sexta-feira, 27 de abril de 2012

Aphrodisia

Trecho do comentário do Nyoo:
"Me ligo demais a Vida, Natureza, Amor e pelo fato de ter apenas 16 anos, alguns pagão que encontrei zombaram de mim. Queria esclarecimentos, indicações, história e explicação[...]"

A minha primeira recomendação é que continue a ler este blog, especialmente a seção "eros".
Eu recomendo a todos os curiosos, simpatizantes, estudiosos e iniciantes da Wica, bem como a todos os pagãos, bruxos e wiccanos que leiam “A História do Prazer – O Uso dos Prazeres” de Michel de Foucault.
Quanto aos meus colegas, irmãos e irmãs da comunidade pagã no Brasil, eu preciso primeiro discorrer sobre a velha questão do gênero, identidade e preferência sexual, um dos assuntos que mais me compraz e está presente neste blog. 

Infelizmente, vivemos em um  mundo onde se celebra a violência, o medo e o ódio. E nos consideramos mais civilizados e cultos. Ainda temos medo de ser e viver como os antigos, que nós tanto definimos como atrasados, mas antigamente se celebrava o amor, a vida e a alegria. A diferença entre antigamente e hoje, é que antes os antigos viviam aquilo que acreditavam e hoje apenas se fala, mas não se vive o que se crê. Antigamente a sexualidade era vista e vivida sem discriminação, sem preconceito, sem neuroses. Uma visão sobre o corpo, o prazer e o amor que nos choca, um mundo aparentemente sem regras ou moral alguma. Hoje nós vivemos em um mundo cheio de regras, tabus e moral, mas vivemos em uma sociedade doentia que acha normal a violência física e sexual contra crianças e mulheres.

Um dos princípios mais difíceis de serem entendidos pelas pessoas comuns é a noção de que o corpo é sagrado e o prazer é uma via de iluminação.
Cada ato cerimonial que envolve uma forma de sexualidade sagrada tem um objetivo e um princípio distintos. Para nós, os malvados tradicionalistas, o Hiero Gamos é fundamental para a continuação da existência, do mundo e da natureza.

Para nós, "todos os atos de amor e prazer" são rituais para nossos Deuses. Mas primeiro, para isso, devemos lembrar que o nosso corpo, nosso desejo, nosso amor e prazer, são sagrados e devem ser celebrados como uma experiência espiritual, não como uma violência sexual.
Qualquer forma de preconceito às formas de sexualidade sagrada, são resquícios do mesmo puritanismo e opressão que muitos que vêm à Arte trazem de suas crenças anteriores.

O Paganismo é um conjunto de religiões, cada qual com seus princípios e doutrinas, autônomas entre si. Pode-se dizer que é o único conjunto de religiões que aceita a diversidade sexual, de forma que soa estranho e esquisito colocar a agenda de um grupo social ou de uma bandeira acima do objetivo espiritual dessas religiões.

Entre os pagãos, fala-se muito [demais, para meu gosto] da Deusa e nada do Deus. Fala-se do "sagrado feminino" e nada do sagrado masculino. Omite-se que a Wica é um culto à fertilidade. Nega-se, oculta-se e rejeita-se o Deus Cornífero. Como então podemos entender os antigos mitos da Suméria, da Babilônia, do Egito e da Grécia? Como podemos [ab]usar dos mitos quando nos agradam, mas ficamos cheios de pruridos quando os mitos falam em castração ou em prostituição sagrada? Isso é hipocrisia, é falsidade, é [ab]usar dos mitos e mistérios antigos para agendas pessoais e isso, definitivamente, não é Paganismo nem Wica.

São mitos perturbadores, com certeza, mas tem a função de nos mostrar aquilo que está em nossa natureza. Não enfrentá-los, não encará-los, é alimentar essa sombra de culpa, vergonha e rejeição que nos tem mantidos escravos de uma instituição totalitária e adorando esse [falso] deus, uma corporação multinacional sem identidade, sem origem, sem vínculo a lugar ou povo algum, mas muito útil para nos manter em uma opressão/repressão social/política/sexual.

A questão mais controversa, talvez, não é sobre sexo em si mesmo, mas a posição que cada um de nós tem diante desse instinto/necessidade e de como nós relacionamos tudo isso com nossa crença pessoal.
Pessoa que são pagãs não são muito diferentes de pessoas que são cristãs. Visões pessoais, traumas, más experiências, recalques, frustrações, insegurança vão se mesclar e/ou se justificar com um discurso religioso.

Discutir gênero, papéis sexuais, identidade/personalidade e preferência sexual em uma sociedade marcantemente sexista, machista, conservadora e católica é tão arriscado quanto entrar com a camisa de outro time no meio de uma torcida organizada.
As notícias recentes dão uma idéia da dificuldade e da luta ainda a ser travada para se garantir os legítimos direitos constitucionais das pessoas, cidadãos brasileiros, que fazem parte da comunidade LGBT.

