quarta-feira, 29 de abril de 2015

O uso cerimonial de ossos

O uso de ossos, animais e humanos, em cerimônias religiosas é tão velho quanto o homem. O osso é a ultima coisa que resta quando há tempos a carne desvaneceu.  Ossos podem estar vinculados à ruinas de velhas construções onde antes habitava uma vida vibrante. Mas como as ruinas agora permanecem como uma silenciosa lembrança de que a vida não é permanente, mas transitória.
Nas cerimonias religiosas ao redor do mundo se celebra a vida e muitas vezes a morte e o que está além das portas da morte. O uso de ossos em cerimônias serve para mostrar a natureza curta da vida e que o tempo chega para todos. Para muitos de nós a morte é um grande e temido mistério.
Ossos de animais como ferramentas e objetos cerimoniais têm sido usados por incontáveis anos pelos antigos xamãs. Os ossos de certos animais eram frequentemente engastados na forma de um ser vivente e, na forma da magia simpática, possuíam-se os poderes do animal. Ossos de animais eram frequentemente usados por xamãs para divinação.
O ritual conhecido como “chod”, que significa “cortar” é uma mistura de práticas culturais antigas, tendo suas raízes no xamanismo Bon. Hoje devem ter mais pessoas que praticam o chod do que antes. Esta é uma prática que se encaixa muito bem para os tempos degenerados que vivemos, onde as pessoas procuram por saúde e segurança material acima de qualquer coisa, uma necessidade que jamais está satisfeita. Estes desejos e ambições são as raízes de muitas de nossos sofrimentos. A prática do chod é uma forma eficiente de lidar com esses problemas e ilusões que tão fortemente afetam nossas vidas.
Quanto à prática em si mesma, o praticante visualiza sua consciência fluindo como uma luz através da coroa da cabeça para então se transformar em um Dakini. A Dakini desce ao corpo vazio e com uma foice corta o topo da cabeça formando então uma tigela na qual é colocada uma grade de três caveiras humanas que surgiram instantaneamente de uma chama. Retornando ao seu ofício, a Dakini corta a carne e os ossos remanescentes e os coloca na tigela. Esta se expande e se torna vasta e o conteúdo se transforma e se torna um néctar de substâncias benéficas. Este néctar se torna uma oferenda a todos os seres de todos os reinos, os seres partilham a substâncias do néctar e eles se tornam plenamente saciados e beneficiados por esta suprema oferenda. Todos os demônios de nossa mente, as raízes de nossos sofrimentos, tomam forma como seres que são purificados por nossas ações. Com isso tudo se torna vazio em existência e forma.
Pode se ver que a prática do chod trata diretamente dos problemas e obstáculos ao nosso caminho para a iluminação. Torna-se um método e um meio para perceber que tudo é inerentemente vazio. Ao aplicar esta prática aos problemas da vida, nós podemos superá-los e ao mesmo tempo alcançar grande mérito ao nos oferecer como sacrifício.
Fonte: Black Moon Archives.

terça-feira, 28 de abril de 2015

O arcano do imperador

Este arcano se parece em muitos aspectos ao arcano da imperatriz. O arcano mostra um homem em trajes nobres, sentado em um trono, tendo um cetro em uma mão e uma heráldica no chão. No entanto o que chama a atenção são as diferenças. O imperador está em uma postura de perfil, seus pés indicam que ele não está em uma posição segura, fixa, ele pode estar tanto sentando quanto levantando. O arcano mostra que nenhum poder é permanente ou absoluto. Aquele que por seu cargo ou função julga poder tocar as estrelas não pode esquecer que até as estrelas caem.
No caminho iniciático não é onde você está ou a função que ocupa que faz o que você é. Títulos, honrarias, ordenações, hierarquias, ordenações, cargos, funções, são ilusões do ego. O caminho iniciático é redescobrir nossa real natureza, aceita-la, realizar sua potencialidade e praticar o que se prega.

domingo, 26 de abril de 2015

As escamas do dragão

“São Jorge não é Ogum. E, sim, São Jorge é considerado um dos maiores inimigos do Paganismo. São Jorge é o INIMIGO DO PAGANISMO. O Dragão eliminado com a lança do santo é o maior símbolo do extermínio de nossos ancestrais e da luta instaurada contra os cultos Pagãos no passado pelo Cristianismo.
É chegada a hora de darmos mais atenção ao Dragão do que ao santo.
Que o fogo do Dragão elimine para sempre o ranço judaico-cristão que se apodera do coração dos pseudo-pagãos e os liberte verdadeiramente para sempre!”

Toda essa histeria por causa de São Jorge. O mais engraçado é que isto foi dito por uma celebridade pagã que endossa a idéia da Teosofia que todos os Deuses são o Deus, todas as Deusas são a Deusa. Muda-se o discurso quando se é conveniente. Não somos muito diferentes dos cristãos e de outras religiões monoteístas. Mas o texto tem uma mensagem que podemos refletir.

São Jorge não é Ogum, não é Marte, não é Ares. Cada entidade e Deus tem uma identidade e personalidade própria. Assim como cada Deusa tem sua identidade e personalidade própria. Isis, Ishtar, Inanna, Diana, Ártemis, Afrodite não são a Deusa da Wicca.

Outro aspecto que escapa ao sacerdote autor destas palavras. São Jorge é inimigo do Paganismo por que matou o dragão? Isso não coaduna com o Paganismo. Existem diversos mitos antigos onde um dragão é morto por um Deus. O Deus toma o trono de um Deus ou Deusa mais antigo, o dragão é o mais devotado e amoroso servo de uma ordem mais antiga. Então todos nós, pagãos modernos, estamos adorando Deuses que são inimigos do Paganismo? Ou há algo mais que podemos entender nos mitos antigos?

Assistindo alguns filmes e animes recentes, apareceu a noção de que o Diabo não é mau e que Deus não é bom, a escuridão não é necessariamente maligna e a luz não é intrinsecamente benéfica. Eu encontrei um site com textos que me ajudaram a repensar nessa possibilidade. A idéia é simples: a história é contada pelos vencedores. Fica fácil para um ditador se passar por amigo do povo, enquanto o usurpador utiliza a máquina de propaganda para difamar, caluniar e injuriar o vilão. Nem nisso o Cristianismo foi original. Os mitos clássicos adquiriram uma supremacia social, política e religiosa pela supressão, proibição, repressão e assimilação de cultos mais antigos.

Ainda assim, os cultos antigos sobreviveram, mostrando que nenhum poder, por mais opressivo que seja, é absoluto. O escravo africano manteve sua crença disfarçada utilizando santos católicos. A bruxa européia fez o mesmo. Religiões majoritárias alcançaram o poder por que a doutrina assimilou o folclore ou pessoas simples conquistaram espaço pelo sincretismo. No mundo moderno é impossível determinar onde começa um e termina outro. Querer separar as crenças, torná-las mais “puras” é um puritanismo impossível.

O que o pagão moderno é se perguntar “e se”. São Jorge é uma versão cristã da jornada do herói. E se a jornada do herói é a do dragão? E se a jornada do dragão seja ser sacrificado? E se sem a morte do dragão não poderíamos vencer a dominação do usurpador e lutar para recuperar nossas raízes, nossas origens, nossa liberdade? Sem as escamas do dragão, nós não poderemos andar pelo Caminho dos Bosques Sagrados. Para nós, pagãos, o dragão é o cristo.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

O arcano do sol

Este é o astro rei, cujo poder e calor influenciam nossa vida, desde o nascimento, crescimento e morte. Sua presença é necessária para que tenhamos boa colheita e gado saudável. Sua ausência causa o frio e a morte. Ele domina a formação de nuvens e de ventos.
O arcano mostra o sol em seu zênite, cercado por figuras semelhantes a gotas, tal como no arcano da lua. Embora o domínio da lua seja a água e o espírito, ela é um reflexo, empresta luz e poder do sol. O sol é o senhor da vida, da morte e do renascimento.
Abaixo do sol tem duas figuras, aparentemente jovens, com trajes de banho, divertindo—se distraidamente em um rio ou lago. A postura simboliza a estação do verão, quando o sol exerce plenamente seu reinado. O comportamento humano não incomoda o sol, afinal, ele é o astro rei, coisas mundanas não o afligem.
Os jovens nus demonstra a importância de nos desapegarmos de coisas triviais, a nudez é um sinal de nossa liberdade. O caminho iniciático não possui dogmas, doutrinas, hierarquias, todo aquele que alcança a Iluminação, que somente nos pode ser dada pelo sol, torna-se um igual entre irmãos.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Reimaginando a jornada do herói

Este é o título do texto de Sarah Sadie no canal do Paganismo no Patheos. A proposta dela é bem simples, ela pretende provocar o público estimulando-nos a imaginar a jornada do herói com outros olhos. A jornada do herói é uma teoria de Joseph Campbell que lê os mitos como arquétipos que são compartilhados pelo Inconsciente Coletivo, portanto, presentes em toda cultura e povo.
Sarah descreve a jornada em etapas: o herói como um exilado ou um desconhecido, há um chamado ou missão, o herói recusa e encontra um mentor, o herói embarca em uma viagem, marcada por diversos testes e provações, o herói encontra o Grande Amor e a Grande Tentação, o herói deve enfrentar seu maior medo e a própria morte, o herói conquista seu objetivo ou recebe um magnifico tesouro, o herói retorna para seu lar aonde tem seu teste final e o herói finalmente é reconhecido ou é coroado como rei. Então ela pergunta: E se...
Essa é a única e melhor pergunta que um escritor se faz para compor sua obra. Um bom escritor precisa de uma Musa inspiradora, mas e se... infinitos desdobramentos cabem em uma história, lenda e mito. Como uma Musa contaria a mesma história que ela inspirou, em seus próprios termos?
O que podemos recriar quando sabemos que o Grande Amor e a Grande Tentação são a Deusa? E se o personagem for uma heroína? E se ela for uma nobre, uma rainha, uma sacerdotisa? E se ela quem dá início à história? E se ela tem toda a sabedoria, poder e riqueza do mundo? O que mais ela buscaria? O que a motiva nessa busca? E se aquilo que almeja alcançar seja ela mesma? Sendo ela o centro e razão da história, como ela poderia testar a si mesma? Quem ou o que poderia ser o Amor e a Tentação? Por que ela temeria a morte, por que ela teria qualquer medo? Sendo ela a regente do mundo, haveria um lar para retornar? Se tivesse, deveria voltar? Sendo ela a regente do mundo, precisa de reconhecimento ou de coroação? E se ela ficasse aonde sua jornada terminou e ali mesmo fizesse seu trono? E se o Reino Proibido, o Mundo dos Monstros, fosse igualmente sua morada, uma morada sagrada? E se o Diabo que o herói tem que matar fosse o verdadeiro amor e servo da Deusa? E se o malvado é o herói e o verdadeiro inimigo é Deus?
Este é um dos motivos pelos quais eu gosto de anime e alguns filmes recentes. Finalmente alguém se perguntou “e se” e percebeu que Deus, anjo, messias, profeta, santo, são títulos que podem esconder uma verdade maior. Este é um dos motivos pelos quais eu gosto de ser o maldito, o perseguido, o renegado, o banido. Eu perguntei “e se” para a saga de Joãozinho. Simplesmente para ter a chance de estar na jornada onde a Deusa há de passar. E hei de testemunhar quando os véus forem suspensos, graças a Deus.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Os quatro reis

