segunda-feira, 27 de julho de 2009

As doze tribos

A civilização teve sua origem entre diversos povos antigos, como os Sumérios, os Egípcios, os Assírios, os Persas, os Gregos, os Romanos. Estes povos começaram sua saga em pequenos grupos que ocuparam, principalmente, regiões que tinham agua em abundancia, como rios, lagos e mares. A mesma água que foi tão necessária para começar a civilização, a falta dela irá terminar a civilização.
A água foi e é essencial para a produção de alimentos, a base para produzir outras coisas, a base da propriedade e da riqueza. A partir destas bases, os grupos crescem, se expandem, se desenvolvem, surgem as cidades, surgem as organizações sociais, surgem os reinos. No rio Jordão não foi diferente, doze tribos se uniram para construir o reino de Israel.
A região tinha diversos povos, como os Cananeus, contra quem o futuro reino de Israel teria que conquistar o território para ter sua hegemonia e poder.
Em todos os povos antigos existia essa necessidade de conhecer suas origens, seus ancestrais e seus Deuses, pois isto dava um sentido de identidade, de valor, de procedência, de superioridade, ainda que ilusória, como perseguem hoje os racistas e alguns reconstrucionistas culturais. Cada povo antigo mantinham seus mitos sobre suas origens, sobre seus ancestrais e seus Deuses, através da tradição popular, através da religião popular.
Com as doze tribos não podia ser diferente, os lideres das doze tribos descobriram ou inventaram um o mais ancestrais, atribuindo a eles não só uma origem, mas também uma crença em comum. Mas seria necessário escolher um dentre os muitos Deuses que existiam e eram adorados entre os Hebreus, tal como são conhecidos os povos das doze tribos, para unir e dar às tribos a vitória necessária. Teria que ser Yahveh, o Deus da Guerra, chamado de o Senhor dos Exércitos, mesmo que para isso eles tivessem que esquecer outros Deuses ou mesmo Asherah, a Deusa consorte, mesmo que para isso tivessem que inventar um mito dentro de outro mito, vinculando seus ancestrais míticos a este Deus em particular.
Em princípio, os lideres inventaram que Israel foi o novo nome dado por Yahveh a Jacó, um dos ancestrais míticos. Mas na Idade Antiga, um Deus tem que ter uma ancestralidade mais antiga para ser aceitável, então inventaram um ancestral mítico, Moisés, e o mito do Êxodo. Ainda assim não era o suficiente, então inventaram um ancestral mítico, Abraão, e o mito de Isaac. Ainda não era o suficiente, então inventaram um ancestral mítico, Adão, e o mito da Queda. Parecia ser antigo o suficiente, então atribuiram toda a descendência humana a Adão, para garantir.
O reino de Israel existiu, graças à adoção de Yahveh como o Deus do povo de Israel, o Deus Único, a conquista de Canaan e a união das tribos seria impossível, se os Hebreus se mantivessem politeístas, se os Hebreus continuassem a adorar a Asherah. Mesmo depois da divisão do reino em dois, mesmo depois da conquista por parte dos Babilônicos, Assirios, Persas, Gregos e Romanos, esse sentido de unidade foi essencial para que seus descendentes, o povo Judeu, mantivesse sua identidade, sua tradição, sua origem.
Esse é o sentido da oração dos Judeus quando eles declaram o Ishmah Israel, esse é o sentido da oração dos Muçulmanos quando eles declaram a Chahada, esse é o sentido da oração dos Cristãos quando eles declaram o Pai Nosso. Ao declarar qual sua crença, você declara mais do que sua crença em Deus ou Deuses, você declara qual é a sua identidade, quais são seus ancestrais, qual é a sua origem, qual é o seu povo. Declare então quem você é, redescubra sua origem, sua tradição, seu povo, sua crença, seus Deuses, redescubra seu lugar no Paganismo.

sábado, 25 de julho de 2009

Declaração de Ética Mundial

Parlamento das Religiões Mundiais, 4 de setembro de 1993, Chicago, EUA.

Condenamos a usurpação dos ecossistemas de nosso planeta.
Condenamos a pobreza, que asfixia as chances de vida; a fome, que enfraquece o corpo humano; as desigualdades econômicas, que proliferam em nossas comunidades; e a morte insensata de crianças através da violência.
Condenamos em especial a agressão e o ódio cultivados em nome da religião.

Afirmamos haver uma reserva de valores fundamentais em comum nas doutrinas das religiões, e que esses valores constituem a base para uma ética mundial.
Afirmamos que essa verdade já é conhecida, mas ainda precisa ser vivida em atos e nos corações.
Afirmamos haver uma norma irrefutável e incondicional para todos os campos da vida, para as famílias e comunidades, para as raças, nações e religiões.

Declaramos:
Todos dependemos uns dos outros. Cada um de nós depende do bom prosseguimento do todo. Por isso respeitamos a comunidade dos seres viventes, seres humanos, animais e plantas, e nos preocupamos com a conservação da Terra, do ar, da água e do solo.
Temos responsibilidade individual por tudo que fazemos. Todas as nossas decisões, ações e omissões têm conseqüências.
Precisamos dar aos outros o tratamento que deles queremos receber. Obrigamo-nos a respeitar a vida e a dignidade, a individualidade e a diferença, de modo que cada pessoa seja tratada humanamente – e sem exceção.
Precisamos cultivar paciência e aceitação. Precisamos ser capazes de perdoar, à medida que aprendemos com o passado, mas jamais permitir que permaneçamos prisioneiros de lembranças de ódio. À medida que abrimos nossos corações uns aos outros, precisamos sepultar nossas controvérsias mesquinhas, em favor da causa de uma comunidade mundial, e praticar assim uma cultura da solidariedade e da aliança recíproca.
Consideramos a humanidade como nossa família. É preciso que almejemos ser amigáveis e generosos. Não podemos viver apenas em favor de nós mesmos, e, mais que isso, precisamos servir aos outros e jamais esquecer as crianças, os idosos, os pobres, os sofredores, os deficientes, os fugitivos e os solitários. Seja como for, jamais alguém deverá ser explorado ou tratado como cidadão de segunda classe. Deverá haver uma relação de companheirismo entre homem e mulher, com igualdade de direitos. Jamais devemos praticar qualquer forma de imoralidade sexual. Devemos deixar para trás todas as formas de dominação ou de abuso.
Comprometemo-nos com uma cultura da não-violência, do respeito, da justiça e da paz. Não exploraremos, não lesaremos, não torturaremos, nem jamais mataremos qualquer ser humano, e renunciaremos à violência como meio para a solução de diferenças.
Precisamos ansiar por uma ordem social e econômica justa, em que cada pessoa tenha a mesma chance de fazer frutificar todas as suas possibilidades como ser humano. Precisamos falar e agir com veracidade e com simpatia, de modo a tratar todas as pessoas com honestidade e evitar preconceitos e ódio. Não nos permitimos roubar. Mais que isso, devemos suplantar o domínio da ânsia por poder, prestígio, dinheiro e consumo, a fim de concebermos um mundo justo e pacífico.
A Terra não pode ser modificada para melhor sem que primeiro a consciência dos indivíduos se modifique. Prometemos ampliar nossas capacidades de perceber a realidade, à medida que disciplinarmos nosso espírito através da meditação, da oração e do pensamento positivo. Sem riscos e sem prontidão para o sacrifício não pode ocorrer nenhuma mudança fundamental em nossa situação. Por isso nos comprometemos com essa ética mundial, com a compreensão mútua, e com formas de vida compatíveis com as dinâmicas sociais, promotoras da paz e benéficas à natureza.
Convidamos todos os seres humanos, religiosos ou não, a fazer o mesmo.

Queremos expressar a convicção que partilhamos:
• Todos nós somos responsáveis por uma ordem mundial melhor.
• Nosso posicionamento em favor dos direitos humanos, da liberdade, justiça, paz e preservação da Terra dá-se de modo incondicional.
• Nossas tradições religiosas e culturais diversas não nos devem impedir de assumir um posicionamento ativo e comum contra todas as formas de desumanidade e em favor de mais humanidade.
• Os princípios manifestados nesta Declaração podem ser assumidos por todos os seres humanos que sustentem convicções éticas, sejam elas de fundamento religioso ou não.
• Nós, no entanto, como pessoas religiosas ou de orientação espiritual – que fundamentam suas vidas sobre uma realidade última, da qual retiram força e esperança espiritual em uma atitude de confiança, de oração ou meditação, em palavras ou pelo silêncio –, estamos especialmente comprometidos com o bem da humanidade como um todo, e preocupados com o planeta Terra. Não nos consideramos melhores que outras pessoas, mas temos confiança em que a sabedoria milenar de nossas religiões seja capaz de apontar caminhos, também para o futuro.

O desafio básico: todo ser humano tem que ser tratado de forma humana.
Quatro preceitos inamovíveis:
1. Compromisso com uma cultura da não-violência e do temor diante da vida.
2. Compromisso com uma cultura da solidariedade e uma ordem econômica justa.
3. Compromisso com uma cultura da tolerância e uma vida de veracidade.
4. Compromisso com uma cultura da igualdade de direitos e do companheirismo entre homem e mulher.

