domingo, 28 de junho de 2009

A patologia da culpa

A culpa é um dos maiores problemas que todas as pessoas devem ter que encarar. O passado inteiro da humanidade foi construído sobre a culpa. E cada geração vai passando suas doenças à nova geração. E elas vão se tornando, naturalmente, cada vez maiores. Elas se acumulam com cada geração. E cada nova geração é mais sobrecarregada que a anterior.
Mas a culpa foi uma das estratégias básicas dos clérigos para explorar as pessoas. O padre, a freira, os sacerdotes, pastores, bispos não podem existir sem a culpa. Quando você se sentir culpado, lembre-se, o clérigo está ao seu redor. Quando você se sentir culpado, lembre-se, as mãos dos clérigos, estão ao redor do seu pescoço -elas estão batendo em você. A culpa é uma estratégia para explorar as pessoas e transformar as pessoas em escravas.
O que é a culpa, exatamente? Primeiro: é uma condenação da vida; é uma atitude de negação da vida. Foi dito a você que algo está basicamente errado com a vida; foi dito a você que você nasce como um pecador. Foi dito que nada de bom pode sair da vida ou de você ou de qualquer outra pessoa. Nada de bom é possível nesta terra! O bem é só de Deus. E você tem que encontrar um salvador -- um Cristo, um Krishna, um Buda -- você tem que encontrar um salvador que pode lhe salvar de você mesmo que pode levá-lo a Deus.
A vida não vale viver -- evite viver! Se você viver, você pecará mais e mais -- a vida é pecado. Evite a vida. Retire seu ser da vida. E sempre que você se sente atraído(a) para a vida, a culpa surge. Você começa a ter o sentimento que você vai fazer algo de errado.
A vida é imensamente bela. Ela tem grande atração, tem gravitação. É natural ser atraído pela vida. É natural estar apaixonado. É natural desfrutar, é natural rir, é natural dançar. Mas tudo que é natural é condenado. Você tem que agir contra a natureza--isto tem sido ensinado.
Os puritanos envenenaram suas fontes naturais de vida; eles o puseram contra o seu ser. Eles criaram uma divisão em você. Eles não puderam corromper o seu corpo, mas eles corromperam a sua mente. Assim a mente existe de acordo com os clérigos e o corpo existe de acordo com a natureza -- e não há nenhuma união.
O corpo deseja as alegrias da vida -- todas as alegrias. O corpo é afirmação da vida e a mente é a negação da vida. A mente fala o idioma dos padres, dos sacerdotes, dos clérigos; ela diz "Isto está errado"! Se você está comendo e você gosta, O Mahatma Gandhi fala para a sua mente: "Isto está errado -- não deguste, não saboreie. Degustar, saborear é pecado.
O mesmo é verdade para outras coisas: se você se apaixonar por um homem ou mulher, você está pecando, alguma injustiça está acontecendo. Se você vê a beleza de uma mulher ou de um homem, e você vibra, fica fascinado(a), grande culpa surge o que você está fazendo? Isto é irreligioso! Isto não é moral!
E se você é uma mulher ou homem casado(a), então pior. Você tem uma esposa ou marido, você se comprometeu a ele(a). Agora, até mesmo apreciar a beleza de outro homem ou mulher é impossível. Você irá para casa e se sente culpado(a). Você não fez nada! Você tinha apenas visto um homem ou mulher bonita. Agora, isto é feio. Você sentirá culpa; você se sentirá na defensiva. Quando você cai na tentação você tentará se esconder. Você não permitirá que sua esposa ou marido saiba que na rua você viu uma mulher ou homem bonito(a) e foi uma grande alegria -- porque se você conta, haverá dificuldade.
E por que se cria dificuldade, você mentirá. E quando você mente você se sentirá culpado(a) novamente porque você está mentindo, e a pessoa não deveria mentir para o próprio(a) marido ou esposa. Isso é assim e assim sucessivamente.... Uma culpa cria outra e assim por diante, sem parar. Não há nenhum fim nisto. Então você é montado(a) na culpa; você tem uma montanha como o Himalaia de culpa no seu coração.
Você não se libertará da culpa a menos que você entenda todo o mecanismo dela -- como é por culpa que os clérigos dominaram a humanidade, como os clérigos criaram a escravidão e uma escravidão sutil. Você não tem algemas nas suas mãos, você não tem algemas em seus pés, mas você tem algemas bem fundo na sua alma.
Estar livre da culpa é estar livre de todo o passado. E estar livre da culpa é se tornar um(a), porque então a divisão desaparece. Estar livre da culpa é derrotar a esquizofrenia. E então há grande alegria, porque você já não está mais lutando com você mesmo(a), você começa a viver!
Você só pode viver quando a briga terminar. Então a vida tem seu próprio ritmo, sua própria melodia. E vida é uma bênção. E só em harmonia, quando você vive sem culpa, sem repressão, sem tabus, sem inibições, sem padres e freiras que interferem em sua vida, quando você está por conta própria, sem interferências, com seu próprio mestre interior.
Autor: Osho

Um comentário:

Adília disse...

Uma análise muito interessante e correcta do fenómeno da culpa por que todos nós já temos passado. Nada melhor realmente do que infundir numa pessoa o sentimento de culpa para que ela se sinta um verme capaz de se sujeitar à vontade daquele que souber manipular a situação e, nesse aspecto, as classes sacerdotais de todos os tempos e lugares foram exímias, e vergaram as pessoas mais do que à obediência à subserviência ao sacerdote enquanto intermediário entre o deus do perdão e os homens, e sobretudo meulheres, pecadoras.