sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O menir de Longroiva

O equipamento representado na Estátua-Menir de Longroiva (Portugal) e o do Homem do Gelo (Ossi, ou Similaun), encontrado nas montanhas do Tirol, em 1991, comprovam a extensão da unidade cultural da Idade do Bronze na Europa.
Foi em Abril de 1964 que localizei um dos mais importantes documentos pré-históricos deste concelho e do distrito da Guarda: a Estátua-Menir de Longroiva. Ajudou-me uma informação dada pelo meu amigo e agricultor Sr. Arménio Tairum, que vira desenterrar meses antes, uma enorme pedra com riscos, nos trabalhos de abertura de uma vinha, na Quinta da Veiga, no sítio do Cruzeiro Velho, próxima da antiga via romana e a curta distância da Ribeira dos Piscos. Aquele local do Cruzeiro Velho fazia parte, até à década de 1930, de um caminho vicinal público, integrado abusivamente pelo Senhor Aires Botelho na sua Quinta da Veiga. A Junta de Freguesia de Longroiva nunca reivindicou o direito ao terreno. Historicamente, a Estátua-Menir pertenceria à Freguesia e não a um proprietário privado.
Naquele monólito de granito, com 2,40m, está representado a inscultura de um guerreiro ou preferivelmente caçador, da Idade do Bronze, acompanhado das suas armas, que são uma alabarda com um longo cabo, provavelmente de madeira, um punhal ou espada curta triangular, um arco e uma foicinha. A figura do caçador está profundamente estilizada assemelhando-se pela técnica do gravado às insculturas das chamadas deusas-mães eneolíticas e das estátuas menhires francesas da região de Aveyron, enquadradas na Primeira Idade do Bronze. O tamanho dos desenhos da estátua de Longroiva parecem corresponder à cópia do natural.
A face do caçador está ornamentada com uma máscara funerária. Em torno do pescoço, a linha curva, deve identificar-se com uma lúnula. Essas lúnulas de bronze ou de ouro, são vulgarmente representadas nestes monumentos.
A analogia da estátua-menhir de Longroiva com as de Aveyron, em França, permite formular a hipótese de, nas suas raízes, os Lusitanos terem recebido influências das primeiras migrações dos pastores proto-indo-europeus, que se deslocaram para Ocidente, evoluíndo com aculturações ao longo da Idade do Ferro. Esta minha hipótese encontrou posteriormente o apoio de alguns arqueólogos que, com base na linguística, entre eles António Tovar, defendem uma origem peninsular dos Lusitanos a partir da Idade do Bronze, recusando a tese migratória (vid. Os Lusitanos, do autor).
Nota interessante, é o facto de as estátuas de Aveyron se localizarem na região da Oxitânia e a de Longroiva na Lusitânia, ambas com raízes linguísticas com muitas analogias...
Na vizinha Espanha, em torno as Serra da Gata, foram encontradas estátuas deste período.
(...)
Curiosamente o homem representado neste monumento assemelha-se com o seu equipamento ao Homem do Gelo, encontrado em Setembro de 1991, nas montanhas do Tirol, inicialmente conhecido por Homem de Similaun mas após a disputa entre a Itália e a Suíça pela posse do congelado, designado por Ossi.
Teria 46 anos. Salvo a diferença de vestuário adaptado ao frio, todo o equipamento que usava era semelhante ao do homem representado no monólito de Longroiva. Até nas dimensões. O do Tirol vestia uma túnica e calçava sapatos feitos de erva, revestindo os pés com feno. Levava um machado, ou aljava triangular, um arco, um saco para as setas, um punhal. A aljava media 80 cm; o arco, 1,80m; e as catorze flechas de madeira, 85cm, com as pontas em sílex. Num saquinho estava a merenda: sementes e ameixas frescas, o que faz concluir que decorria o mês de Setembro, quando foi surpreendido pela tempestade de neve que o matou. No corpo tinha tatuagens. Após ter sido autopsiado, os médicos verificaram que sofria de reumatismo e artrismo e recebia tratamento de apuncultura. As tatuagens nas costas e nos quadris indicavam os pontos onde as agulhas eram introduzidas. Assim, quando ele se deslocava para regiões distantes, as tatuagens funcionavam como cartas de médico para médico, indicando os pontos mestres contra a artrite reumática.
A inscultura de Longroiva representa simbolicamente o arco, dando-lhe menores dimensões.
Comparativamente trata-se da mesma civilização da Idade do Bronze, abrangendo desde o Centro da Europa ao Ocidente Peninsular, há 5000 anos.
A estátua menir de Longroiva pode representar um caçador da Idade do Bronze, que actuasse não só naquele Vale mas também na Bacia do Coa, pois foi localizada perto da Ribeira dos Piscos, afluente daquele rio. A sua capacidade cinegética poderia tê-lo transformado num líder, merecendo o culto dos heróis, testemunhado pelo monumento. Simultaneamente a actividade do caçador ligava-se também à do guerreiro.
Recentemente, em 2001, foram anunciadas na Imprensa as descobertas de mais duas estátuas deste tipo, no distrito da Guarda. A primeira encontrada no mês de Maio, perto do Cabeço das Fráguas entre as povoações de Demoura e Aldeia de Santa Madalena, no concelho da Guarda. Esculpiram uma figura humana num bloco granítico cilindro, com 102cm de altura por 42 de largura. O rosto da figura representa uma face humana encimada por cabelo, distinguindo-se os olhos, o nariz e a boca. A face oval é contornada por quatro sulcos, que me sugerem uma lúnula, ou, como pretende o Arqueólogo Ramos Osório, um colar. A datação atribuída oscila entre a segunda metade do V milénio e os inícios do IV milénio, antes de Cristo.
Em Julho do mesmo ano o jornal Ecos da Marofa noticiava a descoberta na Quinta dos Marcelinos, a 2 quilómetros de Figueira de Castelo Rodrigo, de um menir da Idade do Bronze, com cerca de quatro mil anos, segundo a arqueóloga Raquel Vilaça. Mede 3 metros de altura, com uma largura entre os 60 e 70 cm. Tem representada, além da figura humana, uma espada e uma alabarda de lâmina triangular, característica da época. Todas estas descobertas completam o estudo sobre a Idade do Bronze que fiz no distrito da Guarda há cerca de quarenta anos e comprovaram o desenvolvimento de uma cultura que culmina com o Bronze Atlântico. O cobre e o estanho existem próximos, entre a Guarda e o Sabugal, sendo dali exportados para Huelva, como me foi possível comprovar através das vias que então estudei e de que dei notícia. (vid. os trabalhos do Autor, Arqueologia da Península Hispânica, Idade do Bronze e Enciclopédia Verbo, IV Vol. Bronze).
Fonte: Gladius

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