terça-feira, 5 de maio de 2015

Relações complicadas

Baseado no texto "A criança agradecida", de Katrina Rasbold, publicado no Patheos.
A relação entre seres humanos é complicada e tende a complicar ainda mais quando há parentesco. A tensão é maior quando laços de sangue, convivência e intimidade estão envolvidos.
Nós falamos de boca cheia da Deusa Mãe e do Deus Pai, construímos comunidades baseadas no perfeito amor e confiança, estabelecemos pactos e juramentos, criamos laços espirituais, nos tratamos como irmãos e irmãs e ainda assim temos relações complicadas.
Como é seu relacionamento com seus Deuses? Como você os serve? Que papel eles tem em sua vida? Nós conhecemos nossos Deuses ou os tratamos como meros arquétipos, meras hipóstases de um Deus ou Deusa? Nós invocamos em nossos rituais os Deuses que tem algum vínculo com nossos ancestrais ou misturamos panteões? Como podemos adorar ao Deus Selvagem ou à Deusa Estrela, se os confundimos com outros Deuses? Como podemos clamar por nosso Pai se chamamos o Padrasto, o Tio ou o Avô?
Dizem que os Deuses criou o homem à sua imagem, antropologistas tem uma teoria que o homem criou os Deuses à sua imagem. O que muitos antropologistas parecem desconhecer é que nem sempre os Deuses receberam representações em efígie, a iconografia surgiu no ocidente por influência do oriente. A estátua é uma representação dos Deuses, um recurso humano em dar forma ao que existe como energia. Energia não tem feições, então se torna crucial recorrer a algo que seja familiar, reconhecível, imitando em forma humana estas potências que se manifestam na natureza e no homem.
A imagem mental que criamos para os Deuses costuma revelar como nos relacionamos com o divino. A postura que temos nos rituais revela como vemos e interpretamos o divino, o sagrado. Se nós imaginamos Deus como sendo ciumento, vingativo, violento, nossa relação será de medo, não de adoração. Se nos ajoelhamos, nossa relação com o divino, o sagrado, será de submissão, não de cumplicidade.
Se nossa relação com os Deuses é uma relação paternal, eles se relacionam conosco da mesma forma como nos relacionamos com nossos filhos e como nossos filhos se relacionam conosco?
Assim como nós, eles têm um filho preferido e um filho problemático?
Assim como os nossos filhos, nós agradecemos aos Deuses até por coisas banais ou sempre exigimos mais?
Assim como nossos filhos, nós comemos tudo que os Deuses nos oferecem e lambemos os beiços até com os pratos mais simples ou nos recusamos a comer ou experimentar certos pratos?
Assim como nossos filhos, nós saímos confiantes pelo mundo ou nós nos acuamos e nos escondemos debaixo das túnicas dos Deuses?
Assim como nossos filhos, nós tentamos nos esforçar ao máximo, ou nos recusamos a sequer tentar?
Assim como nossos filhos, nós dizemos obrigado ou perguntamos se é só isso que os Deuses tem para nos dar?
Quantas vezes os Deuses nos ofereceram uma oportunidade, algo diferente do que estamos acostumado, algo que não era o que esperávamos e nós sequer pensamos na proposta, recusamos as bênçãos, rejeitamos suas ofertas, nos mantendo na mesma vidinha medíocre?
Quantas vezes pedimos por ajuda aos Deuses para nos ajudar em momentos de crise, sem que sequer nos esforcemos para resolver essas crises que usualmente é resultado de nossas próprias ações?
Quantas vezes esperamos que as respostas venham até nós ao invés de buscar por elas?
Por que tornamos tão difícil para que os Deuses possam nos ajudar?
Como filhos dos Deuses, nós os estamos honrando e reverenciando tanto quanto esperamos que nossos filhos nos honrem e nos reverenciem?
Como filhos dos Deuses, nós devemos recuperar nossas origens, nossas raízes. Somente quando retomarmos o domínio sobre nosso corpo, sobre nosso sangue, é que podemos evocar nossos ancestrais. Somente quando resgatarmos essa linhagem é que nossos ancestrais irão nos apresentar aos Deuses de nosso povo. Somente poderemos conhecer ao Nosso Pai e à Nossa Mãe quando voltarmos à nossa verdadeira Família.

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