Para passarmos a ser uma sociedade mais tolerante, mais inclusiva, mais humana, ainda teremos que superar os mesmos preconceitos, as mesmas discriminações, os mesmos estereótipos. E se quisermos chegar a esta realidade, não podemos esperar que o Estado se torne efetivamente laico.
Em termos bem sucintos, a definição do gênero [dos papéis sexuais, do que é permitido/proibido] é muito variável conforme a época, o povo, a cultura e a sociedade. Isto é um fato, mas a cabeça de uma pessoa comum tem idéias tão arraigadas que se as tomam como reais. Nós nascemos, fomos criados e crescemos em uma sociedade [e uma cultura] sexualmente indigente, frustrante e recalcada.
Todos nós somos seres sexuais, as convicções com as quais construímos a sociedade e a cultura estão caindo, a humanidade está despertando para seu estado de amor e liberdade, ditaduras estão desaparecendo e instituições estão sendo contestadas.

Se somos homens e nos percebemos como homens e as mulheres nos atraem, nos dizemos heterossexuais, não podemos nem devemos ter vergonha do que somos. Também temos acesso ao sagrado e ao divino.
Se somos mulheres e nos percebemos como mulheres e os homens nos atraem, nos dizemos heterossexuais, não podemos nem devemos ter vergonha do que somos. Também temos acesso ao sagrado e ao divino.
Se somos homens e nos percebemos como homens e os homens nos atraem, nos dizemos homossexuais, não podemos nem devemos ter vergonha do que somos. Também temos acesso ao sagrado e ao divino.
Se somos mulheres e nos percebemos como mulheress e as mulheres nos atraem, nos dizemos homossexuais, não podemos nem devemos ter vergonha do que somos. Também temos acesso ao sagrado e ao divino.
Se somos homens e nos percebemos como mulheres e os homens nos atraem, nos dizemos transgênero, não podemos nem devemos ter vergonha do que somos. Também temos acesso ao sagrado e ao divino.
Se somos mulheres e nos percebemos como homens e as mulheres nos atraem, nos dizemos transgênero, não podemos nem devemos ter vergonha do que somos. Também temos acesso ao sagrado e ao divino.

Todos somos humanos. Estamos diante de um fato que, por tempo demais, nos foi alijado, reprimido, oprimido, segregado. Em hipótese alguma pode se marginalizar outro ser humano por causa de seu gênero, de sua identidade e preferência sexual. Então devemos nos sentir, nos descobrir, reconsagrar nosso corpo, nosso desejo, nosso prazer.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Conferência em Amsterdã

Realiza-se entre ontem e amanhã na Universidade de Amesterdão uma conferência internacional intitulada «Regimes de Pluralismo Religioso na Europa do Século XX», que inclui, no dia de hoje, o tópico a «Identidade Europeia e Memória do Paganismo».
A identidade da Europa tem sido tipicamente construída nos dois pilares do Cristianismo e do secularismo iluminista. Consequentemente, as alternativas religiosas foram sempre colocadas em sistemas de pluralismo nos quais o Cristianismo e a sociedade secular foram vistas como hegemónicas. Outras identidades religiosas (tais como a judaica, a muçulmana, a budista) são assim tipicamente vistas como acrescentos ao veio principal da cultura europeia, mais do que como partes integrais do desenvolvimento da própria cultura europeia. Esta perspectiva monolítica da identidade europeia está todavia a ser cada vez mais rejeitada pelos estudiosos: nem na Idade Média foi a Cristandade uma entidade monolítica, nem era a única identidade religiosa possível.
Embora seja bem sabido que os encontros interconfessionais com o Islão e o Judaísmo tenham desempenhado um papel significativo na história europeia da religião, menos atenção tem sido dado ao papel do Paganismo. Todavia, a memória de um passado pagão tem sido um foco maior de tentativas históricas para definir o que «nós» não somos: desde a luta dos primeiros padres da Igreja com as autoridades intelectuais pré-cristãs, até ao por vezes violento exorcismo das alegadas sobrevivências pagãs durante a Reforma e a Contra-Reforma, até à reinvenção do Paganismo como irracionalidade e superstição durante o Iluminismo. Neste sentido, o Paganismo tem sido um «Outro» nas construções da identidade ocidental - mas um Outro insidioso e interno que suscitou não apenas uma atitude de demonização e rejeição, mas também um contínuo fascínio.
O painel explora o papel da «memória do Paganismo» nas lutas modernas e contemporâneas das políticas de identidade na Europa. Perturbando o encontro triangular entre as identidades cristã, muçulmana e secular que domina o discurso público, as reconstruções de visões pagãs para os Estados-Nação individuais bem como para a Europa como um todo têm ressurgido no movimento da Nova Direita europeia nas décadas mais recentes. Historicamente, as memórias do Paganismo têm tido um papel nos movimentos nacionalistas na Europa dos séculos dezanove e vinte. Os textos neste painel exploram, de diversos ângulos e diferentes casos de estudo, como é que as ideias amorfas de «Paganismo» continuam a ser usadas para desafiar não apenas as identidades assumidamente hegemónicas da Cristandade e do secularismo, mas também para sugerir regimes completamente novos de governar a relação entre a Religião, o Estado e o povo.
Noticiado no Gladius, pelo Caturo.
Fonte [original]: Heterodoxology

domingo, 22 de abril de 2012

A verdade da bruxa

 Bruxaria é uma realidade poética – nascida das libélulas que tomaram forma nas fagulhas do martelo do primeiro ferreiro – e assim Ele forjou a Beleza na caverna da Sabedoria
[The Nocturnal Gospel, Frisvold & Ristic (obra em progresso)]