Mudança de consciência
Todas as experiências históricas demonstram: não se pode mudar nosso planeta sem que se chegue a mudanças de consciência no indivíduo e na opinião pública. Tais mudanças também devem ser alcançadas em vista da ética! Todo indivíduo possui não apenas uma dignidade intocável e direitos inalienáveis; ele tem também uma responsabilidade irrefutável pelo que faz ou deixa de fazer. Todas as nossas decisões e atos, assim como nossas conquistas e fracassos, têm conseqüências. Manter viva essa responsabilidade, aprofundá-la e transmiti-la para as gerações futuras – eis aí uma importante incumbência das religiões.
Por fim, apelamos a todos os habitantes de nosso planeta: não se pode mudar nossa Terra para melhor sem que se mude a consciência do indivíduo. Pronunciamo-nos em favor de uma mudança individual e coletiva da consciência, em favor de um despertar de nossas forças espirituais por meio da reflexão, meditação, oração e pensamento positivo, e em favor de uma conversão dos corações. Juntos podemos mover montanhas! Sem riscos e disposição ao sacrifício não haverá mudança de base em nossa situação! Por isso comprometemos-nos com uma ética mundial: com uma maior compreensão mútua, e com formas de vida compatíveis com as dinâmicas sociais, promotoras da paz e benéficas à natureza. Convidamos todos os seres humanos, religiosos ou não, a fazer o mesmo!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Diante da fronteira

Eu cheguei em um lugar que parece estranhamente vazio. Eu perdi todas as associações com meu cristianismo, mas eu ainda não escolhi (realmente crendo em um ou outro caminho espiritual) qualquer das religiões pagãs ou orientais. Eu me sinto nua, despida, em completa ausência de crença em qualquer coisa.[Heidi]
Você está em um lugar escuro agora. Isso é normal. Você deveria se sentir nua, exposta, como um bebê. Pense na palavra renascimento. De onde o bebê vem?
Você está, nesta lista, entre pessoas que estiveram aonde você está e não há outra forma para te expressar senão palavras que você é, por sua permissão, pronta para ser. Parece que você foi trazida para o lugar certo para começar sua jornana. Lembre-se que o sucesso é uma forma da jornada, não seu fim.
A nossa sociedade nos ensina tanto no caminho das espectativas que é muito dificil apagar a programação e se tornar uma página em branco necessária para experimentar uma comunhão com os Deuses da Wica. Quase impossivel. De vez em quando é tudo que temos...seguido por anos de frustração enquanto tentamos negociar através das barreiras que a sociedade normal nos pôs desde o nascimento.
Como companheiros em uma jornada, existem coisas que não podemos dizer, verdadeiramente não poderíamos dizer se pudéssemos, que poderia ou não aliviar sua dor espiritual.
Nunca negligencie seu caminho/conecção pessoal com os Deuses que você serviu até agora. Em alguns casos, as pessoas acham que os Deuses da Wica são velhos amigos, conhecidos, mas não verdadeiramente conhecidos até que a fronteira seja superada. Se você chegou tão longe e nunca formou uma conecção com qualquer caminho espiritual, seu tempo neste local será muito mais duro. Mas irá valer a pena. Esta será a coisa mais dificil que você fará em sua vida, mas valerá a pena. Se você foi chamada, valerá a pena. Se sua alma ainda te estimula a ir adiante, no meio de seus medos no lugar triste que você indicou apropriadamente, então terá valido a pena. Nós todos estivemos onde você está e o caminho certamente continua, mais adiante, mais fundo, do que você compreende agora. Você está em uma jornada para si mesma.
Autor(a) Ivory Witch, forum da Amber & Jet.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Sexualidade e Cultura

A sexualidade é um tema relevante em todos os aspetos da vida das pessoas, depois do advento da Psicanálise foi possível modificar a postura e entendimento sobre a sexualidade da criança.
O desenvolvimento da sexualidade humana começa com as manifestações de sexualidade na infância, o contato físico, quando os bebês são segurados e acariciados. Os órgãos do sentido têm íntima relação com o centro sexual do cérebro e por isto a sucção ou o contato da pele provocam excitação nas crianças. Isto é necessário e natural que aconteça; não se deve privar o bebê de contatos corporais, o que não prejudicará nem tampouco estimulará inadequadamente a criança.
A auto-exploração ou masturbação é outra experiência fundamental para a sexualidade saudável. A criança cedo aprende a brincar e a tirar prazer de seu próprio corpo, e isto faz parte de seu desenvolvimento tanto quanto engatinhar, andar ou falar. A experiência da auto-exploração só trará prejuízos se for punida ou se a criança sentir-se culpada por esta atividade natural.

A comida, a bebida e o sexo são ressaltados com sua devida importância entre os gregos antigos. As diferentes culturas em diferentes épocas fazem uso de costumes que variam de acordo com a evolução da condição humana, seus valores podem ser modificados depois de um longo ou curto período de utilização como sendo correta.
Sendo assim, o sexo, a comida e o consumo de drogas sempre foram elementares para o homem, outro dado relevante é que se observar a história da civilização, o homossexualismo masculino por exemplo, era uma prática aceita em toda a Roma, onde foi fortemente reprimido durante a Idade Média.
Nos primórdios da civilização, as atividades sexuais eram livres entre homens e mulheres, e entre adultos e crianças sem que isso tivesse uma conotação de promiscuidade. Porém a sexualidade tem mudado de acordo com as mudanças de valores das diferentes épocas da humanidade. O que era considerado comum como o sexo entre adultos e crianças, o homossexualismo e a prática de sexo com varias crianças e poucos adultos na Grécia Antiga, hoje é ilícito e considerado patológico, fato que carece de um tratamento psicológico adequado.
A humanidade desde seus primórdios tem oferecido tratamentos diferenciados à criança de acordo com o seu contexto histórico e sua evolução. Nos primórdios da civilização humana as crianças eram vistas como adultas em miniaturas, esse fato favorecia a serem tratadas como adultos, diferenciando dos demais apenas pelo tamanho e pela força que era menor.
O Imperador Adriano tinha freqüentes atos sexuais com meninos e adultos também e por ser considerado passivo, adotou uma lei que todo homem da sociedade que fosse passivo deveria ser considerado como ilegal, só seria considerado digno de passivo, escravos, mulheres e crianças.
Adriano considerado um grande imperador fazia as mesmas práticas sexuais das quais seus ancestrais praticavam, uma vez que era considerado normal e aceito na sociedade romana de sua época, porém de acordo com as novas visões de mundo de cada imperador novas leis eram instituídas, assim o mesmo colocou como sendo normal o ato sexual do ativo, sendo que o passivo passou a ser considerado ilegal, pois ele não o era, ou não gostaria que seus súditos soubessem que era passivo e por isso instituiu leis, por acreditar que ser o parceiro passivo não era digno de ser chamado de parceiro.
Voltando mais no tempo e ainda na Grécia Antiga era comum que as crianças fossem educadas por um tutor ou cuidador, estes por sua vez, era um admirador e poderia ter um amante e instigar os alunos a terem relações sexuais com homens. O casamento era apenas uma formalidade para a sociedade.
Os amantes tinham idade entre 20 e 40 anos, mas era comum ainda crianças de 4 a 5 anos que eram aliciadas para atender aos desejos sexuais de adultos. O que se percebe é que diferentes culturas tiveram diferentes formas de interpretar as relações entre crianças e adultos, enquanto em tempos áureos os romanos acreditavam ser normal essa relação, assim como o incesto e as demais formas de relacionar que hoje são denominadas de parafilias.

Os meios de comunicação, que hoje bombardeiam com programas de baixa qualidade, músicas erotizantes e danças de igual quilate, são hoje um grande impasse na educação de meninos e meninas. Como evitar que a criança seja vítima desta superexposição inadequada do sexo e que assim se sexualize precocemente?
Autora: Ana Mascarenhas em Webartigos.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Carta aberta pela diversidade

Carta aberta do Seminário Inter-religioso de Diversidade Sexual do Cone Sul.
Buenos Aires, 11, 12 e 13 de julho de 2008.
Os e as abaixo-assinados/as, pertencentes a diferentes religiões e formas de viver a espiritualidade e a sexualidade: lésbicas, gays, travestis, transexuais, bissexuais e heterossexuais, mas conscientes de que as etiquetas não conseguem resumir-nos nem definir-nos como indivíduos com personalidade única, singular e irrepetível, reunidos e reunidas no "Seminário Inter-religioso de Diversidade Sexual do Cone Sul", organizado por Católicas pelo Direito de Decidir:

Celebramos:
Nossos corpos e nossas vidas tentando somar esforços a nossas lutas pelos direitos de todas as pessoas e em especial pela não discriminação.
Conscientes de que muitas vezes as teologias, as igrejas e as religiões, em seus discursos e práticas, foram fonte de culpabilidade para o corpo e o espírito, nós queremos reconhecer e vivenciar a alegria e o prazer do corpo como dom de Deus.
Conscientes de que outras teologias e religiões são possíveis, como experimentamos através da convivência de reflexões bíblicas e teológicas, produzidas a partir das diferentes experiências organizadas que articulam a diversidade sexual e a religião; e também de nossas práticas políticas, que se unem a outras práticas libertadoras e promotoras de vida em nossa região.
Nos aliamos:
Às pessoas, grupos e movimentos que lutam contra a pobreza e a desigualdade - que se aprofunda em nossos países e no mundo inteiro - em razão de sistemas políticos e econômicos que valorizam o capital, a propriedade privada e o lucro sobre a dignidade humana, questões que também afetam nossa comunidade, que em muitos aspectos continua sendo excluída e marginalizada política e economicamente por sua construção de identidade de gênero e orientação sexual.
Às pessoas, grupos e movimentos que lutam contra a exploração e a destruição da natureza, que é uma conseqüência desse mesmo sistema político e econômico, afirmando o valor intrínseco da criação e de seu caráter sagrado.
Às pessoas, grupos e movimentos que lutam contra toda forma de fundamentalismo e unilateralismo, afirmando a pluralidade e a necessidade de repensar e reinventar os conhecimentos e os processos de sua construção.
Por isso nos pronunciamos:
- Pela liberdade teológica e religiosa, reconhecendo que a teologia e a religião não são "UNAS", e revalorizar as teologias que emergem dos diferentes lugares de exclusão.
- Por teologias e religiões libertadoras e pela libertação de toda teologia e de toda religião - que com violência simbólica e/ou emocional exclui ou provoca a exclusão das pessoas LGBTTTs, em particular e/ou outros grupos sociais, reconhecendo a contribuição e questionando os limites das teologias da libertação e das teologias feministas a nossas próprias construções teológicas a partir da diversidade sexual.
- Pelas transformações necessárias para que as pessoas LGBTTTs não tenham que viver sua fé no silêncio ou em solidão e haja lugar para a vivência comunitária.
- Pelo diálogo e a articulação com os movimentos sociais organizados para que possamos encontrar juntos e juntas, estratégias para fazer frente aos fundamentalismos religiosos, sem negar a espiritualidade e a religiosidade das pessoas, especialmente os pobres e os marginalizados de nossa sociedade.
- Pela abertura das diferentes confissões, em especial as que têm uma tradição histórica em nossa região e um poder sócio-político preponderante, para que proporcionem vivências de um Deus [e Deusa-NB] da Vida , que nos convida a viver e vivenciar o Amor.

Fonte: Adital. [link morto]

Pagãos no Governo da Escócia

Servidores do Governo Escocês são mais pagãos praticantes do que membros das muitas religiões majoritárias mundiais.
Sete servidores civis declararam cultuar a natureza e vários Deuses Antigos durante um recente estudo sobre diversidade religiosa - um número mais alto do que judeus, siks ou hindus.
Entretanto, eles não terão tratamento especial - como os policiais pagãos que na semana passada conquistaram o direito de tirarem férias para suas datas sagradas, como o solstìcio de verão
.
O Censo de 2001 encontrou mais de 30 mil pagãos no Reino Unido, cerca de 2 mil na Escócia - embora no Reino Unido como um todo possa ser maior do que 200 mil e ainda crescendo.
Até 50 anos atrás a crença, que tem raízes no período pré-histórico, foi efetivamente banida por causa das leis anti bruxaria.

Fonte: Daily Express

sábado, 18 de julho de 2009

Formando iniciadores e iniciados

As preocupações daqueles que buscam trilhar o Caminho dos Sábios, em princípio, são centradas na obtenção da Iniciação. A Iniciação parece, aos olhos do leigo, um ato mágico que, por si só, fará com que uma pessoa comum se torne especial e acesse poderes que não estão à disposição de qualquer um. “-Plim, ao toque desta varinha vc está iniciado!”. Ilusões.
Quando a pessoa realmente chega ao Caminho e começa a se preparar para trilhá-lo de verdade essas idéia infantis dão lugar a uma compreensão maior: a Iniciação não é um fim em si mesma. O rito chamado Iniciação nada mais é que um rito de passagem, o marco de reconhecimento de uma mudança de estado da pessoa para quem ele será celebrado. A Iniciação é , pois, o marco de uma mudança de vida. Quem já compreende isso sabe que o rito em si – embora realmente vá investir o Iniciado de certas chaves de poder ancestral – não é o que concede poderes, apenas reconhece que a pessoa em questão já acessa esses poderes.
O acesso aos poderes dos Antigos é, pois, a marca d@ Brux@, ou seja, a certeza de que a pessoa conseguiu estabelecer uma relação pessoal, especial e contínua com a Deusa Tríplice e o Senhor Hastado [Deus Cornífero-NB].
Mas, afinal, como se distingue um Iniciado de uma pessoa comum? Dentre as muitas respostas cabíveis, eu gosto de usar uma fórmula bem simples: “Um Iniciado é um Desperto, enquanto outras pessoas estão adormecidas.” Esse aforismo contém uma referência muito específica a uma faceta do caminho Wiccaniano. Wicca é um caminho de poder pessoal, e portanto, é um caminho de auto-conhecimento e auto-equilíbrio.
A justificativa para essas afirmações é simples: se alguém não conhecer a si mesmo, jamais conhecerá os Deuses. A obrigação contínua de auto-observação, avaliação crítica e busca de maior equilíbrio é o que carateriza um Iniciado.
Durante o tempo em que ocorre o processo iniciático (entendido este como o período em que alguém deixa operar em si as transformações que o tornarão um Desperto, comumente designado como período de Dedicação) a pessoa contará, muitas vezes com um Iniciador, que acompanhará seu processo e avaliará o que ocorre com ele, aconselhando-o, corrigindo-o e instruindo-o, ou algumas vezes silenciando para que ele aprenda por si só.
O auto iniciado encontra justamente nisso sua maior dificuldade: sem um Iniciador não tem parâmetros para julgar seus progressos e dificuldades e seu caminho é muito mais árido, embora não impossível, se ele se abrir a escutar os Deuses.
Ao final do tempo da Dedicação, quando alguém se inicia, é mister que já esteja ciente de todos os processos de seu despertar, ou seja, que possa observar-se, criticar-se e determinar-se sozinho. Mas, na experiência das Tradições, não é isso que ocorre. Um recém iniciado não é alguém que atingiu um alto grau de sabedoria e vivência, é , como o nome diz, alguém que apenas começou...
Podemos dizer que o estado de recém iniciado implica o mínimo. O mínimo necessário de auto-conhecimento, relação com os Antigos, habilidades mágicas, dons desenvolvidos.
Os anos que se seguem à Iniciação serão destinados a obter a maximização desses mínimos. O Iniciado deve aprender mais, compreender mais, aprofundar mais seu conhecimento dos Deuses e de si mesmo. Deve dar mostras cabais de que se tornou mais equilibrado, vive melhor, anda pelo mundo em maior harmonia.
Nesse tempo, o papel do Iniciador consiste em ensinar ao Iniciado diversas técnicas, modelos, atividades, que permitirão que ele seja capaz de auto-determinar-se, criticar-se e equilibrar-se sozinho em algum momento do caminho.
Assim, se a iniciação implica em tornar alguém Desperto, o período pós-iniciático destina-se a tornar essa pessoa cada vez mais independente do Iniciador, fazendo por si mesmo o papel que desde o começo da dedicação coube ao Iniciador. Agora, caberá a ele ser guardião de seu próprio estado de despertar. Nesse processo de aprender o que seu Iniciador fazia por ele, e que agora cabe a ele mesmo fazer, um Iniciado pode ter despertada sua vocação para tornar-se, ele mesmo, um Iniciador.
Cabe aqui um alerta: é muito comum que pessoas recém iniciadas, muitas vezes movidas por um entusiasmo legítimo e uma ânsia de servir aos Deuses, creiam que já estão prontos para dedicar outras pessoas. Isso é sempre uma ilusão grave e potencialmente perigosa: um potro recém nascido imediatamente após o parto já anda. Mas se alguém tentar colocar nele uma cela e uma carga, quebrará suas patas e sua vida se perderá, morrerá por ter tentado assumir uma carga maior do que a que tinha capacidade de levar. Um recém iniciado é como o potro recém nascido: não deve querer carregar o fardo pesado de ter dedicados, deve se concentrar em seu próprio crescimento e fortalecimento antes de ter a pretensão de carregar mais peso, ajudar outros. Quando chega o tempo certo, porém, cabe ao Iniciador originário a tarefa hercúlea de formar outro Iniciador. Como isso acontece?
É preciso que além do que o Iniciador ensina aos Iniciados comuns, àquele que tem o destino de ser um Iniciador devem ser repassadas as formas pelas quais o seu Iniciador é capaz de acompanhar os processos iniciáticos. Há todo um universo de experiências que devem ser compartilhadas, explicações dadas pelo Iniciador. Também é muitíssimo importante que esse Iniciado mais antigo comece a acompanhar as Dedicações feitas pelo seu Iniciador, e junto com ele observe, julgue e aprenda o que ocorre com as pessoas para torná-las Despertas.
Não existe uma receita de bolo para isto, como não existe para nada no processo iniciático. Cada experiência é única, mas a observação de pontos comuns a diversos processos ajuda o novo Iniciado a criar sua própria capacidade de observação e julgamento, dando a ele um Olhar de Iniciador.
Quando isso ocorre, e somente quando isso ocorre – sem nos preocuparmos em falar em tempo cronológico, porque o calendário não importa, importam as mudanças internas- é que o Iniciado pode se considerar apto a ser um iniciador. E somente nessa hora é que ele deve aceitar pedidos de Dedicação.
Conheço bem a comunidade wiccaniana em geral, compreendo a ânsia dos novatos e também compreendo a vontade dos que já aprenderam em compartilhar aquilo que descobriram. Mas a importância desse ato – aceitar um pedido de dedicação – é enorme, e somente deve ser realizada por pessoas que realmente saibam de suas gravíssimas implicações. Se você lidera um grupo, um circulo, um coven, fora de tradições e está aceitando pedidos de dedicação, pense nisso: você realmente está apto a forjar um novo instrumento para os Deuses? Você já é um Desperto? Você pode ensinar alguém a Despertar? Você já pode ensinar alguém a tornar-se aquele que Desperta os outros? Se a resposta for não, talvez seja um tempo de, ao invés de você ensinar, aumentar seus conhecimentos buscando uma Tradição ou algum outro tipo de aprendizado que supra suas deficiências. Dê tempo a si mesmo para crescer e tornar-se capaz. Ser responsável por si mesmo na Arte já é muito. Ser responsável por outros é muito mais, e muito será exigido daquele que se arvora conhecedor dos Mistérios.
Formar Iniciados já é bem difícil. Formar Iniciadores é muito mais. É preciso que haja muita sintonia, muito amor, muita entrega, tolerância, perseverança e compaixão de parte a parte. É preciso se irmanar no dia claro dos Deuses, e na noite escura da alma. E é preciso, acima de tudo, ser completamente apaixonado pelo ser humano e pelos Deuses que o amam.
Por: Mavesper Ceridwen, em tópico da Sociedade Wicca.
Nota: Curiosamente/coincidentemente [ou não], esta foi praticamente a minha postura diante da autoiniciação e eu fui banido não por infração às regras e diretrizes da comunidade, mas porque eu estava contestando e desafiando a suposta autoridade do proprietário. Como disse em "Caixa de Pandora", essas pessoas estão mudando aos poucos seu discurso, tentando mostrar uma seriedade, mas de fachada, para aumentar a clientela.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Policiais pagãos

