terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O fantasma de Hamlet


Para aqueles que continuam a dizer "Onde é que tu já alguma vez viste os
deuses, e como é que podes ter tanta certeza da sua existência para os
adorares dessa maneira?" A minha resposta é "Em primeiro lugar, eles são
perfeitamente visíveis. Em segundo lugar, também nunca vi a minha alma, e,
no entanto, venero-a. O mesmo se passa com os deuses; é a experiência que
prova o seu poder em cada dia, e portanto estou contente por eles existirem e
venero-os".
- Marco Aurelio Antonino
Como muitos, eu conheci meu pai. Um transeunte que não o conheceu, pode afirmar que meu pai não existiu. Eu tenho fotos e documentos, mas o órfão não, um transeunte pode afirmar que o pai dele não existe.
Eu conheci meus avôs maternos, mas não os paternos. Um transeunte pode afirmar que estes não existiram. Ainda que parentes e familiares mais idosos possam testemunhar que os conheceram, o transeunte simplesmente duvida e exige provas. Acaso não tivessem documentos e fotos, seriam estes menos reais?

Imagine então que dificuldade é convencer o transeunte dos que existiram antes destes! Poucos de nós consegue declinar até a sétima geração. Para o transeunte essa linhagem é uma mera fábula, no sentido pejorativo.
Torna-se impossível convencer ao transeunte da existência de quem este não conhece e não viu, mesmo com um histórico, indícios, documentos. Para o transeunte, respeito e reverência devida aos ancestrais são crendices, superstições, lendas, folclores e mitos, no sentido de mentiras.
Decerto o transeunte tem complexo de Édipo, tenta livrar-se da ameaça e do perigo que representa a figura paternal para sua noção de identidade, personalidade, individualidade.
No pensamento provinciano é inconcebível que, de povos "selvagens", "incultos" e "crédulos", tenha surgido toda civilização e ciência.
Esmiuça-se o transeunte em detalhar como as coisas são e funcionam, confiante de que, ao assimilar e imitar a ordem natural, tenha conforto e segurança. Apavora-se diante do inexplicável, do misterioso, do imprevisível. Nega tudo e qualquer coisa que não se encaixe nessa visão de mundo mecanicista e insensível.
O transeunte duvida da existência dos Deuses, ainda que a própria existência de todo fato, evidência, indica, como mapa anatômico, que os Deuses são reais.
As coisa são e funcionam porque há existência, esta mesma, prova da realidade dos Deuses. Não há ordem, lei ou regra nas coisas em si mesmas, mas além destas. Somente há ordem, lei e regra, bem como caos, onde há uma inteligência, uma consciência atuante, transcendente e imanente.
Eu o sei, pois conheci meu pai, este, meu avô e assim sucessivamente até o primeiro ancestral mítico, que conheceu, viu e testemunhou os Deuses face a face.

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