Retomando a leitura de meus livros, eu gostaria de citar este trecho do "Witchcraft in Europe":

"...nomeando ou escrevendo os quatro reis em quatro pedaços de papel, deveras, rei Galtinus do norte, rei Baltinus do leste, rei Saltinus do sul, rei Ultimus do oeste..." [pg. 129]

Dos trechos de textos e leis oficiais que foram escritos entre os anos 400 a 1700, o que incluem testemunhos obtidos no Santo Ofício de suspeitos da prática de Bruxaria, este trecho, citando a evocação de quatro reis, cada qual em um ponto cardeal, aparece tão isolado que não se pode dizer que foi uma mera fantasia dos doutrores da Igreja.
Nos rituais wiccanos nós evocamos os Guardiões das Torres, cada qual em um ponto cardeal. No entanto os nomes são diferentes: Bóreas, Euros, Notos e Zéfiro. Como se isso não bastasse, há uma correlação de cada ponto cardeal e guardião com um elemento da natureza: água, terra, fogo, ar.
Eu ainda não encontrei a fonte de onde a Faculdade de Teologia da Universidade de Paris coletou esta informação ou prática. Do texto de Roger Dearnaley eu não vi nenhum vínculo com as fontes literárias que Gerald Gardner utilizou, o que resta deduzir que esta é uma prática tradicional nos cultos de bruxas.
Certamente a evocação aos quadrantes utilizada nos rituais da bruxaria e da wicca tradicional devem ter sua origem na Suméria, onde reis sacerdotes evocavam os Guardiões em suas fortalezas, servindo tanto como medianeiros, quanto como observadores, deste mundo e do mundo espiritual.
Estes reis sacerdotes eram também astrônomos. As torre, na Suméria, eram erguidas em locais escolhidos e adequados, para observar o movimento dos astros, cujo brilho e existência eram considerados a manifestação dos Deuses.
O conhecimento chamado astronomia é o conhecimento dos Deuses. As torres, por sua posição, garantiam que o poder dos Deuses se manifestassem de forma benéfica e harmoniosa neste mundo.
O ritual de evocar os quadrantes é como abrir os portões que separam o mundo humano do mundo divino. Devidamente executado, com a presença dos Guardiões, o sacerdote acessa os ancestrais, bem como o Deus e a Deusa. Devidamente executado, mantém o fluxo das estações e o ciclo da vida.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

O pote do duende

As lendas contam que um duende escondeu no fim do arco íris um pote de ouro. O arco íris, um sinal tão evidente, considerado a ponte entre mundos e mensagem dos Deuses, não parece ser o lugar mais adequado para esconder uma riqueza.
Eu desconfio que o duende mesmo quem espalhou a lenda, esperto como deve ser, criou uma distração, apontou para o arco íris pois sabia que o homem iria buscar o pote de ouro onde ele não está. Eu desconfio até que o duende não tinha ouro, sequer o pote. Certamente ele guardava uma riqueza, mas sábio como deve ser, não poderia entregar algo tão valioso ao homem. O homem tem um vazio que tenta preencher com sua ganância, mas nunca estará satisfeito. O homem estraga tudo que põe a mão.
Se há alguma riqueza e se esta é guardada por um duende, devemos nos perguntar de que tipo de valor nós estamos falando e no que a posse deste bem irá alterar nossas vidas. Se esta riqueza está oculta, há um mapa, um cofre, um caminho, um desafio, um herói. Quando falamos em algo oculto e uma missão, falamos de um mistério e do caminho iniciático.
O duende tem a reputação de ser ardiloso, traiçoeiro e mentiroso. Mas antes de querermos condenar o duende, o homem também é uma criatura dissimulada. O que mais vemos no mundo dos humanos é gente fazendo trapaça com gente. O que mais vemos no mundo dos humanos é vigarista vendendo o caminho dos tijolos amarelos. O que mais vemos no mundo dos humanos é guru oferecendo a plenitude.
O buscador fica perdido diante de tantos caminhos, práticas, fórmulas, promessas. Tudo está bem, enquanto o buscador não perceber o homem por detrás da cortina. Quando isso acontece, tudo aquilo que foi prometido lhe será negado. Quando isso acontece, o buscador é renegado, repudiado, perseguido, maldito, pela simples ousadia de ter percebido que nunca precisou de gurus, mestres, orientadores, sacerdotes, iniciações, ordenações, linhagens ou tradições para encontrar o pote de ouro.
Quem tiver entendimento, entenda. O segredo consiste em fazer o buscador acreditar que o pote de ouro está onde não está. O segredo sustenta seu valor enquanto estiver oculto em uma falsa aparência de mistério. No entanto, quando se chega ao centro do mistério, o buscador encontrará o mesmo vazio que existe nos templos.
Seja pote, caixa ou templo, estas coisas são vãs tentativas de controlar, conter, delimitar o inefável, o divino. Seja ouro, conhecimento, sabedoria ou iluminação, estas são vãs fórmulas que apenas laureiam o ego de quem se arroga possuir o caminho. Quem tiver entendimento, entenda. O divino está em todo lugar, inclusive dentro de você. Para encontrar o caminho basta caminhar com seus pés.

domingo, 19 de abril de 2015

O arcano da Imperatriz

O ser humano criou para si mesmo títulos para atribuir um cargo, função ou importância. O ser humano escolhe seus lideres, seus representantes, seus governantes. Inevitavelmente, infalivelmente, a pessoa que é colocada nesses tronos inventados acaba acreditando que detêm algum tipo de majestade, que é um ser privilegiado, ordenado, ungido, capacitado para exercer seu cargo.
O arcano da imperatriz mostra o vazio e a vaidade de quem se arroga, cheio de prepotência ou presunção, aquilo que não possui de fato. O arcano mostra uma mulher em trajes nobres, sentada em um trono, tendo um cetro em uma mão e uma heráldica em outra. A aparência desta mulher ressalta sua condição de regente, mas sua expressão é estática, imóvel, fria e distante.
O caminho iniciático mostra que não é a coroa, o cetro, a heráldica, a linhagem, a ordenação, ou a iniciação que concede ao buscador sua condição como Iluminado. Nenhum governo se sustenta quando o poder é baseado em si mesmo, todo tipo de poder e regime somente funciona quando há uma aceitação, colaboração e reconhecimento dos súditos, dos cidadãos, dos iguais.

sábado, 18 de abril de 2015

Habebimus Papa?

Se no estrangeiro a Comunidade Pagã está em crise, no Brasil não podia ser pior.
Caiu feito bomba a reconversão do Millennium,  autoproclamado sacerdote wiccano, que agora é mais um este... ooops... mais um pastor da IURD.
Que as vertentes neopentecostais fazem uma propaganda pesada, divulgando testemunhos com pastores que foram bruxos e feiticeiros não é novidade, mesmo se incluirmos os farsantes. Se fosse apenas isso, a Comunidade Pagã Brasileira estaria bem. Mas temos que conviver com a vergonha que passamos com certas celebridades pagãs.
Nosso país é conhecido como Casa de Mãe Joana, a Comunidade Pagã Brasileira espelha essa cultura. Neste blog eu escrevi o "Editorial de Esclarecimento" para alertar a Comunidade Pagã da incongruência do Conselho de Bruxaria Tradicional. Também tivemos o desplante autoritário, presunçoso e arrogante da instauração da Igreja Brasileira de Wicca e Bruxaria. Faíscas foram lançadas contra a União Wicca do Brasil. A ordenação de Claudiney Prieto por Z. Budapest acabou provocando reações no meio diânico americano. A cereja no bolo foi o anúncio da ascenção de Claudiney Prieto ao 3° na Tradição Gardneriana.
Eu recomendo a leitura do texto "O inicio da pratica da Wicca no Brasil" [de Janluis Duarte] para entender esse angu de caroço. Em diversas ocasiões eu escrevi sobre essa celebridade do meio pagão brasileiro. Durante meu treinamento eu removi muitos textos, pois a luta estava me consumindo. Não obstante, uma breve consulta ao oráculo virtual irá mostrar ao dileto e eventual leitor como praticamente se formou um culto à personalidade em torno deste sacerdote. Não é difícil perceber, nos textos de autoria dele, como se misturam princípios de dianismo, feri, reclaiming e outras tradições do Paganismo Moderno. A ordenação dele em uma vertente radical de dianismo é mais um sinal de que ele não tem as mais nobres intenções.
Agora que Claudiney Prieto recebeu o 3° na Tradição Gardneriana, ele está em uma posição privilegiada, praticamente sem ter quem possa contestar seus atos e declarações. Como estudante dedicado da Wicca Tradicional, não há coisa alguma que eu possa fazer. Não existe autoridade central na Wicca. Altos sacerdotes de 3° são autônomos.
Entretanto, existe um precedente. A Tradição Proteana teve seu reconhecimento e linhagem revogados por terem alterado a ortopraxia.
Para este escritor que vos escreve, pouco ou nada muda. Eu sinceramente espero que isto seja o início de uma linhagem autêntica vinculada à Wicca Tradicional. Minha péssima reputação não permitiu que eu ficasse em grupos, fóruns ou covens, isso não irá mudar, então não tenho coisa alguma a perder.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Sorginkeria: bruxaria tradicional basca

O texto que se segue é uma indicação do amigo ONE, agora membro da equipe do blog O Mundo Real. Nesse texto vamos conhecer um pouco mais sobre antigos costumes do país Basco.

