sábado, 4 de maio de 2013

Debaixo da luz da lua

Eu estava em missão, tentando fazer teatro a trabalho voluntário, sem rumo, sem bússola, sem porto, quando chegou um alívio, descanso, ajuda e uma nova rota: explorar o universo feminino.
Disse-me o oráculo divino que meu maior desafio é o medo, quando eu consigo controlar esse medo eu posso realizar meus desejos. Então eu me pergunto de onde vem esse medo, medo de quê ou de quem e por que eu tenho medo.
Foi-me sugerido para a exploração do universo feminino uma pesquisa com as mulheres que são importantes e fazem parte da minha vida. Algumas questões eram delicadas e eu senti um certo constrangimento em fazê-las.
Seria o meu medo o receio de ser atrevido? Não, pois eu fui atrevido em diversas circunstâncias. Seria o meu medo o receio de ofender? Não, pois em diversas ocasiões eu me comportei de modo ofensivo e nem me dei conta disso. Seria meu medo o respeito ao recato, ao pudor? Não, pois como bom filho e servo do Deus da Floresta, eu sou despudorado.
Meu medo é o receio de não ser capaz de lidar com o inesperado, aquilo que não pode ser previsto e controlado. Meu medo é de que eu seja rejeitado, desprezado, segregado. Então nisso reside a minha carência de atenção e até minha hipersexualidade, que eu tento espelhar em meu modelo de mulher ideal.
O primeiro ato, talvez o mais difícil para este momento, foi o de descartar a idéia preconcebida que eu tenho do que é ser mulher, do papel que esta formidável pessoa exerce no mundo/sociedade e do que é o sagrado feminino. Tornar minha mente uma folha em branco e, como uma esponja, absorver tudo.
Eu criei uma expectativa de que minha pesquisa, minha entrevista, minhas perguntas, fossem aumentar a minha péssima reputação. Estas mulheres, maravilhosas, como era de se esperar, surpreenderam, simpáticas, responderam sem reservas mesmo a perguntas que eu achava indiscretas.
Descobri que a mulher é naturalmente predisposta ao Ofício porque nela há o ventre, o caldeirão da transformação, regido pelos ciclos da lua, domínio da noite, dos espíritos, entidades e divindades.
Descobri que ser mulher é uma enorme responsabilidade, pois ela é quem cria, educa, cuida e nutre.
Descobri que a mulher é quem escolhe sua posição e papel no mundo, na sociedade - não existem vítimas. A mulher é quem escolhe, há tempos, antes dos teóricos da Revolução Cultural ( a maioria homens), como querem viver e gerenciar sua vida erótico-afetiva.
A grande verdade é que nós nos encontramos no matriarcado há tempos. O malvado patriarcado é só uma fachada. Os homens acham que estão no comando mas os sábios sabem bem quem está realmente regendo este mundo. Nós, homens, a metade da humanidade, estamos para sempre sujeitos aos nossos laços, com nossas irmãs, esposas, mães, amigas, sacerdotisas. E eu me submeto com prazer a todas estas manifestações da Deusa.