Três jornais virtuais noticiaram que no Reino Unido os Policias Pagãos estão formando grupos de apoio e se organizando para conseguirem permissão para celebrar suas datas religiosas: o Daily Express, o The Sun e o Metro.
Até aí, não parece nada de mais, afinal policiais são humanos e, como qualquer pessoa, tem suas crenças e precisam expressá-las. O problema começa quando essa associação pode vir a receber verba pública.
Enquanto os policiais eram cristãos e celebravam cerimônias e datas religiosas cristãs não havia problema algum, mas como agora os que optaram pelo Paganismo querem simplesmente o mesmo tratamento, são criticados, como foi feito pelo Daily Mail [imagem tirada da charge]. A imagem não podia ser mais explicita para dar a idéia que fazem sobre o Paganismo, sua crença e suas celebrações. Eu escrevi aqui sobre como a visão social tende a ser preconceituosa, discriminadora e intolerante diante de algo que não se encaixa nos padrões convencionados. Eu também devo ter algum tópico falando de como a sociedade tende a proteger a religião ou a ignorar os absurdos cometidos pela mesma quando esta é a "socialmente aceita".
Os Policiais Pagãos no Reino Unido apenas querem o que qualquer pessoa que segue uma religião pede do Estado, que seja do seu direito e não prejudique o direito de outrem ou a função que ocupa que é o reconhecimento de sua religião, a permissão para observar suas datas sagradas e a proteção legal.
PS: nem todos os links estão ativos.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Os reinos bárbaros

A formação dos reinos bárbaros na Europa se deu com o processo das invasões dos povos germânicos.
Na primeira fase chegaram os bárbaros, associados do império romano, que estabeleceram tipos de estados relativamente frágeis e efêmeros.
Na segunda fase, os reinos bárbaros deram origem a instituições mais duradouras, bases para as monarquias feudais.
A primeira fase de invasão dos barbaros começou em 406, quando uma confederação de povos vândalos, suecos e álamos cruzou o rio Reno e iniciou a penetração efetiva no império romano. Quando os bárbaros iniciaram essa marcha através dos territórios romanos, a unidade do império já estava desfeita. Os bárbaros não conseguiam substituir a antiga autoridade romana por uma autoridade bárbara, pois as tribos ainda tinham herança primitiva na organização de suas sociedades, não conheciam o Estado, ignoravam a escrita e tinham suas velhas religiões pagãs.
Outra característica importante desta primeira fase das invasões bárbaras é que esses povos se distanciavam muito de suas terras de origem. Os vândalos, por exemplo, viajaram desde regiões próximas da atual Polônia até o norte da África, passando pela Gália e pela Espanha.
Os primeiros Estados bárbaros que se formaram tiveram de se apoiar nas instituições romanas existentes nas regiões onde se fixaram. As características econômicas destes primeiros Estados bárbaros se apoiaram na antiga relação entre romanos e bárbaros, 2/3 das terras ficaram com os germânicos, juntamente com escravos e trabalhadores; o restante ficou com a antiga nobreza provincial romana.
O que havia era uma espécie de associação entre a nobreza barbara e a nobreza romana das províncias e os pequenos proprietários e camponeses tornaram-se dependentes dos dois. Pouco a pouco, a autoridade desta nobreza barbara foi aumentando. Suas propriedades tornaram-se maiores e eram trabalhadas pelos soldados bárbaros, pelos escravos romanos e pelos camponeses dependentes.
A partir daí o Estado bárbaro foi tomando corpo em monarquias rudimentares, onde os reis mantinham sua autoridade, apoiados por grupos de nobres armados e fiéis ao seu chefe. No nível religioso, estes bárbaros forma gradativamente convertendo-se ao cristianismo, o que ajudava a consolidar a aristocracia bárbara no poder, na medida em que as velhas religiões comunitárias desapareciam.
Outra característica dos Estados bárbaros desta primeira fase era a preservação do escravismo e do colonato, formas de trabalho herdadas do império romano.
A segunda fase das invasões barbaras germânicas marcou a conquista da Gália pelos francos, o domínio da Inglaterra pelos anglo-saxões e a conquista da Itália pelos lombardos. Os povos que chegaram nesta segunda vaga tinham sua pátria de origem bem mais próxima que os povos anteriores. Este fato facilitou o envio de reforços de contingentes para consolidar a conquista. Ao mesmo tempo, os francos, anglo-saxões e lombardos chegaram lentamente, o que proporcionou um povoamento mais seguro e concentrado.
Uma outra diferença foi o fato de que tanto os lombardos como os francos simplesmente confiscaram as terras dos romanos e as distribuíram entre suas escoltas nobres. Esta segunda etapa das invasões germânicas produziu uma solida aristocracia territorial, ao mesmo tempo que reforçou as aldeias comunitárias de camponeses, ambas características do futuro sistema feudal. Outra importante característica desta segunda fase das invasões é que as leis romanas deixaram de prevalecer. Começou a ser utilizado um sistema de leis baseado em códigos de antigos costumes bárbaros.
Fonte: Pedro, Antônio. História Antiga e Medieval - pg. 261 a 265.

O mundo germânico

Quando o Império Romano começou a sofrer dos males que o levariam ao fim, os povos chamados germânicos começaram a penetrar e a se instalar além das fronteiras do moribundo império.
Pouco a pouco, a medida que o império chegava ao fim, foram surgindo nações bárbaras onde antes estavam os territórios do império.
Os povos germânicos habitavam as regiões ao sul da Escandinavia, em quase toda a região da Dinamarca. A oeste chegavam a ultrapassar o rio Reno.
O conhecimento destes povos foi ampliado depois que César fez a campanha na Gália e manteve contato com as tribos germânicas.
Até essa época, os povos germânicos eram sedentários e viviam do pastoreio e da agricultura. A terra pertencia a toda a tribo e os chefes das famílias é que determinavam qual parte do solo devia ser cultivada. Somente os rebanhos eram de propriedade privada dos principais guerreiros da tribo. As tribos só possuíam um chefe na época de guerra. Resumindo, os bárbaros germânicos viviam no que se convencionou chamar de sistema comunitário primitivo.
A partir do século I da era cristã, o sistema comunitário primitivo dos germânicos começou a se transformar a medida que aumentava o contato com os romanos. O comércio que os romanos mantinham com os germânicos gerou disputas no interior das famílias e tribos dos bárbaros, pois os chefes guerreiros vendiam seu gado para obter mercadorias dos romanos, vários chefes guerreiros atacavam outras tribos para obter prisioneiros e vendê-los aos romanos, a terra passou a ser distribuída para alguns indivíduos e não mais para toda a tribo.
A partir destas mudanças iniciais, toda a estrutura da sociedade primitiva se alterou profundamente. Formou-se uma aristocracia hereditária que fazia a guerra para aumentar a sua propriedade. No interior destas aristocracias proprietárias surgiram chefes com poder quase semelhante ao dos futuros reis. Os lideres de cada tribo, que se apoderavam das terras comunitárias, formaram escoltas, isto é, grupos de guerreiros que se distanciavam cada vez mais dos outros membros das tribos.
Pouco a pouco, formou-se uma nobreza barbara que não trabalhava mais no campo e se mantinha a custa do trabalho de alguns camponeses escravizados ou dependentes. A autoridade politica dos chefes era mantida pela força, com a ajuda dessas escoltas armadas. Isto levava a lutas entre os chefes rivais que queriam manter o poder. A antiga assembleia dos guerreiros germânicos desapareceu e foi substituída por um conselho de nobres, que exercia autoridade sobre as aldeias barbaras.
Os romanos incentivavam essas transformações e provocavam guerras entre os bárbaros, pois isto mantinha os germânicos divididos e facilitava a manutenção da autoridade imperial sobre as nações barbaras. A politica diplomática de Roma começou a admitir exércitos de bárbaros nas fronteiras, com o objetivo de impedir a entrada de outros bárbaros. Muitos destes novos soldados entravam diretamente no exército romano, como recrutas, mas o faziam em troca de terras. Desta forma, muitos bárbaros tornaram-se altos oficiais do exercito romano.
Os contatos entre germânicos e romanos aceleraram a transformação militar dos bárbaros, aumentando o potencial bélico de seu exercito, o que facilitou paradoxalmente o avanço dos bárbaros atraves das fronteiras romanas. Quando os hunos empurraram definitivamente os germânicos, obrigando-os a atravessar as fronteiras do império, os bárbaros já não eram mais os mesmos, a velha igualdade familiar e tribal foi substituída pela formação de uma classe aristocrática, proprietária de terras, que se apoiava em escoltas nobres de guerreiros.
Da mistura da sociedade romana, que se achava em total decadência, com a sociedade bárbara germânica, que se achava em transformação, nasceu um novo sistema chamado feudalismo.
Fonte: Pedro, Antônio. Historia Antiga e Medieval – pg. 234 a 237.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A religião e o Estado romano