Cântico de invocação de Akerra, o Deus Bode.

“Donostiarrák ekarridute
Guetariatyk Akerra
Kanpantorrian ipiñidute
Aita Santutzát Dutela...”

O País Basco, ao norte da Espanha, chamado Euskadi ( uma região politicamente autônoma, mas não totalmente independente ) possui uma cultura única não só na Europa, como no Mundo, por motivos que dividem até hoje não só historiadores, como estudiosos de outras áreas. Compõe, junto a demais províncias, a chamada “Euskal Herria” ( A Grande Nação Basca ), envolvendo todos os territórios de cultura e tradição basca, divididos em dois blocos: Hegoalde, o “País Basco Peninsular”, com suas províncias: Biskaia, Áraba, Nafarroa, Garaia e Gipúzkoa; e Iparralde, o “País Basco Continental”, do outro lado dos picos pirenaicos, já no sul da França, composto pelas províncias de: Zuberoa, Lapurdi e Nafarroa Beherea. O povo basco é o mais antigo do continente europeu, anterior às invasões indo-europeias, e mantém, até hoje, o mesmo idioma falado há mais de 4 mil anos: o Euskera. Uma outra peculiaridade dos bascos está em suas lendas e mitos: apesar de manterem crenças em elementais da natureza, como outros povos, os bascos mantém uma relação com tais Espíritos bem mais próxima e natural. Rituais e oferendas aos Gauazkuák ( "Os da Noite", seres mágicos guardiões dos Antigos Mistérios ) são comuns, e até hoje, as Sorgiñák ( Bruxas, em euskera ) celebram o Akelarre ( "Prado do Bode": culto Feiticeiro ao Deus Bode ) naquelas terras. As Sorgiñák são, na verdade, o elo entre os Gauazkuák e os Eguniekuák ( "Os do Dia", compreendendo as pessoas comuns, os não-Bruxos ); essa qualidade limiar faz das Bruxas Bascas seres, ao mesmo tempo, naturais e sobrenaturais.

Nos Akelarres são cultuados os Ireluák ( Espíritos ), tais como: Egoarák ( os Ventos, Filhos da Sorgiña Aizia ); Mamurrák ( os Insetos, muito prestativos, trazem a Boa Sorte ); Gaueko ( Deus da Escuridão, Senhor dos Mistérios, que castiga todo aquele que ousa menosprezar a Noite ); Inguma ( Senhor dos Sonhos, que é saudado com uma oferenda de um jarro de água debaixo da cama, proporcionando sonhos premonitórios...já àqueles que o desagradam, causa pesadelos terríveis ); Iratxoák ( Duendes ); Jentilák ( os Gigantes pré-históricos, que viviam nas terras altas e não conheciam o ferro. O mais conhecido deles é o Olentzero, que traz presentes na noite do Solstício de Inverno – possível origem do Papai-Noel ); Mairuák ( Gênios construtores dos cromelechs, os círculos de pedras ancestrais ); Lamiák ( Ninfas ou Fadas que vivem junto às águas e em grutas subterrâneas, são tidas como construtoras de pontes ); Mamarro ( Duendes travessos, mas que podem servir ao ser humano ); Sán Martín Txiki ( São Martin Pequeno, que se trata do espírito de um padre católico, incorporado pelas crenças medievais sincréticas das Sorgiñák como um elemental a mais ); Galtxagorriák ( “Os de calção vermelho” ) e os Gorritxikiák ( “Os Vermelhinhos” ), também são duendes que auxiliam o trabalho doméstico das pessoas; Basaiaun e Basandréd ( Senhor e Senhora dos Bosques, protetores das florestas ), Ilargia Amandréd ( Avó Lua ), Deusa Ancestral, assim como Amalurra ( a Mãe Terra ); Ortzi ( Deus celeste, Senhor dos raios ); Janicot ( Deus do Akelarre, uma das personificações do Deus Bode ); Benzózia ( a Diana dos bascos, Deusa da Lua e da Magia ); Ehistari Beltza ( “O Caçador Negro”, Deus das Florestas, associado ao celta Gwyn Ap Nudd, ou Herne o Caçador ); Jainkoaren Bégia ( o "Olho de Deus", Espírito Solar, mais tarde cristianizado ), entre muitos outros...

Mas, acima de todos, as Sorgiñák cultuam Mari, a Grande Deusa Bruxa, Senhora das Tempestades e Soberana da Terra, que habita nas Coevas ( grutas subterrâneas ) das montanhas, junto das Lamiák. Mari é representada pela Joaninha ( Marigorri: Mari a Vermelha ), e é venerada junto a seus maridos Divinos: Akerbeltz ( Bode Negro, em euskera ), Deus Chifrudo das Bruxas Bascas, Senhor da Vida e da Morte, Grande Mestre do Akelarre, que traz a Luz da Sabedoria ardendo entre os Seus Chifres; Sugaar, ou Sugoi ( também chamado Maju ), Deus Serpente com quem Mari se une sexualmente nos Céus, para produzir tempestades; e Herensuge, Deus Serpente de várias cabeças, muito invocado como benfeitor dos seres humanos. Mari também é chamada de Anbotoko Sorgiña ( a Bruxa do Monte Anboto ), Basko Marie ( Mari do Bosque ), entre outras denominações, e é tida como a Senhora das riquezas da Terra. Ela recebia oferendas de carneiros ou moedas para a obtenção de graças ou para proteção contra as tempestades, já que era a Senhora das Tormentas. É a Rainha de todos os Espíritos, e possui duas filhas ( em alguns locais, são considerados filhos ): Mikelats e Atarrabi. Mari se apresenta de várias formas: como uma Dama elegantemente ataviada, ou como uma Deusa sobre um carro puxado por quatro cavalos, percorrendo os céus...também aparece como uma belíssima mulher envolta em chamas, voando pelas alturas, ou então coroada pela Lua Cheia...também surge na forma de uma bezerra, de um corvo, ou como uma nuvem branca, um arco-íris, etc. É a Suprema Divindade da Sorginkeria, Deusa que condena a mentira, o roubo, a vaidade exacerbada e fútil, a falta de ajuda mútua. As pessoas acabam sendo castigadas com a privação ou a perda do que foi objeto de mentira e usurpação. Mari se abastece à conta dos que negam a verdade e dos que afirmam mentiras: ezagaz eta baiagaz ( abastece-se com a negação e com a afirmação mentirosa ).

As crenças mágicas das Sorgiñák são profundamente animistas, e se baseiam na relação entre o material ( berezko ) e o espiritual ( aideko ). Berezko é de característica manifesta, externa, enquanto Aideko é visto como latente e interior. Essa dualidade, sempre presente na Sorginkeria ( a Noite e o Dia, os vivos e os mortos, a Lua e o Sol, etc. ), está presente também no conceito de Adur e Indar, que é a base da compreensão de Mundo dos antigos bascos. Adur é o potencial latente de alguma coisa ou ser vivo, enquanto Indar é seu poder manifesto e ativo. A Feitiçaria, segundo as Bruxas e Bruxos Bascos, é exercida através de tais conceitos, que ensinam que tudo pode ser conectado ao Irelus ( Espírito ) de algo ou alguém pelo Adur e pela semelhança.

A Feitiçaria das Sorgiñák envolve práticas de magia simpática ( “semelhante atrai semelhante” ) em que moedas representam aqueles que serão enfeitiçados, através dos rostos humanos ali cunhados. Tais moedas são lançadas ao fogo. Também se utilizam de plantas e árvores consideradas sagradas, como o carvalho ( Aritza, símbolo da Força e resistência do Povo Basco ); a flor do cardo ( Eguskilore, ou “Flor do Sol”, em euskera ) que é pendurada na porta de casa, pelo lado de fora, para manter a presença do Sol, mesmo durante a Noite, afastando assim, os Espíritos malignos; o espinheiro ( Elorri ); o loureiro ( Ereñoa ); a faia ( Pagoa ), etc. Animais como o bode ( Akerra, o Deus das Bruxas ), a joaninha ( Marigorri, símbolo de Mari ), a abelha ( erlea, que é pecado matar ), o asno ( Asto ), entre outros, desde sempre foram considerados sagrados pelas Sorgiñák.

Há também uma crença forte no poder do Begizko ( Mau-Olhado ), considerado um Dom malévolo próprio de determinadas Bruxas. Para combater o begizko, a Bruxaria Basca ensina a confecção dos kuthunák ( bolsinhas de pano com ingredientes mágicos dentro ), usadas penduradas ao pescoço ( são principalmente recomendadas às crianças mais novas e bebês de colo, que são vítimas mais comuns do Mau-Olhado ). Tais amuletos continham elementos já conhecidos, tais como o alho e a arruda, assim como também pedras, corais, pedaços de cordão umbilical e, até mesmo, excremento de galinha. Objetos como cartas de baralho e bolas de cristal, popularmente associados às Artes Divinatórias, são utilizados em sortilégios e rituais mágicos. Também se utiliza carvão, figas, ervas como estramônio, beladona, e animais como o sapo ( tais ervas, assim como o veneno do sapo, são empregados em ungüentos de voo das Bruxas ).

