sexta-feira, 20 de março de 2015

Ao vencedor, as batatas

Depois de 20 anos estudando, escrevendo e defendendo a Wicca Tradicional, seus princípios e valores contra a neo-wicca, as religiões da deusa e o dianismo, eu observo abismado pessoas e grupos fazendo a campanha “A UWB não me representa”, como se essas pessoas e grupos fossem mais idôneos, mais confiáveis ou mais legítimos do que a UWB. Certamente o dileto e eventual leitor deve ter visto minha posição contra a CTB e contra a IBWB. Se vamos cair nessa onda de “representatividade”, eu tenho que incluir a TDN e a Eddie Van Feu na lista dos que “não me representa”.

O assunto da Wicca é bastante polemico por si só, se considerarmos seu histórico, sua popularização e comercialização. Quando incluímos seu parentesco com a Bruxaria Tradicional, o assunto fica ainda mais quente. Nesse sentido, apesar de ter traduzido um texto de Sable Aradia, eu tenho que discordar de seu texto “Apples and Orangutans: Traditional Witchcraft vs Wicca”, publicado no Patheos.

Ela escreve: “Parece-me que são coisas completamente diferentes e compará-los não é mesmo como comparar maçãs e laranjas; é como comparar maçãs e orangotangos”.

Ela fornece o link no site Blue Moon Manor para o texto “Wicca Compared to the Traditional Witchcraft” onde eu cito:

“Mas a nova religião Wicca que ele criou era um enigma. Gardner alegou que ele foi iniciado em um conciliábulo de bruxaria, embora sua Wicca mostre mais tarde muito pouco de práticas tradicionais. Suas reivindicações foram amplamente analisadas e investigadas pelos historiadores e biógrafos com conclusões pouco claras. A Wicca que Gardner criou não era apenas não tradicional, mas foi radicalmente um diferente tipo de religião. Era para ser praticado de uma maneira diferente e que faz Wicca muito separado da Bruxaria Tradicional, tal como praticada nas ilhas britânicas. Bruxo tradicional solitário não é apenas prontamente permitido, mas tem uma história muito longa e nobre na Grã-Bretanha. Na verdade, a maioria dos bruxos tradicionais que já viveram eram solitários em sua prática. Qualquer bruxo tradicional pode corretamente chamar a si mesmo de bruxa, se assim o desejarem. Então, onde é que Gardner obter seu conservadorismo inflexível e hierárquica estrutura organizacional?”.

O texto segue com denúncias que são amplamente utilizados, ou pela neo-wicca com o intuito de legitimar seu esquizoterismo, ou pelos cristãos com o intuito de difamar. O autor comete o erro crasso ao afirmar que a wicca progressiva e a neo-wicca “evoluiu” de Gerald Gardner. Eu recomendo a leitura do texto “as Origens Americanas da Neo-Wicca”. O texto erra ao definir a Wicca como henoteísta, quando esta é Duoteísta e Politeísta. O Uno, visão defendida em alguns grupos, é uma forma de Monismo, não de Henoteísmo. O texto erra ao afirmar que a Wicca prioriza a Deusa acima do Deus, isso é Dianismo e “religiões da Deusa” que, a priori, não pertencem à Wicca Tradicional. O texto segue com refutações vagas quanto a algumas características da Wicca, sem levar em conta que tais práticas fazem parte da Bruxaria Tradicional. Tanto Hutton quanto Heselton concordam que Gerald Gardner teve iniciação, no mínimo, em dois covines de Bruxaria Tradicional em New Forest. Eu tenho diversos textos que asseveram a existência de graus entre as bruxas. Portanto, é apenas mais um texto disparatado e sem base histórica ou antropológica. Este é um problema comum quando se fala sobre Bruxaria e Wicca: a falta de fontes confiáveis e excessivas alegações sem fundamento.

Sable Aradia é bruxa tradicional e wiccana, ela é uma sacerdotisa que merece meu respeito e admiração por ter publicado textos tão extensos e intensos sobre magia sexual. Mas nesse caso ela se equivocou. Comparar Bruxaria Tradicional e Wicca Tradicional é como comparar orangotangos com chimpanzés.

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