A religião romana tem uma vertente privada e uma vertente pública. No âmbito privado, isto é, no que se refere às crenças pessoais e aos cultos domésticos, a cada qual é livre de escolher seus devoções e as praticar mediante os ritos que lhe pareçam mais eficientes e quando isso não gere problemas de ordem pública ou entre em conflito com a moral romana. Não existia em Roma um credo ao qual os indivíduos devam aderir e, portanto, não fazem sentido as noções de ortodoxia e heterodoxia, ainda que alguns sacerdotes têm direito a supervisionar os cultos privados para garantir que se ajustam às antigas tradições.
A religião pública, no entanto, que se compõe de um complexo ordem de divinidades, festas, ritos e instituições, está controlada pelo Estado e requer a aceitação de todos os cidadãos, ainda que muitos deles não a pratiquem. A religião romana esteve sempre estreitamente unida à cidade de Roma e seu meio e, ainda que muitos ritos e instituições se exportaram aos territórios conquistados, as religiões nacionais sobreviveram ao domínio romano, de forma que os habitantes do Império combinavam seus devoções locais com o cumprimento do exigido em matéria religiosa pelas autoridades romanas.
O carácter de cidadão está unido a este compromisso, de modo que a religiosidade (pietas) mede-se em Roma em termos de adesão aos deuses do Estado, enquanto a impiedade interpreta-se como um signo de inconformismo e resistência política. O carácter ritualista da religião oficial, no que se insiste tão com frequência, faz que em Roma seja mais importante respeitar aos deuses e cumprir formalmente com a veneração que lhes é devida que crer neles. Isto se explica pela simbiose que existe em Roma, como em outros estados da Antiguidade, entre religião e política. A religião e os ritos associados a ela estão incrustados nas instituições políticas e sociais, lhes proporcionando legitimidade.
Todas as áreas importantes da vida pública (e também privada) se desenvolvem no marco de um entremeado de regras e cerimónias religiosas, que se retroagem às origens mesmas da cidade. Qualquer ato público acompanha-se de uma consulta ou uma cerimônia religiosa, oficiada por sacerdotes que são os mesmos homens que se encarregam da política. Este último aspecto é bem revelador da interação entre o sagrado e o político. Os cultos religiosos constituem uma parte imprescindível da vida pública ao mesmo tempo que toda atividade política tem uma dimensão religiosa.
Fonte: Odinismo [link morto]

A experiência sagrada entre os Gregos

O titulo desta conferência alude à observação do grande estudioso das religiões M. Eliade respecto da pobreza das línguas modernas, nas que para a experiência do sagrado só contamos com a palavra religião.
Desde esta perspectiva desprende-se a possibilidade de propor uma experiência não religiosa do sagrado - isto é não determinada pelas práticas, dogmas, crenças de nenhuma das religiões oficiais.
Convoca-nos antes de mais nada a pergunta a respeito das condições de possibilidade de uma sacralidade atual e efetiva - não uma discussão arqueológica - a respeito dos depoimentos da religiosidade helênica.
Digamos antes de mais nada - como esclarecimento metodológico - que não enfrentamos neste momento o problema teórico de que é o sagrado, e para isso referimos à obra de Eliade, como uma aproximação; e se em todo caso tomamos uma síntese da noção do sagrado, este aparece na experiência como plenitude de significado e de intensidade.
Agora, tratar do espírito religioso dos gregos em termos contemporâneos precisa de um esclarecimento. Em primeiro lugar porque nenhuma da religiões vivas, actuais, oficiais, organizada, de nenhum país, mantém, por verdadeiro, os cultos e crenças da antiga Grécia.
Mas como segundo ponto e em oposição a este primeiro que mostra a ausência de uma prática de “cultos pagãos”, de culto de deuses gregos - sustentamos que a antiga experiência grega e latina - a dos chamados pelos cristãos de pagani - foi e é, uma fonte permanente do modo em que os ocidentais, em tanto indivíduos, temos vivenciado ou tentado vivenciar o sagrado: como arte, como mistério do universo e exuberancia da natureza, como erotismo, como realização heroica do destino pessoal. Todos estes elementos foram plasmados desde a construção civilizatoria do mundo helênico.
O Ocidente é a reunião e a luta permanente entre dois espíritos opostos de difícil conciliação, o levantino (semita, mágico) e o grecolatino e clássico. Nossa religiosidade judaicocristã, levantina, soterrou a essa antiga sensibilidade pagã, mas trata-se de uma dimensão em que nada morre mas que se submerge na latência, para retornar com mais impulso. A direção das ciências, da arte e da filosofia, sempre reconheceram sua origem na Grécia. O Renacimiento, a Modernidade, são a continuação, em grande parte, de elementos helênicos e não de judaicocristãos.
Há que diferenciar a religião da experiência do sagrado. Entre os gregos não há uma, senão várias palavras, para dizer religião. Existe por exemplo a palavra sebas, que indica temor, veneração. A palavra sebas é habitualmente traduzida ao latim por pietas. Também religião, em grego, se diz eulábeia. Eulabeia é o correlato especifico do termo latino religio, que significa originariamente atenção, recogimiento, cuidado, precaução. E esta atenção cuidadosa dá-se a respeito das manifestações mesmas do kosmos, que é divino. Também religião em grego se diz threskeia, como o conjunto de atos rituais, de normas, da especificidade das práticas de culto da colectividade. Também, em verdadeiro sentido, a palavra theoría, de onde deriva teoria, é uma palavra do grupo semântico da religião. A palavra theoria - da mesma raiz de théatron, teatro - tem como significado básico contemplar e designa a festividade, o tempo especial em onde o sagrado realiza sua manifestação.
E nesta direcção é mister assinalar que, em termos da visão antiga do mundo, o sagrado inunda muitos aspectos que pareceriam profanos no ponto de se identificar com a cultura em seu conjunto. Em todas partes onde religião e cultura se encontram ainda com sua força original, religião e cultura são no fundo uma mesma coisa, a religião não é um valor que se agregue aos bens culturais, senão mais bem, a mais profunda revelação em seu conteúdo e essência.
Esta união indivisivel entre religião e cultura não é uma interpretação filosófica, senão um atestado de um ato concreto. No mundo antigo, antes da irrupção do Cristianismo, religião é sinônimo de cultura, pois só desde o Cristianismo se acede a uma religião de índole universal, a uma religião que trascende justamente os elementos específicos de uma cultura particular.
Há que partir da conhecida característica essencial da religião grega, o que se denomina religião epifânica. A palavra epifanía vem da raiz phan que significa se manifestar. Falar de uma religião epifânica significa que os deuses se manifestam continuamente no mundo, que o mundo mesmo, como cosmos eterno, é uma contínua epifanía. Isto é, os deuses gregos, todo o conjunto do panteão, não são deuses trascendentes, não são deuses fora do mundo. Todos os deuses representam aspectos sagrados deste mundo.
Neste sentido, respecto de certas afirmações a respeito dos deuses como elementos sobrenaturales no mundo antigo, interessa-nos enfatizar que a palavra sobrenatural é incorreta e anacrônica a respeito dos gregos, porque é de criação cristã. Para os gregos não existe nada, ou digamos assim, hyperphýsios, sobrenatural, para além da physis. Todo o universo, todo o que é a physis, é sagrado. Não existe a concepção de algo sobrenatural.
Por esta mesma razão há que dizer, como parte destas mesmas características da religião grega, que coerentemente não se propõe no mundo antigo o problema da fé. Isto é, não existe a dimensão da fé em algo do que não se tem experiência. O ter presente aos deuses caracteriza a um ser humano que vive na esfera do sagrado. Em troca, nossa sociedade moderna é o lugar do que os deuses têm fugido.
Autor: L. Pinkler Ponencia.
Fonte: Odinismo