O sapo também é utilizado em malefícios. Segundo o relato dos antigos, tais feitiços e poções maléficas eram feitos nos Akelarres, com a supervisão do Mestre Negro. Pós Maléficos Enfeitiçadores eram embrulhados na pele de um sapo e enviados à pessoa que se desejava matar. Tais Pós Maléficos eram feitos com ingredientes mágicos, cuja colheita e preparação eram conduzidas pelo Grande Akerbeltz, personificado por um Bruxo de Alto Grau, chamado El Maestro, o Mestre Negro. Esses filtros malignos eram espalhados pelos campos daqueles que deviam ser amaldiçoados. O Mestre do Akelarre indicava a seus acólitos o dia propício, ordenando aos Bruxos para irem em equipes em busca dos elementos que compõe o Feitiço: sanguessugas, sapos, cobras, lagartos, lesmas, caracóis e peidos-de-lobo ( pequenas bolas que crescem na terra, como túberas, e de onde sai um pó cinzento quando apertadas ). Os Sorgins traziam os ingredientes para casa, de madrugada, e com eles, preparavam os venenos. A poção, que era feita no Akelarre, ou mesmo em suas casas ( mas sempre com a supervisão do Mestre Bode ), possuía poderes de dessecação e morte. Ao terminarem a confecção do veneno, os Bruxos deixavam o Akelarre, sob a forma de animais, e com o Bode Negro à frente. O Sorgin Miguel de Goyburu disse que levava o caldeirão dos pós maléficos, os quais eram espalhados nos lugares condenados, enquanto o Mestre Negro dizia: “Pós, pós, que tudo fique perdido!”, ou então: “Que metade fique perdida”. E as Sorgiñák e Sorgins mais experientes, iam repetindo: “Que tudo fique perdido ( ou metade somente ) e que meus bens fiquem a salvo!”. Os Bruxos evocavam o Vento Egoya, que soprava do sul no início do Outono, para espalhar os males pelos campos dos inimigos. Mas muitos malefícios são feitos com objetos simples e cotidianos, tais como as já citadas moedas, ou mesmo, com velas. As Sorgiñák lançam maldições acendendo velas, que são consagradas e batizadas com os nomes daqueles que desejam castigar, enquanto conjuram o Fogo, fazendo com que pereçam junto com a cera que lentamente se esvai, consumida pela chama...

Quando da cristianização das terras bascas, os párocos cristãos realizaram sermões condenando as práticas pagãs. Isso pouco alterou a vida das Sorgiñák, que permaneceram com os ritos da Tradição. Todas as Famílias Bascas mantinham rituais e costumes antigos em suas casas, como o de saudar os Espíritos Ancestrais. Parte destes cultos envolvia o sepultamento dos mortos da Família em casa, onde eram venerados como os Lares antigos. A Casa ( Etxea ), era vista não apenas como habitação dos vivos, mas também, como Templo do Culto aos Ancestrais, aos Deuses e Espíritos do Lugar ( Anima Loci ); era o centro de convivência doméstica, mas também o centro espiritual e energético dos bascos. Os padres buscaram evitar que tais cultos continuassem, levando as famílias a sepultar seus mortos em cemitérios, nas terras da igreja. No entanto, os cultos pagãos permaneceram dentro de casa, conduzidos pela Etxeko Andréd ( Senhora da Casa, de "Etxe" = Casa; e "Andréd" = Senhora ). Os padres católicos se viram, então, obrigados a ceder espaço em suas igrejas para a construção de capelas especiais, chamadas Yarleku, pertencentes, cada uma, a um Clã distinto da comarca. Os rituais Pagãos das Bruxas Bascas invadiram as igrejas cristãs.....Somente a Etxeko Andréd possuía a chave do Yarleku de seu Clã, e apenas ela podia celebrar os ritos ali dentro.

Em Iparralde, no País Basco francês, fica a região do Labourd, conhecida como Terra de Bruxas, tamanha a concentração de Clãs de Sorgiñák naquelas terras. No início do século XVII, as autoridades locais pediram ao rei da França, Henrique IV, que enviasse um inquisidor. Em 1609, o rei manda o então conselheiro do Parlamento de Bordéus, Pierre De Lancre, para resolver o caso. Baseado nos processos inquisitoriais que se seguiram, ele publicou livros sobre o tema, como o "Tableau de L'inconstance de Mauvais, Anges et Démons", o qual faz questão de ilustrar com gravuras, feitas pelo pintor Ziarko. Tais imagens, ao serem vistas pelas Sorgiñák e Sorgins de então, foram por estes reconhecidas como retratos de suas tradições e rituais de Bruxaria ( assim como ocorreu com as Streghe Italianas, ao verem as gravuras que Francesco Guazzo imprimiu em seu livro, “Compendium Maleficarum”, escrito com a pretensão de denunciar as práticas Bruxas ). Com a chegada de De Lancre, grandes caravanas de Famílias de Bruxas atravessaram os Pirinéus, indo dar os costados em terras de Espanha e Baixa Navarra. Muitos deles alegavam estar peregrinando aos santuários cristãos de Montserrat ( Catalunha ) e de Santiago de Compostela ( Galiza ). Muitas dessas Famílias de Bruxas se fixaram por toda a Espanha, ou mesmo partiram para o Novo Mundo, se assentando em países como Canadá e Argentina, onde até hoje, existem descendentes dessa Diáspora Basca.

Um dos Sorgins ( Bruxos bascos ) mais conhecidos da História de Euskal Herria foi Johanes de Bargota, que viveu no século XVI. Bargota se formou padre em Salamanca, onde também foi iniciado na Coeva de Bruxos local. Retornando ao País Basco, buscou o intercâmbio junto às Sorgiñák, sendo iniciado nos Mistérios do Akelarre do Monte de Oca, pelas mãos da Bruxa Endrogotto. Foi o primeiro a registrar ensinamentos mágicos da Sorginkeria, a Bruxaria Basca, que influenciaram muitas Tradições da Arte, inclusive a Wicca moderna. É atribuído a um manuscrito de Bargota, que teria sido mostrado a Gerald Gardner, a criação de textos de seu Book Of Shadows, como a sua versão de A Runa das Bruxas, que teria sido originalmente, escrita pelo Bruxo Bargota. Mesmo frequentando o Akelarre, ele não deixou de celebrar a missa na igreja local. Era comum vê-lo perambular pelas ruas de seu vilarejo, logo de madrugada, retornando do Monte de Oca, a caminho da missa dominical. Ele adorava o Bode Negro no Akelarre, durante a noite, e adorava o Cristo Branco na Missa, durante o dia. Depois de ser denunciado às autoridades eclesiásticas, foi preso pela Inquisição de Logroño, junto com outros acusados de Bruxaria. Johanes, no entanto, foi poupado da morte na fogueira, mas teve usar um sambenito ( espécie de túnica ), onde se lia "Diós perdonad al nigromante" ( Deus perdoe o feiticeiro ), o que era um motivo de escárnio, uma vergonha, ainda mais para um padre. Johanes teve também toda sua biblioteca de livros de Magia, Necromancia e Conjuros queimada pelos inquisidores... diziam as gentes de Bargota que, junto com os livros, se esvaiu consumido pelas chamas o Bruxo, permanecendo o clérigo... mas, até o fim de seus dias, Johanes lembrou com lágrimas nos olhos dos tempos em que voava livremente até o Akelarre do Monte de Oca, ou o Akelarre às margens do Rio Ebro, montado em uma nuvem magicamente conjurada, que o transportava pelos ares... e foi justamente a imagem do Bruxo Johanes que permaneceu viva pelo correr dos séculos, figurando inclusive no Brasão da cidade de Bargota; Outras Sorgiñák, no entanto, foram mortas nas fogueiras, entre elas, Necate de Urrugne, presa por De Lancre, e que era tida como Maestra de um Akelarre muito freqüentado; também Jeanette de Belloc ( chamada Atsoua, “A Velha” ), assim como Oylarchahar e Marie Martin de Adamcehorena, igualmente presas pelo inquisidor; E assim como também Maria Miguel de Orexa, Bruxa Basca do século XVI. No vale de Araiz, em 1559, Maria Miguel de Orexa, de 26 anos, foi submetida a cuidadoso interrogatório, pelo qual se apurou que ela tinha sido iniciada na Bruxaria por sua avó, aos 10 anos de idade. A anciã estava à beira da morte: a Tradição afirmava, então, que uma Sorgiña não poderia deixar este mundo sem transmitir suas aptidões, seu Dom, a outra pessoa. Maria Miguel contou que tinha sido levada a um Akelarre. Depois de untada com o Ungüento Mágico, voara com 15 outras pessoas, para o local do encontro. Na costa de Urrizola, os inquisidores encontraram duas poltronas, cada uma com uma figura sentada: de um lado, um homem com cabeça de bode e, do outro lado, uma mulher. Maria os identificou como Belzebu e sua esposa. Analisando o nome Belzebu, chegamos ao significado de “Senhor da Terra”, “Senhor do Submundo”, da terra negra, da matéria, das grotas infernais...tais conceitos levam a Akerbeltz, o Bode Negro, Senhor das Bruxas, o Grande Mestre Sabático... E lembremos também que, em se tratando das antigas Bruxas, era preferível entregar-se à morte no fogo, alegando prática satanista anti-cristã, a dizer os nomes de seus Deuses...

A Bruxaria Basca, uma Tradição Ancestral, cujas raízes se perdem na Pré-História, dado que é praticada desde os tempos remotos em que o Euskera começou a ser falado, continuou sendo vivenciada através dos séculos... Preservada da sanha assassina da Inquisição, que curiosamente, chegou a defender as Bruxas ao invés de perseguí-las ( como algumas correspondências da época, entre bispos locais e inquisidores nos demonstram ), a Tradição da Sorginkeria permaneceu viva até épocas bem recentes, como alguns testemunhos modernos nos podem revelar, como este publicado por Julio Caro Baroja em sua obra “As Bruxas e o Seu Mundo”, e que lhe foi relatado por um médico cirurgião de Madrid, nascido em Deva, Guipúzkoa:

“ Uma noite de Verão, há três ou quatro anos ( cerca de 1929 ), ia eu de automóvel de Deva a Bilbao, pela estrada da encosta. Entre Lequeitio e Ispaster, muito perto desta aldeia, vi no meio da estrada uma forma negra e imóvel, apesar das minhas repetidas buzinadelas para chamar a sua atenção e a afastar da estrada. Só a alguns metros dela reconheci que se tratava de uma mulher. Irritado com a sua atitude, parei e perguntei-lhe em basco: ‘Por que é que não se afasta quando se buzina?’ A mulher ficou um momento indecisa, depois desatando a rir, disse-me: ‘Não vê que estou no Akelarre?’ Mal tinha dito estas palavras, ouvi as vozes de outras pessoas vindo de um prado vizinho, para onde ela se dirigiu correndo. Continuei o meu caminho, sem prestar mais atenção a este incidente.”

