sexta-feira, 15 de maio de 2015

Mentiras brancas que pagãos contam

Jason Mankey escreveu o texto “Little White Lies: Christian Books on Modern Witchcraft”, no Patheos, em sua coluna "Raise the Horns". O que mais me preocupa não são as mentiras dos cristãos, mas as mentiras dos pagãos.
John Halstead escreveu três textos que eu traduzi no texto “A origem americana da neo-wicca”. Jason Mankey escreveu o texto “When Wicca is not Wicca”, que eu aproveitei para meu texto “Quanto o rótulo não faz o conteúdo”.
Em diversos textos eu reafirmo que quando falamos em Wicca, se fala em uma religião e, como tal, tem características, princípios e valores.
Curiosamente, quando eu simplesmente atesto isso, que é a definição que nos foi legada por Gerald Gardner e mantida por inúmeros Altos Sacerdotes e Altas Sacerdotisas da Wicca Tradicional, a reação mais comum é de raiva. Aparentemente tornou-se uma regra que qualquer um pode alegar ser wiccano e quando eu contesto isso com fatos, os argumentos giram em torno de questões sobre a minha “autoridade” [ou que autorização eu tenho para falar sobre a Wicca Tradicional], quando não me acusam de ser elitista, intolerante, desrespeitoso.
Então não foi surpresa alguma ao ver que meus comentários foram bloqueados na coluna “Daughters of Eve” por que eu contestei uma pessoa que se autoproclamava wiccana. Eu vou deixar de lado os argumentos batidos sobre aceitar a opinião do outro, sobre como a Wicca “evoluiu”, de que eu tenho uma visão restrita e de que eu estou ofendendo a pessoa. Eu não vou conseguir convencer os pagãos ou o público de meus argumentos.
Eu vou escrever sobre os perigos das mentiras contadas por pagãos a partir desta declaração:
A Wicca que eu sigo é aberta, amorosa e inclusiva. A Wicca que eu sigo não é dogmática e rígida. [Liona Rowan]
Quando se digita “Wicca” no oráculo virtual [Google] o interessado, curioso e simpatizante certamente ficará confuso. Existe uma miríade de páginas, de tradições, de grupos, de fóruns, de covens, alguns até fornecendo a iniciação na Wicca mediante uma módica quantia. Como chegamos a isso?
A Wicca se tornou um fenômeno de massas depois que esta chegou aos EUA, pelas mãos de Monique Wilson, que vendeu os itens de Gerald Gardner para a Llewellyn. Mas a conta não pode ser toda atribuída a esta sacerdotisa. Temos também Raymond Buckland, que mesmo sendo da Tradição Gardneriana, iniciou sua própria Tradição Seax, que inovou ao inserir a prática solitária e a autoiniciação.
Mas nem mesmo Raymond Buckland deve levar toda a culpa. Na mesma época, ou um pouco depois, apareciam vários grupos autoproclamados, a maioria se identificando como sendo a “religião da Deusa”, a “religião das bruxas”. Muitos destes grupos tomando uma forma de feminismo radical deram origem ao Dianismo. Neste cenário surgiu Starhawk, que deu início à Tradição Reclaiming, uma mistura da Tradição Diânica [Z Budapest] e da Tradição Feri [Victor Anderson], que praticamente se tornou a “bíblia” de muitos pagãos, pretensos bruxos e wiccanos autoproclamados. Esta é a origem da neo-wicca e da pop-wicca. Milhares de interessados tem acesso a esse material e a popularidade dessas vertentes cuidou de cimentar essas mentiras brancas, enterrando todas as características, princípios e valores da Wicca Tradicional. A Wicca tornou-se um vale tudo, uma “filosofia de vida”, onde tudo é possível e permitido.
Mas para quem é do meio, sabe que não é bem assim. Esta Wicca que é vendida e propagada pela internet não existe. Até pouco tempo Z Budapest era completamente contra o sacerdócio de homens, negava até que homens possuíssem espiritualidade. Causou um grande estardalhaço e escândalo quando Z Budapest proibiu que pessoas transgêneros participassem de um ritual para Lilith. Por anos, estes grupos autoproclamados difamaram Gardner, acusando-o de ser sexista, de ser homofóbico, no entanto estes mesmos grupos proíbem a participação de homens e transgêneros em suas tradições. Estes mesmos grupos atacam a Wicca Tradicional, mas clamam para serem reconhecidos, respeitados e aceitos pela Wicca Tradicional. Diversos pagãos que se autoproclamam wiccanos esbravejam, exigem que sejam respeitados, falam que estão sendo ofendidos, questionam a autoridade de seus críticos, mas ofendem quando não aceitam as opiniões de quem apenas expõe o que é a Wicca Tradicional e se colocam na posição de autoridade quando desmerecem o legado deixado por Gardner.
A Wicca Tradicional não é dogmática, não existe ortodoxia, mas ortopraxia. A Wicca Tradicional não é rígida, podem-se acrescentar coisas, mas não se pode retirar suas características, princípios e valores básicos. O que uma pessoa autoproclamada tem a dizer é irrelevante. Uma pessoa somente pode se declarar wiccana se tiver o treinamento e iniciação formal, em um coven tradicional, com Altos Sacerdotes e Altas Sacerdotisas com linhagem comprovada até Gardner. O resto é mentira.
PS: eu devo incluir também Scott Cunningham e Aidan Kelly na lista de personagens que "contribuiram" para o atual estado da Comunidade Pagã.

Nenhum comentário: