domingo, 27 de março de 2016

A árvore de Berkeley

No Patheos, na seção de Paganismo, o texto de Megan na coluna “Pagan Tama” intitulado “A árvore caída na floresta foi ouvida” reascende uma conversa parecida que eu tive com Mauro Bartolomeu sobre o que eu vou chamar de “Paradoxo da árvore de Berkeley”.
George Berkeley propõe o seguinte exercício de pensamento: “Se uma árvore cai numa floresta, mas não há ninguém por perto, ela faz barulho?”
Parece uma questão simples, mas não é, a filosofia praticamente pode ser dividida em duas escolas: uma diz que a realidade existe por si mesma e a outra diz que o conceito de realidade depende da apreensão pelos sentidos.
Megan faz, mais ou menos, a mesma analogia que eu fiz com o Mauro, mas os cientistas não “ouviram” as ondas gravitacionais, visto que o som não se propaga no vácuo, mas as ondas foram detectadas, melhor dizendo, foram percebidas graças a um aparelho. Relembrando minha conversa com Mauro, a questão então é realidade ou sensação, o que define que algo existe?
O paradoxo pode ser dividido em duas partes: o evento e o observador. O evento acontece e é percebido pelo observador que, então, dá um sentido e significado ao evento. Dependendo da cultura, do conhecimento, da época e da sociedade em que o observador vive, esta interpretação terá diversas variações emocionais [para não usar a palavra sensitiva ou sensorial, o que tiraria o sentido do meu raciocínio]. Uma provocação mais que suficientemente para crentes e descrentes: a existência de algo [ou alguém] independe de um observador.
Ainda que não haja um observador, um evento deixa pistas e sinais que podem ser coletados, medidos e quantificados por um observador posteriormente. Nisto consiste o paradoxo de Berkeley: o observador precisa ter certas condições para poder perceber, ainda que posteriormente, o evento. O que nos conduz ao paradoxo da cor vermelha ao cego. Nós podemos alterar a realidade e pensar em como o aborígene brasileiro percebeu e entendeu a chegada dos navios portugueses.
Por isso que a discussão ainda está longe de ser resolvida: o fato existe de forma independente do observador, mas a existência do fato será variável conforme a percepção, sensação, interpretação e significado que o observador faz dele.
Voltando para a descoberta das ondas gravitacionais, esta descoberta ainda está em disputa, bem como seus desdobramentos e possibilidades. No entanto a explicação científica não esgota a questão, afinal tudo em nosso universo é feito de elementos, que ora são partículas, ora são energias, que sequer podem ser considerados reais, no sentido físico. Mesmo a ciência contêm diversas teorias que não possuem comprovação e evidências, inclusive algumas teorias se aproximam do esoterismo e apontam para uma realidade holística, multidimensional.

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