sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A origem do Logos

No fim do 4º século AC alteraram-se profundamente as condições políticas e culturais de todo o Ocidente e Ásia Menor. O novo contexto político veio a ser denominado mundo helênico-romano, em função a dois povos que o dominaram, com uma perduração de cerca de mil anos.
A cultura helênica, já bastante vasta, se expandiu primeiramente por todo o Oriente, no espaço maior criado por Alexandre Magno e seus sucessores seleucidas e ptolomeus. Nesta primeira fase verifica-se a atuação das assim chamadas escolas pós-socráticas, dos peripatéticos, acadêmicos, epicuristas, estóicos, céticos.
Na segunda fase do período helênico-romano acontece uma tendência ecleticista, com a penetração do pensamento de umas escolas no das outras. O platonismo penetra no aristotelismo. O pensamento cético em crescimento invade por sua vez o platonismo, de onde resulta a expressão neo - acadêmicos. Cresce também o ativismo religioso, com o domínio final das religiões orientais, sobretudo do cristianismo, num processo todavia bastante ecleticista. Nesta segunda fase acentua-se a importância do neoplatonismo, quer helênico, com Plotino, quer judaico e cristão.
O neopitagorismo e o neoplatonismo se desenvolvem com alguma autonomia em relação à Academia; no fundo, entretanto, se trata de um só grande contexto, tendente a um saber racionalista independente da razão fundada na experiência e de tendência para uma fonte mística, em que também participam as religiões de então, o gnosticismo, o judaísmo e o cristianismo.
O neoplatonismo seria a tendência mais influente em filosofia na Antigüidade tardia. Buscando interpretar o trabalho de Platão, Plotino criou um sistema filosófico vigoroso, iniciado no século III, que iria durar até o século VI, com o fechamento da academia platônica por Justiniano em 529 [DC]. Deixando uma influência profunda na tradição européia em filosofia, literatura, arte e religião.
Durante todo esse tempo teremos filósofos que não separarão o pensamento racionalista e o elemento espiritual. Uma forma holística de ver as coisas que não separava a necessidade do raciocínio lógico com a intuição, ao contrário a dialética era a base pra quê se pudesse cair numa percepção intuitiva da essencialidade das coisas.
Juntando os elementos pitagóricos e platônicos há uma visão de mundo em que se conjugam a busca pelo sagrado e a especulação filosófica, ou seja, no mesmo período em que se desenvolvia o naturalismo racionalista, se desenvolvia os sistemas filosóficos transcendentes, que permaneceu durante o processo e que no período helenístico, ganha um espaço maior, através do processo de interações culturais com uma série de religiões e filosofias orientais, entrando em contato com estas porém sem perder as características básicas. Tendo uma visão de filosofia em que a hierofania, o ato de manifestação do sagrado não passava por um processo de fé, mas sim através da reflexão filosófica, de um certo ascetismo e da meditação.
Pela volta do século 1º AC as idéias trinitárias penetram a filosofia. Tais idéias trinitárias, existentes nos mitos das religiões orientais, ganham agora um embasamento filosófico. O ser é apresentado como polivalente e emanando, de tal maneira que no alto se encontra o Uno, a seguir o Logos, em terceiro lugar a Alma do mundo. Finalmente derivam as almas individuais e a matéria. Por espécie de retorno mental, ou místico, se processa a marcha inversa, pela qual a alma humana finalmente se extasiava em união com o Uno.
Variações secundárias ocorriam entre os filósofos, mas que não retiram a mentalidade geral do movimento. Criava-se, assim, uma filosofia de embasamento para as teologias trinitárias. Por isso mesmo adquiriu importância histórica a filosofia místico-platônica dos primeiros séculos cristãos, notadamente o neopitagorismo, o neoplatonismo judaico e finalmente o neoplatonismo de Plotino.
O neoplatonismo pode ser considerado como o último e supremo esforço do pensamento clássico para resolver o problema filosófico, que tinha encontrado um obstáculo intransponível no dualismo e racionalismo gregos - dualismo e racionalismo que nem sequer o gênio sintético e profundo de Aristóteles conseguiu superar. O neoplatonismo julga poder superar o dualismo, mediante o monismo estóico, na qual o aristotelismo fornece sobretudo os quadros lógicos; e julga poder superar, completar, integrar a filosofia mediante a religião, o racionalismo grego mediante o misticismo oriental, proporcionando o racionalismo grego especialmente a forma, e o misticismo oriental o conteúdo.
Será acentuado o dualismo platônico entre sensível e inteligível, entre matéria e espírito, entre finito e infinito, entre o mundo e Deus: primeiro, identificando, por um lado, a matéria com o mal, e elevando, por outro lado, o vértice da realidade inteligível ao suprainteligível e, em segundo lugar, elaborando uma moral ascética e mística, em relação com tal metafísica, a qual, todavia, se esforçará por unificar os pólos opostos da realidade, fazendo com que da substância do Absoluto seja gerado todo o universo até a matéria obscura.
O racionalismo lúcido dos gregos se une aos fervores do misticismo oriental. Apesar das denegações dos céticos e da propaganda materialista dos epicuristas, nunca os homens foram tão famintos de Deus quanto nessa época. As religiões de salvação, o culto de Mitra, de Ísis, então se desenvolvem. O cristianismo tomará impulso. Preocupações filosóficas e religiosas se unem estreitamente. Os filósofos, além da verdade suprema, buscam a salvação. Os homens piedosos querem fundamentar suas crenças filosoficamente.
O neoplatonismo afirma certa transcendência de Deus, em que este é imaginado como o suprainteligível. Por isso, é inefável e pode ser atingido na sua plenitude unicamente mediante o êxtase, que é uma fulguração divina, superior à filosofia. Com esta doutrina do êxtase, em que é afirmada uma relação específica com a Divindade, parece abrir-se o caminho para uma nova filosofia religiosa.

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