A percepção de Mundo das Sorgiñák, as Bruxas e Bruxos do povo basco, é de uma natureza anterior à das civilizações de carácter expansionista-imperialista. Envolve uma forma de viver imersa na Natureza, onde o ser humano é visto como parte Dela, e não como seu suposto “controlador”. Não existem fronteiras entre o material e o espiritual, pois tudo está interligado...e os Deuses e Espíritos, sempre estão presentes, seja nas altas montanhas, nos ventos que cortam o Prado do Bode, nos campos de um verde inesquecível, no Mar impetuoso, nas praias, em sua maioria, rochosas, nas ancestrais florestas de carvalhos....e mesmo nos caseríos ( basérria ) dos antepassados, morada e templo daqueles que já foram considerados o povo mais antigo do Mundo. Para eles, tudo é Sagrado, pois tudo possui alma, e tudo existe, bastando ter nome. Como dizem as Sorgiñák: “Izena zuen guztia omen da” ( Tudo o que tem nome existe ).

A Tradição desse povo ancestral ainda vive, não só na Terra Sagrada de Euskal Herria, como também onde quer que seus filhos e descendentes tenham peregrinado...pois, não importando o quão distante e estrangeira é a terra em que se está, o basco possui uma herança que jamais esquecerá, ainda que não a conheça. Tal como o Carvalho da cidade de Guernica, ao redor de cujas raízes os bascos, desde tempos remotos se reuniam para tomar as decisões mais importantes de seu povo, e que sobreviveu incólume ao bombardeio que destruiu toda a cidade na Guerra Civil, em 1937, essa gente guerreira parece marcar presença não só no início de Tudo, como também viverá pelos séculos sem fim que despontam adelante...E a Força dessa Tradição ecoa não só nas lendas, danças ou ritos mágicos da Sorginkeria....Ela está presente no sangue, na alma e na forma de ser e de viver do povo. Como disse Victor Hugo, um admirador dessa cultura ancestral:

“Nasce-se basco, fala-se basco, vive-se basco e morre-se basco”.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O arcano da lua

Este astro tem uma grande influência em nosso mundo, sua conexão com as marés e a menstruação são seus efeitos mais visíveis. A lua regra tudo que é líquido, rios, lagos, poços, sangue e sêmen. Por sua associação com água, seu fluxo e acúmulo, ela também é associada ao mundo intuitivo, ao mundo espiritual, à magia e bruxaria.
A lua é como uma lâmpada que nos vigia durante a noite. O arcano mostra um rosto humano pela ideia comum sobre o Homem da Lua. O brilho da lua é como um reflexo do sol, a lua é um espelho do sol. Formas pequenas, semelhantes a gotas são o fogo fátuo, almas e espíritos, que trafegam tranquilamente sobre o olhar atento da lua. As duas torres fechadas ressaltam a ideia de segurança, de algo fechado, guardado. Os dois cachorros parecem lamber as gotas que esvoaçam, mas podem simplesmente estar uivando para a lua. Na parte inferior, ao centro, alinhada com a lua tem um lagostim, mas podemos entender como caranguejo, que é o símbolo associado ao signo de Câncer, signo regido pela lua e, como ela, representando nossos sentimentos, sensações, pensamentos, nossa psique, nossa alma.
O caminho iniciático é um mergulho nas profundezas de nossa psique. Ali, debaixo de todas as camadas do ego que construímos para funcionarmos neste mundo, encontra-se nossa sombra. Entender, aceitar e ver a sombra em sua real natureza é o conhecimento do si mesmo. Entretanto para vencer a fera que existe dentro de nosso labirinto, devemos seguir o caminho, devemos crescer, devemos ascender.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Ensaio sobre a cegueira

John Halstead publicou dois textos no Patheos que são complementares: “My god may be blind, but I’m not” e “I worship the Blind God”. Os textos falam de dois lados de um mesmo problema, por assim dizer, tanto de descrentes quanto de crentes.
O texto fala de cegueira, mas podemos incluir a surdez e a mudez. Então podemos falar que há um problema de comunicação entre nós e o divino. Atribui-se, com bastante frequência, que o ateu tem “deficiência espiritual”. Inclusive este pagão que vos escreve.
De acordo com John, o ateu não é incapaz de sentir ou de perceber da mesma forma que teístas sentem e percebem. John afirma que ateus também têm experiências religiosas.
Por outro lado, temos diversos textos ateus que perguntam, com certa ironia, sarcasmo, cinismo – se o divino ouve nossas preces, por que não respondem?
Depois de tantos ataques dos Cavaleiros do Neoateísmo contra a religião em geral, fica difícil compreender que o ateu possui algum tipo de experiência religiosa. Sobretudo por que o ateu não manifesta, ao menos publicamente, principalmente entre seus iguais, sobre tais experiências ou de como interpretou tais eventos.
A provocação mais comum do ateu pode bem ilustrar meu argumento – o crente é ateu dos outros Deuses. Não é difícil encontrar páginas cristãs criticando outras religiões, as colocando como erros de pessoas que estão cegas ao verdadeiro Deus, da verdadeira religião. Igualmente não é difícil encontrar textos cristãos dizendo que os Deuses Antigos são meras fábulas, ou que são demônios. Igualmente não é difícil encontrar páginas de católicos e evangélicos se atacando, com as mesmas acusações. Não é mero acaso que existam páginas de muçulmanos e judeus, atacando o cristão, ou se atacando mutuamente, por discordarem da forma como percebem e interpretam o divino.
Eu não conheço outras religiões o suficiente para saber se existe este tipo de comportamento. Eu conheço bem a Comunidade Pagã, local e internacional. Nós somos um balaio de gatos. Brigamos entre nós e fazemos um estardalhaço. Eu mesmo tenho minhas diferenças com as religiões da Deusa e o Dianismo.
Então podemos concluir que a questão está na forma de como percebemos e interpretamos as experiências espirituais e de como, a partir delas, percebemos e interpretamos o divino. Para o ateu, a evidência, o fato, a experiência, as fórmulas e as leis científicas, tomam o lugar da revelação, da epifania, do arrebatamento e da presença do divino.
“Deus desceu até o Paraíso e caminhou pelos gramados. Adão e os outros animais estavam dormindo e não perceberam sua presença — caso estivessem acordados, não teriam reparado que cada animal enxergava Deus de uma forma diferente. Ele era o Deus de Adão quando passou perto da caverna de Adão, era o Deus dos macacos quando passou perto da floresta, era o Deus dos leões quando passou pelas savanas”. [Papo de Homem]
O ateu não recusa a experiência espiritual ou a existência do divino, mas a presunção, a arrogância de um determinado grupo em atribuir a si o monopólio e o privilégio sobre o conhecimento do divino. Para o ateu, a experiência espiritual, bem como a crença e a religião, devem permanecer pessoais. Então a briga do ateu é contra as organizações religiosas, não contra a religião ou a espiritualidade. Pena que essa luta muitas vezes se torna tão intolerante e fundamentalista quanto essas organizações religiosas.
Os chistes, piadas e textos ateus são feitos para questionar a autoridade de tais organizações religiosas, não para questionar a experiência espiritual, pois estariam negando suas próprias experiências espirituais. Então quando o ateu pergunta do porque o divino não responde nossas preces, ele não está duvidando da existência do divino, da espiritualidade ou dos milagres, mas está questionando a presunção de uma organização religiosa quando esta usa estas manifestações como provas de que a crença que representam ou que sua percepção e interpretação do divino são as certas, são a única verdade.
Ainda assim é mister lembrar que a humanidade é importante para o divino, mas não é o mais importante. Nós sabemos que a Terra não é o centro do universo, assim como o sol também não é, só nos falta aceitar o fato que o homem não é o centro do universo.
Eu posso pressupor que todo ser humano tem algum tipo de experiência espiritual e que a percebe e a interpreta conforme seu entendimento e conhecimento. Quando uma pessoa, crente ou descrente, ignora fatos, evidências, circunstâncias ou eventos e passa a fazer uma análise simplista ou generalizante sobre algum tipo de experiência espiritual ou religião, ainda que seja sobre a sua experiência, ainda que seja uma opinião pessoal, o erro começa quando existe presunção e arrogância.
Ainda que possamos falar melhor do que outros, ainda que possamos ouvir melhor que outros, ainda que possamos ver melhor que outros, continuaremos sendo deficientes em compreender e transmitir corretamente a realidade divina. Como na fábula dos cegos que tocam o elefante, percebemos apenas parte do divino. Continuaremos a ser cegos conduzindo cegos. 

