sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A decadência da educação

Notícias recentes deixaram atônito o brasileiro, ao ver jovens, em uma instituição universitária "promovendo" uma "brincadeira": o "rodeio das gordas".

Alguns alunos da Universidade Estadual Paulista (Unesp) decidiram criar uma “nova categoria” de competição nos jogos universitários deste ano, o InterUnesp. A “categoria” foi denominada de “Rodeio das Gordas”. Alguns rapazes começavam a bater papo com garotas, como se tivessem iniciando uma paquera. De repente uma delas era agarrada, até conseguir se livrar do seu agressor. Enquanto alguém cronometrava o tempo que o agressor conseguia segurar sua vítima, outras alunos caçoavam dela, fazendo com que agressão física também fosse uma agressão moral.
O fato, absurdo, aconteceu em um evento que deveria promover a confraternização entre os estudantes de 20 campi da Unesp, espalhados pelo interior de São Paulo. Os agressores são alunos de uma das mais disputadas universidades públicas do País. A maioria pertence a famílias de classe A e B e frequentou os considerados melhores colégios antes de ingressar na universidade.
O fato não é isolado. No dia-a-dia das salas de aulas, milhares de alunos reproduzem valores de uma sociedade que não valoriza a diversidade e a diferença. É evidente que a educação para a diversidade também é função da sociedade e da família, mas deveria ser privilegiada na escola.
A Organização das Nações Unidas (ONU) considera quatro as principais funções da escola. Que o aluno “aprenda a conhecer”, “aprenda a fazer”, “aprenda a ser” e “aprenda a conviver”. Esta última função, se cumprida, faria a escola desenvolver capacidades cognitivas que levassem o aluno a respeitar e valorizar a diversidade, a proteger o meio ambiente, a atuar pelo fim da miséria e pela consolidação da democracia, entre outras ações.
No entanto, nossas escolas, principalmente no ensino médio, não cumprem nem esta, nem as demais funções citadas. Os currículos escolares estão demasiadamente orientados para os vestibulares. A maior parte de quem acessa o ensino superior público só sabe acertar questões. Decorar o que é um ditongo, saber os afluentes das duas margens do Rio São Francisco, fazer analise sintática das orações, distinguir as diferenças entre um triângulo isósceles, escaleno ou equilátero, lembrar o último ganhador do Nobel da Paz ou definir as estalactites e estalagmites não garante que uma pessoa seja bom pesquisador, bom administrador, bom servidor público, bom pensador ou bom cidadão.
O que ainda fazemos é uma educação “bancária”, que deposita conhecimento nos alunos. A diferença entre algumas escolas privadas e a maior parte do ensino publico é que as particulares depositam justamente o conhecimento que pede o vestibular. No mais, as duas são muito ruins e o que fazem em seus espaços não pode ser chamado de educação. Acontece que quem tem as condições familiares, sociais e financeiras participa de um vestibular como de um rodeio, onde eles têm muito mais condições de segurar suas vagas.
Como resultado temos ações como as destes jovens que acham natural estigmatizar padrões de beleza e atentar contra a moral e contra a integridade física de outras jovens. E, se tudo der errado é só pedir desculpa, dizer que foi só mais uma brincadeira e apagar os relatos de suas redes sociais, como se isto pudesse apagar a violência na memória das vítimas.
Vale lembrar que estes alunos agressores foram selecionados para a Unesp em nome da meritocracia. Pois eu afirmo, a meritocracia defendida pela maioria de nossas universidades não passa de um engodo para justificar as vagas e as carreiras na universidade pública. Se fosse mesmo por mérito que cada aluno conquistasse seu lugar nessas instituições, as lista de aprovados seriam bem diferentes. E não contariam com os alunos que organizaram e com os que foram coniventes com este "rodeio".[Último Segundo][link morto]

O brasileiro, tão anestesiado pelas sucessões de escândalos e descalabros que só acontecem na República das Bananas, deve imaginar: "Ah, são jovens, isso é normal, acontece de vez em quando". Não é normal não. Nem acontece de vez em quando. Tivemos a Uniban e a Geisy Arruda. Tivemos a USP e a homofobia explícita. Sem falar em inúmeras notícias todos os anos relatando os trotes violentos, como o que resultou na morte de Edson Tsung.
Esse é o resultado de nossa falta de consciência política. Esse é o resultado de elegermos mal nossos governantes. Esse é o resultado de uma classe política mais interessada em se perpetuar no poder, em amealhar a res pública, do que em administrar o bem público. Esse é o resultado que se reflete no sucateamento da saúde, na ineficiência do transporte público e, por fim, na decadência da educação.
Acorda, Brasil!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Monogamia é crime

Parte 1: Monogamia
A monogamia prega que devemos viver e ser única e exclusivamente de uma pessoa, depositando nesta todos os nossos desejos e necessidades. Construiu-se assim um modelo de felicidade sustentado pelo casamento e pela família perfeita. Vive-se pelo outro, não por si e apenas um único ser deve lhe nutrir. As personalidades se misturam e se perdem, é preciso manter a aparência, diminuir o afeto pelos outros, negar o desejo, os futuros envolvimentos, descobertas e vínculos, o amor é canalizado, não mais distribuído.
Reprimir, esconder, mascarar são artifícios que tornam o homem um ser fantoche, sem autonomia e identidade. Perdendo sua essência no meio de tantas farsas que precisa criar. Tornando-o escravo do outro, movido pelos desejos alheios e pela imposição social.
Não carregarei o peso dessa herança monogâmica, não serei mais vítima desse sistema que prende, cega e iludi com falsas idéias. O modelo monogâmico não se encaixa no que vivo, vai contra o que eu pense e sinto. Desejo e preciso de diversas pessoas, por necessidades e escolhas e não repetirei as mesmas histórias nem construirei uma farsa para adequar-me a sociedade. Sou livre e tenho o direito de manifestar e seguir meus desejos. Vivo através do que acredito ser real e cabível à minha vida, não pela sobrevivência, mas pela liberdade de viver.
Parte 2: Comercial
O que é em nome do amor não precisa de contrato, assinatura, papéis, prata, ouro. Estar algemado não significa estar unido a alguém. Não preciso ter uma aliança no dedo ou subir em um altar para comprovar meu amor. Os bens materiais, que simbolizam um relacionamento, estão muito aquém quando se trata de demonstração de sentimento. Sou mais que qualquer status social ou relacionamento pode me oferecer.
Sentimentos, desejos, paixões são invisíveis aos olhos, são marcas mais fiéis que qualquer tatuagem, o capitalismo não compra, nem vende, muito menos manda fazer. A sociedade cobra um ideal de relacionamento eterno e verdadeiro, materializa a felicidade em objetos e pessoas, favorecendo a economia. Felicidade não se compra, se constrói e é através da troca com cada ser que construo um relacionamento. Basta um toque ou um olhar para sentirmos que algo é real e verdadeiro.
Parte 3: Autonomia
Ninguém é objeto para ser posse de alguém, por isso não deixo que prendam meu corpo, nem minha mente. Sou dona de mim, dona do meu corpo, das minhas atitudes e pensamentos. Não admito pedir permissão, dar satisfação, provar e comprovar o que diz respeito a mim e ao que faço ou ser reprimida por manifestar minhas vontades. Ajo através dos meus desejos e tenho a liberdade de escolher o que quero.
Não crio farsas ou teatrinhos morais baseados na perfeição do romantismo ou nas juras de amor eterno. Não procuro uma cara metade, pois não preciso de metade alguma para me completar. Sou um ser único e inteiro, não me falta nenhuma parte. Minha felicidade depende apenas de mim e ninguém é dono ou responsável por ela. Não deposito em ninguém o peso minhas escolhas, sou a única responsável por tudo que tenho e sinto, pois sou a fonte das minhas alegrias e tristezas, se algo der certo ou errado a vitória e a culpa serão minhas.
Parte 4: Multiplicidade
Sou apaixonada pela vida e vivo intensamente minhas paixões sem precisar tê-las só para mim. Alegro-me ao ver aqueles que amo amando e serem amados por outras pessoas. Não sou egoísta em querer vê-los felizes apenas ao meu lado e não tenho motivos para odiar alguém que ama quem eu amo. Não sou melhor nem pior que ninguém, não me firmo nos erros ou fraquezas dos outros para atingir quem desejo. Não estou em um jogo para competir ou disputar sentimentos e espaço. Amo e sou amada e não preciso dividir sentimentos, eu os multiplico.
Fogo de palha ou vulcões em erupção, superficial ou não, do dia pra noite, da noite pro dia, diariamente, semanalmente, pra vida inteira ou somente algumas horas. Não é preciso haver regras. Não tem dia nem hora marcada, simplesmente acontece, e o silêncio de um olhar e um abraço responde muito mais que grandes discursos furados de fidelidade.
Amo cada ser de forma completa e absoluta sem precisar medir ou colocar na balança meus sentimentos. Cada ser tem seu valor e sua importância sejam elas estáveis ou não. Cada um contribui de forma única e essencial para a construção de uma relação sem perder seu eu original, gerando um bem estar para ambos. Assim relações são construídas, compreendendo, respeitando e valorizando a individualidade de cada ser.
Parte 5: Liberdade
Não cavo buracos, dos quais não consigo sair, não vendo meus olhos, não me finjo de morta, não me calo nem me faço de desentendida. Entendo e entendo muito bem e mais que entender: sinto! Não sou um zumbi social querendo corações batendo, sou vida querendo mais que calor humano. Quero e cultivo sinceridade, confiança, respeito, honestidade e liberdade.
Sou livre em mim e sou fiel a mim mesma, não traiu minhas vontades, não minto nem me engano, não nego o que quero, não faço feridas pro tempo apagar. Destrui as gaiolas e as jaulas que me cercavam. Não me prendo, nem prendo mais ninguém, não carrego nem coloco correntes, não cultivo sentimentos escravos. Minhas paixões são livres e assim eu as deixo.
Querer, desejar, amar, não importa o verbo ou o sentimento, liberdade encaixa-se muito bem com qualquer um deles. Liberdade, não de plenitude, utopia, rompimento com o mundo, não egoísta ou narcísica. Liberdade como alimento que nutre, fornecendo vida, tornando-nos vivos e autônomos, capazes de fazer e assumir o que desejamos. É esta liberdade que nos une, em uma união mais forte que qualquer nó formado pela monogamia.
O que há de mais puro e natural no ser humano são seus sentimentos. Não vou contra minha natureza, não prendo nem repreendo meus sentimentos, sejam eles dóceis ou selvagens. Tenho uma fauna em mim! Não mantenho em cativeiros sentimentos que são mais puros e belos quando soltos, podendo habitar diferentes terra, ares, mares e quando quiserem voltarão para os lugares que desejarem. Quem quer volta, não precisa de coleira!
Parte 6: Crime
A monogamia ilude o homem, fazendo-o achar que por amor deve-se prender e deixar de lado seu eu essencial, que a felicidade esta no outro, fazendo do outro seu objeto e que somente assim se mantém uma relação. Tira do homem sua liberdade de escolha, taxa e rebaixa seus sentimentos, repreendendo toda e qualquer manifestação do ser, por mais natural que seja.
Para mim este é o maior crime que o homem é submetido, pois torna-o refém dos outros, submisso ao relacionamento. Monogamia para mim é crime, um crime que não é previsto pela lei, mas que vai contra o meu ser, meus ideais de vida e minha liberdade.
Não cometo o crime de ser infiel a mim mesma, de prender meu corpo e minha mente, negar meus desejos e sentimentos. Crime é tentar fugir do que sou ou esconder-me nessas diversas prisões sócio-culturais. Estou quebrando esta redoma, não aceitarei este monopólio sentimental. Monogamia para mim é crime e deste crime não serei cúmplice, muito menos vítima!
Autora: Maura Oliveira
Fonte: Rede de Relações Livres