O arquetipo do Lobo

Amado Lobo
Costumam contar-nos a imposição do Cristianismo como um processo natural perante o qual quase não houve resistência. Entre o édito de Milão de Constantino (313 EC) e o édito de Tesalónica de Teodósio (380 EC), isto é, entre a legalização e a imposição como único culto legal, o breve parêntesis de Juliano (360-363 EC) mal passaria de um curto episódio histórico.
A verdade é que foi necessária toda a potência da maquinaria imperial para que uma seita intolerante e monoteista, com uma concepção literal dos seus mitos, se impusesse contra séculos de tradições politeístas. Um Deus que não representava um arquétipo nem se baseava num arcaico relato moralizante, senão que pretendia ser uma pretendida verdade histórica, não se impõe sem mais nem porquê depois de séculos de inclusão baseados na possível equivalência dos diferentes mitos e arquétipos da cada povo chegado ao império.
É sabido que o Ocidente ibérico tinha mantido uma considerável autonomia religiosa. A conhecida ara dedicada a Erudinus, aparecida no Bico de Dobra (Santander) e datada trinta anos após o decreto de Teodósio é sem dúvida representativa e são muitos os testemunhos que apontam para uma sobrevivência dos cultos celtíberos à cristianização, inclusive no século V.
O Lobo e a Ursa
Mas ainda neste marco a estela do Lobo e a Ursa que se conserva no Museu Arqueológico de Astúrias, datada no século V, representa uma anomalía.
O lobo é uma importante figura na arte ibérica pré-romana. Como guardião do Hades e as águas subterrâneas, representa uma porta para o terrível, o mundo subterrâneo dos mortos. Muito menos indicando estas um sentido de marcha. Aliás todos as representações bidimensionais pré-romanas e ibero-romanas de lobos olham da direita para a esquerda.
Citado e copiado de Gladius

sábado, 11 de julho de 2009

Curando a doença social

O assunto é igualmente polêmico e controverso, pois a imprensa tem garantido seus tostões explorando casos de abuso e violência sexual de crianças e adolescentes, mas ninguém se pergunta como se fez esse conceito da "idade de consentimento sexual", ninguém se pergunta sobre as fases da sexualidade humana, ninguém se pergunta quais são as reais raizes da violência sexual independente da idade da vítima, ninguém se pergunta porque então se explora/incentiva tanto a sexualidade precoce na nossa sociedade.

Primeiramente eu tenho que ressaltar que, assim como os demais padrões morais de nossa sociedade, a "idade do consentimento sexual" mostra variações. Conforme o país, o povo, a cultura, a religião, a época, a idade de consentimento sexual varia entre 12 e 18 anos [Age of Consent][link indisponível], considerando apenas as relações heterossexuais.

Segundamente eu tenho que ressaltar que nós todos somos/possuímos uma sexualidade desde o nascimento, conforme a psicologia reichiana descreve:

As fases do desenvolvimento afetivo-sexual são cinco: a fase visual, a fase oral, a fase anal, a fase genital infantil e a fase do controle do diafragma. Estas fases se estruturam primordial mente em torno de zonas erógenas, que por sua vez são zonas corporais. Dizem respeito a vivências corporais erógenas e a modalidades de relacionamento afetivo. As zonas erógenas se diferenciam das outras partes do corpo, pois se constituem também como organizadores psíquicos.[Arthur Scarpatto][link morto]

Entretanto a sexualidade da sociedade ocidental "civilizada" recebeu enorme influência da doutrina cristã e toda a rejeição ao corpo, ao prazer, ao desejo, ao tesão, ao sexo, intrínsecos da opressão/repressão sexual imposta pela Igreja. Apenas muito recentemente a civilização ocidental iniciou seu processo para superar/curar essa doença, com a Revolução Cultural da década de 60 (século XX), mas o sistema absorveu e transformou os ideais em mais uma mercadoria, em mais uma ferramenta para assegurar nossa falta de formação/maturidade sexual.
Estamos em um momento em que por um lado há mais liberdade de acesso à informação e por outro há pouca formação/educação da responsabilidade/consciência quanto à forma de usar essa informação. Nós não podemos nem temos o direito de querer frear um processo que nós começamos; não podemos nem temos o direito de censurar, de proibir, de oprimir, de reprimir essa busca pela sexualidade da atual geração; não podemos nem temos o direito de os alienar de seus corpos, de seus desejos, de suas sexualidades.
O que podemos e devemos fazer é iniciar um longo e difícil processo de cura dessa doença, começando pela postura da sociedade diante do sexo e da sexualidade, passando aos "adultos" que não tem uma vida sexual saudável e concluindo pela educação/formação/orientação sexual saudável da atual geração. Isso poderá provocar a falência da indústria da pornografia, o fim das alpinistas sociais, o fim da mulher-objeto, o fim do machismo na propaganda, o fim da violência doméstica contra as mulheres, o fim da violência física e sexual contra crianças e adolescentes, o fim da repressão/opressão sexual religiosa do Cristianismo e talvez o inicio de uma época onde os ideais da Revolução Sexual, do Paganismo Moderno e do Humanismo sejam uma realidade:

Todos os intercursos afetivo-sexuais são legítimos desde que haja reconhecido consentimento dos participantes. Assim, desde que as pessoas envolvidas estejam em pleno uso de sua faculdade de consentir (maduras e sanas o bastante) e de fato consintam com a relação durante todo o seu desenrolar, não importa que sejam do mesmo sexo ou da mesma família. Como é preciso maturidade para consentir, é preciso que as partes não sejam muito jovens [ou com pouca diferença de idade, ou ausência de dominação entre os indivíduos-NB]. Dependerá da educação dada, dos costumes do grupo e fatores correlatos determinar uma idade padrão para início da vida afetivo-sexual (ritos de iniciação na comunidade podem marcar essa data) ou analisar caso a caso. Também é preciso que as partes envolvidas estejam em pleno uso de suas faculdades físicas e mentais. Não importa nada como homossexualidade, heterossexualidade, bissexualidade, panssexualidade ou assexualidade... Importa o real desejo, o real consentimento. Se alguém amar, a princípio, pessoas do mesmo gênero, e depois uma de outro gênero, e depois três de gêneros variados, e todas consentirem, não se deve reprová-la como devassa, pervertida, confusa.[Diego Calazans]

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Paganismo na Russia

Nos últimos dias de Junho passado, os indígenas da nação de Mari-El celebraram num bosque sagrado da aldeia de Marisola um ritual (solstício de Verão?) em honra de Osh Kughu Yumo, ou "Grande Deus Branco", desta feita adorado sob o nome de Agaivairem, que designa ao mesmo tempo o Deus da energia criativa e também a festa do fim do trabalho da Primavera.
O ambiente da celebração é, como convém a um evento desta natureza, festivo, colorido e marcado pela abundância. Trata-se de um culto típico da religião nativa dos Mari, povo de etnia fínica (parente do Finlandês) que conta cerca de meio milhão de indivíduos e fala uma língua algures entre o Finlandês e o Turco, e que, como já se disse noutros artigos do Gladius, lograram manter a sua religião nacional, como que entrincheirada, numa região obscura sita oitocentos quilómetros a leste de Moscovo, aí sobrevivendo às avalanches cristã e muçulmana.
O sacerdote («Kart», na língua indígena) Vyacheslav Mamayev, líder da congregação do distrito de Sernur, explica que, na teologia Mari, Deus tem nove substâncias, ou hipóstases, do dador de vida Ilyan Yumo à Deusa do Nascimento Shochinava. E que toda a Divindade trabalha através da Natureza.
Tal como a maioria das tradições religiosas pagãs, a fé dos Mari não tem nem escrituras sagradas nem templos. «A Natureza é o nosso templo», diz Zoya Dudina, poetisa e intelectual. As orações e rituais são conduzidas sobretudo em bosques sagrados, onde por vezes se sacrificam animais.
Citado e traduzido por Gladius.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A fundação de um deus