terça-feira, 14 de abril de 2015

Ensaio sobre o ritual

Nós podemos definir com facilidade o significado de rituais e do rito, basta olharmos algum dicionário. Mas é necessário um esforço maior e uma consulta mais ampla para definir quais são os motivos pelos quais o ser humano construiu estas celebrações e cerimônias direcionadas ao divino.
O ritual mais antigo da humanidade começou quando nossos antepassados começaram a elaborar formas de relembrar e honrar aqueles que partiram. A intenção mais obvia era a de garantir que o finado partisse, para não assombrar os familiares. Estes rituais continham oferendas com diversos itens para o morto usar no pós-vida e eventualmente recebiam outras oferendas a titulo de propiciação.
O apaziguamento dos espíritos dos mortos não eram as únicas preocupações de nossos ancestrais. Outros eventos, como ter boa colheita, boa criação, garantir o ciclo das estações, fundações e partos, demandavam outros tipos de rituais, para entidades especificas.
Seja no campo ou na cidade, nossos antepassados percebiam que a realidade é uma manifestação dos Deuses. A partir dos rituais básicos foram surgindo outras formas de agradecer, propiciar, requisitar ou expiar, todo ato humano estava assim circunscrito em um ato de crença, uma cerimônia, celebração e rito. Esta dimensão religiosa acontecia tanto individualmente, dentro da família, bem como publicamente, dentro de templos ou festas cívicas.
Assim a humanidade cresceu e se desenvolveu com e pela religião. A cidade e a sociedade foram crescendo, se desenvolvendo e ficando mais complexa pela cultura desenvolvida dentro de templos, pela tecnologia e ciência que era descoberta e melhorada pelos sacerdotes.
Ainda que nossas capacidades e entendimento do mundo e da natureza sejam melhores do que a de nossos antepassados, o cientista é como o sacerdote dos tempos antigos. O discurso de um cientista é tão hermético e indecifrável para pessoas comuns quanto o discurso de um sacerdote. Assim como os sacerdotes, o cientista terá que assimilar o conhecimento, terá que utilizar os mesmos conceitos e concepções, terá que executar o mesmo método e procedimento de seus antecessores.
Tudo aquilo que concebemos como cultura humana, seja arte, poesia, musica, teatro, literatura, até mesmo linguagem e política, tornaram-se possível quando a humanidade acreditou que havia algo mais além do que os sentidos conseguem perceber. O próprio sentido do método cientifico surgiu a partir da concepção dos rituais, que é a certeza que determinados procedimentos, quando corretamente executados, haverão de produzir os mesmos resultados.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

O arcano do mundo

O mundo é sempre o vilão em diversas religiões. Eu nunca gostei de histórias onde se conta apenas um lado e eu sempre torci pelo vilão.
Eu escolhi o arcano do mundo para refletir um pouco sobre o tema no Paganismo Moderno que coloca o mundo, bem como as coisas mundanas, materiais [como o corpo, o desejo, o prazer e o sexo] como ferramentas e meios eficazes para se alcançar o divino.
No centro do arcano temos Gaia, a Deusa, cujo mundo é sua manifestação. Eu creio que seja necessário diferenciar Gaia da Deusa e do Deus, pois a Senhora é a Lua e é a Mãe Celestial e o Senhor é o Sol e é o Pai do Campo, da Floresta e das Feras, domesticadas ou selvagens.
Ela segura um cetro em cada mão, denotando perfeito domínio. Ela é o centro, mas não está sozinha. Está rodeada por uma coroa, tal como os vencedores são coroados. Mas enigmáticas são as quatro figuras no canto do arcano. Vemos um homem [ou um anjo], uma águia, um touro e um leão.
Eis uma boa referência de onde podemos refletir sobre esses personagens:
E o primeiro animal era semelhante a um leão, e o segundo animal semelhante a um bezerro, e tinha o terceiro animal o rosto como de homem e o quarto animal era semelhante a uma águia voando. [Apocalipse 4:7]
O autor do apocalipse inspirou-se nas profecias de Daniel para descrever os quatro animais, cada qual posicionado em um canto da terra, tal como os Guardiões posicionados nas direções cardeais. Eu devo lembrar ao dileto e eventual leitor que não existem coincidências.
Cada uma destas figuras simboliza um poder, potestade ou arcanjo. Cada qual destas figuras representa um atributo ou força existente no ser humano. Quando esses atributos estão em harmonia [obra alquímica], nos tornamos Deuses, quando estão em desequilíbrio, nos tornamos coisas.
Podemos dizer, então, que o arcano mostra que Gaia está guardada por estas potestades, que são Guardiões, que são o Espírito da Humanidade e que a harmonia, a felicidade, a abundância somente podem ser conquistadas quando existe colaboração.
O caminho iniciático é introvertido e extrovertido. Enquanto não formos mestres de nós mesmos, não podemos dominar a magia, não podemos nos conectar com a natureza, não podemos moldar e dobrar a realidade. Sem realização externa, sem obras, o conhecimento do bruxo é inútil, vão e vaidade.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Levantando os Véus

E levou-me em espírito a um deserto, e vi uma mulher assentada sobre uma besta de cor de escarlata, que estava cheia de nomes de blasfêmia, e tinha sete cabeças e dez chifres.
E a mulher estava vestida de púrpura e de escarlata, e adornada com ouro, e pedras preciosas e pérolas; e tinha na sua mão um cálice de ouro cheio das abominações e da imundícia da sua fornicação;
E na sua testa estava escrito o nome: Mistério, a grande babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra.
E vi que a mulher estava embriagada do sangue dos santos, e do sangue das testemunhas de Jesus. E, vendo-a, maravilhei-me com grande admiração. [Apocalipse 17:3-6]
O Apocalipse é um texto esotérico e ocultista, mas configura como texto sagrado no cânon cristão. Outros textos, os chamados de apócrifos, nos dão uma pista do quanto o Cristianismo era fracionado, múltiplo e diverso, até que um determinado grupo associou-se com o Império Romano, consolidando assim as fundações da Igreja Católica.
O gênio e mago Aleister Crowley deu outra abordagem para a Grande Meretriz e a chamou de Babalon. Entretanto, Crowley não fez nenhuma inovação, o conceito de prostituição sagrada está presente nas religiões antigas e nas religiões de mistério. Crowley foi o percursor de diversas ordens secretas, místicas e esotéricas que desafiaram a mentalidade puritana e vitoriana de sua época. Suas concepções e práticas sobre magia sexual foram cruciais para o Paganismo Moderno. Sem o conceito de que o corpo, o prazer, o desejo e o sexo são ferramentas para o caminho espiritual, não teríamos o sagrado feminino, não teríamos o Hiero Gamos, não teríamos o Grande Ritual.
A Comunidade Pagã em muitos países tornou-se uma alternativa para o público LGBT. Entretanto ainda existe segregação, existem grupos que excluem transgêneros, existem grupos que excluem o sagrado masculino, existem grupos que excluem rituais heterossexuais. A exigência do neófito ter no mínimo 18 anos para começar o treinamento é a cereja desse bolo que ainda reflete o recalque sexual do ocidente cristão.
A hagiologia cristã reflete a doutrina de que o corpo, o desejo, o prazer, o amor e o sexo são as causas do pecado. Os santos estão pudicamente vestidos por que a nudez é a porta do pecado. O corpo não pode ser exposto, mas a violência sim, as estátuas expõem com orgulho a forma como os santos foram martirizados, por isso que existe essa cultura do ódio.
Morrer por um ideal, derramar o sangue por uma causa, ganhou importância heroica, altruísta, carregado de honra e nobreza. Os santos cristãos morreram não por heroísmo, por honra, por virtude, por um bem maior, aceitaram a ordália simplesmente por que a vida neste mundo não lhes interessava.
O que chama a atenção é a contradição. Como a Mulher de Escarlate, a Grande Meretriz, pode beber o sangue dos santos, se ela é a Mãe das Abominações? Babalon é descrita com uma veste que remete aos hábitos dos sacerdotes, dos nobres, dos reis. Ela foi condenada por um único ato, que foi sentar em um dragão, que representa os poderes profanos do mundo terreno. Ela foi condenada por que suas roupas não ocultam seu corpo e por ter copulado com o dragão. Ainda assim, cabe a ela beber do cálice transbordante do sangue dos santos. Então ela é mais do que santa, ela é divina.
Quanta blasfêmia e heresia pode conter um corpo nu! Quanta blasfêmia, heresia e sacrilégio é apontar Babalon como Deusa! O coro dos marcados pela cruz, clamando ao Senhor, por que no Paraíso Cristão, estéril e asséptico, essa mulher ousa expor seu corpo e copular! Que bela e tremenda revolução que é ver que a Grande Meretriz é Santa por que é Prostituta! O quanto Babalon escarnece dos falsos moralistas, dos puritanos e dos recalcados!
Sua risada debocha até dos pagãos que adoram uma Deusa que mais parece uma imagem da Virgem Maria, desprovida de Consorte, desprovida de sua sensualidade, de sua feminilidade, de sua sexualidade!
O profeta do profano desafia o rebanho das ovelhas desta nova ecclesia: Onde está tua liberdade, se não estão nus em vossos rituais? Como podeis entrar no círculo se não conheceis a Polaridade Sagrada? Como podeis celebrar os mistérios se não há o Hiero Gamos, o Grande Ritual? Como podereis atravessar os véus se não adorais o Mestre do Sabat?
Dentre os loucos e profetas, ele foi o mais maldito, o mais perseguido, o mais renegado. Ele, que foi expulso até dentre aqueles que dizem serem indomados, que sempre foi expulso até dentre aqueles que dizem serem includentes. Diante daqueles que presunçosamente dizem ser legítimos iniciados, que prepotentemente arrogam a si autoridade, a ele será levantado os véus e será concedido entrar no arrebatamento infinito.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Quando um rótulo não faz o conteúdo

Nas comunidades pagãs do exterior existe um mal estar causado pelas declarações de Zsuzsanna Budapest. A discussão é evitada no exterior e aqui no Brasil impera uma supremacia das religiões da Deusa sobre a comunidade pagã que torna meu trabalho impossível.

Jason Mankey tentou apontar para o elefante na sala, mas com muita delicadeza, no texto “When Wicca is not Wicca”.

Segundo Jason: “No seu início a Wicca era apenas uma tradição iniciática; para se tornar um wiccano tem que ser iniciada por outro wiccano. Isso começou a mudar na década de 1970 e pelo início de 1990 a Wicca havia se tornado algo que era facilmente acessado”.

Para entender esse processo eu recomendo a leitura do texto “A Origem Americana da Neo-Wicca”. Aqui no Brasil a Wicca veio americanizada e nos faltam meios, recursos e fontes para conhecer a Wicca Tradicional. Felizmente eu encontrei o texto de Janluis Duarte, “Reinventando Tradições Representações e Identidades da Bruxaria Neopagã no Brasil”.

De certa forma eu entendo quem quer evitar ou silenciar os fatos, as evidências, as controvérsias e as polêmicas. Há a impressão que se nos dispusermos a discutir esses assuntos em público irá acarretar em uma diminuição do interesse popular. Eu vejo algo desse processo no Cristianismo, que tem se travestido de outra coisa, como Cristianismo Progressista, para manter a audiência. Mas para o autor deste blog e para o interesse do dileto e eventual leitor, eu tenho que afirmar aquilo que se quer evitar dizer: Diânico não é Wicca.

Para embasar tal afirmação, eu tenho que recorrer à Teoria dos Grupos. Primeiro nós temos o Paganismo como um grupo geral. O Paganismo se subdivide em Paleo, Meso e Neo. O Neopaganismo, ou Paganismo Moderno, se subdivide em Reconstrucionistas, Aborígenes e Religiões de Bruxaria. As Religiões de Bruxaria se subdivide em Bruxaria Tradicional, Wicca, Feri, Diânico e Eclético. Eu agrupei e separei esses sistemas por um motivo: não é por que algo recebeu o rótulo de Wicca que será Wicca. Estão aí a “Wicca Cristã” e outras viagens esquisotéricas, como Eddie Van Feu, que mostram bem o caso.

Há anos eu afirmo: Wicca é uma religião e, como tal, tem características, princípios e valores. Tem vertentes do Cristianismo que, para resguardar a audiência, abre mão de diversas características, princípios e valores próprios do Cristianismo. Estão distorcendo a um ponto que mal dá para se reconhecer a religião como aquilo que a define.

Em muitos textos neste blog eu dou pistas de quais são as características, os princípios e os valores da Wicca Tradicional, mas eu não apontei quais, como e por que, as características, princípios e valores das vertentes diânicas, o torna uma forma diferente de Religião de Bruxaria, de Paganismo Moderno, mas não Wicca.

Ausência de linhagem – as fundadoras das vertentes diânicas não tem linhagem, seja em relação a alguma forma de Bruxaria Tradicional, seja em relação aos fundadores da Wicca Tradicional.

Ausência do Deus – a característica em comum nas vertentes diânicas é uma ausência ou diminuição do Deus. O excessivo enfoque na Deusa denota uma forma de Monoteísmo invertido, quando não uma forma equivocada de Monismo.

Ausência do sagrado masculino – esta é outra característica comum das vertentes diânicas, nega-se aos homens seu lado divino e sagrado, uma forma de misandria, uma inversão da misoginia das religiões monoteístas.

Ausência de ortopraxia – as vertentes diânicas divulgam práticas e rituais de outras tendências místicas, ocultas e esotéricas que tem pouca ou nenhuma relação com a Wicca.

Mistura de Panteões – as vertentes diânicas não demonstram o menor respeito aos mitos, mistérios e sacerdócio de outros panteões, promovendo uma mistura desaconselhável.

Adoção de regionalismo – as vertentes diânicas tornam a Wicca uma religião regional, adotando práticas, panteões, mistérios e mitos regionais.

Mistura de sistemas – as vertentes diânicas realizam tanto o giro pelo norte quanto o giro pelo sul no mesmo espaço. Isso causa confusão na correlação dos rituais com as estações do ano e os sabats.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

O arcano do Papa

O cargo máximo na Igreja é chamado comumente de Papa, mas podemos falar também em Sumo Sacerdote, Pontífice Máximo e Hierofante.
Em diversas organizações religiosas existe uma hierarquia, sendo sacerdote o cargo básico, então fica claro que o Sumo Sacerdote é o cargo acima dos demais sacerdotes. Todo sacerdote é um pontífice, que significa “construtor de ponte”, assim o Pontífice Máximo é o “construtor de ponte” responsável por aproximar as pessoas de uma congregação e o de aproximar esta com o divino.
Hierofante: 1) Sacerdote de Elêusis, na Grécia, a quem cabia a iniciação dos neófitos e a interpretação dos mistérios e coisas sagradas. 2) Indivíduo que se inculca conhecedor de ciências ou de mistérios. 3) O grão-pontífice, na antiga Roma. [Dicionário Michaelis Online]
O cargo de Sumo sacerdote está presente em outras organizações religiosas, mas curiosamente o titulo de Pontífice Máximo era anteriormente conferido ao rei ou imperador de Roma, visto que, nas sociedades pagãs, os reis também serem sacerdotes.
A figura central no arcano denota claramente o cargo. O homem tem uma coroa tríplice, tem um báculo de três cruzes, está sentado entre dois pilares. Sua posição colocada em perspectiva acima das figuras menores, secundárias, mostra que o homem assume uma posição de superioridade.  A postura sentada tem uma proximidade com o discurso de cátedra, ou o discurso doutrinário, discurso acadêmico, onde quem fala o faz com conhecimento. A postura das mãos ressalta que o homem fala do alto de sua cadeira, cargo, posição, eu até diria pedestal. O arcano também mostra que as figuras secundárias o procuram, seja para assuntos espirituais ou seculares. Então aquele que ocupa tal cadeira deve ter a capacidade, a autoridade e o preparo para atender as pendências de sua congregação.
No caminho iniciático, o sábio não é aquele que tem o conhecimento de cátedra, não é aquele que dita normas, mas aquele que conquistou a iluminação e faz de si mesmo um exemplo, praticando o que apregoa.

terça-feira, 7 de abril de 2015

O arcano do eremita

Recentemente eu li o seguinte comentário de uma celebridade pagã: “Quando as pessoas aprenderão que o maior desafio do caminho do autoconhecimento é tornarem-se mestres de si mesmas?”. Para comentar e refletir sobre essa declaração, eu escolhi o arcano do eremita.
O arcano mostra um senhor em um hábito semelhante dos monges, com um cajado e uma lanterna. Como segura uma lanterna, podemos supor que está muito tarde ou é noite. Como segura o cajado, podemos supor que o senhor perambulou por um longo percurso. Como seu hábito é semelhante a de um monge, podemos supor que ele seja um sábio, um profeta, um mestre, um sacerdote. O arcano não mostra, mas podemos supor que ele está esperando alguém ou procurando alguma coisa.
Ele pode ser um mestre que espera um discípulo ou que oferece sua luz aos que peregrinam pelas estradas incertas da vida. Ele pode ser um sábio que admite saber coisa alguma então continua procurando pela Verdade.
A base do caminho iniciático é a jornada do buscador. Como não sabemos o que buscamos, apenas sentimos um chamado, vagamos pelo mundo. O caminho e a experiência que temos nos dão o conhecimento e a sabedoria.
O caminho iniciático é introvertido e extrovertido. O buscador lê na entrada do Oraculo de Delfos: Conhece-te a ti mesmo. Conhecer o si mesmo não é difícil. O si mesmo não está escondido. O si mesmo está onde sempre esteve. O difícil é aceitar a natureza do si mesmo.
O caminho iniciático não é sobre o si mesmo, senão não haveria a necessidade dos mitos, dos ritos, da iniciação, do sacerdócio ou do divino. A partir do conhecimento do si mesmo alcançamos a transcendência do ego, conquistamos a maestria sobre nós mesmos, mas o caminho iniciático não se resume a isso. O caminho iniciático é o mistério da existência, dos homens e Deuses.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