Bruxaria Tradicional é a arte de forjar o mundo de acordo com o seu próprio Destino -mas é também a arte de moldar o Destino em algo bom e verdadeiro, tanto quanto forjar o mundo para que ele se curve à sua vontade, e fazer toda a natureza imóvel em seu momento de impossibilidade régia, onde você é Um.
Isso transforma a bruxa em uma trabalhadora do Destino – e isso atrai a necessidade de conhecer a alquimia secreta dentro da criação – e em particular, a própria natureza.
Qualquer tentativa de se definir a bruxaria tradicional será sempre um desafio – como ela é a definição do praticante desta arte, “a bruxa”. Andrew Chumbley refere a ela como a “arte sem nome”, os sábios escandinavos chamam-na simplesmente de “A Arte” e o poeta grego Kostis Palamas a chamou “o que ainda não tem nome”.
É justamente este anonimato da bruxaria que a define, o que dá um contraste interessante com o ditado basco, que diz: “Se tem um nome, existe” – sugerindo que a nomeação em si é dotada de forja mágica e força. Então, como vamos discutir formalmente e logicamente sobre bruxaria? Simplesmente não o faremos – porque a Arte fala com o coração e é compreendida pela mente – e nesse processo o eixo à compreensão da Divindade e todas as coisas divinas na criação é erigida e verticalizada.
O termo “bruxaria” e seus muitos sinônimos, que vão de malefício em geral, ao sortilégio e magia, foram condenados desde os tempos da Mesopotâmia. Esta condenação foi continuada na Bíblia, onde encontramos a famosa passagem em Êxodo 22:18, dizendo “Não deixem viver a feiticeira” [1] . O termo “bruxa/feiticeira” na Vulgata foi traduzido de “maleficos” – ou “maléficos”. Em 1 Samuel 15:23 é afirmado que a prática da bruxaria é condenada. Encontramos na Vulgata que o que é referido como “bruxaria” em na versão King James é “magis” – e então magia é equiparada à bruxaria.
Estes dois exemplos devem ser suficientes para sugerir que a natureza da bruxaria – o que esta arte realmente é – tem sido objeto de hesitantes tentativas de definição anteriores à Vulgata. Parece que o denominador comum é que é algo que gera insegurança social em sua falta de taxonomia. Esse algo lida com o mundo invisível e não só é difícil de entender – mas tampouco seus praticantes nunca revelam muito. O sigilo muitas vezes atrai a suspeita e uma série de idéias são formadas como tentativas de se olhar através de um espelho negro que nega o reflexo.
Aqueles do sangue entendem porque a Arte é assim, e aderem ao seu sigilo e anonimato enquanto caminham pelos mundos em sussurros e rumores. Esta é apenas uma das muitas coisas que tornam os marcados visíveis.
Este fator tem feito com que algumas pessoas assumissem a expressão como algo vazio de significado. Coloridos por uma exigência moderna de se definir a tudo e colocar as coisas em caixas apropriadas, uma grande variedade de praticantes modernos adotaram esse termo, uma vez pejorativo, para definir um conjunto de práticas pagãs, folclóricas ou new age. Ao fazerem isso, criaram conselhos e fundaram tradições sem a mínima compreensão do que a arte tradicional é, e estabeleceram e continuaram erros – assim como obscureceram a natureza da bruxaria ainda mais.
Dois pólos parecem ser particularmente presentes em nossos dias. Um deles é a Wicca, que se transformou em uma religião pagã da natureza, cujos praticantes se denominam alternadamente como bruxos e wiccanos. No outro pólo temos os reconstrucionistas, que geram tradições ilusórias sobre invenções folclóricas e costumes pagãos – nomeando a isso como bruxaria tradicional. Mas um bruxo não é um pagão – enquanto um pagão pode ser um bruxo.
Há também um aumento contemporâneo na condenação da bruxaria com base nas crenças que a bruxa é uma “malfeitora” e que está em comunhão com Satanás. Encontramos denominações cristãs pentecostais na vanguarda deste despertar de perseguições à bruxaria. Isto talvez seja mais marcante na região da África congolesa, onde uma caçada às bruxas é feita a fim de se explicar os infortúnios. Seus métodos contam com exorcismos, afogamentos e trepanação – criando buracos no crânio da bruxa para deixar o mal sair – ou torturar os acusados para que o demônio seja forçado a fugir da carne agonizante de seu hospedeiro. Tais questões só continuam o mal-entendido e repetem o fracasso de se entender a arte sem nome. A bruxa, como Robert Cochrane via, era uma buscadora da Verdade – alguém que tinha como objetivo estar em comunhão constante com a sabedoria do mundo.
Para entender o Destino e saber como dobrá-lo e usá-lo – e segui-lo – bem, isso é o trabalho de sabedoria – e sabedoria, a verdadeira sabedoria, fará o buscador sempre humilde nas tempestades insondáveis da luz e compreensão que é a paisagem da bruxa.
A “bruxa” não adora a nada – mas ele ou ela paga reverência a todas as coisas. Trata-se de perceber que se alguma coisa é, ela também possui um significado – não importa o quão inferior ou exaltado – e nisto encontramos o valor pessoal. A bruxa é o seu próprio eixo e a criadora de seu próprio mundo – uma promessa de possibilidade dada a todos os filhos de Deus. A execução bem sucedida de seu próprio Destino reside na própria capacidade de compreender o mundo da matéria e os céus – mas como eles tanto espelham um ao outro e nós somos seres materiais com uma alma caída na carne, a matéria é importante. Na matéria encontramos alegria, propósito e as trilhas douradas das estrelas em todos os lugares. Vemos Deus como deus otiosus – mas sem necessariamente atribuir ao deísmo. Essa postura muitas vezes leva a bruxa a ser vista como panteísta – e este talvez isto seja verdade. Pessoalmente eu aderi ao raciocínio de Platão, que vê nas obras da natureza o jogo divino – mas isso não significa que eu veja uma pluralidade de deuses da natureza como tal, embora veja a obra de Deus as assinaturas inteligentes em toda parte – mas tenho pouca necessidade de transformar isso em uma religião. Trata-se mais de uma perspectiva sobre o mundo – uma filosofia de vida vibrante de sentido e de ser. O que vejo é uma natureza dotada de centelhas divinas, e por isso ao conhecer a natureza podemos conhecer a Deus – e nisto podemos conhecer a origem e a nós mesmos. Nesta premissa, encontramos o ofício da bruxa.