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Os feudos atuais

"A religião é o ópio do povo", frase que se consagrou como máxima popular teve sua origem na concepção materialista de Karl Marx. Porém, o fato de esse pensamento ter se incorporado, em parte, ao senso comum, não significa dizer que as pessoas, ao proferirem-no, estejam irremediavelmente desconectadas da religião. Quando nos propomos a "esquecer" um pouco a frase e seu contexto como máxima, percebemos também o quanto a Igreja, em suas várias correntes, contribuiu para a sociedade civil e para a própria religião - seja com as ações das pastorais, com as campanhas sociais das Igrejas evangélicas ou com a força de alguns líderes, ícones de uma imparidade pouco vista, como D. Helder Câmara e Martin Luther King. Mas voltemos à realidade...
Em pleno século XXI, ainda lidamos com o despropósito de setores conservadores da Igreja Católica e Protestante, que ainda se acham no direito de interferir no cenário político e nas eleições. Religiosos deixam à margem sua liturgia de pregar o Evangelho, para se entregarem de corpo, sem alma, à orientação de seus fiéis sobre como votar nestas eleições. Ao sugerir a seus fiéis apoiar esse ou aquele partido, essas pessoas deixam de ser crentes, seguidores de uma crença religiosa, passam a ser fiéis-eleitorais.
O pastor, padre ou qualquer líder religioso, tem (e deve), além de crer, que pregar o Evangelho e replicá-lo aos seus, buscando aplicar o ensinamento religioso do livro sagrado à realidade - e ao que ele e sua instituição julgam como certo e errado, enfim, virtude ou pecado.
Acontece que o limite entre a legítima prática da fé - por meio da defesa religiosa em prol dos valores e práticas cristãs - e a isonomia, o respeito à liberdade - o direito de cada cidadão de votar como quiser - consiste uma fronteira muito tênue. Além disso, claro, todos devem poder se expressar de qualquer forma e gênero, independente de sua religião ou credo, conforme sua consciência - com o agravante de valermo-nos do voto, como a maior instância de participação popular em uma democracia, mesmo recente e incipiente como à nossa. E votar é um ato puro e intransferível, não sendo uma prerrogativa e nem direito de propriedade da terra da fé. Depredar a cerca e adentrar neste fronteiriço e limite de terra comum a todos, é um absurdo, especialmente se for feito por meio da política. Desta forma, não o seria também por meio da religião?
Vale lembrar que os fiéis, mesmo também eleitores, são antes de tudo e de qualquer coisa, cidadãos. Na constituição, não há referência a garantias e direitos de um fiel, muito menos dos fiéis. São pertenças inegociáveis aos cidadãos. Portanto, usar da prática da fé para motivar um grupo de fiéis, em plena igreja ou culto, a votar neste ou naquele partido é um retrocesso secular. Para ser franco, milenar; haja visto que há 200 anos, tivemos o desprendimento à liberdade de pensamento garantida com o Iluminismo com a passagem do século das Luzes (XVIII) e sua "permanência" na contemporaneidade.
Agir e usar a religião como subterfúgio subterrâneo e arcaico, para manobrar a opinião pública de seus fiéis, significa imprensá-los na própria armadilha do ser humano: o cumprimento de sua autocrítica e autoquestionamento da moral coercitiva da "sociedade" e seus grupos. Frente ao preço moral do autoflagelo do descumprimento da "ordem", vê-se uma espécie de beco-armadilha, que coloca-nos como cidadãos à margem do século XXI, do XVIII e nos remete, no mínimo, para o século XIV, no Feudalismo, onde o Clero agia com o peso de sua influência religiosa e política. Só que naquele tempo não tínhamos a luz do sol refletida em uma Terra redonda, nem a terra girando em torno deste sol, muito menos, as leis de Newton. Na verdade, não tínhamos quase nenhuma luz, só a quase e total penumbra, em movimentos de translação e rotação. Hoje é diferente. É preciso esquecer um pouco que a frase "A religião é o ópio do povo", é uma máxima.. e entender que, também no caso da religião, ela precisa ser mais "povo", do que "ópio".
Autor: Diego Fonseca Dantas
Fonte: O Globo [link indisponível]

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Poliamor e monogamia no século XXI

Essa é uma conversa para quem sonha em construir uma relação de GENTE GRANDE. É também desaconselhável entrar nesse texto quem está satisfeito com o estilo vivido nas relações de amor e de amizade na sexualidade. Para que alguém se torne adulto e gente grande, em uma relação no alvorecer desse século e mundo de infinitas possibilidades, é preciso estar online e conectado na rede de necessidade humana hodierna e que se abra às metamorfoses nos paradigmas de vida e de imaginar a sexualidade.
REDE DE POSSIBILIDADES - Vivemos em uma era de grandes possibilidades de conexões virtuais e reais. Um debate de alto e bom nível, fundamentado e nada superficial, é o que se precisa ser gerado, gestado e desenvolvido nesse espaço. Considera-se que o POLIAMOR é em debate inicial para quem acredita e sonha grande. E é um embate oxigenado sem dogmas, de poliamorosos com todos os que vivem em um mundo conformado, em um modelo em fase terminal, seja monógamos e ou polígamos velados. É uma possibilidade humana de se resgatar o amor no século XXI, em seus princípios originais, que está latente na imagem simbólica do EROS grego, Deus do amor.
DEMOCRACIA SEXUAL - Para o Poliamor, qualquer uma das formas de amar e viver a sexualidade, seja ela BI, HOMO, PAN, POLI e HETERO é perfeitamente normal. Para o modelo de sexualidade herdada da tradição cristã, patriarcal e ocidental, ter uma opção de sexualidade, que não seja monogâmica-heterossexual é patologia e distúrbio relacional. A sexualidade deve ser vivida de modo transparente e democrático, ético e humana. O único limite é dignidade humana, que deve ser elevado a uma escala em processo vital de humanização.
MUNDO VIRTUAL - É fato notado, notório e notável, ao se entrar nas salas de bate-papo, quanta necessidade de contatos, de sexo, de relações, de conexões que as pessoas têm. Será que essa é uma necessidade humana ou machista, de sexo ou de afetos que afugentem, afaguem, acalentem ou é apenas promiscuidade e compulsividade imatura? O que se pode perceber é um descontentamento geral, na forma sufocada em um desabafo incontido, alegando que no interior da maioria das famílias, nas formas de namoro ou até mesmo na nova onda ‘do ficar’ não é mais um lugar ou um ventre tão acalentador ou um espaço que favoreça com que as pessoas se conheçam. A discussão que circula nesses espaços virtual de conexão deriva da questão do sexo com sendo ‘o pomo da questão. ’
Pode-se dizer de modo seguro, que o poliamor tem uma resposta efetiva para essa realidade, se identifica com ela e tem muito a ajudar nessa reflexão. Sabe-se que o sexo, o amor, as sacanagens do desejo e da imaginação devem ser vividos e debatidos de modo transparente e sem pudores. Acredita-se que deva existir uma cultura e hábitos humanos, prazerosos e arejados. Oede se entregar em uma relação e sentir a fusão da outra pessoa, em seu ser, não tem estrutura para ser poliamoroso, e sim para viver em uma relação monogâmica.
FAMÍLIA MONOGÂMICA[MONO] - Essa é uma discussão teórica que a NAVARRO faz em seu livro, A CAMA NA VARANDA, e que deixa a visão dos é monogâmicos em estado de choque. Ela mostra e analisa isso no conjunto do livro, ao afirmar de modo irônico que, a família herdada nesse século é a ‘célula mater’, que educa as pessoas para que vivam suas relações de modo dependentes e eternamente imaturas, umas com as outras, seja do ponto de vista emocional, afetivo e sentimental. Por outro lado, é próprio da família MONO em distorcer e reduzir o amor ao mundo doméstico e privado da família burguesa. Escuta-se esse mesmo discurso em todos os espaços formais e informais de educação e eles reproduzem e induzem as pessoas a pensarem que o afeto e o amor só podem ser vividos em uma relação monogâmica hétero. ‘Quando amo alguém eu não sinto desejo por outra’. Essa é a visão comum e recorrente.
PATOLOGIA AFETIVA - É indispensável analisar as condições afetivas das pessoas nesse mundo de desencontros tidos como casamentos e ou relacionamentos. As pessoas são educadas no seio do lar para depender afetivamente dos outros. Digo depender de modo infantil, animal e patológico. É normal e cultural interdepender e precisar do outro para se desenvolver em afetos, os desejos e sentimentos.
VIOLÊNCIA SIMBÓLICA - Pode-se perguntar, e por que não inferir, que essa visão não se encaixaria naquilo que BOURDIEU fala ao se referir à ‘violência simbólica’? Dir-se-ia que sim. Somos ideologizados, induzidos a ter uma visão única da vida afetiva, hospedada nos seio de uma família de ordem patriarcal. Isso é violência simbólica no dizer dele e ao mesmo tempo é manipulação e alienação da propriedade privada na perspectiva marxista.
POLIGAMIA=MONOGAMIA - A melhor caracterização que diferencia o Poliamor tanto da monogamia, como da poligamia, seria dizer que para quem ‘é poliamoroso’ como concepção e conduta de relacionamento: ‘cuidado e cuidado’, ‘amizade e amizade’, ‘sensibilidade e afetividade.’ Isso inexiste no modelo de matrimônio e poligamia velada nossa cultura brasileira, desde a colônia. Essa percepção é relevante para os homens e mulheres, desse século do vazio e da fuga desesperada de si mesmo na busca frenética pelo consumismo. Tanto na monogamia quanto na poligamia as relações que se pautam no apenas no sexo, na coabitação e na procriação. Consumismo de si mesmo, consumismo dos outros, consumismo de produtos, consumismo de tecnologias, consumismo virtuais.
ARISTÓTELES – Diz-se que poliamor é mais uma escola de uma nova forma de viver a sexualidade e o afeto, o amor e o desejo, as paixões e a imaginação. Como disse Aristóteles, só a poucos é concebida a graça e a virtude, a excelência e a nobreza de experimentar essa maravilha de prazer e felicidade de viver. Só quem tem a sabedoria prática a partir da vida com os amigos sabe saborear o prazer dos amigos e da amizade. Ter a coragem de viver paixão e amor para além do estereótipo que está aí.
PLATÃO – Platão em seu livro, A REPÚBLICA, já falava de uma forma de relação, atribuída aos guardiões, sem o senso de posse e livre expressão sem características Monogâmica, que se assemelha aos pressupostos do poliamor em nossos tempos. Mas na, visão dos gregos só uns poucos e seletos e bem educados teriam condições de viver dessa forma.
POLIAMOROSO - Na verdade esse é o grande desafio que está colocado para quem acredita em poliamor. Acredita-se que só poucos podem viver de modo humano o poliamor. Só quem souber se relacionar com a outra pessoa sem querer fazer dela coisa e desejar cuidar dela como de si mesmo, e isso não é fácil, tem condições de entender o que seja o poliamor. Só vive de modo poliamoroso quem tem afetividade aberta, em processo, em desenvolvimento e adulta, digo adulta e não adúltera.
A UTOPIA - É sonho para o poliamor uma comunidade vivendo com todos os amores do passado, do presente e do futuro. E por princípio deve-se manter uma boa relação com quem se vive um relacionamento íntimo. Quando se fala em relacionamento íntimo, não se limita apenas ao ato sexual. Íntimo quer dizer relação transparente, livre, enraizada, aberta, racional, de desejo. Acredita-se que esse espaço deve redimensionar o debate e tornar pública essa possibilidade das possibilidades de se viver de modo completo a sexualidade.
Autor: Raimundo Expedito Pires
Fonte: Sexualidade e Poliamor em Tocantins

domingo, 24 de outubro de 2010

A nudez como ativismo

A notícia não devia chamar atenção [PS: pelo motivo usado pela Imprensa], mas chamou:

Ativistas dos direitos femininos subiram à passarela da semana de moda da Ucrânia, na última terça-feira, 19, para protestar. Com seios à mostra, as manifestantes empunhavam cartazes com frases como "Passarelas são como açougues" e "Modelos, não terminem em um bordel".[Ego][link indisponível]

Ponto para as integrantes do Femen, um grupo de feministas da Ucrânia.
Ponto para este blog, que encoraja o uso da nudez como ferramenta da militância, como eu escrevi no texto "Militância pelo corpo".
Só em uma sociedade sexualmente doente a nudez [especialmente a feminina] incomoda tanto a ponto de apenas poder ser expressa nas ditas revistas "adultas". Existe uma associação deliberada de que nudez=sexo=mulher=pecado. Um sistema social/politico/religioso que se sustenta pelo medo, insegurança, patriarcado, machismo e sexismo.
A Imprensa local não explica nem divulga os ideais dessa organização [a Femen] exatamente porque é cúmplice e colaboradora.
Usando o oráculo virtual [Google], eu encontrei quem são e o que defendem as integrantes do Femen:

As FEMEN são um movimento social composto na sua maior parte por mulheres, (integram-no alguns homens também) e que tem chamado já em ocasiões anteriores chamado a atenção internacional por as activistas se manifestarem em topless contra a prostituição e contra o turismo sexual.
Alguns dos objectivos deste movimento são desenvolver as capacidades intelectuais, morais e de liderança nas jovens ucranianas, e desenvolver a imagem da Ucrânia como um país onde existam oportunidades para as mulheres.
O movimento FEMEN foi fundado em 2008 por Hanna Hutsol (nascida em 1983) depois de ela ter ficado aturdida com as histórias de muitas mulheres ucranianas que têm sido atraídas para países estrangeiros com falsas promessas de trabalho, e que acabam por se tornarem vítimas do tráfico e escravatura sexual.
"Criei este movimento porque compreendi que havia falta de ativistas femininas na nossa sociedade.
A Ucrânia é uma sociedade dominada pelos homens e na qual as mulheres têm um papel passivo".
Desde então a organização tem protagonizado bastantes manifestações "sexualmente apimentadas" em Kiev, junto dos gabinetes ministeriais e junto da embaixada turca em Kiev.
A senhora Hutsol, é veementemente contra a legalização da prostituição na Ucrânia e a FEMEN (que já integra perto de 15 mil jovens, sobretudo mulheres) propôs a introdução de leis na Ucrânia que criminalizem a indústria do sexo em Maio último.
A FEMEN justifica os seus métodos provocativos alegando "que este é o único meio de se ser ouvido neste país.
Esta forma de protesto é também uma forma de ironicamente alertar para muitas das incongruências de uma sociedade que continua a relegar os seus cidadãos do sexo feminino atribuindo-lhes um papel secundário.
"Se encenássemos os protestos tradicionais com bandeiras, os nossos protestos passariam despercebidos."

Copiado do blog Desigualdade de Direitos, que traduziu do Wikipedia.

