sexta-feira, 29 de maio de 2015

Nut: a Deusa Estrela

Quase dois mil anos após os templos no Egito terem sido fechados pelo Império Romano, um mago inglês recebe uma revelação de uma Deusa egípcia, Nut ou Nuit. A Deusa lhe solicita para que a ajude a desvendá-la, tornando-se seu profeta. O mago – Aleister Crowley – realizou isto ao publicar “O Livro da Lei”, o primeiro capítulo que contem a voz de Nuit. Quem é essa Deusa e como ela veio se comunicar com Aleister Crowley?
Deusa da Via Láctea
Nut é a Deusa egípcia da Via Láctea, na verdade, ela é a Via Láctea.
A Via Láctea é a galáxia que contém o nosso sistema solar. Nós não estamos sequer em um lugar importante nesta galáxia. Quando olhamos para a Via Láctea, nós estamos observando uma faixa da galáxia.
Como a personificação do firmamento, Nut é geralmente representada como uma mulher em forma de arco, com os pés e mãos tocando a terra. Ela está frequentemente acompanhada de seu consorte, o Deus da terra Geb, debaixo dela e o Deus do vento Shu separando Nut e Geb. Nut é representada na forma de mulher, na forma de vaca e na forma de porca.
Mito de Criação
De acordo com o mito de criação de Heliópolis, Nut é a filha de Shu e Tefnut, que são descendentes do Deus primordial, Atum.
Atum – o autogerado – surgiu no inicio do tempo e criou os primeiros Deuses ao se masturbar. Os primeiros eram Shu [deus do ar] e Tefnut [deusa da umidade]. Shu e Tefnut então se tornaram os progenitores de Nut (céu) e Geb (terra).
Em muitos panteões, Deuses do céu são masculinos e Deusas da terra são femininas. Esta inversão no panteão Egito deve estar ligada com o fato que o Nilo, não as chuvas, era a fonte regular de água no Egito. Para o início do tempo, céu e terra deveriam estar separados e isto era mostrado por Shu erguendo Nut para longe de Geb.
Nut e Geb eram os progenitores de Osíris, Isis, Seth e Néftis. E Osíris e Isis eram os progenitores de Hórus. Osíris é o deus da ordem, fertilidade e vegetação, ele representa o faraó morto e é também o Deus do submundo. Isis é uma Deusa mãe, uma maga e a personificação do trono do faraó. O filho deles, Hórus, representa o faraó vivo. Seth é o Deus do deserto, do caos, do estrangeiro e é o usurpador do trono. Néftis é uma Deusa funerária.
Nut Celestial, Mãe do Sol e do Faraó
Os Egípcios acreditavam que a terra era plana que o céu era um enorme corpo de água. O nome “Nut” pode significar “a aquosa”, embora isto não signifique que ela “chovia”, a ideia é mais como um grande lago ou mar. O movimento do sol através desse lago/mar era compreendido como uma viagem de barco.
Assim como era mãe de Osíris, Isis, Seth e Néftis, Nut era também a mãe das estrelas e do sol que ela dava a luz diariamente. O sol, Re, é representado sendo engolido por Nut ao entardecer, atravessando o corpo dela de noite e renascendo na aurora. Entendia-se que a cabeça de Nut ficava no oeste e sua vagina ficava no leste. A imagem de Nut engolindo o sol e as estrelas fez com que a identificasse com a Grande Porca que come seus filhotes.
Era com a capacidade do sol em renascer que o faraó procurava identificar-se, por isso a imagem do sol atravessando o corpo de Nut aparecia nas tumbas reais. Mais tarde ela apareceria em sarcófagos, enfatizando seu papel, pois ela literalmente abraçava o finado.
Deusa dos Mortos
Antes de estar representada em sarcófagos, Nut era uma divindade importante nos textos das pirâmides, nos quais ela aparece quase cem vezes. Estes textos, escritos nas paredes das pirâmides, instruíam ao faraó como se comportar e o aconselhava no que poderia encontrar no além-vida. Originalmente as instruções eram apenas aos faraós, Nut tinha um papel central na ressurreição.
Quando o além-vida se tornou mais popular, os textos das pirâmides se tornaram os textos dos sarcófagos. Estes textos tinham instruções similares, mas eram escritas no sarcófagos, então o que era originalmente um relacionamento exclusive entre Nut e o faraó, agora incorporava também os ricos. Eventualmente os textos dos sarcófagos tornaram-se o Livro dos Mortos, escrito em papiro.
Quando representada em sarcófagos, Nut era colocada na tampa, com o disco solar no processo de ser engolido ou renascido. Ela também era colocada nas laterais e dentro do sarcófago. Quando a tampa era colocada em cima do finado, um tipo de união era alcançada. O sarcófago simbolicamente tornava-se o corpo da Deusa de onde o finado renasceria.
Senhora do Sicômoro
Esta conexão com a madeira dos sarcófagos pode ser o que levou Nut a ser identificada com o divino sicômoro que alimenta os mortos no além. Em túmulos privados, Nut é representada como uma Deusa brotando do tronco do sicômoro, oferecendo água e alimento, ela é a Árvore da Vida.
Novo Aeon e Nut / Nuit
Como essa Deusa celestial e funerária tornou-se importante na Era Moderna? Por que Nut? Por que Egito?
Para responder essas questões nós precisamos ir do Egito Antigo para a Inglaterra da Era Moderna, quando três franco-maçons proeminentes encomendaram o Templo e Isis Urania da Ordem Hermética da Aurora Dourada, uma ordem exclusiva que incorporava, entre outras coisas, componentes egípcios.
Mas por que Egito? Era um sinal dos tempos. Após as campanhas [francesas e britânicas] no Egito, as investigações da arquitetura egípcia foram publicadas. Subsequentemente, um entusiasmo com tudo que fosse egípcio tornou-se popular no século XIX, particularmente na França, Bretanha, Espanha, Américas, Austrália e África do Sul. Foi nesse século que a Egiptologia tornou-se uma disciplina profissional [aka, “acadêmica”-NB].
Aleister Crowley foi iniciado na Aurora Dourada. Ali ele deve ter percebido a importância da magia cerimonial do Egito. Antiguidades egípcias também iriam se tornar significantes para ele. Crowley viajara em lua de mel ao Egito e ali, depois de algumas operações, Crowley e sua mulher conseguiram evocar o Deus Thot. Em outro evento, a senhora Crowley declarara que o Deus Hórus o esperava no museu do Cairo e ali a esposa de Crowley apontou uma estela que fora catalogada com o número 666, imediatamente identificada por Crowley com a “Besta do Apocalipse”. Esta estela seria mais tarde identificada como a Estela da Revelação.
Crowley traduziu a estela para o francês com a ajuda de um assistente do museu e então ele fez uma versão em inglês. Ele subsequentemente fez diversas invocações de Hórus para encontrar, explorar e descobrir o que Hórus queria. Durante estes trabalhos, Crowley recebia ditados de uma inteligência superior chamada Aiwass e estes ditados se tornaram o Livro da Lei.
Autora: Caroline Tully.

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