segunda-feira, 20 de abril de 2015

O pote do duende

As lendas contam que um duende escondeu no fim do arco íris um pote de ouro. O arco íris, um sinal tão evidente, considerado a ponte entre mundos e mensagem dos Deuses, não parece ser o lugar mais adequado para esconder uma riqueza.
Eu desconfio que o duende mesmo quem espalhou a lenda, esperto como deve ser, criou uma distração, apontou para o arco íris pois sabia que o homem iria buscar o pote de ouro onde ele não está. Eu desconfio até que o duende não tinha ouro, sequer o pote. Certamente ele guardava uma riqueza, mas sábio como deve ser, não poderia entregar algo tão valioso ao homem. O homem tem um vazio que tenta preencher com sua ganância, mas nunca estará satisfeito. O homem estraga tudo que põe a mão.
Se há alguma riqueza e se esta é guardada por um duende, devemos nos perguntar de que tipo de valor nós estamos falando e no que a posse deste bem irá alterar nossas vidas. Se esta riqueza está oculta, há um mapa, um cofre, um caminho, um desafio, um herói. Quando falamos em algo oculto e uma missão, falamos de um mistério e do caminho iniciático.
O duende tem a reputação de ser ardiloso, traiçoeiro e mentiroso. Mas antes de querermos condenar o duende, o homem também é uma criatura dissimulada. O que mais vemos no mundo dos humanos é gente fazendo trapaça com gente. O que mais vemos no mundo dos humanos é vigarista vendendo o caminho dos tijolos amarelos. O que mais vemos no mundo dos humanos é guru oferecendo a plenitude.
O buscador fica perdido diante de tantos caminhos, práticas, fórmulas, promessas. Tudo está bem, enquanto o buscador não perceber o homem por detrás da cortina. Quando isso acontece, tudo aquilo que foi prometido lhe será negado. Quando isso acontece, o buscador é renegado, repudiado, perseguido, maldito, pela simples ousadia de ter percebido que nunca precisou de gurus, mestres, orientadores, sacerdotes, iniciações, ordenações, linhagens ou tradições para encontrar o pote de ouro.
Quem tiver entendimento, entenda. O segredo consiste em fazer o buscador acreditar que o pote de ouro está onde não está. O segredo sustenta seu valor enquanto estiver oculto em uma falsa aparência de mistério. No entanto, quando se chega ao centro do mistério, o buscador encontrará o mesmo vazio que existe nos templos.
Seja pote, caixa ou templo, estas coisas são vãs tentativas de controlar, conter, delimitar o inefável, o divino. Seja ouro, conhecimento, sabedoria ou iluminação, estas são vãs fórmulas que apenas laureiam o ego de quem se arroga possuir o caminho. Quem tiver entendimento, entenda. O divino está em todo lugar, inclusive dentro de você. Para encontrar o caminho basta caminhar com seus pés.

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