A privatização dos direitos

Na reta final das eleições presidenciais, eu [e os brasileiros] tenho visto o pior exemplo da concorrência política, este ano eleitoral ganhou em baixaria do ano eleitoral quando houve a competição entre Collor e Lula.
Daquela época ainda se comenta do "tapetão" promovido pela Globo. Até aí, foi apenas a Globo e seus "associados".
Passamos ao ano eleitoral atual, onde vemos os costumeiros dossiês e quebras de sigilo ilegais. Mas isso foi café-com-leite com o "tapetão" que os setores radicais e fundamentalistas [da Igreja e dos Evangélicos] estão armando e ambos os candidatos estão engolindo a isca, com acordos para evitar a legalização da união homossexual, a garantia de liberdade religiosa [de toda forma de crença, sem monopólios ou privilégios] e propostas que visem um tratamento mais humanitário à questão [que deve ser médica e racional] do recurso clínico do aborto.
Quem está acompanhando esse BBB/novela eleitoral deve ter visto a recente polêmica resultante da apreensão de folhetos/panfletos/documentos, supostamente de autoria da Regional Sul, praticamente tentanto induzir na decisão dos brasileiros para o segundo turno.
Primeiro, lançou-se a suspeita de que a gráfica teria vínculos com o PSDB, porque um de seus sócios é membro do partido. Discutível, uma vez que a gráfica também imprimiu propaganda do PT.
Depois se suspeitou de que havia outros interesses escondidos, uma vez que um dos possiveis colaboradores da fatura da impressão desse folheto está ligado à instituição Theotokos, uma instituição ligada à Plinio Salgado [fundador do Integralismo] e à TFP [Tradição, Família e Propriedade]. Esse vínculo está mais evidenciado, considerando que o bispo que "assinou" o folheto, em contraste com a versão oficial [oficiosa?] da CNBB, é considerado ultraconservador. Ou seja, quem jogou o aborto [ou o feto] na campanha eleitoral foi o PSDB/Igreja, não o PT.
No Blas Fêmeas [extinto] eu detalhei melhor esse jogo sujo. Então vamos ao furdúncio que se seguiu:
De um lado a CNBB tratou de declarar que não patrocinava a impressão ou divulgação do folheto/panfleto/documento.
De outro lado, o bispo solicitou a devolução dos folhetos/panfletos/documentos, declarando que era um documento "legítimo" da Igreja.
Na terceira coluna, vem os Católicos [e outros acólitos da Igreja] clamando contra a "censura" e a "ditadura", em defesa do "direito de liberdade de expressão, de opinião e crença" da Igreja [e dos Católicos].
A questão não é garantir o "direito" da Igreja [ou dos Católicos], o "direito" inerente a esta instituição está condicionado ao respeito dos direitos garantidos a todos, não apenas à Igreja. Quando a Igreja, ou um bispo, abusa de seu "direito" de liberdade de expressão e de opinão para tentar influenciar a escolha dos brasileiros de escolher, isto é crime eleitoral. Quando a Igreja, ou um bispo, se vale de sua influência ou autoridade na sociedade brasileira para fazer proselitismo de suas doutrinas, isto é a verdadeira censura e ditadura, pois se está calando o direito de se ter uma visão e uma opinião diferente. Quando a Igreja, ou um bispo, se escondem debaixo da defesa dos "direitos", não reconhecendo estes mesmos direitos aos demais, isto é a privatização dos direitos, é a imposição de uma opinião, de uma doutrina, isto é totalitarismo, é autocracia, é ditadura clerical.
Aproveito um texto meu: O que se tenta ocultar do público nessa pretensa "defesa dos direitos" é que esta visão é religiosa e doutrinária, ofendendo e não reconhecendo [...] os mesmos direitos que dizem defender. O discurso [...] dos cristãos fundamentalistas sequer pode ser entitulado de "opinião", mas sim de sentença arbitrária, baseada em uma doutrina religiosa arrogante e prepotente, que se arroga uma verdade sagrada e/ou divina. Nem se trata de "garantir os direitos de expressão/opinião/crença", mas de garantir e resguardar o totalitarismo arbitrário dessa visão religiosa e doutrinária, tentando censurar ou denegrir as opiniões contrárias que contestem ou desafiem esse totalitarismo.
Aproveito também uma citação tirada do caso Ellwanger: [...]a garantia constitucional da liberdade de expressão não é absoluta, tem limites jurídicos e não pode abrigar, em sua abrangência, manifestações que implicam ilicitude penal. No caso concreto, explicita o acórdão: "O preceito fundamental da liberdade de expressão não consagra o "direito à incitação ao racismo" [ou da incitação eleitoral, no caso-nb], dado que um direito individual não pode constituir-se em salvaguarda de condutas ilícitas, como sucede com os delitos contra a honra. Prevalência dos princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica".
Reitero meu aviso e alerta: Não se enganem com estas estratégias desonestas, a Igreja não faz esta campanha em prol dos "direitos" desses "bebês inocentes" (um feto não é um bebê, nem é uma pessoa), mas para manter seu poder e influência na sociedade. A Igreja se coloca como defensora do casamento, da família, da vida e dos valores sociais, não porque esta é bondosa, mas por razões corporativas.

sábado, 23 de outubro de 2010

E por falar nisso

O ASSUNTO CONTINUA o mesmo: o aborto. Você é contra ou a favor? Se não é candidato, tem o direito de achar o que quiser e, sobretudo, a mudar de opinião e negar, com muita clareza (como diz Dilma), o que disse antes, mesmo que suas declarações estejam gravadas, portanto, ao acesso de qualquer eleitor.
Como o passado para alguns não condena, o que interessa é o presente -e o segundo turno, é claro.
Sobre o assunto, gostaria de saber a opinião do nosso vice-presidente, José Alencar.
Como todos sabemos, ele se recusou a fazer o exame de DNA que provaria -ou não- uma sua suposta paternidade. Alencar se recusou a fazer o exame de DNA, declarando, elegantemente, que a mãe de sua possível filha frequentava a "zona" e que, portanto, ele não tinha nenhuma responsabilidade sobre o caso. Pela lei, quem se recusa a fazer o exame é declarado legalmente pai, mas não vi uma só notícia, em nenhum jornal, esclarecendo essa história. Será que os vices têm imunidade e tudo bem?
Eu, por mim, torço para que essa moça, que já é uma senhora, tenha direito à parte da herança do seu possível pai, que não deve ser pequena. E fico pensando: será que se na época nosso vice, tão católico, tivesse sido procurado por sua parceira dos velhos tempos, teria dado força para que ela, em nome de suas (dele) profundas convicções religiosas, tivesse esse filho? Ou talvez até ajudado, financeiramente, a que ela fizesse um aborto?
Nenhuma mulher gosta de engravidar sem querer; milhões delas provocam o aborto nas condições mais primitivas e têm que procurar ajuda num hospital -correndo o risco de irem para a cadeia, como criminosas- e muitas morrem. A igreja proíbe o uso da pílula, da camisinha e continua firme: o ato sexual só existe para a procriação. Os séculos passam e só a igreja não vê que o mundo mudou.
Nenhum dos candidatos fala em uma campanha, já nas escolas, de prevenção à gravidez, para que as meninas se previnam antes de ir para a balada do fim de semana. Porque é sempre às mães que vão caber todas as responsabilidades - vide o caso de José Alencar.
O poderoso Vaticano, que impõe suas leis, é todo formado por homens, e as freiras não têm voz para nada -até melhor, já que não entendem do assunto.
Não faço a defesa do aborto, mas não aceito que um mundo masculino tenha o direito de ditar regras que só dizem respeito a elas. Algum bispo tem ideia do que é enfrentar um estupro, ou a ter mais um filho -muitas vezes sem pai- sem ter como criá-lo, ou a uma gravidez indesejada para uma adolescente?
A ex-candidata Marina falou em plebiscito, mas nem isso os católicos admitem. Se acontecer, e os que são contra vencerem, vai ficar tudo igual: as mulheres vão continuar abortando, e se é a favor da vida que tanto se fala, arriscando as suas (essas vidas não importam às religiões). Que venha o plebiscito, mas que fique estipulado que nele só as mulheres vão poder opinar. É um absurdo que os homens interfiram nesse assunto.
Dilma aprendeu -mais ou menos- a falar, mas não a sorrir. Apenas mostra os dentes, mas os olhos não acompanham, porque isso não se ensina. Poderia ter tido uma assessoria especial para aprender a fazer o sinal da cruz.
Em Aparecida, foi patético: ela, literalmente, gaguejou com as mãos.
Fonte e autoria: Danuza Leão [que, gentilmente, permitiu aqui a reprodução deste texto]
Trecho sublinhado por conta da casa.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O menir de Longroiva