O mistério do Graal

Este pagão que vos escreve contou outrora como é incongruente o Brasil ser um Estado Laico, mas ainda ter um calendário marcado por festas e feriados católicos. Esta é uma das poucas épocas do ano que eu fico alegre e melancólico. Alegre por que eu posso celebrar o equinócio de outono, Ostara, Mabon. Melancólico por que indefectivelmente nesta data são publicados textos de ateus e cristãos falando da Páscoa.
O ateu alega que Cristo é “apenas” mais um mito do Deus Ressuscitado, como muitos outros. Eu devo anotar que o ateu recorre a essa releitura da religião comparada exatamente para “provar” que toda religião é um absurdo, não por que eles gostem ou tenham alguma simpatia pelo Paganismo. Diversos escritores pagãos modernos, inclusive com conhecimento acadêmico, refutaram essa análise superficial, tendenciosa e desonesta. Não que nós estejamos querendo fazer uma apologia ao Cristianismo, mesmo por que muitos escritores cristãos tentam fazê-lo, mas sem a mesma eficácia.
O ateu cita Osíris, Dioniso, Attis, Adônis, Mithra e Dummuzi como semelhantes a Cristo. Uma análise mais criteriosa dos mitos e dos Deuses desmonta essa crítica. No entanto, se vamos aprofundar o escrutínio dos mitos e dos Deuses, o mesmo critério deve ser aplicado ao Cristo.
Eu vou partir de alguns argumentos colocados em textos cristãos.
1 – Nenhum destes Deuses sabia que iria morrer.
Uma afirmação sem bases nem provas. Os Deuses sabem que podem e vão morrer. A questão do sacrifício de um Deus, seja provocado ou oferecido, é outra.
2 – Nenhum destes Deuses queria morrer.
O cristão supõe que Cristo se ofereceu voluntariamente ao sacrifício. No entanto uma leitura criteriosa dos Evangelhos mostra que Cristo hesitou na véspera de seu sacrifício. Ele pediu a Deus que tirasse o cálice, mas que fosse feita a vontade de Deus, não a vontade dele. Considerando que Cristo veio à terra com esse propósito, seu sacrifício era inevitável, não há escolha.
3 – Nenhum destes Deuses ressuscitaram pelo seu poder.
Lendo a Bíblia, que para os cristãos é um texto sagrado, inspirado por Deus, podemos ver que mesmo Cristo não ressuscitou pelo seu poder. A Bíblia diz que Deus é quem tem o poder. A Bíblia afirma em diversas partes que Deus é Uno.
4 – Nenhum destes Deuses morreu por alguém.
Novamente, temos que ler a Bíblia. Em diversas partes da Bíblia se fala que o pecado somente pode ser expiado pelo pecador, que o pecado do pai não passa ao filho e do filho não passa ao pai. Temos que nos ater à função do sacrifício, que é a expiação do pecado, não visa o indivíduo, mas a purificação de um ato. A purificação dos atos estava presente em todas as religiões antigas.
5 – Nenhum destes Deuses morreu pelo pecado.
A pergunta que não se faz é por que Cristo deveria morrer por nossos pecados. Como ou por que o sacrifício de um Eleito, um Escolhido, um Mensageiro de Deus, deve dar seu sangue. O cristão preguiçoso não deve ler o Levítico, nem deve conhecer profundamente as profecias referentes ao Ha-Massiah. Na doutrina cristã, todos são pecadores por causa da herança maldita, mas isso não se sustenta. Na doutrina cristã, Cristo foi o sacrifício perfeito para a expiação do pecado de todos, mas isso não se sustenta. A expiação coletiva por um cordeiro está no Levítico. Mas esta expiação era prescrita ao povo de Israel e devia ser executada por um rabino, em um templo. A vinda do Messias, do Cristo, está nas Profecias, mas uma leitura criteriosa das mesmas mostra que Yeshua Ben Yoseph não preenchia os pré-requisitos para ser o Cristo. Uma leitura criteriosa dos Evangelhos reforça a noção de que Cristo havia vindo para salvar o povo Judeu e nenhum outro. O que os cristãos evitam falar é a noção da necessidade de um sacrifício humano para expiar os pecados. Um sacrifício de sangue somente é eficiente dentro de uma lógica ritualística, onde a vitima a ser imolada possui características específicas. Um sacrifício de sangue é algo que é polêmico até mesmo entre pagãos modernos.
6 – Nenhum destes Deuses morreram uma vez.
Considerando que os cristãos constantemente celebram a morte e ressureição de Cristo desde que surgiram, Cristo tem morrido mais do que uma vez.
7 – Nenhum destes Deuses tem historicidade.
Os cristãos consideram como historicidade de Cristo as citações ao título “Crestos” em textos antigos. Por esse mesmo critério, os Deuses Antigos possuem muito mais historicidade, considerando que seus nomes estão em diversas obras, textos, leis, edifícios, obras e estátuas dos tempos antigos. Uma análise historiográfica, entretanto, derruba por inteiro essa pretensão absurda dos cristãos.
8 - Nenhum destes Deuses morreram como Cristo.
A primazia de morrer crucificado não é exclusiva de Cristo. Mesmo assim, não há diferença alguma na forma como um Deus, um Profeta, um Avatar ou Mensageiro será morto para que ele cumpra com sua missão. Todo sacrifício demanda uma enorme dose de entrega, altruísmo e aceitação.
9 – Nenhum destes Deuses foram vencedores.
A ressurreição de Cristo é tida como uma vitória sobre a morte. No entanto ainda morremos, a vitória de Cristo foi em vão. A ressureição de Cristo é tida como vitória sobre o pecado. No entanto, ainda somos pecadores, senão o Cristianismo sequer teria se tornado uma religião de massas, a vitória de Cristo foi em vão. O cristão não pode dizer que Cristo venceu a morte por que, se não tivesse morrido, Cristo não poderia entregar o caminho para a salvação.
O que é difícil e necessário falar é a razão para a estação. Como toda religião, o Cristianismo foi influenciado e assimilou muitas das ideias, símbolos, princípios e datas das religiões anteriores, como também desenvolveu algo inédito e original. Temos mais razões para perceber as similaridades do que as disparidades. Como toda ideia e ideal, o Cristianismo se tornou uma arma quando chegou ao poder, quando o ser humano se tornou fundamentalista. Esse absolutismo pode acontecer com qualquer ideia e ideal, até mesmo o Humanismo e o Ateísmo. Quando lemos textos de ateus militantes, temos uma boa amostra disso. Mesmo o descrente que possui alguma espiritualidade reconhece que o outono e a primavera são estações que provocam mudanças, no mundo e em nós. Esta é a razão da estação. Nós celebramos o renascimento, a ressurreição cíclica da vida. Neste sentido, Cristo é semelhante aos Deuses Pagãos. Cristo é semelhante aos Deuses por que teve que nascer, viver e morrer como homem. Cristo é semelhante aos Deuses por que sabia que sua encarnação tinha um propósito, uma missão e que fugir não era uma opção. Cristo é semelhante aos Deuses por que sua morte nos mostrou que da morte há renovação. Cristo é semelhante aos Deuses por que nos mostrou que mesmo diante da dor, do sofrimento, da fatalidade, nós temos que servir aos Deuses. Cristo é semelhante aos Deuses por que vivenciou aquilo que acreditava e aceitou morrer por seus ideais. Cristo é semelhante aos Deuses por que fez de si mesmo um exemplo, na esperança de que a humanidade entendesse e visse que o potencial divino está em todos nós.
Cada vez que um cristão ataca outra religião, cada vez que discrimina outro ser humano por suas escolhas, cada ato de violência, cada palavra cheia de ódio, cada discurso repleto de preconceitos, cada atitude intolerante, faz com que o sacrifício de Cristo tenha sido em vão.
Quando o ateu desumaniza outra pessoa simplesmente por ter uma crença, faz com que os sacrifícios de muitos humanistas tenham sido em vão.
O Graal está cheio. Apenas os homens de boa vontade poderão beber dele. Quer você comemore a Pascoa, a Pessach, o Equinócio de Outono, Ostara ou Mabon, domingo foi o dia de celebrar o renascimento, a renovação. Vinde e vede, pois  Ela é a Taça do Vinho da Vida e Ele é o Senhor da Vida, da Morte e da Ressurreição.

domingo, 5 de abril de 2015

Aradia, a Deusa italiana das bruxas

«Arar» a terra é assunto do “deus que Ara” e que seria possivelmente uma variante arménia de Ares e esposo de Aradia…e deus do rio etrusco Arno.
Aradia es una figura importante en la Stregheria, la Wicca y en otras formas de neopaganismo. Es la hija mesiánica de la Diosa Diana, venida a la tierra para enseñar a los pobres y a los oprimidos la brujería como medio de resistencia social. La figura de Aradia aparece por vez primera en la literatura en 1899, en el libro Aradia ó El Evangelio de las Brujas de Charles Godfrey Leland.
Carlo Ginzburg, escritor y ensayista que en el libro "Historia Nocturna" se ocupó del fenómeno de la brujería popular desde un punto de vista histórico y antropológico, hace derivar el nombre de Aradia de la unión de los nombres de Hera y Diana, ambos supervivientes al advenimiento del cristianismo y unidos en una figura compuesta de nombre Heradiana o Herodiana.
Tudo apontaria para que Arádia fosse uma mitologia neopagã moderna sem qualquer sentido na tradição mítica arcaica da península italiana. Claro que é possível ter havido a sobrevivência popular na baixa idade média italiana de um culto toscano sibilino desde a época etrusca onde o nome de uma hipotética Arádia filha de Diana seria facilmente confundido com a bíblica neta de Herodes, a herodiana da lenda de Salaomé, filha de Herodias, que pediu a cabeça de S. João Batista.
Being placed on the Aventine, and thus outside the pomerium, meant that Diana's cult essentially remained a foreign one, like that of Bacchus; she was never officially transferred to Rome as Juno was after the sack of Veii. It seems that her cult originated in Aricia, where her priest, the Rex Nemorensis remained.
Ariccia (Latin: Aricia) is a town and comune in the Province of Rome, central Italy.
There is a connection between the town's name and Aricia, the wife of Hippolytus (Virbius), the Roman forest god who lived in the sacred forests near Aricia. According to a vague reference by Caius Julius Solinus, Ariccia was founded by Archilocus Siculus ("Archilocus of the Siculi" or Sicels) in very ancient times.
In its territory, which then included the Lake of Nemi, was located the sanctuary of Diana Aricina (or Diana Nemorensis) held by the Latin cities in common, and presided over by the Rex Nemorensis made famous in Frazer's The Golden Bough. The association with the cult of Diana led to its development as an influential and affluent center of healing and medicine.
A sempre eterna Virgem Atena teve de facto um filho adulterino denominado Eritónio mas dos filhos de Artemisa, nada sabemos. De Diana, enquanto variante de Artemisa, também pouco sabemos mas de da Diana enquanto Dione sabemos que foi mãe de Afrodite e, possível e etimologicamente, de Dionísio. Sendo assim, a filha de Diana nãos seria outra senão Vénus / Afrodite que o culto popular toscano transformou em Arádia, ou seja, Ariadne irmã e esposa de Dionísio, como possivelmente teria acontecido a Artemisa que teria sido a eterna e sempre Virgem por ser irmã e esposa de Apolo.
Aradia parece ser literalmente a deusa da terra lavrada ou «arada» pronta para ser fecundada pelos “deuses manda chuva” dos ventos e das tempestades.
Na verdade, se dermos conta que o nome de Afrodite é um nome composto de Afro & Dite ficamos com a raiz -Dite para recompor o nome de Dione. Mas ficamos também com a suspeita de que Aradia podia ter sido *A(g)rodite / *Akrodiana. *Akrodiana reporta-se para um deusa das alturas dos cumes montanhosos e lunares que Diana Lúcia foi.
Ariadne < Ari-Atena > Hara-Dione < *Ker-(a)-Ki-Ana > Aricina.
Ara-dia < A(k)ro-Di(t)a > *A(g)rodite > Afrodite.
               < Ak(e)r-o + Di-Ana.

Diana Aricina ou Nemorense, deusa dos numes que repousavam no fundo do lago de Nemi onde seriam sacrificados por afogamento os estrangeiros que, deste modos, se transformavam em numes e deuses, era nem mais nem menos que *Ker-(a)-Ki-Ana, um variante arcaica e infernal de Afrodite, ou seja Perséfona. Arádia não será portanto uma pura invenção do paganismo moderno porque teria sido a sobrevivência na cultura popular toscana da filha de Danu / Dione / Diana / Deméter, ou de um arcaico culto de tridivas que Diana Trívia sempre foi, com Hecate e com a Lua."