O homem só respira à sombra de divindades erodidas.
Quanto mais nos convencemos disso, mais nos lembramos, com terror, a nós mesmos que, se tivéssemos vivido no momento da ascensão da Cristandade, poderíamos ter sucumbido ao seu fascínio.
Não assistimos à fundação de um deus – qualquer que seja ou de onde quer que venha – impunemente. Nem é recente tal desvantagem: Prometeu já tinha chamado a atenção para ela, vítima ele próprio de Zeus e da nova gangue do Olimpo. Muito mais que a perspectiva da salvação, foi a raiva contra o mundo antigo que se abateu sobre os cristãos num único impulso destrutivo.
Desde que vinham, em sua maioria, de outras partes, seu acesso de fúria contra Roma é compreensível. Essa insistência em lembrar aos pagãos que eles estavam perdidos – eles e os seus ídolos – seria capaz de exasperar até os mais moderados. Menos preparado que aqueles, restava-lhe apenas um recurso: odiar-se a si mesmo.
Sem esse desvio do ódio, no começo atípico, mas depois contagioso, a Cristandade teria permanecido só uma seita, limitada a uma clientela estrangeira, capaz apenas de trocar os antigos deuses por um cadáver cravejado.
No entanto tais homens se resignaram a isso, e é difícil para nós imaginar o cúmulo de derrotas internas de onde brotaria essa resignação. Se, no plano moral, podemos concebê-la como a consumação de uma crise e assim lhe conceder o status ou a desculpa de uma conversão, tal resignação aparece como uma traição tão logo a consideramos do ponto de vista político.
Abandonar os deuses que fizeram Roma seria abandonar a própria Roma, para formar uma aliança com essa “nova raça de homens nascidos ontem, não tendo país nem tradição, coligados contra qualquer instituição religiosa e civil, perseguidos pela lei, universalmente execrados por causa de suas infâmias, e no entanto gloriando-se dessa execração comum”[Celsus].
Somente a idade garantia a validade dos deuses – todos eram tolerados, contanto que não tivessem sido moldados há pouco. O que se considerava particularmente problemático era a absoluta novidade do filho: um contemporâneo, um recém-chegado... Essa figura desestimulante, que nenhum sábio tinha previsto ou prefigurado, é que “chocava” mais. Seu aparecimento foi um escândalo que levou quatro séculos para ser assimilado. O Pai, um velho conhecido, era admitido; por razões táticas, os cristãos se voltaram para Ele e falaram em Seu nome.
"Os judeus, muitos séculos atrás, se organizaram numa nação, estabeleceram leis próprias que conservam ainda hoje. A religião que seguem, o que quer que valha e o que quer que se diga a seu respeito, é a religião de seus ancestrais. Permanecendo fiéis a ela, não fazem mais do que os outros homens, que preservam sempre os costumes de seu país"[Celsus].
Sacrificar ao preconceito da antiguidade era, implicitamente, reconhecer os deuses autóctones como os únicos deuses legítimos. Os cristãos estavam prontos, por motivos egoístas, a curvar-se também a esse preconceito, mas não podiam, sem se destruírem, ir além e adotá-lo totalmente, com todas as suas conseqüências.
Para um Orígenes, os deuses étnicos eram ídolos, relíquias do politeísmo; São Paulo já os tinha reduzido à categoria de demônios. O judaísmo considerava-os todos falsos, a não ser um, o seu próprio. Aos olhos dos antigos, quanto mais deuses você reconhece, melhor você serve a divindade, da qual eles não são senão os aspectos, as faces. Tentar limitar o seu número era uma impiedade; suprimi-los todos em favor de um único, um crime. É desse crime que os cristãos se tornaram culpados.
A ironia contra eles já não era apropriada: o mal que estavam propagando tinha se espalhado demais. O politeísmo corresponde melhor à diversidade de nossas tendências e de nossos impulsos, aos quais oferece a possibilidade de expressar-se, de manifestar-se – cada um deles estando livre para buscar, de acordo com sua natureza, aquele deus que melhor lhe quadra no momento. Sob o regime de vários deuses, o fervor é compartilhado. Quando se dirige a um deus somente, ele se concentra, se exacerba e termina por converter-se em agressão, em fé. A energia já não se dispersa, é inteiramente focalizada numa direção.
O que havia de mais notável no paganismo era que nele não se fazia nenhuma distinção radical entre acreditar e não acreditar, entre ter fé e não ter. A fé é uma invenção cristã, supõe um desequilíbrio tanto no homem quanto em Deus, desequilíbrio que um diálogo dramático e desordenado estimula. Daí provém o caráter frenético da nova religião.
A antiga, tão mais humana, permitia a você a possibilidade de escolher entre o deus que você queria; e, já que não lhe impunha nenhum, ficava a seu critério inclinar-se para um ou outro. Quanto mais caprichoso você fosse, mais precisaria mudar de deuses, passar de um para outro, estando quase certo de encontrar os meios de adorar a todos no curso de uma única existência.
Além do mais, eles eram modestos, queriam somente respeito: você os saudava, não se ajoelhava diante deles. Eram idealmente apropriados para o homem cujas contradições não se resolviam nem podiam resolver-se – para a mente inquieta e atormentada.
Quão afortunado era ele – esse homem –, na sua confusão itinerante, em poder experimentá-los a todos e poder estar quase certo de topar com aquele de que mais precisava na ocasião!
Após o triunfo da Cristandade, a liberdade de manobrar entre os deuses e de escolher algum, ao seu talante, se tornou inconcebível.
Ao que parece, o homem se deu os deuses por uma necessidade de se ver protegido, garantido – na realidade, por uma gana de sofrer. Desde que acreditou na sua multiplicidade, abriu espaço para uma liberdade de escolha, para evasões.
Na seqüência, limitando-se a um deus, passou a ser afligido por um suplemento de amarras e embaraços. Certamente não há outro animal que se ame e se odeie tanto, até o limite do vício, e que se daria o luxo de uma sujeição tão pesada.
Quanta crueldade para com nós mesmos – unir forças com o grande Espectro e fundir o nosso fardo ao Dele! O único Deus torna a vida irrespirável. A Cristandade lançou mão do rigor jurídico dos romanos e das acrobacias filosóficas dos gregos, não para liberar a mente, mas para acorrentá-la. E, acorrentando-a, a Cristandade obrigou a mente a se aprofundar, a descer ao fundo de si mesma. Os dogmas aprisionam-na, traçam-lhe limites externos que ela não pode ultrapassar de modo algum.
Ao mesmo tempo, deixam a mente livre para explorar seu universo particular, para escrutinar sua própria vertigem e, a fim de escapar à tirania das certezas doutrinais, para procurar o ser – ou o seu equivalente negativo – nos confins de toda sensação.
Experiência da mente enjaulada, o êxtase é, por necessidade, mais freqüente numa religião autoritária do que numa liberal: isso acontece porque o êxtase é um salto para a intimidade das profundezas, um recurso à introversão, uma fuga em direção ao eu.
Não tendo tido, por tão longo tempo, nenhum refúgio além de Deus, mergulhamos tão profundamente Nele quanto em nós mesmos (um mergulho que representa a única exploração autêntica que fizemos em dois mil anos).
Sondamos o Seu abismo e o nosso, erodimos os Seus segredos um por um, enfraquecemos e comprometemos a Sua substância pela dupla agressão do conhecimento e da prece.
Os antigos não sobrecarregavam seus deuses: eram demasiado elegantes para aborrecê-los a esse ponto ou para convertê-los em objeto de estudo. Desde que a transição fatal da mitologia para a teologia ainda não se fizera, eles nada conheciam dessa tensão perpétua, presente tanto nos arroubos dos grandes místicos quanto nas banalidades do catecismo.
Quando a terra se torna sinônimo do impraticável, e quando sentimos que o contato que nos prende a ela é fisicamente cortado, o remédio não está na fé ou na negação da fé (ambas expressões da mesma fraqueza), mas naquele diletantismo pagão, mais precisamente na ideia que temos dele, na ideia que forjamos.
A desvantagem mais séria que um cristão encontra é aquela de não ser capaz de servir conscientemente a mais do que um deus, embora tenha latitude bastante para aderir, na prática, a muitos (o culto aos santos!). Uma adesão salutar que permitiu ao politeísmo prosseguir, apesar de tudo, indiretamente.
Sem ela, uma Cristandade excessivamente pura desembocaria, com certeza, numa esquizofrenia universal. Com o devido respeito a Tertuliano, a alma é naturalmente pagã. Qualquer deus, quando responde às nossas necessidades imediatas, representa para nós um acréscimo de vitalidade, um estímulo, o que não é o caso quando esse deus nos é imposto ou quando não corresponde à necessidade.
O erro do paganismo foi não ter aceitado e acumulado muitos deles: morreu por generosidade e excesso de compreensão – morreu por falta de instinto. São os períodos que não têm uma fé específica (o helenístico ou o nosso) que se ocupam em classificar os deuses, enquanto se recusam a dividi-los entre verdadeiros e falsos.
A noção de que todos os deuses valem alguma coisa – de que cada um vale tanto quanto o outro – é, pelo contrário, inaceitável nos intervalos em que prevalece o fervor. Tudo isso passou a importar depois da calamidade do monoteísmo. Para a piedade pagã, as coisas eram diferentes.
“Vemos os deuses nacionais sendo adorados: em Elêusis, Ceres; na Frigia, Cibele; em Epidauro, Esculápio; na Caldéia, Baal; na Síria, Astarte; em Tauris, Diana; Mercúrio entre os gauleses, e em Roma todos os deuses juntos. De onde vem ele, esse deus único, solitário, derrelito, não reconhecido por nenhuma nação livre, por nenhum reino...?”[Minucio Felix, in Octavius].
De acordo com um antigo decreto romano, ninguém deveria adorar exclusivamente deuses novos ou forasteiros, se eles não fossem admitidos pelo Estado, mais precisamente pelo Senado, a única instância competente para decidir quais mereciam ser adotados ou rejeitados. O Deus cristão, aparecendo na periferia do Império, chegando a Roma por meios indeclaráveis, cobraria mais tarde uma revanche terrível pelo fato de ter sido obrigado a entrar na capital mediante fraude.
Uma civilização é destruída apenas quando seus deuses são destruídos. Os cristãos, não ousando atacar de frente o Império, emboscaram sua religião. Deixaram-se perseguir apenas para poder arremeter contra ela de modo mais efetivo, a fim de satisfazer o seu apetite irrefreável por execração. Quão miseráveis seriam se ninguém se dignasse a promovê-los à categoria de vítimas!
Tudo no paganismo, inclusive a tolerância, os exasperava. Quando nos damos conta de que a vida só é suportável se podemos mudar de deuses, e de que o monoteísmo contém em germe todas as formas de tirania, deixamos de ter pena da velha instituição da escravidão.
Era melhor ser escravo e poder adorar uma forma escolhida de divindade do que ser “livre” e se confrontar com uma única variedade do divino. Liberdade é o direito à diferença; plural, postula a dispersão do absoluto, sua resolução numa poeira de verdades, igualmente justificadas e provisórias.
Há um politeísmo subjacente na democracia liberal (chamem-no de politeísmo inconsciente); inversamente, cada regime autoritário compartilha de um monoteísmo disfarçado. Curiosos os efeitos da lógica monoteísta: um pagão, ao tornar-se cristão, tendia à intolerância.
Melhor naufragar com uma horda de deuses acomodatícios do que prosperar à sombra de um déspota! Tão logo uma divindade, ou uma doutrina, exige supremacia, a liberdade é ameaçada.
Se vemos um valor supremo na tolerância, então tudo o que lhe faz violência deve ser considerado como um crime, a começar por esses empreendimentos de conversão nos quais a Igreja se mantém inigualável.
E, se ela exagerou a gravidade das perseguições a que foi submetida e inchou absurdamente o número de seus mártires, ela precisava encobrir seus crimes com pretextos nobres: deixar sem punição doutrinas perniciosas. Assim, foi num espírito de lealdade que a Igreja se lançou à aniquilação dos “desviados”, e que pôde, depois de ter sido perseguida por quatro séculos, tornar-se perseguidora ao longo de quatorze. Esse é o segredo, o milagre da sua perenidade. Tendo coincidido o advento da Cristandade com o do Império, certos padres (Eusébio, entre outros) sustentaram que essa coincidência tinha um significado profundo: um Deus, um imperador. Na realidade, tratava-se de abolir os empecilhos nacionais, da possibilidade de circular através de um vasto estado sem fronteiras, o qual permitia à Cristandade infiltrar-se, tornar-se audaciosa.
Sem essa oportunidade de se expandir, teria permanecido como uma simples dissidência dentro do judaísmo, em vez de se tornar uma religião invasora e, o que é pior, uma religião da propaganda. Todos os meios se justificavam para recrutar, para reforçar e para expandir até mesmo essas bajulações diárias cujo aparato era uma ofensa tanto para os pagãos quanto para os deuses olímpicos.
O paganismo não elidia a morte, mas tinha o cuidado de não deixá-la à mostra. Para o paganismo, era um princípio fundamental supor que a morte não é consoante com o dia claro, que a morte é um insulto à luz. A morte pertencia à noite e aos deuses infernais. Os galileus encheram os sepulcros, diz Juliano, que nunca chama Jesus a não ser de “o morto”. Para os pagãos dignos do nome, a nova superstição podia parecer apenas uma exploração, um aproveitamento do repulsivo. Tanto mais amargamente iriam deplorar o progresso que ela estava a fazer em cada setor.
Autor: E. M. Cioran, The New Gods, tradução de Renato Suttana.
Nota da casa: Eu não concordo com o autor quanto a falta de fé dos Pagãos ou que a fé seja uma invenção Cristã. O que se pode anotar são as diferenças na manifestação da crença/fé: entre os Cristãos a fé é manifestada de uma forma submissa, os crentes precisam rastejar para adorar ao Deus Cristão; os Pagãos adoram a seus Deuses os olhando nos olhos. Também não concordo com o autor quanto o Cristianismo ser uma "ameaça" por ser "estrangeiro", o que se pode anotar é que a doutrina Cristã possui elementos que a tornam peculiarmente perniciosa à humanidade.

