terça-feira, 25 de agosto de 2009

Perdendo minha religião pela igualdade

As mulheres tem sido discriminadas por muito tempo por uma interpretação distorcida da palavra de Deus.
Eu tenho sido um cristão praticante toda minha vida e um diácono e um professor da bíblia por muitos anos. Minha crença é uma fonte de força e conforto para mim, como as crenças religiosas são para milhares de pessoas no mundo. Então minha decisão de cortar meus laços com a Southern Baptist Convention, após seis décadas, foi doloroso e dificil. Foi, entretanto, uma decisão inevitável quando a convenção dos líderes, citando alguns versículos cuidadosamente escolhidos e afirmando que Eva foi criada depois de Adão e foi responsável pelo pecado original, ordenaram que as mulheres devem ser submissas aos seus maridos e proibidas de servirem como diaconisas, pastoras ou capelãs no serviço militar.
Esta visão que as mulheres são, de alguma forma, inferior aos homens não é restrita a uma religião ou crença. As mulheres são proibidas de terem um papel mais pleno e igual em muitas crenças. Essa discriminação, injustamente atribuida a uma Alta Autoridade, tem providenciado uma razão ou desculpa de privar as mulheres de direitos iguais pelo mundo por séculos.
Em seu mais repugnante, a crença que as mulheres devem se subjugar aos desejos dos homens permite escravidão, violência, prostituição forçada, mutilação genital e leis nacionaisw que omitem o estupro como crime. Mas também custa a muitos milhares de meninas e mulheres o controle sobre seus corpos e vidas e continua a lhes negar acesso justo a educação, saúde, emprego e influência dentro de suas próprias comunidades.
O impacto dessas crenças religiosas alcança todos os aspectos de nossas vidas. Elas ajudam a explicar porque em muitos países os meninos são educados antes das meninas; porque dizem às meninas quando e com quem devem se casar; e porque muitas enfrentam riscos enormes e inaceitáveis na gravidez e no parto por causa que suas necessidades básicas em saúde não são encontradas.
Em algumas nações islâmicas, as mulheres são restringidas em seus movimentos, punidas por permitir a exposição de um braço ou cotovelo, privadas da educação, proibidas de dirigir um carro ou de competir com homens por um emprego. Se uma mulher é estuprada, ela é severamente punida como culpada do crime.
O mesmo pensamento discriminatório está por detrás da contínua lacuna de gênero no pagamento e no porque existem poucas mulheres no escritório no Ocidente. A raiz desse preconceito se esconde profundamente em nossas histórias, mas seu impacto é sentido todo dia. Não são apenas as meninas e as mulheres que sofrem. Danifica a todos nós. As evidências mostram que investir nas mulheres desenvolve maiores benefícios para a sociedade. Uma mulher educada tem crianças mais saudáveis. Ela tem mais possibilidade de mandá-las para a escola. Ela ganha mais e investe na sua família.
Simplesmente é autodestruição para toda comunidade discriminar metade de sua população. Nós precisamos desafiar essas atitudes e práticas cíclicas e antiquadas.Eu entendo, entretanto, porque muitos líderes políticos podem ser relutantes sobre pisar neste campo minado. A religião, e tradição, são áreas poderosas e sensíveis para se desafiar.
Nós decidimos em dar uma atenção especial para a responsabilidade dos líderes religiosos e tradicionais em garantir igualdade e direitos humanos e publicamos uma declaração onde dizemos: "A justificação da discriminação contra as mulheres e meninas no campo da religião ou tradição, como se tivesse sido prescrito por uma Alta Autoridade, é inaceitável". Nós estamos convocando a todos os líderes para desafiar e mudar os ensinamentos e as práticas prejudiciais que justifiquem a discriminação contra as mulheres.
Nós pedimos, em particular, que os líderes de todas as religiões tenham acoragem de compreender e enfatizar as mensagens positivas da dignidade e da igualdade que toas as religiões mundiais majoritárias compartilham.
A verdade é que os líderes religiosos masculinos tem tido - e ainda têm - uma opção de interpretar os ensinamentos sagrados tanto para exaltar ou para subjugar as mulheres. Eles tem, para seus próprios propósitos egoistas, escolhido o último. Suas escolhas tem provido a fundação ou a justificação para muitas das constantes perseguições e abusos contra as mulheres no mundo. Esta é uma violação, não apenas contra a Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas também aos ensinamentos de Jesus Cristo, os Apóstolos, Moisés e os profetas, Mohamed e os fundadores das outras grandes religiões. Está na hora de termos a coragem de desafiar estas visões.
Autor: Jimmy Carter
Fonte: The Age

Um comentário:

Adília disse...

Eu já conhecia este texto de Carter e até fiz na altura em que o proferiu um post avaliando positivamente a intervenção dele. Só que, numa perspectiva mais crítica, tenho dúvidas de que seja possível expurgar as religiões patriarcais do sexismo e até da misoginia que muitos dos seus textos contém e que autorizam muitos dos crentes a defenderem as mesmas posições, por isso não estou tão optimista. Além de que, como sabemos, as religiões patriarcais surgiram entre outras coisas para justificar ideologicamente o regime obtendo para ele o aval da divindade o que foi ainda mais grave, se é esse aval que CARTER lhes quer tirar tudo bem , mas os textos ele não vai conseguir apagar.