O equipamento representado na Estátua-Menir de Longroiva (Portugal) e o do Homem do Gelo (Ossi, ou Similaun), encontrado nas montanhas do Tirol, em 1991, comprovam a extensão da unidade cultural da Idade do Bronze na Europa.
Foi em Abril de 1964 que localizei um dos mais importantes documentos pré-históricos deste concelho e do distrito da Guarda: a Estátua-Menir de Longroiva. Ajudou-me uma informação dada pelo meu amigo e agricultor Sr. Arménio Tairum, que vira desenterrar meses antes, uma enorme pedra com riscos, nos trabalhos de abertura de uma vinha, na Quinta da Veiga, no sítio do Cruzeiro Velho, próxima da antiga via romana e a curta distância da Ribeira dos Piscos. Aquele local do Cruzeiro Velho fazia parte, até à década de 1930, de um caminho vicinal público, integrado abusivamente pelo Senhor Aires Botelho na sua Quinta da Veiga. A Junta de Freguesia de Longroiva nunca reivindicou o direito ao terreno. Historicamente, a Estátua-Menir pertenceria à Freguesia e não a um proprietário privado.
Naquele monólito de granito, com 2,40m, está representado a inscultura de um guerreiro ou preferivelmente caçador, da Idade do Bronze, acompanhado das suas armas, que são uma alabarda com um longo cabo, provavelmente de madeira, um punhal ou espada curta triangular, um arco e uma foicinha. A figura do caçador está profundamente estilizada assemelhando-se pela técnica do gravado às insculturas das chamadas deusas-mães eneolíticas e das estátuas menhires francesas da região de Aveyron, enquadradas na Primeira Idade do Bronze. O tamanho dos desenhos da estátua de Longroiva parecem corresponder à cópia do natural.
A face do caçador está ornamentada com uma máscara funerária. Em torno do pescoço, a linha curva, deve identificar-se com uma lúnula. Essas lúnulas de bronze ou de ouro, são vulgarmente representadas nestes monumentos.
A analogia da estátua-menhir de Longroiva com as de Aveyron, em França, permite formular a hipótese de, nas suas raízes, os Lusitanos terem recebido influências das primeiras migrações dos pastores proto-indo-europeus, que se deslocaram para Ocidente, evoluíndo com aculturações ao longo da Idade do Ferro. Esta minha hipótese encontrou posteriormente o apoio de alguns arqueólogos que, com base na linguística, entre eles António Tovar, defendem uma origem peninsular dos Lusitanos a partir da Idade do Bronze, recusando a tese migratória (vid. Os Lusitanos, do autor).
Nota interessante, é o facto de as estátuas de Aveyron se localizarem na região da Oxitânia e a de Longroiva na Lusitânia, ambas com raízes linguísticas com muitas analogias...
Na vizinha Espanha, em torno as Serra da Gata, foram encontradas estátuas deste período.
(...)
Curiosamente o homem representado neste monumento assemelha-se com o seu equipamento ao Homem do Gelo, encontrado em Setembro de 1991, nas montanhas do Tirol, inicialmente conhecido por Homem de Similaun mas após a disputa entre a Itália e a Suíça pela posse do congelado, designado por Ossi.
Teria 46 anos. Salvo a diferença de vestuário adaptado ao frio, todo o equipamento que usava era semelhante ao do homem representado no monólito de Longroiva. Até nas dimensões. O do Tirol vestia uma túnica e calçava sapatos feitos de erva, revestindo os pés com feno. Levava um machado, ou aljava triangular, um arco, um saco para as setas, um punhal. A aljava media 80 cm; o arco, 1,80m; e as catorze flechas de madeira, 85cm, com as pontas em sílex. Num saquinho estava a merenda: sementes e ameixas frescas, o que faz concluir que decorria o mês de Setembro, quando foi surpreendido pela tempestade de neve que o matou. No corpo tinha tatuagens. Após ter sido autopsiado, os médicos verificaram que sofria de reumatismo e artrismo e recebia tratamento de apuncultura. As tatuagens nas costas e nos quadris indicavam os pontos onde as agulhas eram introduzidas. Assim, quando ele se deslocava para regiões distantes, as tatuagens funcionavam como cartas de médico para médico, indicando os pontos mestres contra a artrite reumática.
A inscultura de Longroiva representa simbolicamente o arco, dando-lhe menores dimensões.
Comparativamente trata-se da mesma civilização da Idade do Bronze, abrangendo desde o Centro da Europa ao Ocidente Peninsular, há 5000 anos.
A estátua menir de Longroiva pode representar um caçador da Idade do Bronze, que actuasse não só naquele Vale mas também na Bacia do Coa, pois foi localizada perto da Ribeira dos Piscos, afluente daquele rio. A sua capacidade cinegética poderia tê-lo transformado num líder, merecendo o culto dos heróis, testemunhado pelo monumento. Simultaneamente a actividade do caçador ligava-se também à do guerreiro.
Recentemente, em 2001, foram anunciadas na Imprensa as descobertas de mais duas estátuas deste tipo, no distrito da Guarda. A primeira encontrada no mês de Maio, perto do Cabeço das Fráguas entre as povoações de Demoura e Aldeia de Santa Madalena, no concelho da Guarda. Esculpiram uma figura humana num bloco granítico cilindro, com 102cm de altura por 42 de largura. O rosto da figura representa uma face humana encimada por cabelo, distinguindo-se os olhos, o nariz e a boca. A face oval é contornada por quatro sulcos, que me sugerem uma lúnula, ou, como pretende o Arqueólogo Ramos Osório, um colar. A datação atribuída oscila entre a segunda metade do V milénio e os inícios do IV milénio, antes de Cristo.
Em Julho do mesmo ano o jornal Ecos da Marofa noticiava a descoberta na Quinta dos Marcelinos, a 2 quilómetros de Figueira de Castelo Rodrigo, de um menir da Idade do Bronze, com cerca de quatro mil anos, segundo a arqueóloga Raquel Vilaça. Mede 3 metros de altura, com uma largura entre os 60 e 70 cm. Tem representada, além da figura humana, uma espada e uma alabarda de lâmina triangular, característica da época. Todas estas descobertas completam o estudo sobre a Idade do Bronze que fiz no distrito da Guarda há cerca de quarenta anos e comprovaram o desenvolvimento de uma cultura que culmina com o Bronze Atlântico. O cobre e o estanho existem próximos, entre a Guarda e o Sabugal, sendo dali exportados para Huelva, como me foi possível comprovar através das vias que então estudei e de que dei notícia. (vid. os trabalhos do Autor, Arqueologia da Península Hispânica, Idade do Bronze e Enciclopédia Verbo, IV Vol. Bronze).
Fonte: Gladius

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Egito descobre tumba de sacerdote

Arqueólogos anunciaram na terça-feira a descoberta de uma tumba de quase 4,3 mil anos que provavelmente abrigou o sacerdote Rudj Ka.
A tumba foi esculpida na base de um penhasco no platô de Giza e está repleta de ilustrações coloridas do dia-a-dia de 4,5 mil anos atrás, segundo arqueólogos.
Entre elas, há uma do próprio Rudj Ka e sua esposa em frente a uma mesa de oferendas.
A tumba foi encontrada durante escavações de rotina na região próxima à necrópole dos trabalhadores que construíram as pirâmides.
Rudj Ka teria sido uma figura importante na corte do faraó.
"É uma tumba grande, provavelmente da família de Rudj Ka. Ele era o inspetor dos sacerdotes de Khafre e também o alto sacerdote da pirâmide de Khafre", afirmou o chefe do Conselho de Antiguidades do Egito, Zahi Hawass.
Hawass afirmou ainda que a tumba foi saqueada ao longo da história, mas que as pinturas nas paredes são uma fonte de informação riquíssima sobre o período.
Fonte: G1

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Nota dos Brasileiros

Denúncia e crítica contra a CNBB e a intromissão dos Católicos na vida íntima das pessoas.

Nós, Brasileiros do Brasil, dirigimo-nos a todos os clérigos e católicos para denunciar e
contestar contra mais esta intromissão da CNBB na esfera do judiciário e na sociedade
brasileira multidiversificada.

O rearranjo da família atual não pode ser negado e deve, inclusive, ser celebrado como uma
transformação positiva nos padrões e nas relações afetivas, rumo às vivências mais plurais e
democráticas. A sua aceitação é fonte destacada de reflexão social e implica ainda a
necessidade de se repensar a elaboração de políticas públicas.

Com as grandes transformações observadas nas últimas décadas no campo da sexualidade, da
afetividade e das dinâmicas sociais, a família nuclear, heterossexual, não deve ser mais tida
como o modelo único, ou mesmo o padrão referencial, mas apenas como mais uma forma de
arranjo familiar. Afinal de contas, o número de mulheres e homens que coordenam sozinhos
seus lares junto com os seus filhos é altíssimo. Além disso, cresce a percepção social de que é
fundamental reconhecer o direito de casais homossexuais de constituírem uma família e terem
filhos.

Neste quesito, as políticas públicas brasileiras são avançadas, pois refletem a família a partir de sua função, levando em consideração a solidariedade entre seus membros, o desencadeamento das relações entre eles e a importância no desenvolvimento que cada
indivíduo exerce sobre o outro. Não há e não deve haver qualquer juízo de valor acerca de
qual a orientação sexual "ideal" dos cônjuges. Ao contrário, deve existir apenas um reforço no
papel da família como instituição central para a proteção social.