sábado, 4 de julho de 2009

Escravidão espiritual

Recentemente eu comentei a notícia sobre o conflito entre a França e a burca em "Roupa, sociedade e religião". Em outros blogs que visito (Maçãs Podres, Mater Mundi, Sexismo e Misoginia e Alta Sacerdotisa) há comentários sobre como é ser uma mulher no Islamismo e concordar com sua doutrina patriarcal opressiva.
Em texto da internet, encontrei um depoimento de uma mulher muçulmana:
Para o Ocidente o fato da mulher usar o véu é sempre associado à submissão e ignorância. Já para a mulher muçulmana o véu é entendido como algo que a dignifica, dá valor, que impõe respeito.
Está no Alcorão que toda mulher muçulmana deveria se cobrir com seus véus porque é mais conveniente para que não sejam molestadas. Isso tem uma finalidade. O significado do véu é esconder das vistas do homem tudo aquilo que desperta o desejo. Toda a sensualidade, toda a beleza, a mulher esconde isso dos homens e restringe isso ao seu marido e ao ambiente familiar.
O objetivo é não despertar o desejo de outros homens.
Ou seja, mesmo o "compreensivo" Islão coloca toda a culpa da lascívia e da luxúria na mulher, o homem é uma pobre vítima que deve ser protegida da tentação. Falar que a roupa (que tem um motivo religioso vago) dá à mulher o respeito e a dignidade que ela merece é o mesmo que dizer que a corrente e a algema dá ao escravo o respeito e a dignidade que ele merece.
Pode parecer incrivel que uma mulher concorde com essse dogma imposto pelos lideres religiosos muçulmanos (todos homens) baseado em uma interpretação subjetiva do Alcorão, mas no ocidente a coisa não está muito melhor, haja visto o apoio de mulheres cristãs aos dogmas impostos pelos líderes religiosos católicos ou protestantes em assuntos referentes a relacionamento, sexo, planejamento familiar, etc. A pornografia é apenas o outro lado da mesma moeda, o lado de nossa sociedade sexualmente doente que é explorado comercialmente sem qualquer escrúpulo, o que contribui para incentivar/aumentar a violência física ou sexual.
O que se pode dizer é que - em termos gerais - todas as religiões monoteístas tem sério problemas em relação ao corpo, à nudez, ao desejo, ao prazer, ao sexo. E as soluções vão sempre na direção da repressão, da frustração, da proibição, da demonização, da culpa. Colocando sempre a mulher como a responsável, a criminosa, a insidiosa, que tenta desviar o incauto crente de sua "senda reta" com o Deus dessas religiões patriarcais e falocratas.
Quando a humanidade começou a se despertar/desvincular dessas escravidões espirituais acontecia também a Revolução Cultural da década de 60 (século XX) bem como apareciam as alternativas espirituais como o [Neo]Paganismo que, felizmente, tem crescido e expandindo, incentivando o questionamento e a contestação necessária para que a humanidade supere as tiranias espirituais, incentivando à humanidade para que se cure dessas feridas causadas pela renúncia e negação da natureza humana.

Parque público em Nortumbria

Chamada de "Deusa do Norte", uma espécie de escultura que terá o nome de Nortumberlandia será feita de milhões de toneladas de terra na região de Northumberland ou Nortumbria.
A Deusa, projetada pelo artista Charles Jencks, será esculpida sobre a mina aberta de Shotton e formará o ponto central de um novo parque público no local.
A intenção é o de criar uma paisagem artistica que complementem as atrações turísticas da região e providenciar um lazer de alta qualidade para a comunidade local. Levariam 20 minutos para circundá-la e o projeto foi aprimorado com mais caminhos que irão permitir aos visitantes facilmente subir na figura, fazer exercícios, fazer piqueniques e se divertirem.
Fonte: Telegraph [tradução livre][link indisponível]
Nota da casa: A iniciativa teria sido mais feliz, se não fosse feita para mascarar a mina de carvão.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Paganismo aumenta entre militares

Para muitas pessoas, especialmente aos que não conhecem o paganismo, existe uma concepção que todos os Pagãos são "abraçadores de árvores", pacifistas e são anti-militaristas. Este estereótipo pode se encaixar em umitos casos, mas o oposto também. Existem pagãos que apoiam as forças armadas e são membros ativos e veteranos.
A mulher de um soldado wicccano lutou para que seu finado marido pudesse ter uma lápide contendo o pentagrama, sendo aprovado pela Administração dos Veteranos [Veterans Administration] em 2007.

No mesmo sentido, tem havido uma luta para que o mesmo reconhecimento seja dado aos seguidores da Asatru, para que o martelo de Thor, o Mjollnir, seja utilizado nas lápides dos soldados mortos em guerras.
A iniciativa é um passo para que se reconheça que existiram e existem soldados pagãos que servem aos seus países com tanta dedicação quanto os soldados de outras crenças.
Esses pagãos em serviço militar merecem ter o mesmo direito que os demais soldados.
Fonte: Examiner [livre tradução]
Nota da casa: Para os militares que optam pelo Cristianismo há um constante conflito e dilema entre sua profissão e sua crença. O Paganismo oferece uma alternativa para que tais conflitos e dilemas possam diminuir ou acabar.

Os Deuses regressam

Não há muito tempo, as grandes cabeças da Europa predisseram um futuro com pouca ou nenhuma religião. A Ciência far-nos-ia altamente cépticos perante os milagres. A Psiquiatria iria tratar de toda a nossa dor e dúvida interior. A alteração do papel das mulheres iria enfraquecer a estrutura patriarcal que fortalecia o clero. Qualquer que fosse o guião para a modernidade que se adoptasse, Deus teria aí uma importância reduzida. Como todos sabemos, as coisas não se passaram assim. A Modernidade chegou e arranjou novos papéis principais para Deus. Tanto em países ricos como em países pobres fora da Europa, a religião mantém-se assaz robusta. Isto porque são exactamente as coisas que se supunha que iriam destruir a Religião - a Democracia, os Mercados, a Tecnologia e a Razão - que a estão a fortalecer. O capitalismo faz com que as pessoas se sintam "desenraizadas e vulneráveis", e portanto procurem refúgio na religião, mas os líderes religiosos podem ainda usar o capitalismo para aumentarem a sua quota de mercado. Fonte: The New York Times [traduzido e citado por Gladius] Nota da casa: Noto que o(s) autor(es) do texto cometem um equivoco comum, quando reduzem o conceito de Deus ao conceito judaico-cristão. há outros Deuses, por isso escolhi deixar o título no plural. Existem, evidentemente, causas e fatores pelos quais as pessoas tem tido interesse no paganismo, mas isso fica para outro tópico.