Nossos rituais estão focados na conexão com a terra e para entender quais os espíritos da natureza que nos rodeiam – e nenhum deles são sujeitos a adoração – mas sim reverência, enquanto alguns outros não são. Nisto vemos um pragmatismo que ocorre a partir da própria terra e o que está ao redor da bruxa. Para a bruxa, o lar é um abrigo, sua catedral e refúgio. Como qualquer sábio faz o seu centro imóvel, seu palácio ou fortaleza no deserto da ambigüidade, o mesmo acontece com a bruxa.
Os rituais relativos à bruxaria tradicional não fazem parte de um sistema como tal – é muito mais uma tecnologia em seu sentido grego de “techné”, um trabalho específico e determinado, relacionado com as circunstâncias. Techné, neste contexto, refere-se à “orgia”, ou “milagres ritualizados” – novamente, em referência à palavra grega – e não no sentido hedonista moderno. Assim, dar exemplos de rituais que as bruxas executam sempre trará certa imprecisão. A bruxa faz o que é necessário quando a necessidade informa através da obra e influência do Destino, e assim é isso que está na raiz do que as bruxas fazem – e aqui não pode haver um formato válido para todos – pelo contrário, a necessidade, a geografia e a alma em sintonia com o espírito é o que dita o corpus temporário de rito e prática.
Havia tendências de divulgação do que as bruxas faziam nos anos 50 e 70, em particular os trabalhos de Gerald Gardner, Janet e Stewart Farrar – e aqui outras questões chegam à superfície.
É aqui que vemos os primeiros passos ousados para a formação da Wicca, para que se tornasse uma religião da natureza com a fertilidade em seu centro. Pesquisas recentes realizadas por Philip Heselton e Michael Howard  nos dão provas de que Gardner foi, de fato, admitido em um grupo de bruxas tradicionais. Também é dito que ele achou que os ensinamentos eram muito provocativos para serem revelados. Se observarmos os primeiros rascunhos do “Livro das Sombras” de Gardner descobrimos que existem alguns elementos que não pertencem à matriz da bruxaria propriamente, que são Deus Chifrudo e a Senhora dos Bosques.
Para Gardner isto foi criado no contexto de fertilidade – o que não é errado, por si só – mas talvez limitado, já que ele claramente falava do Senhor e Senhora das Matas, que chamam a chuva para que possam fertilizar a floresta e a terra. Isto é como tomar um pequeno segmento da natureza e a colocar em um novo contexto, dando-lhe dimensões mais globais – o que também não é errado, mas talvez limitado. A bruxaria é toda sobre a expansão não a clausura; não os limites da cidade, mas as pastagens infinitas é que encantam a bruxa. É a possibilidade de desdobramento do Destino.
A bruxa é a liminar e indomada, é aquela que marca as fronteiras do lícito e o proibido, que desintegra tudo em troca único caminho para que você possa andar na trilha que Destino lhe deu. Deve também ser notado que na Bruxaria propriamente – como na Wicca – a potência do sexo feminino ocupa uma posição única. Na mitologia de vários grupos da Arte européia à mulher é dada a reverência por ser o espírito da natureza propriamente – enquanto em outros grupos é comum dar especial importância à Lilith, Na’amah ou divindades tutelares similares, como as progenitoras da raça das bruxas. A mulher é vista como a pletora do próprio Destino, o primeiro fogo, o fogo da casa e do útero e ela é o que é, e se não, não seríamos… Na Wicca esta reverência especial tomou a forma de adoração à deusa – e nisto uma abordagem mais religiosa foi tomada.
Tudo o que foi até agora escrito aqui encontra uma referência na pessoa de Austin Osman Spare.
Spare é hoje largamente visto como o responsável pela criação da Magia do Caos – mas na verdade esta foi obra de Pete Carroll. E isso é muito intrigante, porque na pessoa e a obra de Spare, vemos como a bruxa se estende além das fronteiras e fazem o tudo e nada seus. Spare mantinha seu próprio centro privado, um recluso que ainda assim inspirava pró e contra sua própria orientação. Nisso ele manifesta a natureza da bruxa como um metamorfo e o fogo criativo no renascimento constante.
Tomemos psicologia: Spare era intrigado por ela. Ele leu e releu Freud e Jasper e constantemente se opôs a eles, tornando-se uma voz silenciosa na psicoterapia que ninguém levou em conta – pelo menos não ainda. Spare tomou o campo da psique e escreveu runas bruxas sobre ela. Da mesma forma ele tomou as idéias de Agrippa sobre o alfabeto mágico e transformou-as em uma linguagem para a psique e a subconsciência. Ao fazer isso ele prefigurou pessoas como Jaques Lacan, que insistia na importância da linguagem única do paciente para o desenvolvimento de uma boa terapia.
O alfabeto do desejo de Spare foi usado para formar sigilos de intenção que eram alojados dentre as sombras da psique, e do recarregamento destes dentre o esquecimento da psique iria trabalhar o caminho para a manifestação. Este era um método prático visando atingir resultados práticos e materiais. Esta técnica foi adotada por Pete Carroll quando ele fundou a IOT (Iluminates of Thanateros). Ele tomou Spare como uma das muitas inspirações ao foco quintessencial na fundação da ordem.Thanateros, um termo utilizado por Spare em relação à técnica de manifestação denominada “postura da morte” subjaz à orientação quintessencial da fundação da IOT. Spare influenciou muito da contracultura ocultista nos anos 70, 80 e 90. Destes em particular a TOPY (Temple of Psychick Youth), onde a admissão consistia em um trabalho inspirado em Spare por 23 meses. Também é digno de menção o interesse que Alan Moore mantém por Spare – e daí ele tomou Spare para o mundo dos quadrinhos e da fantasia ocultista.