No âmbito das dinâmicas cotidianas, as relações caminham a passos lentos e nem sempre
percorrem o mesmo caminho das legislações. Em alguns casos, porém, a legislação parece
bastante retrógrada, principalmente quando observamos a dificuldade de adoção de filhos por
parte de casais homossexuais.

Quando isso ocorre, se transforma em notícia nacional, num acontecimento que "está para
além desta sociedade", pois parecem ofender os valores de setores conservadores da
sociedade, sobretudo os religiosos. É utilizando esse tipo de exemplo que podemos perceber
com mais clareza o quanto a sociedade como um todo é preconceituosa, o quanto idealizamos
um tipo de família heterossexual, em que o pai exerce o papel de coordenador do lar.
A diversidade sexual, com sua pluralidade afetiva e de experiências, constitui, sobretudo, um
positivo elemento de integração dos laços sociais e de vivência civilizada. A orientação sexual
do indivíduo não influencia de forma negativa o seu caráter. Pelo contrário, só traz benefícios à sociedade, pois um indivíduo satisfeito no seu relacionamento afetivo-sexual será uma pessoa feliz e tranquila em todos os ambientes sociais, seja de trabalho, escola ou família. A
comprovação do bem-estar social causado pela aceitação das diferentes orientações sexuais é 
a própria verificação do que ocorre quando ela não existe. As pessoas podem se isolar, se
destruir, ficar atormentadas.

Não cabe, nem aos bispos, nem aos padres, a capacidade e a competência de determinar o
que é ou o que deve ser considerado um núcleo familiar. Em uma sociedade democrática de
direitos, essa definição doutrinária da Igreja e da CNBB alijaria de seus direitos legítimos as
famílias monoparentais e as famílias adotivas.

Nem a Igreja nem os Católicos têm autorização alguma para utilizar desse terrorismo
psicológico para forçar a opinião pública a seu favor.

Não cabe, nem aos bispos, nem aos padres, definirem ou cercearem as diferenças de gênero,
de opção e de preferência sexual. Em uma sociedade de direito, não há espaço para a
discriminação, nem o preconceito. Famílias poligâmicas, como as que existem entre os
muçulmanos, também deve receber o respaldo da lei. A definição da Igreja e da CNBB está não
apenas tornando ilegal e criminosa as famílias poligâmicas, muçulmanas ou não, mas está
também negando aos muçulmanos o direito deles de praticarem suas crenças religiosas.
O conhecimento acadêmico comprovou, por diversas vezes, que as ditas Sagradas Escrituras
foram, ao longo do tempo, manipuladas, forjadas, interpoladas, mal traduzidas, com o único
intento de justificar e embasar as doutrinas da Igreja. Portanto, estas não servem nem podem
ser tomadas como parâmetro de verdade absoluta e incontestável. Mesmo porque, em uma
sociedade multidiversificada, democrática e de direito, deve ser dado o igual respeito e espaço
a todas as religiões que fazem parte de sua comunidade e as Sagradas Escrituras não são a
única fonte de religiosidade.

Não é da capacidade e da competência dos bispos ou dos padres emitir pareceres ou
comentários em matéria de jurisprudência. Uniões homossexuais fazem parte da nossa
sociedade e devem receber o respaldo legal e jurídico e isto é um princípio constitucional.
Uma família não deixa de ser família, se acaso um dos conubentes falecer. Uma família não
deixa de ser família, se os filhos são adotados. Portanto, uma família não deixará de ser
família, quando os conubentes são do mesmo sexo.

A resistência católica é apenas uma reedição da mesma resistência que aconteceu quando a lei
regulamentou o divórcio e foi permitido a fertilização "in vitro". Fizeram o mesmo escândalo,
disseram que seria o fim da humanidade. O que a Igreja quer garantir é o seu poder e
influência sobre a nossa sociedade. Tudo é uma questão de manter o poder e a dominação da
Igreja sobre as pessoas. Manter o poder sobre sua sexualidade, sobre seu relacionamento,
sobre sua opção sexual, manter controle sobre seu corpo, seu prazer, manter o controle sobre
a sua mente.

Nós, Brasileiros do Brasil, não vamos mais aceitar nem permitir a intromissão dos sacerdotes
da Igreja em assuntos de foro íntimo, nem se imiscuírem nas funções de legisladores e juízes.

instituição familiar corresponde ao desígnio da sociedade, da cultura e da época e não aos
projetos de opressão, repressão e ditadura doutrinária da Igreja. Nós não autorizamos nem
reconhecemos a suposta autoridade da CNBB e da Igreja Católica. Nós estamos fartos dessa
prepotência, dessa arrogância e dessa presunção. E conclamamos a todos os brasileiros, 
cidadãos, que defendam as suas instituições de direito, que sustentem a autoridade dos três
poderes da República, a saber, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. O Brasil não é, nem
será, uma teocracia.

Por um Brasil efetivamente laico e justo, APOSTASIA JÁ!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Em defesa do bom-senso

Na reta final do segundo turno, ambos os candidatos à presidência do Brasil se valem dos recursos mais insólitos para angariar os votos dos brasileiros.
Dilma se comprometeu com os Evangélicos não prosseguir com a legalização do casamento gay? Serra se diz a favor. Dilma disse que aborto é uma questão médica? Serra [e a Igreja] se diz contra.
Recentemente a campanha eleitoral ganhou seu devido nível, quando a PF confiscou panfletos de setores radicais da Igreja [em uma gráfica vinculada ao PSDB] tentando de forma criminosa influenciar na livre escolha dos brasileiros, ao convocar os católicos [a maioria dos brasileiros] a não votarem em candidato que é a favor do aborto.
Mas afinal, por quê é tão importante para os brasileiros, católicos e os setores fundamentalistas cristãos serem contra o aborto? Não está em questão o "direito à vida", a história da Igreja está recheada de exemplos da completa falta de respeito à vida humana. Nem dos "direitos da pessoa", visto que falamos de fetos e embriões, situações onde é risível a presença de uma "pessoa".
Nem sequer a questão está em discussão. Como é de se esperar, estes grupos citam de forma pobre e tendenciosa textos da Fundação Ford e da Fundação MacArthur para induzir a população ao pânico, à histeria, ao ensejar que há uma "conspiração mundial" para a descriminalização do aborto.
Não se é para discutir em termos racionais. Não se é sequer para permitir que as pessoas pensem. Tudo é uma questão de manter o poder e a dominação da Igreja sobre as pessoas. Manter o poder sobre sua sexualidade, sobre seu relacionamento, sobre sua opção sexual, manter controle sobre seu corpo, seu prazer, manter o controle sobre a sua mente.
O engraçado é que ao fazer esse "denuncismo" terrorista, estes grupos fundamentalistas acabam fazendo a promoção e divulgando ao público estes ideais perigosos de que nós [isso mesmo, nós] somos os donos de nossos corpos.
Eu endosso as idéias deste relatório da Fundação Ford e encorajo que esta política possa se tornar uma realidade em breve:
1. Reconceitualizar a saúde e a doença não apenas como estados biológicos, mas como processos relacionados ao modo como as pessoas vivem.
2. Introduzir os conceitos de saúde e direitos sexuais e reprodutivos.
3. Empoderar as organizações de mulheres para promover a saúde reprodutiva.
4. Financiar a promoção de debates e a disseminação de informação para definir áreas de consenso sobre polítcas de saúde reprodutiva.
Igualmente louvável foi a determinação da ONU na Conferência Populacional no cairo [1994] onde se aprovou os seguintes termos, objetivos e ações mundiais:

Principio 4 – Promover a equidade e a igualdade dos sexos e os direitos da mulher, assim como eliminar a violência de todo tipo contra a mulher e assegurar de que ela seja quem controla sua propria fecundidade é a pedra angular dos programas de população e desenvolvimento. Os direitos humanos das mulheres e meninas são partes inalienáveis, integrais e indivisíveis dos direitos humanos universais.
Princípio 8 - Toda a pessoa tem direito ao mais alto nível possível de saúde física e mental. Os países devem tomar todas as medidas apropriadas para garantir, em termos de igualdade entre homens e mulheres, o acesso universal à serviços de cuidados de saúde, incluindo os relacionados com a saúde reprodutiva, incluindo o planeamento familiar e saúde sexual. Os programas de saúde reprodutiva deverão fornecer a mais ampla gama de serviços, sem qualquer forma de coerção. Todos os casais e todas as pessoas têm o direito fundamental de decidir livre e responsavelmente o número e o espaçamento dos seus filhos e de ter a informação, educação e os meios para o fazer.
4. Igualdade de gênero, eqüidade e capacitação da mulher;
4.1. O empoderamento e a autonomia da mulher e a melhoria de seu status político, social e econômico são, em si mesmas, um fim de alta importância. Além de ser essencial à realização de um desenvolvimento sustentável. Plena participação e parceria tanto da mulher quanto do homem são necessárias à vida produtiva e reprodutiva, inclusive a partilha das responsabilidades no cuidado e alimentação dos filhos e na manutenção da família. Em todas as partes do mundo, as mulheres sofrem ameaças a sua vida, a sua saúde e a seu bem-estar em conseqüência de sua sobrecarga de trabalho e por carecerem de poder e de influência. Na maior parte do mundo, as mulheres recebem menos educação formal que os homens e, ao mesmo tempo, sua capacidade, saber e mecanismos de luta muitas vezes não são reconhecidos. As relações de poder que impedem a mulher de alcançar uma vida sadia e plena operam em muitos níveis da sociedade, desde os mais pessoais até os mais altamente públicos. Conseguir uma mudança requer ações de política e programas que melhorem o acesso da mulher a meios de vida seguros e a recursos econômicos, aliviem sua excessiva responsabilidade com relação aos encargos domésticos, removam impedimentos legais a sua participação na vida pública e promovam a conscientização social por meio de eficientes programas de educação e de comunicação de massa. Ademais, a melhoria do status da mulher reforça também sua capacidade de tomar decisões em todos os níveis das esferas da vida, especialmente na área da sexualidade e da reprodução. Isto, por sua vez, é essencial para o sucesso, de longo prazo, de programas de população. A experiência demonstra que programas de população e desenvolvimento são mais eficientes quando, simultaneamente, se tomam providências para melhorar a situação da mulher.
4.4 Os países devem agir para emancipar a mulher e tomar as seguintes providências para eliminar, o mais breve possível, as desigualdades entre homens e mulheres:
c) eliminando toda prática que discrimine a mulher; ajudando a mulher a estabelecer e realizar seus direitos, inclusive os relativos à saúde reprodutiva e sexual;
4.8 Governos, organizações internacionais e organizações não-governamentais devem assegurar que suas políticas e práticas de pessoal cumpram o princípio da representação eqüitativa de ambos os sexos, especialmente nos níveis administrativo e de formulação de política, em todos os programas, inclusive programas de população e de desenvolvimento. Procedimentos e indicadores específicos devem ser criados para análise, com base no sexo, de programas de desenvolvimento e para avaliação do impacto desses programas na condição social, econômica e de saúde da mulher e em seu acesso a recursos.
5. A família, seus papéis, composição e estrutura;
5.6 Os governos devem manter e promover o desenvolvimento de mecanismos para documentar mudanças e empreender estudos sobre a composição e a estrutura familiares, especialmente sobre a predominância de famílias de uma só pessoa e de famílias uniparentais e multiparentais.
6. Crescimento e estrutura populacional;
6.4 Os países devem dispensar maior atenção à importância das tendências populacionais para o desenvolvimento. Os países que não completaram sua transição demográfica devem tomar efetivas providências, nesse sentido, no contexto de seu desenvolvimento social e econômico e com pleno respeito pelos direitos humanos. Os países que concluíram a transição demográfica devem tomar as providências necessárias para otimizar suas tendências demográficas no contexto de seu desenvolvimento social e econômico. Estas providências incluem desenvolvimento econômico e minoração da pobreza, especialmente nas zonas rurais, melhoria da situação da mulher, garantia de acesso universal à educação primária de qualidade e à assistência primária à saúde, inclusive a serviços de saúde reprodutiva e de planejamento familiar, a estratégias educacionais concernentes à paternidade responsável e à educação sexual. Os países devem mobilizar todos os setores da sociedade nesses esforços, inclusive organizações não-governamentais, grupos comunitários locais e o setor privado.
7. Direitos reprodutivos [saúde sexual e reprodutiva] e planejamento familiar;
7.2 A saúde reprodutiva é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não simples a ausência de doença ou enfermidade, em todas as matérias concernentes ao sistema reprodutivo e a suas funções e processos. A saúde reprodutiva implica, por conseguinte, que a pessoa possa ter uma vida sexual segura e satisfatória, tenha a capacidade de reproduzir e a liberdade de decidir sobre quando, e quantas vezes o deve fazer. Implícito nesta última condição está o direito de homens e mulheres de serem informados e de ter acesso a métodos eficientes, seguros, permissíveis e aceitáveis de planejamento familiar de sua escolha, assim como outros métodos, de sua escolha, de controle da fecundidade que não sejam contrários à lei, e o direito de acesso a serviços apropriados de saúde que dêem à mulher condições de passar, com segurança, pela gestação e pelo parto e proporcionem aos casais a melhor chance de ter um filho sadio. De conformidade com definição acima de saúde reprodutiva, a assistência à saúde reprodutiva é definida como a constelação de métodos, técnicas e serviços que contribuem para a saúde e o bem-estar reprodutivo, prevenindo e resolvendo problemas de saúde reprodutiva. Isto inclui também a saúde sexual cuja finalidade é a intensificação das relações vitais e pessoais e não simples aconselhamento e assistência relativos à reprodução e a doenças sexualmente transmissíveis.
7.3 Tendo em vista a definição supra, os direitos de reprodução abrangem certos direitos humanos já reconhecidos em leis nacionais, em documentos internacionais sobre direitos humanos e em outros documentos de acordos. Esses direitos se baseiam no reconhecido direito básico de todo casal e de todo indivíduo de decidir livre e responsavelmente sobre o número, o espaçamento e a oportunidade de seus filhos e de ter a informação e os meios de assim o fazer, e o direito de gozar do mais alto padrão de saúde sexual e de reprodução. Inclui também seu direito de tomar decisões sobre a reprodução, livre de discriminação, coerção ou violência, conforme expresso em documentos sobre direitos humanos. No exercício desse direito, devem levar em consideração as necessidades de seus filhos atuais e futuros e suas responsabilidades para com a comunidade. A promoção do exercício responsável desses direitos por todo indivíduo deve ser a base fundamental de políticas e programas de governos e da comunidade na área da saúde reprodutiva, inclusive o planejamento
familiar. Como parte de seus compromissos, toda atenção deve ser dispensada à promoção de relações mutuamente respeitosas e eqüitativas entre os sexos, particularmente, à satisfação de necessidades educacionais e de serviço de adolescentes para capacitá-los a tratar sua sexualidade de uma maneira positiva e responsável. A saúde reprodutiva é motivo de frustração de diversos povos do mundo por causa de fatores tais como: níveis inadequados de conhecimento da sexualidade humana e informação e serviços inadequados ou de pouca qualidade na área da saúde reprodutiva; a predominância de um comportamento sexual de alto risco; práticas sociais discriminatórias; atitudes negativas com relação à mulher e à jovem; o limitado poder que têm muitas mulheres e moças sobre suas próprias vidas sexuais e reprodutivas. Os adolescentes são particularmente vulneráveis por causa de sua falta de informação e de acesso a serviços pertinentes na maioria dos países. Homens e mulheres mais idosos têm diferentes problemas de saúde reprodutiva e sexual, muitas vezes tratados de maneira inadequada.
7.5 Os objetivos são:
a) assegurar que informação completa e concreta e toda uma série de serviços de assistência à saúde reprodutiva, inclusive o planejamento familiar, sejam acessíveis, permissíveis, aceitáveis e convenientes a todo usuário;
b) possibilitar e apoiar decisões voluntárias responsáveis sobre gravidez e métodos de planejamento familiar de sua escolha, assim como outros métodos de sua escolha para o controle da fecundidade, que não contrariem a lei, e tenha a informação, educação e meios de o fazer;
c) atender às diferentes necessidades de saúde reprodutiva durante o ciclo de vida e assim o fazer de uma maneira sensível à diversidade de circunstâncias de comunidades locais.
7.7 Programas de assistência à saúde reprodutiva devem ser lançados para atender às necessidades da mulher, inclusive das adolescentes, e envolver mulheres na liderança, planejamento, tomada de decisões, gerenciamento, execução, organização e avaliação de serviços. Os governos e outras organizações devem tomar providências positivas para incluir mulheres em todos os níveis do sistema de assistência à saúde.
7.8 Programas inovadores devem ser criados para tornarem acessíveis a homens e jovens informação, orientação e serviços de saúde reprodutiva. Esses programas devem, ao mesmo tempo, educar o homem e capacitá-lo a partilhar, de uma maneira mais eqüitativa, do planejamento familiar, das responsabilidades domésticas e da criação dos filhos, e a aceitar a principal responsabilidade pela prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Os programas devem alcançar o homem em seu local de trabalho, no lar e onde se reúne para recreação. Meninos e adolescentes, com o apoio e a orientação de seus pais, e nos termos da Convenção sobre os Direitos da Criança, devem ser também alcançados na escola, organizações juvenis e onde quer que se reúnam. Métodos anticoncepcionais masculinos, adequados e voluntários, como também de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, inclusive a AIDS, devem ser promovidos e tornados acessíveis com informação e orientação adequadas.
7.9 Os governos devem promover maior participação comunitária nos serviços de assistência à saúde reprodutiva, descentralizando a administração de programas públicos de saúde e fazendo parcerias com organizações não-governamentais locais e prestadores privados de serviços de saúde. Todos os tipos de organizações não-governamentais, inclusive grupos locais de mulheres, sindicatos, cooperativas, programas de jovens e grupos religiosos devem ser incentivados a participar da promoção de uma melhor saúde reprodutiva.
7.10 Sem prejuízo o apoio internacional a programas em países em desenvolvimento, a comunidade internacional, a pedido, deve dar atenção ao treinamento, à assistência técnica, às necessidades de suprimento em curto prazo de anticoncepcionais e às necessidades de países em transição de uma administração centralizada para a economia de mercado, onde a saúde reprodutiva é precária e, em alguns casos, em deterioração. Ao mesmo tempo, esses países devem eles próprios dar maior prioridade a serviços de saúde reprodutiva, inclusive a uma série abrangente de dispositivos anticoncepcionais e se libertar de sua atual dependência do aborto no controle da fecundidade, atendendo urgentemente à necessidade das mulheres, nesses países, de melhor informação e de mais opções.
7.12 O objetivo de programas de planejamento familiar deve ser o de capacitar casais e indivíduos a decidir livre e responsavelmente sobre o número e o espaçamento de seus filhos e a ter a informação e os meios de assim o fazer e assegurar opções conscientes e tornar disponível toda uma série de métodos eficientes e seguros. O sucesso de programas de educação da população e de planejamento familiar, numa variedade de circunstâncias demonstra que o indivíduo informado pode agir e agirá, em toda parte, com responsabilidade, de acordo com as suas próprias necessidades e das necessidades de sua família e da comunidade. O princípio da livre escolha consciente é essencial ao sucesso em longo prazo de programas de planejamento familiar. Não há lugar para qualquer forma de coerção. Em toda sociedade há muitos incentivos e desestímulos sociais e econômicos que afetam decisões individuais sobre a gravidez e o tamanho da família. No século passado, muitos governos experimentaram planos que incluíam incentivos e desestímulos para reduzir ou aumentar a fecundidade. A maior parte dos planos teve apenas um impacto marginal na fecundidade e, em alguns casos, foram contraproducentes. Os objetivos governamentais de planejamento familiar devem ser definidos em termos de necessidades não-satisfeitas de informação e de serviços. Objetivos demográficos, embora objeto legítimo de estratégias governamentais de desenvolvimento, não devem ser impostos aos prestadores de serviços de planejamento familiar na forma de alvos ou quotas no recrutamento de clientes.
7.18. As organizações não-governamentais devem desempenhar um papel ativo na mobilização do apoio da comunidade e da família, no aumento do acesso e da aceitabilidade de serviços de saúde reprodutiva, inclusive de planejamento familiar, e cooperar com os governos no processo de preparação e prestação de assistência, baseada na escolha consciente, e ajudando a acompanhar programas públicos e do setor privado, inclusive os seus próprios.
7.20. Os governos devem, especificamente, tornar mais fácil a casais e indivíduos assumir a responsabilidade por sua própria saúde reprodutiva, removendo desnecessários obstáculos legais, médicos, clínicos e regulamentares à informação e ao acesso a serviços e métodos de planejamento familiar.
7.23. Nos próximos anos, todos os programas de planejamento familiar devem envidar significativos esforços para melhorar a qualidade da assistência. Entre outras medidas, os programas devem:
a) reconhecer que métodos apropriados a casais e indivíduos variam de acordo com suas idades, partos, preferência pelo tamanho da família e outros fatores, e assegurar que mulheres e homens tenham informação e acesso a uma série mais ampla possível de métodos seguros e eficientes de planejamento familiar, para os capacitar a fazer uma escolha livre e consciente;
c) tornar os serviços mais seguros, permissíveis, convenientes e acessíveis a clientes e assegurar, por meio de sólidos sistemas logísticos, o suprimento suficiente e contínuo de anticoncepcionais essenciais de alta qualidade. A privacidade e a confidência devem ser garantidas[...]
7.34. A sexualidade humana e as relações entre os sexos estão intimamente inter-relacionadas e juntas afetam a capacidade de homens e mulheres de realizar e manter a saúde sexual e administrar sua vida reprodutiva. A igualdade nas relações entre homens e mulheres, em matérias de relações sexuais e de reprodução, inclui o pleno respeito pela integridade física do corpo humano, exige respeito mútuo e disposição de aceitar a responsabilidade pelas conseqüências de um comportamento sexual. Comportamento sexual responsável, sensibilidade e igualdade nas relações entre os sexos, particularmente quando instilados durante os anos de formação, fortalecem e promovem respeitosas e harmoniosas parcerias entre homens e mulheres.
7.37. Deve-se dispensar apoio à educação sexual integral e a serviços para pessoas jovens, com o apoio e a orientação de seus pais e de conformidade com a Convenção sobre os Direitos da Criança, que ressaltem a responsabilidade do homem por sua própria saúde e fecundidade sexual e o ajude a exercer essas responsabilidades. Esforços educacionais devem começar na idade apropriada, na unidade familiar, na comunidade e nas escolas, mas devem também alcançar adultos, particularmente os homens, por meio da educação não-formal e de uma variedade de esforços baseados na comunidade.
7.48. Os programas devem envolver e treinar todas as pessoas com a responsabilidade de dar orientação a adolescentes com relação ao comportamento sexual e reprodutivo responsável, particularmente pais e famílias, e também comunidades, instituições religiosas, escolas, meios de comunicação de massa e grupos semelhantes. Os governos e organizações não-governamentais devem promover programas destinados à educação de pais, com o objetivo de melhorar a interação de pais e filhos para capacitar os pais a cumprir melhor seus deveres educacionais no apoio ao processo de amadurecimento de seus filhos, particularmente nos campos do comportamento sexual e da saúde reprodutiva.
8.25 Em nenhuma hipótese o aborto deve ser promovido como método de planejamento familiar. Todos os governos e organizações intergovernamentais e não-governamentais são instados a reforçar seus compromissos com a saúde da mulher, a considerar o impacto de um aborto inseguro na saúde como uma preocupação de saúde pública e a reduzir o recurso ao aborto, ampliando e melhorando os serviços de planejamento familiar. À prevenção de gravidezes indesejadas deve ser dada sempre a mais alta prioridade e todo esforço deve ser feito para eliminar a necessidade de aborto. Mulheres com gravidez indesejada devem ter pronto acesso a informações confiáveis e a uma orientação compreensível. Todas as medidas ou mudanças com relação ao aborto no sistema de saúde só podem ser definidas, no âmbito nacional ou local, de acordo com o processo legislativo nacional. Em circunstâncias em que o aborto não contraria a lei, esse aborto deve ser seguro. Em todos os casos, as mulheres devem ter acesso a serviços de qualidade para o tratamento de complicações resultantes de aborto. Os serviços de orientação pós-aborto, de educação e de planejamento familiar devem ser de imediata disponibilidade, o que ajudará também a evitar repetidos abortos.

