sábado, 30 de abril de 2011

Festival céltico em Belazaima

A festa céltica da fertilidade - Beltane - fazia-se por toda esta região até há cerca de 1500 anos atrás, com fogo, flores, música, danças, muita comida e bebida. Como sortilégio da fertilidade nas terras e na mulher, o BELTANE era dirigido ao deus Belenos, no que respeita às forças vitais da natureza, mas essencialmente era feito com o apelo à energia humana e ao mais intenso dos convívios entre vizinhos. É esta celebração que a Associação Etnográfica Os Serranos vai recuperar em Belazaima do Chão, nos dias 30 de Abril e 1 de Maio, enchendo o Parque e Auditório do Moinho de Vento com muitas centenas de amantes da música e da cultura celta. Desde Ferrol, na ponta da Galiza, até ao centro de Portugal.
Com dois períodos de espectáculo de palco (Sábado, 30, das 22 às 24 h e Domingo, 1 de Maio, das 15 às 17 horas), a primeira edição desta celebração recuperada na bruma do tempo, conta com seis grupos de música céltica, sendo 3 da Galiza e outros tantos de Portugal. De As Pontes – Ferrol, virá a banda MUXAREGA e logo abaixo da Corunha, o grupo de pandereteiras e mestres de dança MESTURAXES. De Xinzio de Limia (Ourense) chegam os enérgicos Jalos d’Antioquia, que há vários anos convivem com a Associação Etnográfica Os Serranos na Romaria Etnográfica Raigame, em Vila Nova dos Infantes (Celanova). A armada portuguesa de gaitas é encabeçada pelo excelente grupo SONS DA SUÉVIA (Braga) e inclui RONCOS E CURISCOS (Coimbra), para além da revelação ANTÓNIO – Gaiteiro de Portugal, semi-finalista no concurso Portugal Tem Talento.
Todavia, para além dos espectáculos de palco, é garantido um roncar permanente de gaitas debaixo do arvoredo do parque do Moinho de Vento, misturado com todo o género de acompanhamentos e puxando pelo cancioneiro popular galaico-português. Tudo sentido, tudo emocionado, gastando energia que passa para a criação da natureza e entusiasma a paixão. Para recompor, a Associação Etnográfica Os Serranos garante comida e bebida, no melhor espírito da cultura celta.
Os celtas foram um povo de origem inicial nórdica, com identidade excepcionalmente forte, resultante do seu agrupamento em comunidades e apoiada em técnicas próprias de exploração agrária e pastoril, mas sobretudo no domínio da metalurgia do ferro. Ocuparam o centro do continente europeu, mas acabaram por se fixar nas frentes atlânticas do oeste europeu, nomeadamente da península ibérica, durante todo o 1º milénio aC, sendo os principais agentes da passagem da idade do bronze para a idade do ferro nestas regiões ocupadas.
As comunidades celtas eram aguerridas, trabalhadoras e, em simultâneo, divertidas e festivas, com uma religiosidade nativa e mística, orientada para a sustentação da natureza. Trouxeram os cereais para a península ibérica e multiplicaram a pastorícia, fixando-se nos povoamentos que hoje exemplificam a cultura castreja e os monumentos megalíticos ligados à mística e a necrópoles, no nordeste da península ibérica. Foram os celtas os primeiros a usar calças na indumentária masculina, inventaram a cerveja e fixaram uma calendarização de festas e rituais, em ciclo anual e fizeram da música uma expressão necessária.
Os lusitanos eram clãs ou tribos celtas, com a coesão e a força proporcionada pela sua identidade e pela cultura. As suas tradições lançadas e vividas entre nós há mais de 2500 anos, foram objecto de sucessivos ataques e aculturações, em particular pela romanização e, posteriormente de modo mais intenso e continuado, pela cristianização durante cerca de 1500 anos. Todavia, muitas das suas tradições e expressões culturais perduraram e permanecem identificáveis nos dias de hoje, com algumas evidências na nossa região: levantar totens e queimá-los (festa do pau), danças em volta de mastros com fitas que entrançam, celebração das maias, uso do fogo como sortilégio, gaita-de-foles, celebrações ligadas às forças da natureza, ainda que muitas destas tenham sido cristianizadas e reorientadas, tal como acontece com a festividade da Santa Cruz, no início de Maio, que é uma adaptação do Beltane céltico, deslocando a centralidade na mulher celta para o símbolo maior do cristianismo.
Os celtas apenas consideravam duas estações no ano (Inverno e Verão) e associavam-lhes respectivamente o espírito da noite e do dia, bem como o das forças da morte e da vida. Na entrada do Inverno (finais de Outubro) celebravam o Samhaim, convocando a presença dos familiares e vizinhos mortos e celebrando a sua presença espiritual, através de um ritual que viria a ser adaptado pelo cristianismo através do Dia dos Fieis Defuntos e pelo mercantilismo americano como dia das bruxas ou haloween. Na passagem para o Verão celebravam o Beltane, a festa da fertilidade e da sagração das forças enérgicas que a produzem: virilidade, fogo, alegria e floração.
Beltane em Belazaima
É esta celebração que a Associação Etnográfica Os Serranos vai recuperar em Belazaima do Chão, nos dias 30 de Abril e 1 de Maio, recriando a festividade céltica do Beltane. O Parque e Auditório do Moinho de Vento irão acolher muitas centenas de amantes destas tradições e em particular da música de inspiração céltica. Haverá festival deste tipo de música, com grupos galegos e portugueses, no Sábado entre as 22 e a meia noite e, no Domingo, entre as 15 e as 17 horas. Pelo meio, Os Serranos organizam ateliers de construção de coroas de Maio, de dança galaico-portuguesa com inspiração céltica e juntar-se-ão dezenas e dezenas de tocadores de gaitas de foles, com presenças já confirmadas desde Ferrol a Lisboa.

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