Spare se envolveu com a AA de Crowley por um curto período de tempo, mas concluiu que isso não era para ele e saiu após alguns meses. Depois disso se absteve de participar de qualquer ordem, grupo ou coven. Ele se encontrou com personalidades ocultistas famosas como Gerald Gardner, por quem não se sentiu impressionado (Grant: Zos Speaks.Fulgur) e Aleister Crowley, a quem ele parecia pensar que era um tolo – mas uma figura divertida (Phil Baker: Austin Osman Spare2011).
Ele se tornou uma inspiração para magos modernos – mas ele próprio era um homem à parte de tudo. Creio que isto se deve em grande parte por causa de sua abordagem sobre a arte e a psicologia. Ele tomou a terminologia da psicanálise e transformou tudo em uma fórmula onírica-sexual para autotransformação e verdade – que descansa em um pulso cru de quintessência mágica. Estamos falando de uma perspectiva única e primordial – a marca de um bruxo – um assunto raramente lembrado quando seu nome é mencionado.
Spare declarou ter sido iniciado quando tinha 14 anos por “Mrs. Paterson” e a memória deste encontro é codificada no obscuro texto “The Witches’ Sabbath” (Fulgur.1992). Este breve texto é apresentando em argumento e enigma os mistérios básicos da importância do “Sabbath”. Para as bruxas e é bem claro no texto que Spare experimentou através da mediação de “Mrs. Paterson” o encontro genuíno com uma arte muitas vezes incompreendida e deturpada.
Nisto temos então o estudo acadêmico da bruxaria onde, talvez, encontraremos os contrastes nas obras de Carlo Ginzburg e Ronald Hutton. Este último parte de grandes pinceladas aos detalhes, e o primeiro se ocupa com as pinceladas maiores que nos dizem algo mais geral. Ambos representam importantes contribuições no estudo da bruxaria – mas também fica claro que um estudo material do que é sem nome e muitas vezes velado em segredo tem as suas limitações.
A problemática em ambos os casos é que a academia, a este respeito, é largamente relegada à história, e a história é feita através do julgamento dos fatos, por escrito (em todas as formas de legado textual) ou manifestos (em parte, o campo da arqueologia). Raramente encontramos tentativas de pesquisar a visão de mundo no campo da investigação histórica, mas é claro, Armando Maggi, Jacques Le Goff e Charles Taylor têm contribuído com preciosas investigações a este respeito – infelizmente, muitas vezes esquecidas. O que esses acadêmicos fizeram foi aceitar a visão de mundo pré-moderno dos estudados como crucial para se dizer qualquer coisa de útil sobre o assunto. Assim, a partir disto, temos o discurso enigmático de Taylor se aprofundando no mundo encantado das bruxas e os estudos do imaginário medieval por Le Goff.
Quando se trata do estudo acadêmico, de premissas formais e a lógica da bruxaria – precisamos ter em mente que é pertinente à Arte escapar de qualquer interpretação e rótulo dado a ela. A Arte não tem nome – e nem vestígios. É o evangelho sussurrado no vento do pinheiro e é o murmurar dos salmos dos corvos e pica-paus. São os segredos impressos em sangue e na terra pelas árvores, estrelas e os homens, e nos feitiços escritos na areia enquanto as víboras percorrem as terras. Assim, devemos tomar como premissa para “bruxaria” de que é uma realidade poética e por isso um estudo da Arte que insiste em fornecer evidências em termos de fatos históricos só apresentam uma peça distorcida da verdade. O estudo da bruxaria é também o estudo da imaginação – a imaginação pré-moderna, que via o mundo como um lugar encantado, onde o visível e o invisível estavam constantemente tocando um ao outro, onde a realidade não é definida pela ótica – mas por todos os sentidos. No mundo pré-moderno o experimento não só estava regulamentado por regras quantitativas – porque em um mundo encantado também o mundo invisível era fator de confiável na experiência, como é evidente nas obras de Francis Bacon. Isso deve nos levar à conclusão que se queremos estudar bruxaria, precisamos estabelecer a confiabilidade das ferramentas com as quais iremos trabalhar – e, neste caso, nos propusermos a estudar o que é anônimo, que está envolto em mito e poesia, memória e uma visão de mundo tida como arcana e irremediavelmente ultrapassada, e não a científica pelos padrões modernos. Se esta é a premissa, o pesquisador já está infestando seu estudo com o viés acadêmico de pesquisa, girando em torno de preconceito – e o trabalho terá como objetivo não a compreensão, mas a limitação e falsificação. Então, no final eu cito Sigmund Freud:“onde quer que eu vá descubro que um poeta esteve lá antes de mim”.
 [1] “Feiticeira” e “Bruxa” são termos intercambiáveis nas versões da Bíblia para qualquer pessoa que realizasse feitiços, como encontramos na versão King James Deut 18:10 “There shall not be found among you {any one} that maketh his son or his daughter to pass through the fire, {or} that useth divination, {or} an observer of times, or an enchanter, or a witch,”, em referências à adivinhação e necromancia (interessantemente a adivinhação era ora permitida, ora proibida), ou como a escrava em Atos 16:16,  ou à “bruxa de En-Dor”, em 1 Samuel 28:7
Por Nicholaj de Mattos Frisvold – do original em inglês que pode ser lido no blog Starry Cave 
Traduzido por Katy de Mattos Frisvold (autora do blog Espelho de Circe)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Paganismo e Bruxaria na escola