sábado, 16 de outubro de 2010

Alivio e assombro

Uma boa notícia, vinda da Holanda:
AMSTERDÃ — Criticar uma religião não é crime, afirmou nesta sexta-feira a procuradoria holandesa, durante o julgamento contra o deputado de extrema-direita Geert Wilders por incitar o ódio racial e a discriminação contra os muçulmanos.
"A crítica só pode ser punida se for dirigida de maneira inquestionável contra os próprios indivíduos e não apenas contra suas convicções", declarou a procuradora Birgit van Roessel.
O discurso de ódio foi tipificado como crime para proteger grupos vulneráveis, completou a procuradora, mas "ferir os sentimentos, sentimentos religiosos, não é caracterizado".[AFP]
E uma notícia estarrecedora, vinda do Vaticano:
"Carla Sarkozy não é bem-vinda no Vaticano." Foi esta a mensagem, curta mas inequívoca, que o representante diplomático da França na Santa Sé teve de passar a Nicolas Sarkozy, que tinha em agenda uma audiência com Bento XVI. O Presidente tomou nota do recado e cumpriu-o: no passado dia 9, deixou Carla Bruni no Eliseu e foi sozinho à reunião com o Papa.
A notícia, veiculada pelo semanário satírico francês Le Canard Enchaîné e reproduzida ontem pelo diário britânico Telegraph, explica que o Vaticano tomou esta decisão para evitar situações embaraçosas.
"Bento XVI estava preocupado com a eventualidade de, a propósito da visita, os jornais italianos colocarem na primeira página fotos da audiência lado a lado com outras de Carla Bruni escassamente vestida, do tempo em que era modelo", revela o jornal francês.
Nicolas Sarkozy tinha solicitado a Bento XVI uma audiência para explicar as razões da sua política de expulsão dos ciganos, uma medida duramente criticada por Ratzinger.
Numa mensagem lida em francês a 22 de Agosto, quando o desmantelamento dos acampamentos e as expulsões dos ciganos faziam as primeiras páginas da imprensa internacional, Bento XVI alertou para a necessidade de "saber acolher as legítimas diversidades humanas".[Diario de Noticias]
Acolher a diversidade humana significa também acolher a mulher que posa nua. Como no caso da Playboy de Portugal, a Igreja e os Católicos tem que resolver esse trauma com a nudez [especialmente a feminina], com o desejo, com o prazer.