. Essas variações são quantitativas, contínuas, graduais.
A priori, não existe absolutamente qualquer razão para valorizar uma ou outra dessas características no exercício de perscrutação. Mas logo se descobre que nem todos os traços têm a mesma relevância. Alguns são mais importantes; por exemplo, quando reparamos que algumas pessoas são mais atraentes que outras.
Além disso, há características que podem nos fornecer informações sobre a origem geográfica ancestral das pessoas: uma pele negra pode nos levar a inferir que a pessoa tenha ancestrais africanos, olhos puxados evocam ancestralidade oriental etc.
Mas isso é tudo: não há nada mais que se possa captar à flor da pele. Pense bem. Como é possível que o fato de possuir ancestrais na África faça o todo de uma pessoa ser diferente de quem tem ancestrais na Ásia ou Europa? O que têm a pigmentação da pele, o formato e a cor dos olhos ou a textura do cabelo a ver com as qualidades humanas singulares que determinam uma individualidade existencial? Tratar um indivíduo com base na cor da sua pele ou na sua aparência física é claramente errado, pois alicerça toda a relação em algo que é moralmente irrelevante com respeito ao caráter ou ações daquela pessoa.
Fonte (citando da Folha): Alagoas Online [link morto]

sábado, 2 de maio de 2009

Se Obama fosse Papa

O Presidente Barack Obama conseguiu num curto período de tempo retirar os Estados Unidos de um ambiente desânimo e apoiar reformas, apresentando uma visão credível de esperança e introduzindo uma mudança estratégica na política interna e externa deste grande país.
Na Igreja Católica as coisas são diferentes. O ambiente é opressivo, a pilha de reformas é paralisante. Após quase quatro anos no cargo, muitas pessoas vêem o Papa Bento XVI como outro George W. Bush. Não foi nenhuma coincidência que o Papa celebrasse o seu 81º aniversário na Casa Branca. Bush e Ratzinger não conseguem aprender nada em matérias de controlo de natalidade e aborto, não são propensos a realizar quaisquer reformas sérias, arrogantes e sem transparência na forma como exercem os seus cargos restringindo liberdades e direitos humanos.
Tal como Bush no seu tempo, o Papa Bento também sofre de uma crescente falta de confiança. Muitos católicos já não esperam nada dele. Pior ainda, com a retirada da excomunhão a quatro bispos tradicionalistas que consagravam ilegalmente, incluindo um que notoriamente nega o Holocausto, Ratzinger confirmou todos os receios que se levantaram quando foi eleito Papa. O Papa favorece pessoas que ainda rejeitam a liberdade de religião afirmada pelo Vaticano II, o diálogo com outras igrejas, a reconciliação com o Judaísmo, uma elevada estima pelo Islão e outras religiões mundiais e a reforma da liturgia.
Com o objectivo de promover a “reconciliação” com um pequeno grupo de tradicionalistas arqui-reaccionários, o Papa arrisca perder a confiança de milhões de Católicos em todo o mundo que continuam a ser leais ao Vaticano II. Por ser um Papa alemão que está a dar passos errados, acentua o conflito. As desculpas após o evento não conseguem juntar as peças.
O Papa teria um trabalho mais fácil do que o Presidente dos Estados Unidos ao adoptar uma mudança de rumo. Não tem ao seu lado nenhum Congresso como corpo legislativo, nem um Supremo Tribunal como magistratura. É chefe absoluto do Governo, legislador e juiz supremo na Igreja. Se quisesse, poderia autorizar imediatamente a contracepção, permitir o casamento dos padres, tornar possível a ordenação de mulheres e permitir a eucaristia partilhada com as Igrejas Protestantes. O que faria um Papa se agisse no espírito de Obama?
Claramente, tal como Obama, ele:
Afirmaria claramente que a Igreja Católica está numa crise profunda e identificaria a origem do problema: muitas congregações sem padres, ainda insuficiente número de novos recrutas para o sacerdócio, e um colapso oculto de estruturas pastorais como consequência de fusões impopulares de paróquias, um colapso que frequentemente se desenvolveu ao longo de séculos;
Proclamaria a visão da esperança de uma Igreja renovada, um ecumenismo revitalizado, entendimento com os Judeus, Muçulmanos e outras religiões mundiais e uma avaliação positiva da ciência moderna; Reuniria ao seu redor os colegas os mais competentes, e não os “yes-men” mas mentes independentes, apoiados por peritos competentes e destemidos;
Iniciaria imediatamente as medidas reformadoras mais importantes por decreto (“ordem executiva”); e convocaria um concílio ecuménico para promover a mudança de rumo.
Mas que contraste deprimente: Enquanto o Presidente Obama, com o apoio do mundo inteiro, olha para a frente e está aberto às pessoas e ao futuro, este Papa encaminha-se o mais para trás possível, inspirado por um ideal de igreja medieval, céptico sobre a Reforma, ambígua sobre os direitos modernos de liberdade.
Enquanto o Presidente Obama se preocupa com uma nova cooperação com parceiros e aliados, o Papa Bento XVI, tal George W. Bush, está preso num raciocínio em termos de amigo e inimigo. Despreza os companheiros cristãos nas Igrejas Protestantes ao recusar reconhecer estas comunidades como Igrejas. O diálogo com os Muçulmanos não foi mais além do que uma mera confissão verbal de “diálogo”. As relações com o Judaísmo dizem-se profundamente danificadas.
Enquanto o Presidente Obama irradia a esperança, promove actividades cívicas e apela a uma nova “era de responsabilidade”, o Papa Bento XVI está encarcerado nos seus medos e quer limitar a liberdade humana tanto quanto possível, com o propósito de restabelecer uma “era de restauração”.
Enquanto o Presidente Obama se lançou na ofensiva usando a Constituição e a grande tradição do seu país como base para passos corajosos na reforma, o Papa Bento interpreta em direcção contrária os decretos do Concílio da Reforma de 1962, tendo em mente o Concílio conservador de 1870.
Mas porque, com toda a probabilidade, o Papa Bento XVI não será nenhum Obama, para o futuro imediato precisamos:
Primeiro: um episcopado que não oculte os problemas manifestos da Igreja mas mencione-os abertamente e aborde-os de forma enérgica a nível diocesano;
Segundo: teólogos que colaborem activamente numa visão futura da nossa Igreja e não tenham receio de falar e escrever a verdade;
Terceiro: pastores que opor as cargas excessivas impor constantemente pela fusão de muitas paróquias e que tomam corajosamente a responsabilidade como pastores;
Quarto: em particular as mulheres, sem as quais muitas paróquias entrariam em colapso, que com confiança empregam as possibilidades da sua influência.
Mas podemos nós realmente fazer isto? Sim, conseguimos.
Autor: professor Hans Kung, tradução: Marco, capturado do blog: Povo de Bahai