Paganismo, bruxaria, druidismo e culto dos deuses antigos, como Thor, serão temas incluídos no currículo de uma escola no sul da Inglaterra. Os alunos aprenderão sobre a importância de locais de adoração pagãos como Stonehenge e as dificuldades que uma praticante da bruxaria pode enfrentar nos dias de hoje.
A escola de Cornwall County, Inglaterra, dará aos seus alunos não cristãos igualdade de condições, propondo que as diferentes formas de paganismo sejam oficialmente incluídas no currículo de educação religiosa.
A região de Cornwall tem uma longa história de práticas druídicas e pagãs e um grupo de adeptos requisitou que o Conselho Municipal os colocassem no mesmo nível do ensino sobre cristianismo, islamismo e judaísmo. Segundo essa proposta curricular, a partir da idade de cinco anos, as crianças devem começar a aprender sobre a história dos rituais. Aos 11 anos de idade, os interessados poderão "explorar o paganismo moderno e sua importância para muitas pessoas". As áreas de estudo devem incluir "a importância dos locais pré-cristãos para os pagãos modernos".
Neil Burden, membro do Conselho de Ministros de Serviços para Crianças argumentou que a medida daria aos alunos "acesso a um amplo espectro de crenças religiosas". A iniciativa do Conselho de Cornwall segue a decisão tomada pelo governo inglês em 2010 de reconhecer o druidismo como forma de religião.
Imediatamente a iniciativa alarmou alguns ativistas cristãos que temem que isso evolua e seja parte dos currículos de todas as escolas do país. Eles estão preocupados como fato de que uma religião considerada "excentricidade" ganhe cada vez mais o reconhecimento oficial. No município, com população de 537,400 pessoas, existem oficialmente cerca de 700 pagãos.
Mike Judge, porta-voz do Instituto Cristão de Cornwall, acredita que "apresentar o paganismo é apenas uma moda passageira e tem mais a ver com o desejo de ser politicamente correto de professores que com as necessidades educativas das crianças", disse.
O paganismo inglês abrange diversas vertentes, desde druidas, que se consideram praticantes da antiga fé pré-cristã, passando pela Wicca, forma moderna de bruxaria até os xamãs, que invocam os espíritos da natureza.
De acordo com o censo nacional de 2001, existem cerca de 40.000 pagãos praticantes na Inglaterra e País de Gales, embora algumas estimativas afirmam que o número seja bem maior.
Traduzido e adaptado de Christian Today e Daily Mail
Fonte: Gospel Prime [link morto]
Nota: a página fala em combater a intolerância religiosa e divulgou essa notícia com o intuito de denunciar. Hipocrisia.

domingo, 15 de abril de 2012

Os esqueletos no armário

Alguns dias atrás eu conversava com minha amada e adorada sacerdotisa em como recentemente eu tenho visto as pessoas levantarem as bandeiras acima das razões.
As notícias estão rondando quanto a não punição [o que é bem diferente de legalizar] do aborto em caso de anencefalia. Da mesma forma que a questão quanto ao reconhecimento dos direitos constitucionais da população LGBT e a reação de grupos fundamentalistas cristãos. Existe a questão da criminalização da homofobia, que resvala na liberdade de expressão e opinião, na liberdade religiosa. Nestes dois casos eu vejo uma repetição desse comportamento de levantar bandeiras acima da razão.
Recentemente o cidadão brasileiro, cristão ou não, descansou no feriado da Sexta Santa, uma festa religiosa que inconvenientemente lembra que nosso Estado está longe de ser laico e que isto não será conquistado retirando os crucifixos das repartições públicas. Mas a militância dos ateus, curiosamente, está colocando esta bandeira acima da razão. As campanhas dos ateus são engraçadas, divertidas, humoradas. Menos quando cometem o "pecado" da redução, da generalização, quando pressupõem que as falhas cometidas pela Igreja são falhas cometidas por todas as religiões.
Na atenção seletiva dos ateus, apenas aquilo que é "racional", "lógico", "comprovado científicamente", "sustentado por evidências" é bom, é certo. Tudo que vem da Ciência, da Razão, da Lógica só pode ser algo "civilizado" e [como nossos vizinhos cristãos] tudo que discorde deve ser banido, censurado, destruído. Religião é sinônimo de superstição, de ignorância, de atraso, de intolerância, de preconceito, de incultura.
Como nossos vizinhos cristãos, apregoam que a humanidade teria um futuro melhor se fosse regido pela ciência.
Eu vou pular as evidências históricas que mostram que tudo aquilo que conhecemos de básico de matemática, geometria, engenharia, química e tecnologia foi invenção dos povos antigos [babilônios, persas, gregos, romanos...pagãos!] e vou pular que tudo aquilo que conhecemos como "cultura" em nossos dias, como artes, poesia e música, existe desde nossos primórdios graças à inspiração das Musas e vou lembrar aos meus vizinhos ateus que a Ciência também tem seus esqueletos no armário.
A história da ciência tem cenas nada recomendáveis ao público. E eu nem estou falando do incômodo vínculo de cientistas com o III Reich, ou da existência de tecnologia militar, como a bomba atômica, esse produto científico que permite a evaporação, erradicação e esterilização instantânea de milhares de pessoas. Eu estou falando de fraudes, de obscurantismo, de intimidação aos moldes da Máfia.
Qual seriam as possibilidades de futuro em nosso mundo sem a religião, regido pela ciência? Eu tenho algumas idéias. Poderíamos ter algo como "Admirável Mundo Novo", descrito por Aldous Huxley, ou então algo como "1984", descrito por Orson Welles, ou então algo como "Fuga de New York", ou "Mad Max", para algumas referências cinéfilas.
Que os Deuses nos livrem dessa utopia asséptica. Nós somos humanos, não vulcanianos.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Ai meus ovos

Eu não sou de reclamar muito, afinal, sendo pagão, eu apenas tenho que agradecer que o Governo brasileiro ainda não seja 100% laico e ainda mantenha intocado os feriados religiosos ligados ao calendário católico. Eu e muitos brasileiros que não são cristãos agradecemos pelos dias de folga dados em razão da Páscoa.
Mas, afinal, o que é a Páscoa? Porque, até entre os Cristãos, falam tanto [alguns tentando negar] que é uma celebração pagã?
O problema, se podemos dizer assim, é quando o Cristianismo tornou-se a única religião oficial [e permitida] pelo Império Romano e imposta por meio da espada em uma Europa com povos cujas crenças e origens tinham [e ainda tem] raízes desconfortavelmente pagãs, a Igreja fez aquilo que sabe fazer melhor - assimilar e sincretizar crenças folclóricas ao calendário oficial católico. Havia um problema linguístico, o nome Páscoa é de origem latina e os povos europeus tinham [e ainda tem] línguas de origem céltica. Os nomes dos dias da semana e dos meses estavam ligados aos deuses antigos e a época da Páscoa, em abril, não podia ser diferente, daí que, em países de linguagem anglo-saxônica, a Páscoa é chamada de Easter, cujas origens vem de Eoster ou Ostara, nomeadamente, uma deusa pagã.
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Ēostre or Ostara (Northumbrian Old English: Ēostre; West Saxon Old English: Ēastre; Old High German: *Ôstara) is a goddess in Germanic paganism who, by way of the Germanic month bearing her name (Northumbrian: Ēosturmōnaþ; West Saxon: Ēastermōnaþ; Old High German: Ôstarmânoth), is the namesake of the festival of Easter. Ēostre is attested by Bede in his 8th-century work De temporum ratione, where Bede states that during Ēosturmōnaþ (the equivalent to the month of April) feasts were held in Eostre's honor among the pagan Anglo-Saxons, but had died out by the time of his writing, replaced by the Christian "Paschal month" (a celebration of the resurrection of Jesus).
By way of linguistic reconstruction, the matter of a Proto-Germanic goddess called *Austrō has been examined in detail since the foundation of Germanic philology in the 19th century by scholar Jacob Grimm and others. As the Germanic languages descend from Proto-Indo-European, linguists have traced the name to a Proto-Indo-European goddess of the dawn *H₂ewsṓs (→ *Ausṓs), from which descends the common Germanic goddess that Ēostre and Ostara are held to descend. Scholars have linked the goddess' name to a variety of Germanic personal names, a series of location names in England, over 150 2nd century BCE Matronae (the matronae Austriahenea) inscriptions discovered in Germany, and have debated whether or not Eostre is an invention of Bede's, and theories connecting Ēostre with records of Germanic Easter customs (including hares and eggs) have been proposed.
Ēostre derives from Proto-Germanic *Austrō, ultimately from a Proto Indo European root *h₂ewes- (→ *awes-), "to shine", and therefore closely related to a reconstructed name of *h₂ewsṓs, the dawn goddess, which would account for Greek "Eos", Roman "Aurora", and Indian "Ushas". The modern English term "Easter" is the direct continuation of Old English Ēastre, whose role as a goddess is attested solely by Bede in the 8th century.
Fonte: Wikipedia
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One of the most important goddesses of reconstructed Proto-Indo-European religion is the personification of dawn as a beautiful young woman. Her name is reconstructed as Hausōs (h₂ewsṓs- or *h₂ausōs-, an s-stem), besides numerous epithets.
Cognates of *h₂ewsṓs in the historical mythologies of Indo-European peoples include Indian Uṣas, Greek Ἠώς (Ēōs), Latin Aurōra, and Baltic Aušra ("dawn", c.f. Lithuanian Aušrinė). Germanic *Austrōn- is from an extended stem *h₂ews-tro-.
The name *h₂ewsṓs is derived from a root *h₂wes / *au̯es "to shine", thus translating to "the shining one". Both the English word east and the Latin auster "south" are from a root cognate adjective *aws-t(e)ro-. Also cognate is aurum "gold", from *awso-. The name for "spring season", *wes-r- is also from the same root. The dawn goddess was also the goddess of spring, involved in the mythology of the Indo-European new year, where the dawn goddess is liberated from imprisonment by a god (reflected in the Rigveda as Indra, in Greek religion as Dionysus and Cronus).
Fonte: Wikipedia
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Até aí, nada demais, o Venerável Bede fez aquilo que a Igreja e os Cristãos tentam ocultar ou negar, que é declarar as verdadeiras origens e crenças européias, a saber, pagãs. O que é mais importante é declarar a verdadeira origem da Páscoa.
A origem da celebração vem do povo Judeu, da celebração da Pessach, que ocorrre no mês de Nisan, o equivalente ao mês de abril no mundo ocidental. E a celebração da Pessach marca a libertação do povo de Israel de seu cativeiro no Egito, segundo conta o Livro do Êxodo, da Bíblia. E é aí que começam os problemas dos Cristãos.
Primeiro porque estão copiando - e mal - uma celebração judaica. Segundo porque a celebração da Pessach pode ter uma origem...pagã!
De acordo com os registros históricos, nunca houve o Êxodo, não há qualquer registro da existência de Moisés. O que é certo é que, após a volta do povo Judeu de seu exílio no cativeiro babilônico, os rabinos quiseram consolidar e reconstruir o Reino de Judá. Mas tiveram que lidar com inúmeras celebrações e mitos que o povo Judeu trouxe consigo, tanto de suas origens ligadas aos povos de Israel, quanto de suas origens ligadas aos povos dos Hebreus e mais as inúmeras crenças que o povo Judeu assimilou com os Babilônios, Persas, Caldeus, etc - povos e crenças que em sua prístina forma eram politeístas, ou seja, eram...pagãs!
A fixação da celebração da Pessach no mês de Nissan, no mês de abril, seguiu igualmente um calendário e estações ligadas à natureza e às estações, seguiu um calendário...pagão! Em inúmeras culturas, o mês da primavera era [e ainda é] celebrada a fertilidade, bem como os deuses da vegetação que morrem mas ressuscitam [donde Cristo é uma cópia], bem como as deusas que engravidam de seus deuses consortes [donde Miriam/Maria é uma cópia] e - tal como a natureza - marca o retorno da vida, celebra-se a fertilidade das plantações e dos rebanhos. Em sua origem, os povo dos Hebreus, os povos de Israel e mesmo o povo Judaico não podiam ser diferentes.
Ou seja, os rabinos ocultaram, assimilaram e sincretizaram as crenças originais e pagãs do povo Judeu e instaurou um calendário oficial sem essa mácula "selvagem"...até nisso os Cristãos foram e são imitadores.
Em suma, eu agradeço e abençôo a todos os Cristãos por terem na Páscoa comemorado as mesmas coisas que comemoramos e por terem, ainda que inadvertidamente, prestado sua homenagem à primavera, à fertilidade e aos antigos deuses da vegetação que morrem e ressuscitam.
Feliz Páscoa, EVOE!